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Soluções de Escavação e Contenção Periférica em Meio Urbano ...

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<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong><br />

<strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Caso <strong>de</strong> estudo - Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Inês Nogueira Oliveira<br />

Dissertação para obtenção do Grau <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong><br />

Engenharia Civil<br />

Júri<br />

Presi<strong>de</strong>nte: Professor Doutor Jaime Santos<br />

Orientador: Professor Alexandre Pinto<br />

Vogal: Professora Doutora Laura Cal<strong>de</strong>ira<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2012


Agra<strong>de</strong>cimentos<br />

A presente dissertação foi realizada individualmente, mas nunca teria sido possível s<strong>em</strong> a<br />

ajuda <strong>de</strong> várias pessoas e entida<strong>de</strong>s, às quais quero prestar os meus profundos<br />

agra<strong>de</strong>cimentos.<br />

Em primeiro lugar, quero expressar a minha imensa gratidão aos meus familiares, pois s<strong>em</strong> o<br />

seu apoio nunca teria chegado até aqui. Aos meus pais, Maria da Conceição e António José,<br />

por todo o amor incondicional nos bons e maus momentos, carinho, paciência e incentivo para<br />

continuar a seguir os meus sonhos. Ao meu irmão José Mário, por todo o amor e pela amiza<strong>de</strong><br />

que t<strong>em</strong>os, e que apesar da distância física não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> estar s<strong>em</strong>pre perto do meu coração.<br />

Ao Professor Alexandre Pinto, orientador da dissertação, <strong>de</strong>ixo uma palavra <strong>de</strong> apreço pela<br />

orientação e liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalho que me permitiu, disponibilida<strong>de</strong> e simpatia nos<br />

esclarecimentos prestados, e <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> trabalho fora do âmbito da orientação. Agra<strong>de</strong>ço<br />

também todos seus ensinamentos transmitidos ao longo do curso na área da Geotecnia, que<br />

contribuíram para o aumento do meu entusiasmo pela prática da Engenharia Civil, e que<br />

representam para mim uma inspiração e um ex<strong>em</strong>plo a seguir no futuro. Ainda como<br />

referências <strong>de</strong>staco os Professores do ramo <strong>de</strong> Geotecnia, e os Professores João Almeida e<br />

Júlio Appleton, na área <strong>de</strong> estruturas, que na fase final do curso contribuíram gran<strong>de</strong>mente<br />

para a minha formação, pela sua experiência partilhada, espírito crítico e estímulo <strong>de</strong><br />

aprendizag<strong>em</strong> contínua.<br />

Ao Eng.º Xavier Pita por toda a disponibilida<strong>de</strong> e paciência <strong>de</strong>monstrada nos esclarecimentos<br />

acerca do Plaxis e do Projecto para o Empreendimento Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, e a<br />

todos os colaboradores da JetSJ por me ter<strong>em</strong> recebido. Ao Dono <strong>de</strong> Obra, <strong>em</strong>presa Artepura,<br />

na pessoa do Eng.º Paulo Nabais, pela possibilida<strong>de</strong> da realização do acompanhamento da<br />

obra. Ao Eng.º Augusto Men<strong>de</strong>s, da Kerpro, <strong>em</strong>presa a cargo da Fiscalização, ao Encarregado<br />

José Manuel, e aos Eng. os Joaquim Ferreira e Nuno Praça, da Concreto Plano, agra<strong>de</strong>ço toda<br />

a simpatia e disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstradas ao longo das visitas à Obra, os documentos<br />

fornecidos, e a partilha <strong>de</strong> conhecimentos e novos pontos <strong>de</strong> vista, que contribuíram <strong>em</strong> muito<br />

para o conteúdo da dissertação. Quero <strong>de</strong>ixar também uma nota <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento às<br />

<strong>em</strong>presas SpyBuilding e Geofix, por todo o apoio prestado e pelos documentos facultados<br />

relativos à instrumentação da obra.<br />

E por fim, mas não menos importante, agra<strong>de</strong>ço aos amigos que me acompanharam durante<br />

os últimos cinco anos, e também ao longo da realização <strong>de</strong>ste trabalho. Ao Jorge, por toda a<br />

amiza<strong>de</strong> e ajuda durante o curso; à Sofia, minha companheira <strong>de</strong> curso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia,<br />

por todos os bons momentos passados, e conselhos acerca da produção do documento; ao<br />

Emanuel, também pela amiza<strong>de</strong>, ajuda e companhia durante esta etapa; à Rita Barata, Rita<br />

Contente, Henrique, Matil<strong>de</strong>, Fátima, João Brazão, Catarina, e aos restantes colegas <strong>de</strong><br />

i


Geotecnia, pela amiza<strong>de</strong> e pelos conhecimentos partilhados neste último ano; à Carlota, pela<br />

amiza<strong>de</strong> e companhia.<br />

ii


Resumo<br />

A crescente ocupação do espaço urbano subterrâneo acarreta consequências para as<br />

edificações já existentes, que com frequência não são <strong>de</strong>vidamente consi<strong>de</strong>radas aquando da<br />

realização dos projectos envolvendo escavações e contenções periféricas. Deste modo, impõe-<br />

se a realização <strong>de</strong> estudos e análises que abor<strong>de</strong>m esta questão, dotando <strong>de</strong> um fundamento<br />

científico os métodos construtivos, que têm orig<strong>em</strong> essencialmente <strong>em</strong>pírica e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

gran<strong>de</strong>mente das condições geológico-geotécnicas existentes.<br />

Preten<strong>de</strong>-se com esta dissertação efectuar um contributo para o objectivo <strong>de</strong>scrito e para isso<br />

foi realizado um acompanhamento do processo construtivo <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique num caso <strong>de</strong><br />

estudo real, adoptado na execução da contenção periférica do <strong>em</strong>preendimento Palácio dos<br />

Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, <strong>em</strong> Lisboa. Com base nos dados recolhidos no campo e na monitorização<br />

efectuada, foi elaborada uma análise comparativa da instrumentação, relacionando-a com os<br />

principais acontecimentos presenciados <strong>em</strong> obra, incluindo a aplicação das medidas <strong>de</strong> reforço<br />

que foram necessárias <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>slocamentos observados.<br />

Por fim efectuou-se uma mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> parte da solução <strong>de</strong> contenção no programa <strong>de</strong><br />

el<strong>em</strong>entos finitos Plaxis 2D, a fim <strong>de</strong> aferir a qualida<strong>de</strong> dos resultados obtidos<br />

comparativamente aos dados da instrumentação topográfica. Esta fase culminou num processo<br />

<strong>de</strong> retroanálise, <strong>em</strong> que se procurou igualar as <strong>de</strong>formações horizontais da cortina no final da<br />

escavação, através da alteração dos parâmetros geotécnicos do mo<strong>de</strong>lo. Foi possível concluir<br />

que o terreno existente na zona analisada possuía um módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> secante<br />

superior ao inicialmente admitido na mo<strong>de</strong>lação e um ângulo <strong>de</strong> atrito interno e coesão efectiva<br />

inferiores. Foi também feita uma breve análise <strong>de</strong> risco das escavações tendo por base um dos<br />

edifícios adjacentes, <strong>em</strong> que se concluiu que na fase <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação inicial não seria necessária<br />

uma análise <strong>de</strong> risco aprofundada.<br />

O estudo efectuado <strong>de</strong>monstrou que na técnica <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, o comportamento da<br />

contenção é condicionado essencialmente pela sequência construtiva, características <strong>de</strong><br />

rigi<strong>de</strong>z e resistência do solo, condições atmosféricas e sua influência no terreno. As<br />

<strong>de</strong>formações do terreno são transmitidas às construções vizinhas, cuja resposta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

naturalmente do seu sist<strong>em</strong>a estrutural e respectivo estado <strong>de</strong> conservação. A minimização <strong>de</strong><br />

eventuais consequências negativas na vizinhança da contenção passou assim por um<br />

investimento na monitorização, possibilitando a aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> reforço <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po útil,<br />

com resultados positivos no que respeita à segurança e economia da solução.<br />

PALAVRAS CHAVE: <strong>Escavação</strong> e contenção periférica, espaço urbano, Muros <strong>de</strong> Munique,<br />

<strong>de</strong>formações, instrumentação, mo<strong>de</strong>lação, retroanálise.<br />

iii


Abstract<br />

The increasing occupation of the urban un<strong>de</strong>rground space has consequences for existing<br />

buildings, which often are not properly assessed when projects involving excavations and<br />

peripheral walls are carried out. Thus, it becomes necessary to make studies and analysis<br />

addressing this issue, in or<strong>de</strong>r to provi<strong>de</strong> a scientific basis for the essentially <strong>em</strong>pirical<br />

construction methods, which <strong>de</strong>pend heavily on the geological and geotechnical conditions.<br />

This work is inten<strong>de</strong>d as a contribution to the study and analysis on this issue. Therefore it is<br />

presented a case study using the technique of King Post Walls, which was adopted for the<br />

peripheral contention of the project “Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça”, in Lisbon. Based on the<br />

data collected in the field and the monitoring of the construction works, a comparative analysis<br />

of the instrumentation was ma<strong>de</strong>, relating it to the main events observed in the field, including<br />

the impl<strong>em</strong>entation of mitigation measures that were required due to the ground mov<strong>em</strong>ents<br />

registered.<br />

It was also carried out a numerical mo<strong>de</strong>ling of part of the retaining structure using the finite<br />

el<strong>em</strong>ent software Plaxis 2D, in or<strong>de</strong>r to assess the quality of results, compared to data from<br />

topographic instrumentation. This phase has culminated in a back analysis, which sought to<br />

equalize the wall’s horizontal mov<strong>em</strong>ents, by changing the geotechnical parameters of the<br />

mo<strong>de</strong>l. The results showed that the analyzed ground had higher secant stiffness than the one<br />

originally adopted in the mo<strong>de</strong>ling, as well as lower friction angle and cohesion. A brief damage<br />

risk assessment was ma<strong>de</strong>, based on one of the adjacent buildings, in which it was conclu<strong>de</strong>d<br />

that, for the initial mo<strong>de</strong>ling, it wasn’t necessary to carry out a <strong>de</strong>tailed risk analysis.<br />

The study <strong>de</strong>monstrated that when using King Post Walls, the ground mov<strong>em</strong>ents around<br />

excavations are essentially affected by the constructive sequence, soil’s stiffness and strength,<br />

weather conditions and their influence on the ground’s behavior. The ground mov<strong>em</strong>ents are<br />

transmitted to neighboring buildings, whose response <strong>de</strong>pends on their building type and pre-<br />

existing damage. The minimization of potential negative consequences to the neighboring<br />

constructions was achieved by an investment on monitoring, which enabled to impl<strong>em</strong>ent the<br />

mitigation’s measures in time, bringing positive results regarding the solution’s safety and<br />

economy.<br />

KEY WORDS: Excavation and peripheral walls, urban space, King Post Walls, ground<br />

mov<strong>em</strong>ents, instrumentation, mo<strong>de</strong>ling, back analysis.<br />

v


Simbologia<br />

α <strong>de</strong>slocamento por fluência<br />

β distorção angular; coeficiente relativo ao tipo <strong>de</strong> construção para o cálculo <strong>de</strong> valor<br />

limite <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula<br />

γ peso volúmico do solo; coeficiente relativo ao nº médio <strong>de</strong> solicitações por dia para o<br />

cálculo <strong>de</strong> valor limite <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula<br />

δ ângulo <strong>de</strong> atrito solo/pare<strong>de</strong><br />

δvh<br />

parcela elástica <strong>de</strong> <strong>em</strong>polamento vertical no centro da escavação<br />

δi <strong>de</strong>slocamento na cabeça da ancorag<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po ti<br />

∆P diferença entre a carga <strong>de</strong> ensaio e a carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong><br />

∆s extensão elástica do cabo sob incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga ∆P<br />

∆strip<br />

coeficiente que representa o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e distância<br />

ao firme<br />

∆z espessura da camada <strong>de</strong> solo abaixo da escavação<br />

εc<br />

εL<br />

extensão crítica <strong>de</strong> tracção<br />

<strong>de</strong>formação lateral<br />

μ1, μ2 coeficientes que representam o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e<br />

distância ao firme<br />

ν coeficiente <strong>de</strong> Poisson<br />

νur<br />

coeficiente <strong>de</strong> Poisson na <strong>de</strong>scarga/carga<br />

ξ coeficiente que relaciona a resistência ao corte não drenada com o módulo <strong>de</strong><br />

elasticida<strong>de</strong> não drenado<br />

ϕ’ ângulo <strong>de</strong> atrito interno efectivo<br />

ϕmín<br />

diâmetro mínimo<br />

ψ ângulo <strong>de</strong> dilatância<br />

At<br />

secção do cabo da ancorag<strong>em</strong><br />

b largura da escavação<br />

c’ coesão efectiva<br />

vii


Cr<br />

Eur<br />

Eu<br />

Et<br />

viii<br />

factor <strong>de</strong> forma<br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scarga/carga<br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> não drenado<br />

módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> do cabo da ancorag<strong>em</strong><br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> secante <strong>em</strong> estado triaxial<br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> edométrico<br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scarga/recarga<br />

f perda <strong>de</strong> atrito <strong>em</strong> percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Pp<br />

h profundida<strong>de</strong> da escavação<br />

isi<br />

ks<br />

k1<br />

Lapp<br />

Le<br />

Ltb<br />

Ltf<br />

coeficiente que representa o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e distância<br />

ao firme<br />

coeficiente <strong>de</strong> fluência<br />

perda <strong>de</strong> carga<br />

coeficiente <strong>de</strong> impulso <strong>em</strong> repouso correspon<strong>de</strong>nte ao solo normalmente consolidado<br />

comprimento livre aparente do cabo<br />

comprimento externo do cabo, medido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cabo na cabeça da ancorag<strong>em</strong> até ao<br />

ponto <strong>de</strong> tensionamento da ancorag<strong>em</strong> com o macaco<br />

comprimento <strong>de</strong> ligação do cabo<br />

comprimento livre do cabo<br />

m expoente da lei <strong>de</strong> potência que expressa a <strong>de</strong>pendência da rigi<strong>de</strong>z <strong>em</strong> relação ao nível<br />

<strong>de</strong> tensão (power)<br />

N número <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

pref<br />

tensão <strong>de</strong> pré-consolidação<br />

P carga <strong>de</strong> serviço da ancorag<strong>em</strong><br />

Pa<br />

Pc<br />

P’c<br />

carga inicial ou <strong>de</strong> referência da ancorag<strong>em</strong><br />

carga crítica <strong>de</strong> fluência<br />

carga crítica <strong>de</strong> fluência aproximada


Pp<br />

Ptk<br />

carga máxima <strong>de</strong> ensaio<br />

carga característica da armadura<br />

Pt0,1k carga característica com <strong>de</strong>formação permanente <strong>de</strong> 0,1%<br />

P0<br />

Ra<br />

Rd<br />

Rf<br />

sd<br />

carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong><br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga ao arrancamento<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> dimensionamento<br />

coeficiente <strong>de</strong> rotura<br />

<strong>de</strong>slocamento horizontal do pé da pare<strong>de</strong><br />

t ficha da pare<strong>de</strong><br />

ti<br />

t<strong>em</strong>po após a aplicação do incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga<br />

Vl valor limite <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula<br />

Vr<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula<br />

Vi(t) velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração no t<strong>em</strong>po t sobre o eixo i<br />

ix


Índice geral<br />

1. Introdução .............................................................................................................................1<br />

1.1 Enquadramento geral ...................................................................................................1<br />

1.2 Objectivos da dissertação.............................................................................................1<br />

1.3 Estrutura da dissertação ...............................................................................................2<br />

2. Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> meio urbano .......................................................5<br />

2.1 Cortinas multi-ancoradas ..............................................................................................5<br />

2.1.1 Generalida<strong>de</strong>s ..........................................................................................................5<br />

2.1.2 Pressões <strong>de</strong> terras....................................................................................................7<br />

2.1.3 Deslocamentos na cortina e na envolvente ..............................................................9<br />

2.2 Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> escavações ..........................................................................16<br />

2.2.1 Escoramentos .........................................................................................................16<br />

2.2.2 Ancoragens ............................................................................................................17<br />

2.2.2.1 Campo <strong>de</strong> aplicação .......................................................................................17<br />

2.2.2.2 Constituição das ancoragens ..........................................................................18<br />

2.2.2.3 Processo construtivo.......................................................................................18<br />

2.2.2.4 Mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> ancoragens ..............................................................................20<br />

2.2.2.5 Vantagens e <strong>de</strong>svantagens ............................................................................21<br />

2.2.3 Escoramentos por bandas <strong>de</strong> laje ..........................................................................22<br />

2.3 Influência das escavações nas construções vizinhas .................................................24<br />

2.3.1 Generalida<strong>de</strong>s ........................................................................................................24<br />

2.3.2 Movimentos <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>vido a escavações .............................................................26<br />

2.3.3 Transmissão dos movimentos do terreno às construções existentes .....................28<br />

2.3.4 Estimativa <strong>de</strong> danos <strong>em</strong> edifícios provocados por movimentos do terreno ............29<br />

2.3.5 Movimentos nos edifícios <strong>de</strong>vido a vibrações .........................................................33<br />

2.4 Muros <strong>de</strong> Munique ......................................................................................................36<br />

2.4.1 Generalida<strong>de</strong>s ........................................................................................................36<br />

2.4.2 Processo construtivo ..............................................................................................37<br />

2.4.3 Aplicabilida<strong>de</strong> e comparação com outras técnicas <strong>de</strong> contenção ...........................40<br />

3. Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça .................................................................43<br />

3.1 Enquadramento geral e el<strong>em</strong>entos base ....................................................................43<br />

xi


xii<br />

3.2 Principais condicionantes ...........................................................................................44<br />

3.2.1 Enquadramento geológico e geotécnico .................................................................44<br />

3.2.2 Condições <strong>de</strong> vizinhança ........................................................................................46<br />

3.3 Solução Proposta .......................................................................................................47<br />

3.3.1 <strong>Contenção</strong> com recurso a Muros <strong>de</strong> Munique ancorados ......................................47<br />

3.3.2 Muro <strong>em</strong> consola fundado <strong>em</strong> microestacas ..........................................................48<br />

3.3.3 Faseamento Construtivo .........................................................................................49<br />

3.4 Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação.....................................................................49<br />

3.4.1 Generalida<strong>de</strong>s ........................................................................................................49<br />

3.4.2 Gran<strong>de</strong>zas a medir .................................................................................................50<br />

3.4.3 <strong>Meio</strong>s para medição ...............................................................................................50<br />

3.4.4 Características dos aparelhos ................................................................................53<br />

3.4.4.1 Alvos topográficos ..........................................................................................53<br />

3.4.4.2 Marcas topográficas........................................................................................53<br />

3.4.4.3 Células <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancoragens ...................................................................54<br />

3.4.4.4 Acelerómetros piezométricos ..........................................................................54<br />

3.4.4.5 Fissurómetros .................................................................................................55<br />

3.4.5 Frequência <strong>de</strong> leituras ............................................................................................55<br />

3.4.6 Critérios <strong>de</strong> alerta e <strong>de</strong> alarme ...............................................................................56<br />

3.4.7 Medidas <strong>de</strong> reforço .................................................................................................57<br />

4. Evolução da obra ................................................................................................................59<br />

4.1 Visitas à Obra – Processos construtivos envolvidos ..................................................59<br />

4.1.1 Abertura <strong>de</strong> painéis.................................................................................................59<br />

4.1.2 Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis e troços <strong>de</strong> sapatas ............................................................61<br />

4.1.3 Furação para execução <strong>de</strong> ancoragens e injecção ................................................63<br />

4.1.4 Ensaio <strong>de</strong> recepção e tensionamento <strong>de</strong> ancoragens ............................................64<br />

4.2 Evolução da Instrumentação ......................................................................................67<br />

4.2.1 Deslocamentos excessivos <strong>em</strong> fase inicial .............................................................68<br />

4.2.2 Deslocamentos excessivos na zona da Embaixada da Bélgica .............................70<br />

4.2.3 Medidas <strong>de</strong> reforço .................................................................................................72<br />

4.2.3.1 Alvo topográfio nº 8 .........................................................................................76


4.2.3.2 Alvo topográfico nº 17 .....................................................................................77<br />

4.2.3.3 Alvo topográfico nº 35 .....................................................................................79<br />

4.2.4 Deslocamentos excessivos na zona do Infantário ..................................................79<br />

4.2.4.1 Alvo topográfico nº 14 .....................................................................................80<br />

4.3 Evolução da restante instrumentação.........................................................................82<br />

4.3.1 Alçado da Igreja e alçado GH .................................................................................82<br />

4.3.2 Vibrações <strong>de</strong>vido a meios mecânicos pesados ......................................................82<br />

5. Mo<strong>de</strong>lação da solução <strong>de</strong> contenção ..................................................................................89<br />

5.1 Solução inicial .............................................................................................................89<br />

5.1.1 Definição da geometria ...........................................................................................89<br />

5.1.2 Características dos materiais e malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos ...................................90<br />

5.1.3 Faseamento construtivo e cálculos.........................................................................93<br />

5.1.4 Resultados ..............................................................................................................96<br />

5.2 Comparação entre resultados previstos pela mo<strong>de</strong>lação inicial e os reais.................97<br />

5.3 Solução incluindo medidas <strong>de</strong> reforço ...................................................................... 103<br />

5.4 Retroanálise da solução ........................................................................................... 106<br />

5.4.1 Análise Paramétrica .............................................................................................. 108<br />

5.4.1.1 Parâmetros escolhidos e sua variação ......................................................... 108<br />

5.4.1.2 Análise dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> e da coesão ................................. 108<br />

5.4.1.3 Análise dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> simultâneo com a coesão e o<br />

ângulo <strong>de</strong> atrito interno .................................................................................................. 110<br />

5.4.2 Retroanálise ......................................................................................................... 113<br />

5.5 Estimativa <strong>de</strong> danos ................................................................................................. 118<br />

6. Consi<strong>de</strong>rações finais ......................................................................................................... 123<br />

6.1 Conclusões ............................................................................................................... 123<br />

6.2 Desenvolvimentos futuros ........................................................................................ 125<br />

Referências Bibliográficas ........................................................................................................ 127<br />

Anexos ..................................................................................................................................... 133<br />

Anexo I - Controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>: ensaios <strong>de</strong> carga nas ancoragens .................................... 135<br />

Anexo II – Descrição das visitas realizadas ao local do caso <strong>de</strong> estudo – <strong>Escavação</strong> e<br />

<strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> para construção do Empreendimento Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça 145<br />

Anexo III – Descrição geológica do terreno intersectado pela escavação ............................ 157<br />

xiii


xiv<br />

Anexo IV – Peças <strong>de</strong>senhadas do Projecto <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> ............. 161<br />

Anexo V – Relatórios dos ensaios <strong>de</strong> carga das ancoragens ............................................... 165<br />

Anexo VI – Esqu<strong>em</strong>as das secções analisadas no Plaxis 2D .............................................. 168<br />

Anexo VII – Relatório <strong>de</strong> instrumentação topográfica nº 119 (6 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2011) ....... 173<br />

Anexo VIII – Relatório <strong>de</strong> instrumentação das células <strong>de</strong> carga das ancoragens ................ 185<br />

Índice <strong>de</strong> Quadros<br />

Quadro 2.1 – Previsão da parcela elástica <strong>de</strong> <strong>em</strong>polamentos no centro duma escavação [7] ..15<br />

Quadro 2.2 – Vantagens e <strong>de</strong>svantagens na utilização <strong>de</strong> ancoragens <strong>em</strong> contenções<br />

periféricas ...................................................................................................................................22<br />

Quadro 2.3 – Factores que influenciam movimentos do terreno <strong>de</strong>vido a estruturas <strong>de</strong><br />

contenção (adaptado <strong>de</strong> [32]).....................................................................................................27<br />

Quadro 2.4 – Valores limite <strong>de</strong> assentamentos e assentamentos diferenciais para estruturas<br />

(adaptado <strong>de</strong> [32]) ......................................................................................................................29<br />

Quadro 2.5 – Classificação <strong>de</strong> danos visíveis (adaptado <strong>de</strong> [31]) ..............................................30<br />

Quadro 2.6 – Extensões críticas <strong>de</strong> tracção correspon<strong>de</strong>ntes aos vários níveis <strong>de</strong> danos<br />

(adaptado <strong>de</strong> [33]) ......................................................................................................................32<br />

Quadro 2.7 – Valores típicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives máximos <strong>em</strong> edifícios e assentamentos, para análise<br />

do risco <strong>de</strong> danos (adaptado <strong>de</strong> [38]] .........................................................................................32<br />

Quadro 2.8 – Limites estabelecidos na NP 2074, para a velocida<strong>de</strong> da vibração <strong>de</strong> pico (mm.s -<br />

1 ) (adaptado <strong>de</strong> [40])...................................................................................................................35<br />

Quadro 2.9 – NP revista – Valores limite do valor da maior componente da velocida<strong>de</strong> da<br />

vibração na base da edificação (vi máx, mm/s) (adaptado <strong>de</strong> [40]) ..............................................35<br />

Quadro 2.10 – Danos: Valores limite da velocida<strong>de</strong> eficaz da vibração, no local [40]................35<br />

Quadro 2.11 – Danos: valores limite da velocida<strong>de</strong> efectiva da vibração, no local [40] .............36<br />

Quadro 2.12 – Vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> contenção periférica <strong>em</strong> meio<br />

urbano ........................................................................................................................................41<br />

Quadro 3.1 – Parâmetros geotécnicos <strong>em</strong> função da zona [46] ................................................46<br />

Quadro 3.2 – Níveis <strong>de</strong> alerta e alarme, e acções a tomar [50] .................................................56<br />

Quadro 4.1– Abertura <strong>de</strong> fendas registadas nos fissurómetros da Embaixada da Bélgica<br />

(adaptado <strong>de</strong> [52]) ......................................................................................................................76<br />

Quadro 4.2– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 17 a 24 <strong>de</strong><br />

Fevereiro [51] .............................................................................................................................83<br />

Quadro 4.3– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 25 <strong>de</strong> Fevereiro a<br />

3 <strong>de</strong> Março [51] ..........................................................................................................................84<br />

Quadro 4.4– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 11 a 17 <strong>de</strong> Março<br />

[51] .............................................................................................................................................85<br />

Quadro 5.1 – Características dos solos <strong>de</strong> cada zona geotécnica .............................................92


Quadro 5.2 – Características dos el<strong>em</strong>entos estruturais da contenção .....................................93<br />

Quadro 5.3 – Deformações máximas previstas do terreno na fase final <strong>de</strong> escavação, e critérios<br />

<strong>de</strong> alerta e alarme para cada secção .........................................................................................97<br />

Quadro 5.4 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos previstos e verificados nos alvos 20 e 21 ........ 101<br />

Quadro 5.5 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos previstos e verificados nos alvos 24 e 25 ........ 103<br />

Quadro 5.6 – Classificação <strong>de</strong> danos visíveis (adaptado <strong>de</strong> [31]) ............................................ 119<br />

Quadro 5.7 – Valores típicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives máximos <strong>em</strong> edifícios e assentamentos, para análise<br />

do risco <strong>de</strong> danos (adaptado <strong>de</strong> [38]) ....................................................................................... 120<br />

Quadro 5.8 – Valores limite <strong>de</strong> assentamentos, e assentamentos diferenciais <strong>em</strong> estruturas<br />

(adaptado <strong>de</strong> [32]) .................................................................................................................... 121<br />

Índice <strong>de</strong> Figuras<br />

Figura 2.1 – Esqu<strong>em</strong>a do equilíbrio vertical <strong>de</strong> cortinas para o caso <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s tipo Moldadas<br />

(à esquerda), e tipo Berlim <strong>de</strong>finitivo (à direita) [2] .......................................................................7<br />

Figura 2.2 – Deslocamentos verticais e horizontais da pare<strong>de</strong> dos mo<strong>de</strong>los físicos <strong>de</strong> Hanna e<br />

Matallana [13] .............................................................................................................................10<br />

Figura 2.3 – Diferenças na <strong>de</strong>formação horizontal e padrão <strong>de</strong> assentamentos <strong>de</strong> uma estrutura<br />

<strong>de</strong> suporte: a) <strong>em</strong> consola, e b) escorada [7] .............................................................................12<br />

Figura 2.4 – Perfil <strong>de</strong> assentamentos à superfície do terreno, provocados por instalação <strong>de</strong><br />

pare<strong>de</strong>s moldadas (adaptado <strong>de</strong> [7]) ..........................................................................................13<br />

Figura 2.5 – Perfil <strong>de</strong> assentamentos à superfície para escavações escoradas, <strong>em</strong> vários tipos<br />

<strong>de</strong> solos (adaptado <strong>de</strong> [7]) ..........................................................................................................14<br />

Figura 2.6 – Assentamentos máximos observados junto a escavações (adaptado <strong>de</strong> [7]) ........14<br />

Figura 2.7 – Perfil adimensional <strong>de</strong> assentamentos recomendados para estimar a distribuição<br />

<strong>de</strong> assentamentos junto a escavações <strong>em</strong> argilas moles a medianamente rijas [7] ..................15<br />

Figura 2.8 – Aplicação <strong>de</strong> escoramentos <strong>de</strong> canto numa escavação on<strong>de</strong> a solução das outras<br />

zonas passou por ancoragens ...................................................................................................17<br />

Figura 2.9 – Solução <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje compl<strong>em</strong>entadas por vigas treliçadas metálicas [26] ..23<br />

Figura 2.10 – Efeito <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong> laje horizontal conferido pelas lajes e pelas treliças metálicas<br />

[26] .............................................................................................................................................23<br />

Figura 2.11 – Suporte vertical das bandas <strong>de</strong> laje por microestacas [26] ..................................24<br />

Figura 2.12 – Relação entre o nível <strong>de</strong> danos com a distorção angular e a extensão horizontal<br />

(adaptado <strong>de</strong> [31]) ......................................................................................................................30<br />

Figura 2.13 – Estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação num ponto, ou estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação média, na distorção<br />

dum el<strong>em</strong>ento da estrutura (adaptado <strong>de</strong> [33]) ..........................................................................31<br />

Figura 3.1 – Área <strong>de</strong> implantação do Empreendimento “Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça” [44] ...43<br />

Figura 3.2 – Alçados adoptados para o recinto da escavação (adaptado <strong>de</strong> [48]) .....................43<br />

Figura 3.3 – Estado inicial do alçado AE, que confronta com a Igreja [47] ................................44<br />

Figura 3.4 – Localização das sondagens e dos poços <strong>de</strong> prospecção (adaptado <strong>de</strong> [48]) ........45<br />

xv


Figura 3.5 – Perfil geológico nº 1 (adaptado <strong>de</strong> [49]) .................................................................46<br />

Figura 3.6 – Estado inicial do alçado FG e canto F, ao fundo (edifício anexo à Embaixada da<br />

Bélgica) [47] ...............................................................................................................................47<br />

Figura 3.7 – Muro <strong>de</strong> separação do alçado JI, e canto J, com edifícios sensíveis adjacentes à<br />

direita (Infantário) [47] ................................................................................................................47<br />

Figura 3.8 - Localização dos alvos topográficos no dia 4 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2010 [50] ...................51<br />

Figura 3.9 – Vista final dos alvos topográficos no alçado DF (adaptado <strong>de</strong> [48]) .......................52<br />

Figura 3.10 – Célula <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancorag<strong>em</strong> no alçado DE .....................................................52<br />

Figura 3.11 – Sismógrafo instalado na capela ...........................................................................54<br />

Figura 3.12 – Fissurómetro do tipo “Gauge 1” (adaptado <strong>de</strong> [53]) .............................................55<br />

Figura 4.1 – <strong>Escavação</strong> para abertura <strong>de</strong> painel na zona geotécnica M1 ..................................59<br />

Figura 4.2 – <strong>Escavação</strong> para abertura <strong>de</strong> painel <strong>em</strong> zona heterogénea ....................................60<br />

Figura 4.3 – Abertura do 3º nível <strong>de</strong> painéis no canto I ..............................................................61<br />

Figura 4.4 – <strong>Escavação</strong> com recurso a martelo eléctrico ...........................................................61<br />

Figura 4.5 – Perfis metálicos tortos ao longo do alçado FG .......................................................61<br />

Figura 4.6 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painel no alçado BC .......................................................................62<br />

Figura 4.7 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> sapata da contenção no alçado AB................................................62<br />

Figura 4.8 – Máquina <strong>de</strong> furação para execução <strong>de</strong> ancoragens...............................................63<br />

Figura 4.9 – Colocação <strong>de</strong> novo troço <strong>de</strong> trado..........................................................................63<br />

Figura 4.10 – Inserção <strong>de</strong> armadura e tubos <strong>de</strong> injecção no furo ..............................................64<br />

Figura 4.11 – Central misturadora ..............................................................................................64<br />

Figura 4.12 – Injecções <strong>em</strong> ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>finitiva ......................................................................64<br />

Figura 4.13 – Colocação do macaco hidráulico para a realização do ensaio <strong>de</strong> recepção ........65<br />

Figura 4.14 – Bomba <strong>de</strong> pressão ...............................................................................................65<br />

Figura 4.15 – Medição do <strong>de</strong>slocamento no êmbolo com recurso a craveira digital ..................65<br />

Figura 4.16 – Colocação das cunhas na cabeça da ancorag<strong>em</strong> ................................................66<br />

Figura 4.17 – Diagrama carga-<strong>de</strong>scarga do ensaio <strong>de</strong> recepção da ancorag<strong>em</strong> nº 124 [55] .....66<br />

Figura 4.18 – Diagrama carga-<strong>de</strong>scarga do ensaio <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> da ancorag<strong>em</strong> nº 163<br />

[55] .............................................................................................................................................67<br />

Figura 4.19 – Perda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do terreno <strong>de</strong>vido a precipitação intensa (10 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro,<br />

[47]) ............................................................................................................................................68<br />

Figura 4.20 - Localização dos alvos topográficos no dia 22 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010 [50] ............69<br />

Figura 4.21 – <strong>Escavação</strong> na zona do canto F, a 5 <strong>de</strong> Janeiro [48].............................................70<br />

Figura 4.22 – Pormenor do canto F, a 10 <strong>de</strong> Janeiro, com vários painéis executados s<strong>em</strong><br />

ancoragens [48]..........................................................................................................................70<br />

Figura 4.23 – Disposição dos fissurómetros nos edifícios anexos da Embaixada da Bélgica [52]<br />

...................................................................................................................................................71<br />

Figura 4.24– Deslocamentos no alvo nº 10, a 10 <strong>de</strong> Janeiro [50] ..............................................71<br />

Figura 4.25 - Deslocamentos no alvo nº 8, a 17 <strong>de</strong> Janeiro [50] ................................................72<br />

Figura 4.26 – Solução inicial para um troço do alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48]) ...........................73<br />

xvi


Figura 4.27 – Solução final para um troço do alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48]) .............................73<br />

Figura 4.28 – Escoramento metálico do canto F (adaptado <strong>de</strong> [48]) ..........................................74<br />

Figura 4.29 – Escoramento do canto F por troços <strong>de</strong> lajes <strong>de</strong> betão armado (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

...................................................................................................................................................74<br />

Figura 4.30 – Deslocamentos do alvo nº 10 até ao início <strong>de</strong> Junho [50] ....................................75<br />

Figura 4.31 – Evolução da abertura <strong>de</strong> fendas dos fissurómetros da Embaixada (adaptado <strong>de</strong><br />

[52]) ............................................................................................................................................76<br />

Figura 4.32 – Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 8 (adaptado <strong>de</strong> [50]) ...........77<br />

Figura 4.33 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 17 (adaptado <strong>de</strong> [50]) ..........78<br />

Figura 4.34 - Alvos topográficos na zona do canto F (adaptado <strong>de</strong> [50]) ...................................78<br />

Figura 4.35 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 35 (adaptado <strong>de</strong> [50]) ..........79<br />

Figura 4.36 – Localzação dos fissurómetros no Infantário [52] ..................................................79<br />

Figura 4.37 – Evolução da abertura <strong>de</strong> fendas nos fissurómetros do Infantário (adaptado <strong>de</strong><br />

[52]) ............................................................................................................................................80<br />

Figura 4.38 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 14 (adaptado <strong>de</strong> [50]) ..........80<br />

Figura 4.39 – Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 21 <strong>de</strong><br />

Fevereiro [51] .............................................................................................................................83<br />

Figura 4.40 – Recurso ao martelo para escavação ....................................................................83<br />

Figura 4.41 – Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 3 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................84<br />

Figura 4.42 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 18 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................85<br />

Figura 4.43 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Capela, a 18 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................86<br />

Figura 4.44 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................86<br />

Figura 4.45 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Capela, a 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................86<br />

Figura 4.46 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 23 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51] ....................................................................................................................................87<br />

Figura 5.1 – Localização dos cortes analisados no Plaxis (adaptado <strong>de</strong> [46]) ...........................89<br />

Figura 5.2 – Geometria do mo<strong>de</strong>lo do corte 4 ............................................................................90<br />

Figura 5.3 – Faseamento construtivo do corte 4 ........................................................................94<br />

Figura 5.4 – Fase “Total” da sequência construtiva ...................................................................95<br />

Figura 5.5 – Redução da fase <strong>de</strong> escavação para meta<strong>de</strong> ........................................................95<br />

Figura 5.6 – Activação da ancorag<strong>em</strong> e do valor do pré-esforço ...............................................95<br />

Figura 5.7 – Mudança do material do el<strong>em</strong>ento “plate”, dos perfis para a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão ......96<br />

Figura 5.8 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina no final da escavação no corte 4, com a<br />

mo<strong>de</strong>lação inicial ........................................................................................................................96<br />

xvii


Figura 5.9 – Deformações horizontais da cortina no final da escavação no corte 4, com a<br />

mo<strong>de</strong>lação inicial ........................................................................................................................96<br />

Figura 5.10 - Deformações verticais da cortina no final da escavação no corte 4, com a<br />

mo<strong>de</strong>lação inicial ........................................................................................................................97<br />

Figura 5.11 – Localização dos alvos topográficos no alçado AD (adaptado <strong>de</strong> [48]) .................99<br />

Figura 5.12 - Vista final dos alvos topográficos no alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48]) ................... 100<br />

Figura 5.13 - Vista final dos alvos topográficos no alçado GH (adaptado <strong>de</strong> [48]) ................... 101<br />

Figura 5.14 – <strong>Escavação</strong> abaixo da cota <strong>de</strong> fundação da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção ..................... 102<br />

Figura 5.15 – Pormenor da heterogeneida<strong>de</strong> e natureza terrosa do solo escavado ................ 102<br />

Figura 5.16 – Localização dos alvos topográficos no alçado IH (adaptado <strong>de</strong> [48])................. 102<br />

Figura 5.17 – Características das escoras-troços <strong>de</strong> laje ......................................................... 104<br />

Figura 5.18 – Cortina <strong>de</strong>formada para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4 ..................... 104<br />

Figura 5.19 – Deformações horizontais para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4 ........... 105<br />

Figura 5.20 - Deformações verticais para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4 ................ 106<br />

Figura 5.21 – Deslocamentos horizontais previstos pelo Plaxis, e verificados no alvo topográfico<br />

nº 25 ......................................................................................................................................... 107<br />

Figura 5.22 – Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 ref ............ 109<br />

Figura 5.23 – Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> c ref ............... 110<br />

Figura 5.24 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> ϕ’ no estrato M1<br />

................................................................................................................................................. 111<br />

Figura 5.25 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 ref , ϕ’ e c ref no<br />

estrato M1, <strong>em</strong> combinações <strong>de</strong> dois ....................................................................................... 112<br />

ref ref<br />

Figura 5.26 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 , ϕ’ e c no<br />

estrato M1, <strong>em</strong> combinações <strong>de</strong> três ....................................................................................... 112<br />

Figura 5.27 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong><br />

ref ref<br />

E50 , ϕ’ e c no estrato M1, e resultados da instrumentação .................................................. 113<br />

Figura 5.28 – Configuração <strong>de</strong>formada da cortina no final da escavação, após retroanálise .. 114<br />

Figura 5.29 – Deformações horizontais da cortina no final da escavação, após retroanálise .. 115<br />

Figura 5.30 - Deformações verticais da cortina no final da escavação, após retroanálise ....... 115<br />

Figura 5.31 – Relação entre o nível <strong>de</strong> danos com a distorção angular e a extensão horizontal<br />

(adaptado <strong>de</strong> [31]) .................................................................................................................... 118<br />

Figura 5.32 – Deformações horizontais da escavação para o corte 7...................................... 119<br />

Figura 5.33 – Deformações verticais da escavação para o corte 7 .......................................... 119<br />

xviii


1. INTRODUÇÃO<br />

1.1 Enquadramento geral<br />

Introdução<br />

Esta dissertação surge no âmbito das obras subterrâneas <strong>de</strong> contenção periférica <strong>em</strong> meio<br />

<strong>de</strong>nsamente urbano, numa altura <strong>em</strong> que o sector da construção civil atravessa uma crise<br />

profunda, nomeadamente no que diz respeito à construção nova. Numa cida<strong>de</strong> como Lisboa,<br />

cada vez é mais frequente haver a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizar o espaço urbano já edificado, que<br />

muitas vezes se encontra já bastante <strong>de</strong>gradado, recorrendo à reabilitação e a obras<br />

subterrâneas. Quando as construções a intervencionar ou as vizinhas são mais antigas, e<br />

provavelmente mais sensíveis, é crucial que os trabalhos <strong>de</strong>corram com cuidados acrescidos,<br />

superiores aos já associados à generalida<strong>de</strong> das obras geotécnicas <strong>em</strong> meio urbano.<br />

No que diz respeito à utilização da tecnologia <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, adaptada dos Muros <strong>de</strong><br />

Berlim, no tipo <strong>de</strong> obras mencionado, constatou-se que exist<strong>em</strong> relativamente poucos<br />

el<strong>em</strong>entos bibliográficos, envolvendo análises <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> estudo sobre a influência do<br />

processo construtivo nas estruturas vizinhas existentes por <strong>de</strong>formações excessivas do<br />

terreno.<br />

É também do conhecimento geral que <strong>em</strong> Portugal a utilização <strong>de</strong>sta técnica <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> talvez<br />

excessivamente do <strong>em</strong>pirismo. A adopção da contenção <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique num cenário <strong>de</strong><br />

construções vizinhas sensíveis exige um elevado investimento <strong>em</strong> instrumentação, que é<br />

crucial para a garantia do bom funcionamento da cortina <strong>em</strong> segurança, e que muitas vezes<br />

não é feito. Alterações ao faseamento construtivo, associadas à incerteza <strong>em</strong> relação às<br />

características geotécnicas do terreno, e a uma instrumentação insuficiente po<strong>de</strong>m resultar na<br />

não previsão dos possíveis danos <strong>em</strong> edifícios vizinhos, ou mesmo <strong>em</strong> aci<strong>de</strong>ntes com<br />

consequências graves durante a escavação.<br />

Assim, a presente dissertação preten<strong>de</strong> contribuir para uma melhor compreensão da<br />

probl<strong>em</strong>ática da realização <strong>de</strong> contenções periféricas junto a edifícios sensíveis, tendo <strong>em</strong><br />

conta os probl<strong>em</strong>as construtivos associados, e suas consequências na envolvente geológico-<br />

geotécnica, e urbana.<br />

1.2 Objectivos da dissertação<br />

O objectivo inicial da dissertação consistia essencialmente na análise <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong><br />

escavação e contenção periférica <strong>em</strong> meio urbano, tendo por base os aspectos que <strong>em</strong> geral<br />

condicionam as referidas soluções, assim como os principais critérios <strong>de</strong> concepção e <strong>de</strong><br />

execução. Estes sofreram uma adaptação <strong>em</strong> função do caso <strong>de</strong> estudo, incidindo mais na<br />

aplicação da técnica <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique num meio <strong>de</strong>nsamente urbano, nomeadamente<br />

constituído por edificações mais antigas e sensíveis.<br />

1


2<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Houve o objectivo <strong>de</strong> abordar as questões teóricas que estavam relacionadas com o t<strong>em</strong>a<br />

analisado através duma revisão bibliográfica dos aspectos principais intervenientes. Optou-se<br />

por uma maior focag<strong>em</strong> na previsão e análise dos <strong>de</strong>slocamentos provocados pela execução<br />

<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> contenção, e não no dimensionamento da contenção para os estados limites<br />

últimos, pois o estado limite <strong>de</strong> serviço será o condicionante para este tipo <strong>de</strong> obras, e neste<br />

enquadramento.<br />

Um dos objectivos era o <strong>de</strong> fazer um seguimento da obra no local, observando o uso dos vários<br />

procedimentos construtivos utilizados na técnica adoptada, e também <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r melhor<br />

o enquadramento urbano e geológico-geotécnico <strong>em</strong> que a contenção se inseria. Com base<br />

nas visitas realizadas à obra preten<strong>de</strong>u-se também comparar a solução proposta <strong>em</strong> projecto<br />

com a efectivamente impl<strong>em</strong>entada <strong>em</strong> obra, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> sequência construtiva como<br />

<strong>de</strong> instrumentação e observação. Foi também estabelecido como objectivo fazer uma análise<br />

comparativa da instrumentação fornecida com os acontecimentos principais da obra e as fases<br />

da escavação, procurando encontrar relações <strong>de</strong> causa e efeito, com mais incidência nas<br />

<strong>de</strong>formações da cortina e suas consequências negativas.<br />

Por último, pretendia-se proce<strong>de</strong>r à mo<strong>de</strong>lação do probl<strong>em</strong>a num programa <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos<br />

finitos, Plaxis 2D, <strong>em</strong> que o objectivo foi o <strong>de</strong> analisar a mo<strong>de</strong>lação realizada inicialmente da<br />

contenção, introduzir uma nova mo<strong>de</strong>lação da solução que incluísse as alterações<br />

impl<strong>em</strong>entadas durante o <strong>de</strong>correr da obra, e comparar os resultados. Houve também o<br />

objectivo <strong>de</strong> fazer uma retroanálise da solução, numa tentativa <strong>de</strong> aproximar as <strong>de</strong>formações<br />

previstas inicialmente <strong>em</strong> projecto dos resultados fornecidos pela instrumentação. Esta seria<br />

feita através da alteração <strong>de</strong> parâmetros geotécnicos do solo, assim como possíveis alterações<br />

consequentes da sequência construtiva efectivamente utilizada no terreno.<br />

1.3 Estrutura da dissertação<br />

O primeiro capítulo correspon<strong>de</strong> à introdução, <strong>em</strong> que é feito um enquadramento geral da<br />

dissertação, seguida duma <strong>de</strong>scrição dos objectivos da mesma, assim como da sua estrutura.<br />

O segundo capítulo é referente a uma abordag<strong>em</strong> teórica ao t<strong>em</strong>a das Escavações e<br />

Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong>, procurando abranger os aspectos mais relevantes<br />

para o caso tratado nesta dissertação. Dentro <strong>de</strong>ste capítulo, <strong>de</strong>screve-se o comportamento<br />

das cortinas flexíveis multi-ancoradas, tipo <strong>de</strong> contenção <strong>em</strong> que se inser<strong>em</strong> os muros <strong>de</strong><br />

Munique, técnica utilizada no caso <strong>de</strong> estudo. É também feita uma referência e comparação<br />

entre os diferentes sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> suporte para contenções periféricas, todos eles <strong>de</strong> certa forma<br />

utilizados na contenção do caso <strong>de</strong> estudo. Sendo a sensibilida<strong>de</strong> das construções vizinhas<br />

uma das condicionantes principais <strong>de</strong>ste caso <strong>de</strong> estudo, foi feita também uma alusão à<br />

influência das escavações nas construções vizinhas. Por último, foram <strong>de</strong>scritos alguns<br />

aspectos relacionados especificamente com a técnica <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, ou Berlim tipo<br />

<strong>de</strong>finitivo, sendo também feita uma comparação com outras técnicas <strong>de</strong> escavação e<br />

contenção passíveis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> utilizadas <strong>em</strong> meio urbano.


Introdução<br />

No terceiro capítulo é apresentado um enquadramento do caso <strong>de</strong> estudo, a contenção para o<br />

<strong>em</strong>preendimento do Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, <strong>em</strong> Santos. É feita uma breve <strong>de</strong>scrição do<br />

projecto <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong>, <strong>em</strong> que é dada uma relevância natural ao Plano<br />

<strong>de</strong> Instrumentação e Observação proposto no projecto, tendo sido também feito um paralelismo<br />

entre o que foi previsto <strong>em</strong> projecto, e o que foi efectivamente impl<strong>em</strong>entado na prática.<br />

Seguidamente, no quarto capítulo é feita uma <strong>de</strong>scrição da evolução da obra, comparando o<br />

projecto com os resultados da instrumentação, e os el<strong>em</strong>entos observados e recolhidos nas<br />

visitas realizadas. São referidas várias situações condicionantes <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações,<br />

assim como um <strong>de</strong>talhe dos processos construtivos observados, procurando estabelecer<br />

relações entre estes e o comportamento da cortina.<br />

No quinto capítulo é apresentada uma breve mo<strong>de</strong>lação da solução <strong>de</strong> contenção no Plaxis 2D.<br />

Esta começa por uma mo<strong>de</strong>lação da solução inicial e comparação com os resultados da<br />

instrumentação, seguida duma mo<strong>de</strong>lação da solução incluindo medidas <strong>de</strong> reforço e<br />

comparação com a inicial, terminando com uma retroanálise da solução entre a mo<strong>de</strong>lação e a<br />

instrumentação, e uma breve análise dos riscos das escavações <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> danos.<br />

Por fim, o sexto e último capítulo refere conclusões gerais obtidas no estudo realizado, e é feita<br />

ainda uma referência a perspectivas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentos futuros no âmbito da análise<br />

elaborada.<br />

3


4<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

2. ESCAVAÇÕES E CONTENÇÕES PERIFÉRICAS EM MEIO<br />

URBANO<br />

2.1 Cortinas multi-ancoradas<br />

2.1.1 Generalida<strong>de</strong>s<br />

A análise das estruturas <strong>de</strong> suporte t<strong>em</strong> sido baseada numa análise do equilíbrio da estrutura,<br />

combinada com uma análise elastoplástica do solo, com o objectivo <strong>de</strong> estimar as tensões<br />

horizontais que se formam a tardoz da cortina [1]. Para a análise do caso específico <strong>de</strong> cortinas<br />

multi-ancoradas é necessário assumir outras hipóteses na análise, porque a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong><br />

um estado activo do terreno a tardoz da cortina leva a <strong>de</strong>slocamentos incompatíveis com as<br />

<strong>de</strong>formações verificadas nestas estruturas. O aparecimento e <strong>de</strong>senvolvimento dos programas<br />

<strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos veio possibilitar uma melhor resolução <strong>de</strong>stes probl<strong>em</strong>as,<br />

aproximando a análise do comportamento real.<br />

As ancoragens das cortinas multi-ancoradas funcionam maioritariamente pela alteração do<br />

estado <strong>de</strong> tensão que induz<strong>em</strong> no solo, ou seja, há um aumento da tensão horizontal na cortina<br />

(e diminuição da tensão <strong>de</strong>viatórica) com a aplicação do pré-esforço nas ancoragens, com<br />

consequente diminuição da <strong>de</strong>formação, como preparação das fases seguintes <strong>de</strong> escavação,<br />

<strong>em</strong> que volta a diminuir a tensão horizontal do solo contido pela escavação, havendo aumento<br />

das <strong>de</strong>formações [2].<br />

Dimensionamento estrutural e Projecto<br />

O dimensionamento <strong>de</strong> cortinas multi-ancoradas é uma questão bastante complexa, <strong>de</strong>vido ao<br />

comportamento não linear do conjunto formado pela cortina, pelo terreno e pelos dispositivos<br />

<strong>de</strong> apoio (ancoragens, escoramentos, bandas <strong>de</strong> laje, etc.). Esta área da geotecnia t<strong>em</strong> sido<br />

alvo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvimentos ao longo das últimas décadas, havendo vários métodos <strong>de</strong><br />

cálculo para a sua análise e dimensionamento.<br />

Os casos <strong>de</strong> estudo dão uma contribuição importante no sentido <strong>de</strong> haver uma caracterização<br />

mais exacta do comportamento <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estruturas, tirando partido da instrumentação<br />

recolhida durante a realização dos trabalhos e mesmo após a sua conclusão.<br />

Como auxílio no dimensionamento estrutural duma solução <strong>de</strong>ste tipo é possível recorrer-se a<br />

métodos <strong>de</strong> análise <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> tensões-<strong>de</strong>formações reocrrendo a el<strong>em</strong>entos finitos<br />

(Plaxis), ou também a médotos que usam diferenças finitas (Flac). Estes apresentam gran<strong>de</strong>s<br />

vantagens <strong>em</strong> relação a outros métodos, como a previsão relativamente aproximada dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos esperados na cortina e a tardoz da mesma, o que permite dimensionar para os<br />

estados limites <strong>de</strong> utilização. E para os estados limites últimos também é conveniente analisar<br />

5


6<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

os diagramas <strong>de</strong> esforços instalados na contenção ao longo <strong>de</strong> todas as fases da escavação,<br />

sendo esta uma vantag<strong>em</strong> no dimensionamento estrutural dos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> contenção [2].<br />

No projecto <strong>de</strong> estruturas ancoradas são usualmente formuladas hipóteses, que estão<br />

associadas a um elevado grau <strong>de</strong> incerteza, e que carec<strong>em</strong> <strong>de</strong> confirmação ao longo do<br />

<strong>de</strong>correr da própria obra. Estas hipóteses são confirmadas através dos resultados obtidos na<br />

instrumentação, analisando as <strong>de</strong>formações do terreno e a variação da tensão nas<br />

ancoragens, e durante o <strong>de</strong>correr da própria escavação, através da observação da constituição<br />

e do comportamento do terreno.<br />

O comportamento das ancoragens das cortinas <strong>de</strong> contenção <strong>de</strong>ve ser analisado tendo <strong>em</strong><br />

conta as várias fases <strong>de</strong> escavação e respectivas interacções entre a cortina, ancoragens e o<br />

solo. Ainda é matéria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> controvérsia a previsão dos movimentos da contenção com a<br />

escavação e a sua relação com as solicitações nas ancoragens [3].<br />

Nível <strong>de</strong> pré-esforço<br />

Nas soluções dimensionadas <strong>de</strong> forma optimizada, a variação <strong>de</strong> pré-esforço nas ancoragens<br />

ao longo do faseamento construtivo <strong>de</strong>ve ser pequena. Quando o pré-esforço é inferior ao<br />

correspon<strong>de</strong>nte a um bom dimensionamento, a carga nas ancoragens vai aumentando<br />

gradualmente ao longo das fases <strong>de</strong> escavação. Para um pré-esforço excessivo é espectável<br />

uma diminuição da carga das ancoragens, não se notando tanto este efeito quando é aplicado<br />

um mo<strong>de</strong>lo constitutivo do solo mais próximo do real, <strong>em</strong> que o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na<br />

<strong>de</strong>scarga é superior ao da carga inicial [2].<br />

Equilíbrio vertical <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> contenção<br />

Nas cortinas ancoradas também surg<strong>em</strong> forças verticais provenientes da carga inclinada das<br />

ancoragens, que têm que ser compensadas, juntamente com o peso próprio da estrutura <strong>de</strong><br />

contenção, pela reacção vertical que se <strong>de</strong>senvolve na sapata da contenção, provocada pela<br />

reacção do terreno <strong>de</strong> fundação. Além da reacção na base da pare<strong>de</strong> também contribu<strong>em</strong> para<br />

este equilíbrio a resultante das forças <strong>de</strong> corte que se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> ao longo da pare<strong>de</strong> nas<br />

interfaces solo-cortina (Figura 2.1).<br />

Como <strong>de</strong>monstrando por Matos Fernan<strong>de</strong>s [4], a componente <strong>de</strong> força <strong>de</strong> atrito vertical do lado<br />

passivo, na interface solo-cortina t<strong>em</strong> alguma importância no equilíbrio vertical da pare<strong>de</strong>,<br />

mesmo quando se verificam assentamentos muito reduzidos. Esta parcela só se <strong>de</strong>senvolve<br />

<strong>em</strong> estruturas do tipo das Pare<strong>de</strong>s Moldadas ou Cortinas <strong>de</strong> Estacas, <strong>em</strong> que existe uma parte<br />

da cortina enterrada. Nas pare<strong>de</strong>s tipo Berlim isto já não acontece, pelo que não se consi<strong>de</strong>ra a<br />

parcela do impulso passivo. No caso da força <strong>de</strong> atrito do lado activo, verifica-se que esta não<br />

chega a ser totalmente mobilizada, mesmo quando ocorr<strong>em</strong> assentamentos elevados.


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Figura 2.1 – Esqu<strong>em</strong>a do equilíbrio vertical <strong>de</strong> cortinas para o caso <strong>de</strong> Pare<strong>de</strong>s tipo Moldadas (à<br />

esquerda), e tipo Berlim <strong>de</strong>finitivo (à direita) [2]<br />

2.1.2 Pressões <strong>de</strong> terras<br />

Nas cortinas multi-escoradas não há métodos directos para chegar à <strong>de</strong>terminação dos<br />

diagramas <strong>de</strong> pressões <strong>de</strong> terras, sendo por isso geralmente utilizadas as envolventes <strong>de</strong><br />

pressões <strong>de</strong>terminadas analisando os esforços <strong>em</strong> escoras, que correspon<strong>de</strong>m aos diagramas<br />

<strong>de</strong> Terzaghi e Peck [2].<br />

A questão nas cortinas multi-ancoradas pren<strong>de</strong>-se com o valor <strong>de</strong> pré-esforço a aplicar nas<br />

ancoragens necessário para equilibrar as pressões <strong>de</strong> terras geradas, garantindo um bom<br />

comportamento <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> esforços e <strong>de</strong>slocamentos, na cortina e na sua envolvente. Em<br />

geral, a aplicação dos diagramas <strong>de</strong> Terzaghi e Peck para a obtenção <strong>de</strong> valores iniciais para a<br />

carga das ancoragens oferece resultados aceitáveis [2].<br />

Segundo Pra<strong>de</strong>l [5] exist<strong>em</strong> três principais métodos indirectos <strong>de</strong> cálculo para pressões <strong>de</strong><br />

terras. Estes po<strong>de</strong>m ser baseados na teoria da plasticida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>terminam as tensões<br />

assumindo que a rotura plástica se dá na massa <strong>de</strong> solo por inteiro ou através duma superfície<br />

<strong>de</strong> rotura, e po<strong>de</strong>m ser divididos <strong>em</strong> linhas <strong>de</strong> rotura, e teor<strong>em</strong>as da região inferior e superior.<br />

Outro dos métodos é conhecido por equilíbrio limite, <strong>em</strong> que se verifica o equilíbrio para um<br />

mecanismo baseado numa cunha <strong>de</strong> rotura. Ou ainda os métodos baseados nos mo<strong>de</strong>los<br />

constitutivos do solo, que po<strong>de</strong>m ser usados para caracterizar<strong>em</strong> o comportamento do solo, <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> tensão-<strong>de</strong>formação. Estes métodos têm uma utilização mais fácil através <strong>de</strong><br />

programas <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos, resolvendo as equações constitutivas para cada el<strong>em</strong>ento<br />

finito, até o cálculo convergir. É no entanto necessário proce<strong>de</strong>r a testes para cada mo<strong>de</strong>lo, a<br />

fim <strong>de</strong> calibrar todos os parâmetros <strong>de</strong> modo a obter a resposta mais próxima da situação real<br />

possível, assim como um programa com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta suficiente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

cálculo.<br />

7


8<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do método utilizado as pressões <strong>de</strong> terras a que está sujeita uma estrutura<br />

<strong>de</strong> contenção <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vários factores. São estas as características mecânicas do solo, a<br />

história <strong>de</strong> tensões e carregamentos dos estratos, a sobrecarga aplicada, a interacção na<br />

interface entre o solo e a estrutura <strong>de</strong> contenção, e as características da <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> do<br />

sist<strong>em</strong>a formado entre a cortina e o terreno suportado.<br />

Em geral, o teor<strong>em</strong>a da região inferior <strong>de</strong> Rankine [6] é mais utilizado <strong>em</strong> solos argilosos<br />

normalmente consolidados, sendo as variáveis usadas os coeficientes <strong>de</strong> impulso <strong>em</strong> repouso,<br />

activo e passivo, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m por sua vez do ângulo <strong>de</strong> atrito interno (ϕ’), o ângulo <strong>de</strong> atrito<br />

entre o solo e a estrutura <strong>de</strong> contenção (δ), a coesão efectiva (c’), ou a resistência não drenada<br />

ao corte (cu) e o peso volúmico (γ). Os parâmetros <strong>de</strong> resistência ao corte <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser obtidos<br />

para cada amostra <strong>de</strong> solo através <strong>de</strong> testes laboratoriais [7].<br />

Para que diminuam ou aument<strong>em</strong> as pressões <strong>de</strong> terra do estado <strong>de</strong> repouso para um estado<br />

activo ou passivo, respectivamente, é necessário que ocorram <strong>de</strong>formações na cortina e no<br />

terreno, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do tipo <strong>de</strong> mecanismo que se forma durante o movimento. Há quatro<br />

tipos <strong>de</strong> mecanismos principais <strong>de</strong> movimentos da cortina reconhecidos na literatura [7]. Estes<br />

consist<strong>em</strong> na rotação da estrutura <strong>de</strong> contenção <strong>em</strong> torno do pé da escavação, rotação da<br />

pare<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno do topo da escavação, <strong>de</strong>flexão da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção (atingindo uma<br />

<strong>de</strong>formação horizontal máxima), e translação lateral da cortina. Por vezes ocorr<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>formações na escavação provocadas por combinações dos diversos mecanismos<br />

mencionados. Os movimentos necessários para que se atinjam estados extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> impulsos<br />

<strong>de</strong> terras <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, como já referido anteriormente, do tipo e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> do solo, sendo a<br />

or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za dos movimentos associados ao estado passivo cerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>z vezes<br />

superior à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za dos movimentos associados ao estado activo [8].<br />

Segundo Bjerrum [9], a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za das <strong>de</strong>formações necessárias para que seja<br />

mobilizado o estado activo <strong>em</strong> argilas consistentes é da mesma or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za das<br />

<strong>de</strong>formações <strong>em</strong> areias, sendo cerca <strong>de</strong> 0.1%-2% da profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação. Em relação<br />

às argilas moles, Das [10] chegou à conclusão que seriam necessárias <strong>de</strong>formações da or<strong>de</strong>m<br />

dos 5% <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação para que fosse mobilizado o estado passivo, no caso <strong>de</strong><br />

rotação da pare<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno do pé da mesma.<br />

O tipo <strong>de</strong> movimento da pare<strong>de</strong> também t<strong>em</strong> influência na distribuição <strong>de</strong> pressões <strong>de</strong> terras,<br />

tanto do lado activo como passivo. Excepto para a cortina <strong>em</strong> consola, as distribuições dos<br />

impulsos são relativamente afastadas dos diagramas triangulares <strong>de</strong> Rankine. Este<br />

afastamento <strong>de</strong>ve-se <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte, aos efeitos do arqueamento da cortina, como resultado<br />

da <strong>de</strong>formação não uniforme da massa <strong>de</strong> solo. Nas cortinas multi-ancoradas as <strong>de</strong>formações<br />

do terreno <strong>de</strong>vido ao impulso activo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da configuração <strong>de</strong>formada da própria cortina e<br />

do pré-esforço nas ancoragens.<br />

Assim, como já referido anteriormente, e <strong>de</strong> acordo com Guerra [2], a estimativa das forças que<br />

são necessárias para equilibrar os impulsos do terreno, a nível <strong>de</strong> pré-dimensionamento, é feita


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

geralmente utilizando métodos <strong>em</strong>píricos <strong>de</strong>senvolvidos através <strong>de</strong> testes laboratoriais, sendo<br />

um dos mais usados, o que utiliza os diagramas <strong>de</strong> pressões <strong>de</strong> terras recomendados por<br />

Terzaghi e Peck [11], tendo sido posteriormente modificados por Peck [12]. Apesar <strong>de</strong> ter<strong>em</strong><br />

surgido outras versões <strong>de</strong>stes diagramas, estas são todas bastante aproximadas e admite-se<br />

que dão boas aproximações <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> esforços, mas não <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, por não<br />

ter<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta os efeitos <strong>de</strong> hiperestatia, a interacção solo-estrutura e o comportamento <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> tensão-<strong>de</strong>formação do solo.<br />

2.1.3 Deslocamentos na cortina e na envolvente<br />

Em obras <strong>de</strong> contenção <strong>em</strong> meio urbano é necessário avaliar os <strong>de</strong>slocamentos previstos<br />

antes do início dos trabalhos, ou seja, <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> projecto. Antes da existência dos métodos <strong>de</strong><br />

análise por el<strong>em</strong>entos finitos, esta avaliação era feita tendo por base as experiências anteriores<br />

<strong>em</strong> obras s<strong>em</strong>elhantes, com terrenos s<strong>em</strong>elhantes. Ainda assim, para mo<strong>de</strong>lar uma estrutura<br />

<strong>de</strong> contenção nos programas <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos é forçosa a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

parâmetros, para que seja possível uma análise próxima do comportamento real. Estes<br />

parâmetros são <strong>de</strong>terminados <strong>de</strong> modo experimental, ou <strong>em</strong>pírico, não dispensando um<br />

acompanhamento muito próximo da execução real dos trabalhos, para aferição dos mesmos.<br />

Os movimentos na escavação e <strong>em</strong> redor <strong>de</strong>sta po<strong>de</strong>m surgir <strong>de</strong>vido a diversos factores, como<br />

perfurações, injecções, variações do nível freático, escavação excessiva, suporte ina<strong>de</strong>quado,<br />

espaçamentos t<strong>em</strong>porais ina<strong>de</strong>quados, sobrecargas imprevistas, etc. Estes movimentos<br />

surg<strong>em</strong> <strong>de</strong>vido a alterações do estado <strong>de</strong> tensão no terreno envolvente, principalmente <strong>em</strong><br />

consequência do alívio das tensões iniciais horizontais e verticais. Os movimentos do solo<br />

po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>vidos a <strong>de</strong>slocamentos horizontais da cortina, (alívio das tensões horizontais<br />

iniciais), <strong>de</strong>slocamentos verticais do solo (assentamentos a tardoz da cortina), ou<br />

<strong>em</strong>polamentos na base da escavação, <strong>de</strong>vido ao alívio das tensões verticais iniciais nessa<br />

zona [7].<br />

Os <strong>de</strong>slocamentos acima do nível da escavação ocorr<strong>em</strong> na cortina e no exterior da<br />

escavação, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m essencialmente das características da estrutura <strong>de</strong> suporte, e da<br />

forma e rapi<strong>de</strong>z com que é colocada <strong>em</strong> serviço. No caso dos muros <strong>de</strong> Munique, a fase crítica<br />

para a ocorrência <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>slocamentos é a <strong>de</strong> abertura dos painéis, e o t<strong>em</strong>po que <strong>de</strong>corre<br />

até se proce<strong>de</strong>r à betonag<strong>em</strong>, e execução da respectiva ancorag<strong>em</strong> ou escoramento. Após a<br />

sua colocação, os <strong>de</strong>slocamentos acima do nível da escavação passam a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

essencialmente do pré-esforço nas ancoragens, e da sua rigi<strong>de</strong>z e interacção com o solo,<br />

sendo os <strong>de</strong>slocamentos significativamente inferiores nesta fase.<br />

Exist<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>slocamentos abaixo do nível da escavação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a cortina seja<br />

suficient<strong>em</strong>ente flexível para permitir o equilíbrio das tensões horizontais. Ou seja, o estado <strong>de</strong><br />

tensão do terreno no lado interior da pare<strong>de</strong> vai ten<strong>de</strong>r do repouso para o passivo, e no<br />

extradorso, passará do repouso para estado activo, <strong>de</strong>vido à diferença <strong>de</strong> tensões efectivas<br />

verticais.<br />

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10<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Com base nas experiências realizadas <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los físicos por Hanna e Matalana [13] as<br />

ancoragens têm melhor comportamento <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> minimizar os <strong>de</strong>slocamentos quando<br />

apresentam uma inclinação mais próxima da horizontal, do que mais inclinadas, tanto para os<br />

<strong>de</strong>slocamentos horizontais, como para os assentamentos (Figura 2.2). Há assim uma maior<br />

vantag<strong>em</strong> <strong>em</strong> ter ancoragens horizontais. No entanto, verifica-se geralmente que o substrato<br />

competente encontra-se a profundida<strong>de</strong>s mais elevadas, sendo necessário a ancorag<strong>em</strong> ter<br />

alguma inclinação para po<strong>de</strong>r ser selada no terreno pretendido, s<strong>em</strong> possuir comprimentos<br />

<strong>de</strong>masiado elevados. O objectivo é então encontrar um equilíbrio no que respeita a inclinação e<br />

comprimento, <strong>de</strong> modo a conseguir um bom funcionamento da ancorag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> forma<br />

económica.<br />

Figura 2.2 – Deslocamentos verticais e horizontais da pare<strong>de</strong> dos mo<strong>de</strong>los físicos <strong>de</strong> Hanna e<br />

Matallana [13]<br />

Segundo outros ensaios elaborados por Hanna e Abu Taleb [14], quando o substrato rígido<br />

encontra-se logo ao nível da base da pare<strong>de</strong>, os <strong>de</strong>slocamentos verticais elevados na situação<br />

<strong>de</strong> ancoragens mais inclinadas (30º) não se verificam, e os restantes <strong>de</strong>slocamentos diminu<strong>em</strong><br />

consi<strong>de</strong>ravelmente, aproximando-se o comportamento da situação <strong>em</strong> que as ancoragens são<br />

horizontais. A pare<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a sofrer movimentos <strong>de</strong> rotação <strong>em</strong> torno da base, e à medida que<br />

a escavação vai avançando, <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> meia altura, tornando-se nesta situação<br />

mais indiferente o aspecto da inclinação das ancoragens.<br />

Ao aumentar o ângulo das ancoragens com a horizontal obtêm-se, além <strong>de</strong> assentamentos<br />

mais elevados, ângulos <strong>de</strong> atrito entre a cortina e o terreno mais reduzidos, se b<strong>em</strong> que a uma<br />

taxa menor do que para os assentamentos [15].<br />

Matos Fernan<strong>de</strong>s et al. [15] concluíram, através <strong>de</strong> testes <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los numéricos <strong>de</strong> cortinas<br />

multi-ancoradas que a altura enterrada da cortina também t<strong>em</strong> um papel importante nos<br />

<strong>de</strong>slocamentos, na medida <strong>em</strong> que, nalgumas situações, não há comprimento suficiente para<br />

se <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong> as forças <strong>de</strong> atrito necessárias ao equilíbrio vertical. Verificou-se que para<br />

alturas enterradas aceitáveis a cortina apresentou <strong>de</strong>slocamentos horizontais que foram<br />

aumentando ligeiramente ao longo das fases <strong>de</strong> escavação. Para alturas enterradas<br />

insuficientes houve <strong>de</strong>slocamentos horizontais e assentamentos bastante mais acentuados,<br />

que continuaram a aumentar com maior intensida<strong>de</strong> nas últimas fases da escavação, contando<br />

também com a contribuição do próprio tensionamento das ancoragens (componente vertical).


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Pô<strong>de</strong> também ser observado o comportamento que <strong>de</strong>ve apresentar uma cortina b<strong>em</strong><br />

dimensionada, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> variação <strong>de</strong> carga nas ancoragens. Estas aumentam nas fases<br />

<strong>de</strong> escavação, e diminu<strong>em</strong> quando são tencionadas novas ancoragens a níveis mais abaixo,<br />

atingindo a carga máxima quando se realiza a escavação imediatamente à aplicação do pré-<br />

esforço. Como já referido anteriormente, estas variações <strong>de</strong>verão ser s<strong>em</strong>pre pequenas, <strong>em</strong><br />

termos percentuais (inferiores a 10%).<br />

Em cortinas do tipo Berlim <strong>de</strong>finitivo, já que o processo construtivo não permite a existência <strong>de</strong><br />

altura enterrada da pare<strong>de</strong>, o probl<strong>em</strong>a do equilíbrio vertical é resolvido pela selag<strong>em</strong> dos<br />

perfis <strong>em</strong> terreno competente, e abaixo do nível da escavação, garantindo que as cargas são<br />

transmitidas ao mesmo, s<strong>em</strong> resultar <strong>em</strong> assentamentos excessivos para a cortina e o solo<br />

suportado [2].<br />

Os movimentos horizontais que se verificam no terreno envolvente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do modo como<br />

se <strong>de</strong>forma a cortina <strong>de</strong> contenção, que por sua vez, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte, das<br />

características do solo e do processo construtivo. O projectista <strong>de</strong>ve ter <strong>em</strong> conta os factores<br />

mencionados que condicionam as <strong>de</strong>formações na escavação, sendo no entanto, bastante<br />

difícil prever certas condições existentes no local, ou mesmo algumas alterações que possam<br />

ocorrer no método construtivo, e que sejam susceptíveis <strong>de</strong> induzir um comportamento<br />

diferente do admitido nas hipóteses do projecto [7].<br />

A rigi<strong>de</strong>z do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z<br />

lateral (escoras e ancoragens), <strong>de</strong> flexão (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção), e vertical (pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção e ancoragens). O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte da cortina <strong>em</strong> estudo possuirá uma<br />

combinação <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z, que <strong>de</strong>termina tanto a <strong>de</strong>formada da estrutura <strong>de</strong><br />

contenção, como o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos atingidos. Quando é usado um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte<br />

com elevada rigi<strong>de</strong>z lateral, as maiores <strong>de</strong>formações no terreno suportado ocorr<strong>em</strong> antes da<br />

instalação dos el<strong>em</strong>entos horizontais <strong>de</strong> suporte, sendo nesta fase os movimentos<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> flexão da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção e das proprieda<strong>de</strong>s do solo, e na<br />

fase seguinte, após instalação dos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> suporte lateral, governados pela rigi<strong>de</strong>z dos<br />

mesmos e também pela zona <strong>em</strong> que a carga é transferida para o solo. Foi verificado por<br />

vários autores ([16] e [17]) que a maior parte dos movimentos horizontais nas escavações<br />

ocorr<strong>em</strong> na fase inicial, antes da instalação dos escoramentos ou ancoragens. Outro dos<br />

factores que afecta gran<strong>de</strong>mente o comportamento da cortina está directamente relacionado<br />

com o processo construtivo da mesma, sendo que nos métodos <strong>em</strong> que se executa a pare<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> contenção enterrada, e antes <strong>de</strong> se iniciar a escavação, observam-se <strong>de</strong>formações muito<br />

diferentes da situação <strong>em</strong> que se vai construindo a pare<strong>de</strong> à medida que se vai avançando na<br />

escavação (por ex<strong>em</strong>plo na técnica <strong>de</strong> muros <strong>de</strong> Berlim). No caso da última situação, os<br />

<strong>de</strong>slocamentos horizontais na fase antes da instalação dos suportes laterais, estão<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes quase na totalida<strong>de</strong> da rigi<strong>de</strong>z do solo suportado.<br />

11


12<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Os assentamentos que ocorr<strong>em</strong> a tardoz da cortina durante uma escavação são bastante<br />

importantes, <strong>de</strong>vido às implicações directas que têm nas construções adjacentes,<br />

nomeadamente quando a escavação t<strong>em</strong> lugar <strong>em</strong> meio <strong>de</strong>nsamente urbano. Estes<br />

<strong>de</strong>slocamentos po<strong>de</strong>m ser provocados por três tipos <strong>de</strong> fenómenos: Assentamentos do terreno<br />

induzidos por <strong>de</strong>flexão da cortina durante a escavação, <strong>de</strong>vido à construção da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção, ou <strong>de</strong>vido à instalação das ancoragens [7].<br />

Devido ao alívio das tensões horizontais do solo durante a escavação ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>formações<br />

horizontais da cortina, do terreno e consequent<strong>em</strong>ente também assentamentos à superfície a<br />

tardoz da mesma. O nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais, verticais e a relação entre eles<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo e rigi<strong>de</strong>z do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte, da sua posição, e da rigi<strong>de</strong>z da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção, e também do solo. Como se vê na Figura 2.3 o tipo <strong>de</strong> movimentos é diferente,<br />

conforme o tipo <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte. Na imag<strong>em</strong> da esquerda po<strong>de</strong> observar-se um sist<strong>em</strong>a<br />

<strong>em</strong> que a cortina funciona como consola e são permitidos os <strong>de</strong>slocamentos à superfície.<br />

Nesta situação, a maior parte dos <strong>de</strong>slocamentos horizontais ocorre assim à superfície,<br />

fazendo com que estes possam ser maiores que os assentamentos a tardoz da cortina [18],<br />

que ocorrerão imediatamente por trás da mesma. Se o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte restringir as<br />

<strong>de</strong>formações da cortina perto da superfície, as <strong>de</strong>formações máximas horizontais irão ocorrer a<br />

maior profundida<strong>de</strong>, e provocarão assentamentos ainda maiores, que terão lugar numa zona<br />

mais afastada do local da escavação (imag<strong>em</strong> da direita da Figura 2.3).<br />

Figura 2.3 – Diferenças na <strong>de</strong>formação horizontal e padrão <strong>de</strong> assentamentos <strong>de</strong> uma estrutura <strong>de</strong><br />

suporte: a) <strong>em</strong> consola, e b) escorada [7]<br />

Clough e O’Rourke [19] registaram <strong>em</strong> escavações <strong>de</strong>slocamentos horizontais máximos da<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 0.2% da profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação, e verticais <strong>de</strong> 0.15%,<br />

para cortinas multi-escoradas. Ou seja, verificou-se que o assentamento máximo foi cerca <strong>de</strong><br />

75% da <strong>de</strong>formação horizontal registada. Esta relação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> claramente <strong>de</strong> variados<br />

factores, tendo também sido verificado por Duncan e Bentler [20] que há uma variação<br />

relativamente elevada na relação entre o assentamento máximo e o <strong>de</strong>slocamento horizontal<br />

máximo, entre 0.25 e 0.4. Esta variação realça mais uma vez a importância da boa execução<br />

durante a construção, respeito pelo faseamento construtivo e investimento na instrumentação,<br />

neste tipo <strong>de</strong> obras geotécnicas. Deve ter-se ainda <strong>em</strong> atenção que os factores que contribu<strong>em</strong><br />

para o aumento dos assentamentos não provocam necessariamente mais <strong>de</strong>slocamentos


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

horizontais, po<strong>de</strong>ndo no entanto verificar-se esta <strong>de</strong>pendência para a situação contrária<br />

(maiores <strong>de</strong>slocamentos horizontais po<strong>de</strong>m induzir maiores assentamentos).<br />

Quando a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção consiste <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos finos, como por ex<strong>em</strong>plo nas cortinas<br />

<strong>de</strong> estacas-prancha, não é induzido um gran<strong>de</strong> alívio da tensão total do solo, na medida <strong>em</strong><br />

que a inserção <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos no terreno não ocupa muito espaço transversalmente.<br />

No caso <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contenção mais espessas (pare<strong>de</strong>s moldadas, cortina <strong>de</strong> estacas) tal já<br />

não se verifica pois ao escavar para introduzir painéis <strong>de</strong> betão armado, ou estacas <strong>de</strong> betão<br />

armado, é criado um espaço vazio, que seja suportado ou não, irá diminuir as tensões totais<br />

naquela zona, <strong>em</strong> relação às iniciais. A tensão total horizontal nas fronteiras no buraco criado<br />

irá diminuir até atingir o valor <strong>de</strong> zero, se o buraco não for suportado, ou o valor <strong>de</strong> pressão<br />

exercido pelo material que se colocar no interior do furo para suporte das suas pare<strong>de</strong>s [21].<br />

Esta diminuição da tensão horizontal, ainda que por pouco t<strong>em</strong>po, po<strong>de</strong> resultar <strong>em</strong><br />

movimentos da massa <strong>de</strong> solo. Os próprios métodos <strong>de</strong> execução da cortina, para escavação,<br />

perfuração ou vibração do terreno po<strong>de</strong>m provocar assentamentos do terreno que se está a<br />

perturbar (Figura 2.4).<br />

Figura 2.4 – Perfil <strong>de</strong> assentamentos à superfície do terreno, provocados por instalação <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

moldadas (adaptado <strong>de</strong> [7])<br />

Os movimentos provocados pela perfuração do terreno para a instalação <strong>de</strong> ancoragens estão<br />

relacionados com o fenómeno mencionado anteriormente. O nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

do tipo <strong>de</strong> método usado para a furação, do suporte ou não das pare<strong>de</strong>s do furo, e do tipo <strong>de</strong><br />

solo. Os <strong>de</strong>slocamentos provocados por esta fase ganham mais significado <strong>em</strong> solos moles ou<br />

fracamente coesivos, e na presença <strong>de</strong> nível freático elevado.<br />

O rebaixamento do nível freático na zona envolvente da escavação po<strong>de</strong> também provocar<br />

elevados assentamentos, pois com a diminuição da altura <strong>de</strong> água aumentam as tensões<br />

efectivas no solo; este aumento <strong>de</strong> tensão faz com que a massa <strong>de</strong> terreno fique mais pesada,<br />

e mais propícia a sofrer fenómenos <strong>de</strong> consolidação, que por sua vez provocam<br />

assentamentos na escavação e na sua envolvente. Este fenómeno, tal como o <strong>de</strong>scrito<br />

anteriormente, ocorre com mais intensida<strong>de</strong> <strong>em</strong> solos com fraca consistência.<br />

As <strong>de</strong>formações na pare<strong>de</strong> não po<strong>de</strong>m ser evitadas simplesmente através do aumento do pré-<br />

esforço nas ancoragens. Este aumento do pré-esforço numa primeira fase só terá o efeito <strong>de</strong><br />

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<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

gerar pressões internas que po<strong>de</strong>rão prevenir a formação duma cunha <strong>de</strong> impulso activo e a<br />

<strong>de</strong>scompressão do solo. Além disso um pré-esforço elevado po<strong>de</strong> levar a uma excessiva<br />

compactação lateral da massa <strong>de</strong> solo, e especialmente a um aumento dos assentamentos na<br />

zona final da ancorag<strong>em</strong> [22].<br />

Em geral, os movimentos horizontais e verticais da massa <strong>de</strong> solo durante a realização <strong>de</strong><br />

escavações e contenções periféricas ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>vido a uma conjunção <strong>de</strong> alguns ou todos os<br />

factores mencionados acima, e po<strong>de</strong>m ser previstos com alguma precisão por programas que<br />

usam métodos <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos. A principal dificulda<strong>de</strong> na obtenção <strong>de</strong> bons resultados<br />

com este método está na <strong>de</strong>terminação dos parâmetros do solo reais (ou os mais próximos da<br />

realida<strong>de</strong> possíveis), e na recriação no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> algumas condições no terreno, como a<br />

sobre-escavação, os atrasos e paragens na escavação, as sobrecargas e vibrações<br />

imprevistas, ou o suporte insuficiente, ou mesmo o próprio faseamento do método construtivo<br />

utilizado. Na Figura 2.5 po<strong>de</strong> ver-se uma estimativa dos assentamentos <strong>em</strong> escavações para<br />

vários tipos <strong>de</strong> solos, realizado por Peck [12].<br />

Figura 2.5 – Perfil <strong>de</strong> assentamentos à<br />

superfície para escavações escoradas, <strong>em</strong><br />

vários tipos <strong>de</strong> solos (adaptado <strong>de</strong> [7])<br />

Figura 2.6 – Assentamentos máximos<br />

observados junto a escavações (adaptado <strong>de</strong><br />

[7])<br />

No entanto, com a evolução das técnicas <strong>de</strong> escavação e contenção, e do conhecimento<br />

científico sobre o comportamento do solo <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas condições houve uma diminuição<br />

<strong>de</strong>stes assentamentos, previstos e verificados. Na Figura 2.6 encontra-se um esqu<strong>em</strong>a com<br />

uma previsão mais recente, para várias técnicas <strong>de</strong> escavação e contenção: muros <strong>de</strong> Berlim<br />

ou cortina <strong>de</strong> estacas prancha, pare<strong>de</strong>s moldadas e cortina <strong>de</strong> estacas. Na Figura 2.7<br />

encontra-se uma esqu<strong>em</strong>atização para os assentamentos a tardoz da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção,<br />

<strong>em</strong> função da distância à mesma, para argilas médias a moles [19].


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Figura 2.7 – Perfil adimensional <strong>de</strong> assentamentos recomendados para estimar a distribuição <strong>de</strong><br />

assentamentos junto a escavações <strong>em</strong> argilas moles a medianamente rijas [7]<br />

Os <strong>em</strong>polamentos que se verificam no fundo da escavação ocorr<strong>em</strong> principalmente <strong>de</strong>vido ao<br />

alívio das tensões verticais durante o processo <strong>de</strong> escavação, à <strong>de</strong>formação da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção que <strong>em</strong>purra o solo para o interior da escavação e à <strong>de</strong>formação plástica do solo<br />

abaixo do nível da escavação <strong>de</strong>vido à alteração das tensões principais iniciais. Os factores<br />

que afectam estes fenómenos são a profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação, a rigi<strong>de</strong>z (com maior peso) e<br />

resistência do solo, e a distância ao substrato rígido abaixo do fundo da escavação.<br />

A parcela elástica dos <strong>em</strong>polamentos po<strong>de</strong> ser estimada através das equações presentes no<br />

Quadro 2.1. Estas apresentam algumas diferenças entre si, por ex<strong>em</strong>plo Weissenbach usa o<br />

módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>scarga/carga <strong>em</strong> vez do módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> do carregamento<br />

primário, o que faz algum sentido visto que o solo do fundo da escavação está sob <strong>de</strong>scarga<br />

durante a mesma.<br />

Em que:<br />

Quadro 2.1 – Previsão da parcela elástica <strong>de</strong> <strong>em</strong>polamentos no centro duma escavação [7]<br />

Equação Referência<br />

Bjerrum et al. 1972<br />

Weissenbach 1977<br />

Fang 1991<br />

δvh - parcela elástica <strong>de</strong> <strong>em</strong>polamento vertical no centro da escavação<br />

μ1, μ2 - coeficientes que representam o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e distância<br />

ao firme<br />

N - número <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

ξ - coeficiente que relaciona a resistência ao corte não drenada com o módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong><br />

não drenado<br />

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16<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

isi - coeficiente que representa o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e distância ao<br />

firme<br />

γ - peso volúmico do solo; coeficiente relativo ao nº médio <strong>de</strong> solicitações por dia para o cálculo<br />

<strong>de</strong> valor limite <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula<br />

h - profundida<strong>de</strong> da escavação<br />

∆z - espessura da camada <strong>de</strong> solo abaixo da escavação<br />

Eur - módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scarga/carga<br />

sd - <strong>de</strong>slocamento horizontal do pé da pare<strong>de</strong><br />

t - ficha da pare<strong>de</strong><br />

b - largura da escavação<br />

Cr - factor <strong>de</strong> forma<br />

∆strip - coeficiente que representa o efeito da largura da escavação, profundida<strong>de</strong> e distância ao<br />

firme<br />

Eu - módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> não drenado<br />

Esta equação t<strong>em</strong> também <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a <strong>de</strong>formação horizontal do solo causada pelo<br />

<strong>de</strong>slocamento horizontal da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção perto da base <strong>de</strong>sta. Embora existam alguns<br />

ensaios <strong>de</strong> laboratórios que po<strong>de</strong>m ser feitos para prever o comportamento do solo sob estas<br />

acções, a melhor maneira <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r a esta previsão continua a ser através do método dos<br />

el<strong>em</strong>entos finitos. Escolhendo um mo<strong>de</strong>lo constitutivo a<strong>de</strong>quado para o tipo <strong>de</strong> solo, e<br />

calibrando o melhor possível os seus parâmetros, é possível simular simultaneamente o<br />

comportamento da massa <strong>de</strong> solo no fundo da escavação sujeita ao alívio das tensões<br />

verticais, à <strong>de</strong>formação plástica do solo das camadas inferiores e às <strong>de</strong>formações horizontais<br />

provocadas pelo pé da cortina [7].<br />

2.2 Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> escavações<br />

2.2.1 Escoramentos<br />

Os escoramentos representam um dos métodos mais antigos <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> escavações, pela<br />

sua simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> funcionamento e execução, sendo que os primeiros utilizados eram<br />

constituídos por ma<strong>de</strong>ira, <strong>em</strong> vez dos escoramentos metálicos e <strong>em</strong> betão armado, mais<br />

recentes.<br />

A aplicação <strong>de</strong>sta solução no suporte <strong>de</strong> contenções periféricas apesar <strong>de</strong> representar uma<br />

gran<strong>de</strong> economia, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> material como <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra, e <strong>de</strong> necessitar <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>pos curtos <strong>de</strong> execução, acarreta também gran<strong>de</strong>s limitações. Estas limitações po<strong>de</strong>m


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

traduzir-se numa gran<strong>de</strong> diminuição do espaço na plataforma <strong>de</strong> trabalho, <strong>de</strong>vido à sua<br />

ocupação do recinto por níveis, e também po<strong>de</strong> ser necessário recorrer a escoras ou perfis <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> dimensão, para vencer<strong>em</strong> maiores vãos, s<strong>em</strong> que ocorram probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> encurvadura<br />

n<strong>em</strong> flexão.<br />

Os escoramentos aplicam-se assim, maioritariamente <strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que as pare<strong>de</strong>s a<br />

escorar são relativamente próximas, e nos cantos, o que acontece <strong>em</strong> quase todas as<br />

contenções (Figura 2.8).<br />

Figura 2.8 – Aplicação <strong>de</strong> escoramentos <strong>de</strong> canto numa escavação on<strong>de</strong> a solução das outras<br />

zonas passou por ancoragens<br />

No entanto, o seu campo <strong>de</strong> aplicação não <strong>de</strong>ve ser limitado a estas situações, sendo da maior<br />

importância analisar as características do cenário <strong>em</strong> questão, avaliando as vantagens e<br />

<strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> todas as alternativas <strong>de</strong> suporte.<br />

Exist<strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que os escoramentos apresentam uma solução muito vantajosa <strong>em</strong><br />

relação às ancoragens, por não exigir<strong>em</strong> a invasão do subsolo vizinho, não causando tantas<br />

perturbações, ou quando o terreno competente se encontra a uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong>masiado<br />

elevada para que seja viável a execução das ancoragens. É ainda possível aplicar pré-esforço<br />

nas escoras rígidas, o que permite uma maior eficácia do suporte da escavação, com menores<br />

<strong>de</strong>formações na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção.<br />

2.2.2 Ancoragens<br />

2.2.2.1 Campo <strong>de</strong> aplicação<br />

As ancoragens têm aplicação <strong>em</strong> vários tipos <strong>de</strong> estruturas, sendo o mais frequente <strong>em</strong><br />

estruturas flexíveis verticais ou sub-verticais, como pare<strong>de</strong>s moldadas, pare<strong>de</strong>s tipo Munique e<br />

Berlim, e <strong>em</strong> cortinas <strong>de</strong> estacas moldadas ou <strong>de</strong> estacas prancha, e também <strong>em</strong> estruturas <strong>de</strong><br />

suporte ou estabilização <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s. Em contenções <strong>de</strong> escavações para edifícios, as<br />

ancoragens têm geralmente carácter provisório (t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida inferior a 2 anos), enquanto que<br />

para estruturas <strong>de</strong> suporte isoladas estas são geralmente <strong>de</strong> carácter <strong>de</strong>finitivo (t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida<br />

superior a 2 anos).<br />

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18<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Esta técnica <strong>de</strong> travamento também po<strong>de</strong> ser aplicada <strong>em</strong> amarrações <strong>de</strong> lajes <strong>de</strong> fundo, no<br />

sentido <strong>de</strong> impedir o seu levantamento <strong>de</strong>vido a subpressões. Outra das aplicações po<strong>de</strong> ser<br />

na amarração <strong>de</strong> fundações <strong>de</strong> superstruturas, <strong>em</strong> situações <strong>em</strong> que estas estejam sujeitas a<br />

esforços globais <strong>de</strong> tracção. Neste caso, as ancoragens distingu<strong>em</strong>-se das microestacas<br />

essencialmente por as primeiras funcionar<strong>em</strong> mais à tracção e as segundas à compressão<br />

[23].<br />

2.2.2.2 Constituição das ancoragens<br />

Cabeça e comprimento livre da ancorag<strong>em</strong><br />

As ancoragens são constituídas por cabeça, comprimento livre e bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>. A cabeça<br />

garante a transmissão do pré-esforço ao comprimento livre da ancorag<strong>em</strong>, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do tipo<br />

<strong>de</strong> pré-esforço aplicado. Geralmente o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> aperto usando cunhas está associado ao<br />

uso <strong>de</strong> cabos nas ancoragens, e para varões <strong>de</strong> alta resistência usam-se porcas roscadas na<br />

cabeça da ancorag<strong>em</strong>. O pré-esforço é aplicado com recurso a um macaco hidráulico, e a força<br />

transmitida através <strong>de</strong> uma placa <strong>de</strong> ancorag<strong>em</strong>, que permite que a ancorag<strong>em</strong> fique logo com<br />

a inclinação pretendida <strong>em</strong> projecto. O comprimento livre é o troço que faz a ligação entre a<br />

cabeça da ancorag<strong>em</strong> e o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, e é constituído pela armadura e o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

injecção, que se prolongam até à zona <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> [23].<br />

Armadura<br />

A armadura da ancorag<strong>em</strong>, como já referido, po<strong>de</strong> ser constituída por um varão ou barra <strong>de</strong><br />

aço <strong>de</strong> alta resistência roscado na ponta, ou por um cabo <strong>de</strong> aço flexível, sendo esta última a<br />

solução mais comum <strong>em</strong> ancoragens. Cada cabo <strong>de</strong> aço flexível é constituído por vários<br />

cordões <strong>de</strong> alta resistência, e baixa, ou muito baixa relaxação, geralmente envolvidos por uma<br />

manga <strong>de</strong> PVC <strong>em</strong> todo o seu comprimento livre, e <strong>de</strong>sprotegidos na zona da selag<strong>em</strong>, para<br />

que haja a<strong>de</strong>rência entre a ancorag<strong>em</strong> e o terreno envolvente, transmitida através da calda <strong>de</strong><br />

cimento.<br />

Bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong><br />

O bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> correspon<strong>de</strong> à zona fixa da ancorag<strong>em</strong>, que se <strong>de</strong>ve localizar fora da<br />

cunha <strong>de</strong> rotura da escavação, e que po<strong>de</strong> exigir um tratamento do terreno, caso o estrato<br />

competente se encontre a gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s. É para a execução do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> que<br />

se recorr<strong>em</strong> a pressões mais elevadas na injecção da calda <strong>de</strong> cimento, <strong>de</strong> modo a preencher<br />

todos os vazios existentes no solo, garantindo uma boa ligação entre a extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> da<br />

ancorag<strong>em</strong> e o terreno envolvente. Esta ligação é conseguida por intermédio da calda <strong>de</strong><br />

cimento, aumentando a área <strong>de</strong> contacto entre os el<strong>em</strong>entos a ligar, <strong>de</strong> forma a que seja<br />

transmitida a totalida<strong>de</strong> da força da ancorag<strong>em</strong> ao solo.<br />

2.2.2.3 Processo construtivo


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

O processo <strong>de</strong> execução das ancoragens varia conforme o tipo <strong>de</strong> ancorag<strong>em</strong> adoptada, e<br />

também do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção, seguindo todos geralmente um procedimento s<strong>em</strong>elhante ao<br />

<strong>de</strong>scrito seguidamente:<br />

� Execução do furo da ancorag<strong>em</strong>, com recurso a trado contínuo, ou a sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> varas<br />

e bit, conforme o tipo <strong>de</strong> terreno;<br />

� Inserção manual do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção e armadura, no interior do furo;<br />

� Realização da injecção <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> da armadura, por preenchimento do furo com calda<br />

<strong>de</strong> cimento (por gravida<strong>de</strong>, ou com recurso a baixas pressões ≈ 0.5MPa);<br />

� Reinjecção do furo para a formação do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, com recurso a pressões<br />

médias a altas (≈ 2 a 4 MPa);<br />

� Tensionamento da ancorag<strong>em</strong> com recurso ao macaco hidráulico.<br />

Como já referido anteriormente este processo po<strong>de</strong>rá sofrer algumas alterações conforme o<br />

tipo <strong>de</strong> terreno, a técnica <strong>de</strong> contenção e o tipo <strong>de</strong> ancoragens e sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção<br />

adoptados. Se os terrenos envolventes da escavação for<strong>em</strong> bastante incoerentes, as pare<strong>de</strong>s<br />

do furo po<strong>de</strong>m ter que ser suportadas por um tubo metálico, com ponteira perdida, que vai<br />

sendo introduzido à medida que se proce<strong>de</strong> à furação do terreno (com varas e bit), e é retirado<br />

imediatamente após a selag<strong>em</strong> do furo com calda <strong>de</strong> cimento, seguida da introdução da<br />

armadura com a calda ainda fresca.<br />

Furação com trado contínuo<br />

A furação com recurso a trado contínuo foi o método usado na execução das ancoragens do<br />

caso <strong>de</strong> estudo analisado. Esta técnica é bastante utilizada, <strong>de</strong>vido às relativamente pequenas<br />

perturbações que induz no terreno perfurado, comparativamente a outras técnicas mais<br />

agressivas. A perturbação reduzida <strong>de</strong>ve-se ao facto da furação seguir o princípio do parafuso<br />

<strong>de</strong> Arquime<strong>de</strong>s, o que permite que os <strong>de</strong>tritos do furo sejam recolhidos pelo próprio trado. A<br />

furação por trado contínuo é apenas possível <strong>em</strong> solos coesivos <strong>de</strong> compacida<strong>de</strong> média, ou<br />

mesmo <strong>em</strong> rochas friáveis, e s<strong>em</strong> presença <strong>de</strong> água significativa, porque o trado não possui a<br />

rigi<strong>de</strong>z necessária para suportar e transmitir binários elevados. Os solos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> também<br />

possuir a coesão suficiente para que as pare<strong>de</strong>s do furo se auto-suport<strong>em</strong> no intervalo <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po que <strong>de</strong>corre <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a furação até à injecção <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> da armadura e preenchimento<br />

do furo.<br />

Injecção <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> – Sist<strong>em</strong>as IGU e IRS<br />

A injecção para criação do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> é feita, geralmente cerca <strong>de</strong> 24 após a injecção<br />

<strong>de</strong> preenchimento do furo. Estas po<strong>de</strong>m adoptar o sist<strong>em</strong>a IGU – injecção global unitária, ou o<br />

sist<strong>em</strong>a IRS – injecção repetitiva selectiva. Nas ancoragens do caso <strong>de</strong> estudo analisado o<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção inicialmente previsto <strong>em</strong> projecto seria o IRS, mas o sist<strong>em</strong>a efectivamente<br />

utilizado foi uma adaptação do IGU.<br />

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20<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção global unitária implica a injecção da calda <strong>de</strong> cimento <strong>de</strong> uma só vez e<br />

através das válvulas anti-retorno existentes nos tubos <strong>de</strong> injecção. Nesta técnica há uma<br />

tendência para a calda ficar acumulada perto das saídas, ou escapar-se por algum caminho<br />

preferencial, o que diminui a eficácia <strong>de</strong>ste sist<strong>em</strong>a [23].<br />

No sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção repetitiva selectiva, a calda é introduzida <strong>de</strong> forma selectiva, ao longo<br />

<strong>de</strong> múltiplas saídas distribuídas ao longo do comprimento <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> (válvulas anti-retorno<br />

sucessivas), e repartida por várias injecções, até se atingir<strong>em</strong> as características <strong>de</strong> resistência<br />

pretendidas. As injecções são feitas com recurso a um obturador duplo, que permite isolar o<br />

trajecto da calda <strong>de</strong> cimento, alimentando apenas uma válvula <strong>de</strong> cada vez, <strong>de</strong> baixo para<br />

cima, e é feito <strong>em</strong> cada série um controlo do volume <strong>de</strong> calda e da pressão com que esta é<br />

injectada. Entre cada série <strong>de</strong> injecção <strong>de</strong>ve existir um intervalo <strong>de</strong> 24 horas, e o tubo <strong>de</strong><br />

injecção <strong>de</strong>ve ser lavado no fim <strong>de</strong> cada injecção, para permitir a realização da série seguinte<br />

[23].<br />

Aplicação do pré-esforço<br />

Entre as fases <strong>de</strong> injecção das ancoragens e o seu tensionamento <strong>de</strong>ve haver um intervalo <strong>de</strong><br />

3 a 7 dias, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo também se for<strong>em</strong> ou não utilizados aditivos ou aceleradores <strong>de</strong> presa,<br />

pois a calda <strong>de</strong>ve possuir as características <strong>de</strong> resistência suficientes para suportar o pré-<br />

esforço imposto pelo macaco hidráulico.<br />

Ancoragens provisórias e <strong>de</strong>finitivas<br />

De acordo com o seu t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida, as ancoragens po<strong>de</strong>m também ser: provisórias, <strong>em</strong> que<br />

possu<strong>em</strong> um tubo individual (bainha plástica) para cada cabo <strong>de</strong> aço (tirante), ou um tubo<br />

comum, com a extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> selada evitando a entrada <strong>de</strong> água; ou “<strong>de</strong>finitivas”, que têm um<br />

tubo único <strong>de</strong> plástico corrugado on<strong>de</strong> é introduzida a armadura e a calda <strong>de</strong> cimento. A<br />

diferença entre as duas resi<strong>de</strong> essencialmente na protecção da ancorag<strong>em</strong> contra a corrosão,<br />

que é mais elevada no caso <strong>de</strong> a ancorag<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>finitiva, ou seja, com um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida<br />

superior a 2 anos. Esta <strong>de</strong>ve ser instrumentada e inspeccionada ao longo <strong>de</strong>sse t<strong>em</strong>po, para<br />

confirmar o seu funcionamento. No Anexo I encontra-se uma <strong>de</strong>scrição dos ensaios <strong>de</strong> carga a<br />

executar nas ancoragens, segundo a EN 1357 [24].<br />

2.2.2.4 Mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> ancoragens<br />

Para uma mo<strong>de</strong>lação completa e rigorosa do comportamento das ancoragens <strong>de</strong>ve ser tido <strong>em</strong><br />

conta o seu comportamento tridimensional. Nesta análise <strong>de</strong>ve ser incluída também a<br />

informação relacionada com os el<strong>em</strong>entos constituintes da ancorag<strong>em</strong> (como a sua inclinação,<br />

o comprimento livre, o comprimento <strong>de</strong> amarração e a espessura do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>), as<br />

características mecânicas <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos, e da zona <strong>de</strong> ligação entre o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> e<br />

o terreno envolvente, assim como as cargas <strong>de</strong> pré-esforço a que esta estará sujeita [25].


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Devido à complexida<strong>de</strong> que este tipo <strong>de</strong> cálculo envolve, este não é feito geralmente no<br />

dimensionamento <strong>de</strong> cortinas flexíveis multi-ancoradas, sendo suficientes os mo<strong>de</strong>los<br />

bidimensionais com as simplificações necessárias, para os quais se obtêm resultados<br />

aceitáveis. Estes cálculos são feitos usualmente <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação plana e dão<br />

resultados <strong>em</strong> geral, mais conservativos do que os fornecidos por métodos tridimensionais, ou<br />

seja, prevê<strong>em</strong> <strong>de</strong>slocamentos mais elevados. Este aspecto, aliado à facilida<strong>de</strong> no cálculo,<br />

contribui provavelmente para que os métodos bidimensionais sejam os mais utilizados no<br />

dimensionamento <strong>de</strong> estruturas <strong>de</strong> suporte comuns [25].<br />

A simplificação que se adopta na mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> cortinas <strong>de</strong> contenção ao consi<strong>de</strong>rar um<br />

estado plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação não se afasta muito da realida<strong>de</strong>, pois não ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>formações<br />

significativas da massa <strong>de</strong> solo e da cortina <strong>em</strong> si na direcção perpendicular à analisada <strong>em</strong><br />

corte. Estas <strong>de</strong>formações po<strong>de</strong>m assim consi<strong>de</strong>rar-se nulas, e a estrutura contínua nessa<br />

direcção, bastando para isso introduzir os valores da rigi<strong>de</strong>z axial e <strong>de</strong> flexão por unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

comprimento. Porém, na mo<strong>de</strong>lação das ancoragens esta simplificação afasta-se bastante<br />

mais da realida<strong>de</strong>, na medida <strong>em</strong> que estas não são el<strong>em</strong>entos contínuos ao longo da direcção<br />

perpendicular à analisada, e também apresentam <strong>de</strong>formações significativas nesta direcção.<br />

Apesar <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r admitir uma rigi<strong>de</strong>z equivalente para a análise da secção transversal,<br />

existe uma massa relativamente gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> solo que não é consi<strong>de</strong>rada no cálculo e no<br />

comportamento das ancoragens, e que apresenta seguramente uma <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> mais<br />

elevada do que a <strong>de</strong> uma hipotética ancorag<strong>em</strong> contínua ao longo da direcção longitudinal da<br />

cortina. São assim <strong>de</strong>sprezados todos os <strong>de</strong>slocamentos que ocorr<strong>em</strong> nas zonas do terreno<br />

que envolv<strong>em</strong> as ancoragens, nomeadamente na envolvente do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> [25].<br />

Na mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> ancoragens po<strong>de</strong>m admitir-se dois tipos <strong>de</strong> situações <strong>em</strong> relação às<br />

condições <strong>de</strong> fronteira do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>. Po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se a selag<strong>em</strong> como fixa, <strong>em</strong> que<br />

não ocorr<strong>em</strong> <strong>de</strong>slocamentos nesta zona, ou uma selag<strong>em</strong> móvel, <strong>em</strong> que <strong>de</strong>vido aos<br />

processos construtivos, sofre <strong>de</strong>slocamentos não <strong>de</strong>sprezáveis [4].<br />

Po<strong>de</strong> admitir-se uma selag<strong>em</strong> fixa quando o estrato <strong>em</strong> que a ancorag<strong>em</strong> é selada possui<br />

gran<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z e resistência, tornando os <strong>de</strong>slocamentos que surg<strong>em</strong> na instalação <strong>de</strong>sta,<br />

mínimos. Esta situação será a i<strong>de</strong>al, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> dimensionamento, como <strong>de</strong><br />

simplicida<strong>de</strong> do cálculo do mesmo. Quando a zona do terreno <strong>em</strong> que a ancorag<strong>em</strong> está<br />

selada não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar rígida, o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser incluído totalmente na<br />

malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos, e os <strong>de</strong>slocamentos acompanharão a <strong>de</strong>formação da massa <strong>de</strong><br />

solo envolvente, usualmente no sentido do movimento da estrutura <strong>de</strong> contenção [25].<br />

2.2.2.5 Vantagens e <strong>de</strong>svantagens<br />

No Quadro 2.2 encontra-se uma esqu<strong>em</strong>atização das principais vantagens e <strong>de</strong>svantagens do<br />

uso <strong>de</strong> ancoragens, <strong>em</strong> relação a outros sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> escavações.<br />

21


22<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Quadro 2.2 – Vantagens e <strong>de</strong>svantagens na utilização <strong>de</strong> ancoragens <strong>em</strong> contenções periféricas<br />

Vantagens Desvantagens<br />

� Devido à força exercida no sentido<br />

contrário aos impulsos das terras<br />

diminu<strong>em</strong> significativamente as<br />

<strong>de</strong>formações horizontais no topo da<br />

cortina, e consequent<strong>em</strong>ente<br />

diminuição dos assentamentos das<br />

fundações dos edifícios situados a<br />

tardoz da contenção, assim como as<br />

consequências que daí advêm;<br />

� É um processo mais seguro<br />

relativamente aos escoramentos, pois<br />

estes po<strong>de</strong>m ser danificados no<br />

<strong>de</strong>correr dos trabalhos <strong>de</strong> escavação<br />

por equipamentos circulantes, o que<br />

condiciona o seu funcionamento e<br />

segurança;<br />

� Não provocam constrangimentos <strong>de</strong><br />

espaço durante a escavação.<br />

2.2.3 Escoramentos por bandas <strong>de</strong> laje<br />

� São menos económicas e com prazos <strong>de</strong><br />

execução mais alargados;<br />

� Necessitam <strong>de</strong> equipamento e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializada;<br />

� São limitadas pelas estruturas enterradas<br />

vizinhas (serviços, túneis <strong>de</strong> metropolitano,<br />

caves), sendo necessário alterar a sua<br />

inclinação, com a consequente perda <strong>de</strong> eficácia;<br />

� A injecção do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> po<strong>de</strong> provocar<br />

danos <strong>em</strong> construções vizinhas, por<br />

<strong>de</strong>sconhecimento das características do terreno,<br />

ou falta <strong>de</strong> controlo no processo <strong>de</strong> injecção<br />

(pressões muito altas);<br />

� Há um elevado <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> material que fica<br />

perdido no terreno, para as ancoragens<br />

provisórias, sendo possível apenas um<br />

aproveitamento da cabeça da ancorag<strong>em</strong>;<br />

� Em relação às bandas <strong>de</strong> laje, provocam mais<br />

perturbações no terreno envolvente, e<br />

consequent<strong>em</strong>ente maiores <strong>de</strong>formações da<br />

estrutura <strong>de</strong> contenção e das construções<br />

vizinhas situadas a tardoz da mesma.<br />

Com a crescente ocupação do espaço urbano subterrâneo t<strong>em</strong> vindo a ser necessário recorrer<br />

a diferentes soluções <strong>de</strong> travamento das contenções periféricas. Estas têm surgido <strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>trimento das soluções tradicionais <strong>de</strong>vido às vantagens que apresentam <strong>em</strong> cada situação<br />

<strong>de</strong> obra.<br />

Um método que t<strong>em</strong> vindo a ser usado <strong>em</strong> vez das soluções tradicionais, ou <strong>em</strong> conjunto com<br />

estas, consiste no travamento rígido das escavações recorrendo a el<strong>em</strong>entos estruturais,<br />

constituídos por bandas <strong>de</strong> laje dos pisos enterrados [26]. Esta solução po<strong>de</strong> ser usada,<br />

s<strong>em</strong>pre que possível, quando as tradicionais não po<strong>de</strong>m ser executadas por questões <strong>de</strong><br />

natureza técnica, legal, económica ou construtiva. As soluções tradicionais passam<br />

essencialmente por ancoragens, escoramentos metálicos <strong>de</strong> canto, escoras metálicas <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z a travar a escavação apenas numa direcção, ou pelo método invertido (sist<strong>em</strong>a<br />

top-down).<br />

Este método consiste assim na execução das bandas <strong>de</strong> laje <strong>de</strong> travamento, betonadas contra<br />

o terreno, antes <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r ao nível seguinte <strong>de</strong> escavação. É garantida uma maior<br />

segurança e menor <strong>de</strong>scompressão dos terrenos durante a escavação <strong>em</strong> relação à execução<br />

<strong>de</strong> escoras ou a ancoragens, pois é necessário escavar uma menor porção do terreno para a<br />

instalação do el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> travamento. Se as características do terreno o permitir<strong>em</strong> é possível<br />

aumentar o espaçamento entre travamentos, ou escavar mais na zona inferior aos mesmos,<br />

proce<strong>de</strong>ndo a uma betonag<strong>em</strong> mais tradicional, o que garante uma maior qualida<strong>de</strong> das lajes<br />

dos pisos enterrados.


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Uma gran<strong>de</strong> vantag<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação à solução <strong>de</strong> escoramentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z resi<strong>de</strong> no<br />

facto <strong>de</strong> durante a escavação haver gran<strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço no interior do recinto,<br />

uma vez que as bandas <strong>de</strong> laje terão uma largura mínima suficiente para acomodar os<br />

impulsos do terreno. O travamento por meio <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje é feito <strong>em</strong> coor<strong>de</strong>nação com os<br />

restantes trabalhos <strong>de</strong> escavação, o que não é possível noutras soluções, como no método<br />

invertido e quando a escavação é travada por meio <strong>de</strong> escoras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z.<br />

Quando por impossibilida<strong>de</strong>s arquitectónicas não é possível executar o anel <strong>de</strong> laje <strong>de</strong><br />

travamento <strong>em</strong> todos os alçados da contenção po<strong>de</strong> recorrer-se a vigas treliçadas metálicas,<br />

que garant<strong>em</strong> a continuida<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a e a transmissão das reacções laterais, <strong>de</strong> modo a que<br />

todos os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> travamento funcion<strong>em</strong> <strong>em</strong> conjunto, como um quadro fechado <strong>de</strong><br />

travamento rígido e simultâneo <strong>de</strong> todos os alçados (Figura 2.9 e Figura 2.10) [26]. Esta<br />

situação é algo frequente, pois como os pisos enterrados são usados geralmente para<br />

estacionamento, as rampas inclinadas <strong>de</strong> acesso aos mesmos encontram-se muitas vezes<br />

junto aos limites do lote, impedindo a existência <strong>de</strong> troços <strong>de</strong> laje <strong>de</strong>finitiva nestas zonas.<br />

Figura 2.9 – Solução <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje<br />

compl<strong>em</strong>entadas por vigas treliçadas metálicas<br />

[26]<br />

Figura 2.10 – Efeito <strong>de</strong> quadro <strong>de</strong> laje<br />

horizontal conferido pelas lajes e pelas<br />

treliças metálicas [26]<br />

Há gran<strong>de</strong>s vantagens <strong>em</strong> compatibilizar o projecto <strong>de</strong> Arquitectura com o <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e<br />

<strong>Contenção</strong>, pois é conveniente e bastante económico que as bandas <strong>de</strong> laje já se encontr<strong>em</strong> à<br />

mesma cota dos pisos enterrados <strong>de</strong>finitivos. Os anéis <strong>de</strong> laje po<strong>de</strong>m ser compatibilizados com<br />

várias soluções <strong>de</strong> contenção periférica, como sejam pare<strong>de</strong>s moldadas, cortinas <strong>de</strong> estacas,<br />

muros <strong>de</strong> Munique (ou Berlim <strong>de</strong>finitivo). Se o solo apresentar características <strong>de</strong> resistência e<br />

rigi<strong>de</strong>z muito fracas po<strong>de</strong> recorrer-se a técnicas <strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> solo, para melhorar o<br />

comportamento e a segurança da contenção durante a escavação. Esta solução po<strong>de</strong> ainda<br />

ser aplicada só num dos alçados ou cantos da escavação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam garantidas<br />

condições para a transmissão das reacções laterais às pare<strong>de</strong>s dos alçados adjacentes.<br />

A realização do travamento por meio <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje apresenta vantagens <strong>em</strong> obras <strong>em</strong><br />

meio urbano, pelo que não há uma utilização do subsolo vizinho, e há consequent<strong>em</strong>ente uma<br />

minimização dos impactos negativos nas construções vizinhas. Não representa uma diminuição<br />

das características <strong>de</strong> resistência da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, na medida <strong>em</strong> que não é<br />

23


24<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

necessário proce<strong>de</strong>r à furação da mesma (como no caso das ancoragens), aspecto que<br />

minimiza os riscos quando a escavação <strong>de</strong>corre <strong>em</strong> solos permeáveis e saturados. É também<br />

uma solução que oferece elevada rigi<strong>de</strong>z à contenção, e permite uma boa compatibilização<br />

entre os el<strong>em</strong>entos provisórios e os <strong>de</strong>finitivos da estrutura enterrada, uma vez que os<br />

el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> travamento já farão parte da estrutura <strong>de</strong>finitiva. Isto provoca uma diminuição dos<br />

movimentos que ocorreriam se houvesse uma <strong>de</strong>sactivação <strong>de</strong> ancoragens ou escoramentos,<br />

e transmissão dos impulsos exercidos pelo terreno para os pisos enterrados (novos el<strong>em</strong>entos<br />

<strong>de</strong> travamento), ou seja, esta fase <strong>de</strong> mobilização <strong>de</strong> cargas ocorre logo na fase da escavação.<br />

O comportamento <strong>de</strong>sta técnica <strong>de</strong> travamento observado <strong>em</strong> obras <strong>de</strong> escavações permitiu<br />

concluir que as bandas <strong>de</strong> laje permit<strong>em</strong> um bom controlo das <strong>de</strong>formações da cortina e do<br />

terreno envolvente, o que apresenta vantagens <strong>em</strong> meio urbano, quando a escavação é<br />

condicionada por infra-estruturas vizinhas sensíveis.<br />

Exist<strong>em</strong> também algumas <strong>de</strong>svantagens na utilização <strong>de</strong>sta técnica, nomeadamente por<br />

implicar que a escavação ocorra com menos espaço na zona inferior aos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />

travamento, o que dificulta e atrasa os trabalhos <strong>de</strong> escavação. São também necessários<br />

el<strong>em</strong>entos adicionais <strong>de</strong> travamento vertical das bandas <strong>de</strong> laje, geralmente microestacas ou<br />

perfis metálicos, realizados a partir da superfície e antes do início da escavação (Figura 2.11).<br />

Figura 2.11 – Suporte vertical das bandas <strong>de</strong> laje por microestacas [26]<br />

Há no entanto vantag<strong>em</strong> <strong>em</strong> incorporar também estes el<strong>em</strong>entos nos el<strong>em</strong>entos verticais<br />

estruturais da estrutura <strong>de</strong>finitiva, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e economia como <strong>de</strong> bom<br />

funcionamento da mesma, o que implica uma boa coor<strong>de</strong>nação entre os projectos <strong>de</strong><br />

Arquitectura, Estabilida<strong>de</strong>, e <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong>.<br />

2.3 Influência das escavações nas construções vizinhas<br />

2.3.1 Generalida<strong>de</strong>s<br />

Nas obras geotécnicas <strong>em</strong> meio urbano <strong>de</strong>ve haver s<strong>em</strong>pre um gran<strong>de</strong> cuidado com os<br />

edifícios vizinhos, especialmente quando estes apresentam fragilida<strong>de</strong>s estruturais, que estão<br />

frequent<strong>em</strong>ente associadas ao facto <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> construções antigas, s<strong>em</strong> pisos enterrados e<br />

com fundações insuficientes.


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Nas últimas décadas não t<strong>em</strong> sido dada a <strong>de</strong>vida importância à regulamentação das obras<br />

geotécnicas, especificamente <strong>em</strong> meio urbano, pelo que existe pouca legislação nacional<br />

aplicável às mesmas no que respeita à sua influência nos edifícios vizinhos. É feita uma<br />

abordag<strong>em</strong> a este t<strong>em</strong>a no RGEU, indicando que as obras a realizar não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> provocar<br />

danos nos edifícios adjacentes, s<strong>em</strong> no entanto entrar <strong>em</strong> pormenores no que respeita ao tipo<br />

<strong>de</strong> danos. Também não é mencionada a situação <strong>em</strong> que os edifícios existentes já apresentam<br />

danos anteriores (fissuras ou fendas), e estes são apenas agravados <strong>de</strong>vido às perturbações<br />

provocadas pelos trabalhos [27]. A legislação fornecida pelo pela EN-1997 (Eurocódigo 7)<br />

também não especifica as situações <strong>em</strong> que se proce<strong>de</strong>m a obras <strong>de</strong> escavações e<br />

contenções periféricas junto a construções vizinhas sensíveis, dando apenas indicações para<br />

obras geotécnicas novas [28].<br />

A falta <strong>de</strong> cuidados e <strong>de</strong> legislação <strong>de</strong>ve-se também ao facto <strong>de</strong> não haver tradição <strong>em</strong><br />

Portugal na realização <strong>de</strong> edifícios com espaço subterrâneo, sendo que essa necessida<strong>de</strong> t<strong>em</strong><br />

vindo a surgir mais recent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>vido à intensa ocupação do espaço urbano à superfície.<br />

Assim, nesta fase da vida <strong>de</strong> algumas cida<strong>de</strong>s, é uma situação recorrente a realização <strong>de</strong><br />

obras <strong>de</strong> reabilitação e reforço, ou <strong>de</strong> construção nova com componente subterrânea num<br />

espaço on<strong>de</strong> a vizinhança é constituída por edifícios antigos, s<strong>em</strong> essa componente.<br />

Só a partir <strong>de</strong> 1994 passou a ser obrigatório, com a publicação do Decreto-Lei nº 250/94, <strong>de</strong> 15<br />

<strong>de</strong> Outubro, a entrega do Projecto <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> nas Câmaras<br />

Municipais [29]. Apesar <strong>de</strong> nesta altura ainda não existir legislação aplicável específica para a<br />

realização <strong>de</strong> escavações e contenções periféricas, foi publicado um conjunto <strong>de</strong><br />

recomendações elaborado pelo Grupo <strong>de</strong> Geotecnia da Or<strong>de</strong>m dos Engenheiros, <strong>em</strong> 2003.<br />

Estas recomendações dão uma indicação do tipo <strong>de</strong> cuidados que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomados <strong>em</strong><br />

obras com alguma componente <strong>de</strong> geotecnia, conforme a sua importância, sugerindo uma<br />

classificação das mesmas <strong>em</strong> 3 categorias geotécnicas [29].<br />

� Categoria Geotécnica 1 – Estruturas pequenas e relativamente simples, para as quais se<br />

po<strong>de</strong> assegurar que são satisfeitos os requisitos fundamentais apenas com base na<br />

experiência e na prospecção geotécnica qualitativa, com riscos <strong>de</strong>sprezáveis para a<br />

proprieda<strong>de</strong> e para a vida.<br />

� Categoria Geotécnica 2 – Tipos convencionais <strong>de</strong> estruturas e fundações que não<br />

envolv<strong>em</strong> riscos fora do comum ou condições do terreno e <strong>de</strong> carregamento invulgares ou<br />

particularmente difíceis. Estas estruturas requer<strong>em</strong> a quantificação dos dados geotécnicos<br />

e uma análise quantitativa que assegure que são satisfeitos os requisitos fundamentais,<br />

po<strong>de</strong>ndo, no entanto, ser usados procedimentos <strong>de</strong> rotina nos ensaios <strong>de</strong> campo e<br />

laboratório, b<strong>em</strong> como na elaboração do projecto e na execução.<br />

� Categoria Geotécnica 3 – Estruturas ou partes <strong>de</strong> estruturas não abrangidas pelas<br />

Categorias Geotécnicas 1 e 2. Esta categoria diz respeito a estruturas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dimensão<br />

e pouco comuns, a estruturas que envolvam riscos fora do comum ou condições do terreno<br />

25


26<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

e <strong>de</strong> carregamento invulgares ou excepcionalmente difíceis, e a estruturas <strong>em</strong> áreas <strong>de</strong><br />

sismicida<strong>de</strong> elevada.<br />

Neste conjunto também exist<strong>em</strong> recomendações respeitantes aos requisitos do projecto<br />

geotécnico, e à qualificação do técnico responsável, <strong>em</strong> função da categoria geotécnica <strong>em</strong><br />

que se inserir a obra a realizar. São especificados também aspectos da m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong>scritiva e<br />

justificativa, e <strong>de</strong> dimensionamento [29].<br />

Mais recent<strong>em</strong>ente, <strong>em</strong> 2009 entrou <strong>em</strong> vigor o Regulamento Municipal <strong>de</strong> Urbanização e<br />

Edificação <strong>de</strong> Lisboa, on<strong>de</strong> no Artigo Nº 104 são feitas especificações <strong>em</strong> relação ao Projecto<br />

<strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong>. Nomeadamente no que respeita às condições <strong>de</strong><br />

vizinhança exige-se que o projecto <strong>de</strong>sta especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>va aten<strong>de</strong>r aos seguintes aspectos<br />

[30]:<br />

� Tipo <strong>de</strong> construção e fundações existentes nas estruturas vizinhas com indicação, s<strong>em</strong>pre<br />

que possível, das suas cotas <strong>de</strong> apoio, ocupação e número <strong>de</strong> pisos acima e abaixo do<br />

solo, e estado geral <strong>de</strong> conservação;<br />

� Referência ao tipo <strong>de</strong> tráfego nos arruamentos confinantes;<br />

� Indicação da existência <strong>de</strong> galerias, túneis e instalações no subsolo, na vizinhança<br />

imediata, com especial referência à Re<strong>de</strong> do Metropolitano <strong>de</strong> Lisboa;<br />

� Localização <strong>de</strong> infra-estruturas <strong>de</strong> água, saneamento, electricida<strong>de</strong>, gás, telecomunicações<br />

e <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> fundações se necessárias para garantir a segurança<br />

das construções vizinhas.<br />

É ainda feita uma referência à proximida<strong>de</strong> das obras <strong>de</strong> contenção das estruturas enterradas<br />

afectas ao serviço do Metropolitano <strong>de</strong> Lisboa, <strong>em</strong> que se a construção se encontrar a menos<br />

<strong>de</strong> 25 m do plano exterior das estruturas mencionadas, o projecto <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escavação e contenção periférica <strong>de</strong>ve observar as condicionantes <strong>de</strong>finidas pelo<br />

Metropolitano <strong>de</strong> Lisboa, e o respectivo projecto ser r<strong>em</strong>etido para apreciação a esta entida<strong>de</strong><br />

[30].<br />

A norma referida representa um avanço positivo no enquadramento legal <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> obras,<br />

no sentido <strong>de</strong> uma melhor regulamentação e controlo das escavações e contenções <strong>em</strong> meio<br />

urbano, especificamente para o caso da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, mas com repercussões s<strong>em</strong>elhantes<br />

para os restantes espaços urbanos.<br />

2.3.2 Movimentos <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>vido a escavações<br />

A realização <strong>de</strong> escavações provoca <strong>de</strong>slocamentos tanto horizontais como verticais, que se<br />

<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> progressivamente como ondas, atingindo as estruturas adjacentes e propagando-<br />

se ao longo <strong>de</strong>stas, à medida que a escavação avança. Estes movimentos estão quase s<strong>em</strong>pre<br />

associados a perdas <strong>de</strong> solo, que por sua vez se po<strong>de</strong>m dividir <strong>em</strong> três categorias. Os<br />

movimentos são provocados pelos <strong>de</strong>slocamentos da própria estrutura <strong>de</strong> contenção para o


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

interior da escavação, <strong>de</strong>slizamentos locais <strong>de</strong> pequenas massas <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong>vido a falta <strong>de</strong><br />

suporte provisório, ou colapso <strong>de</strong> massas <strong>de</strong> solo maiores <strong>de</strong>vido a furação, escavação<br />

excessiva, etc. Os danos nos edifícios são causados maioritariamente pelos dois primeiros<br />

tipos <strong>de</strong> movimentos [31].<br />

As ondas <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação que se criam durante a escavação vão-se <strong>de</strong>senvolvendo para fora<br />

<strong>de</strong>sta, e a área <strong>de</strong> influência lateral das <strong>de</strong>formações po<strong>de</strong> ir <strong>de</strong> 2 a 4 vezes a profundida<strong>de</strong> da<br />

escavação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das características do solo e boa execução da escavação [19].<br />

No Quadro 2.3 po<strong>de</strong> observar-se uma esqu<strong>em</strong>atização dos principais factores que influenciam<br />

os movimentos nas estruturas <strong>de</strong> contenção, assim como o comportamento das estruturas<br />

adjacentes às mesmas [32].<br />

Quadro 2.3 – Factores que influenciam movimentos do terreno <strong>de</strong>vido a estruturas <strong>de</strong> contenção<br />

(adaptado <strong>de</strong> [32])<br />

Categoria Factores relacionados e <strong>de</strong>scrição<br />

Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

suporte<br />

Características<br />

do terreno<br />

Processo<br />

construtivo<br />

� Condições <strong>de</strong> suporte (comprimento da ficha)<br />

� Rigi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> flexão da pare<strong>de</strong> (muros <strong>de</strong> Berlim, cortina <strong>de</strong> estacas-prancha,<br />

pare<strong>de</strong>s moldadas e cortina <strong>de</strong> estacas)<br />

� Nível <strong>de</strong> pré-esforço e rigi<strong>de</strong>z do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suporte (ancoragens préesforçadas,<br />

pregagens, escoras...)<br />

� Restrições verticais da pare<strong>de</strong><br />

� Resistência ao corte e rigi<strong>de</strong>z do solo a tardoz da pare<strong>de</strong> e do lado passivo<br />

� Estado <strong>de</strong> tensão in-situ (K0 e OCR; história <strong>de</strong> tensões efectivas)<br />

� Heterogeneida<strong>de</strong> do solo e variabilida<strong>de</strong> espacial do recinto<br />

� Instalação da cortina (antes da escavação através <strong>de</strong> perfuração, vibração,<br />

r<strong>em</strong>oção do terreno, etc)<br />

� Rebaixamento do nível freático<br />

� Técnica <strong>de</strong> escavação (a seco ou com nível freático elevado, profundida<strong>de</strong> da<br />

cortina antes da instalação do primeiro nível <strong>de</strong> suporte, profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escavação abaixo do suporte...) e técnica <strong>de</strong> instalação do suporte<br />

Exist<strong>em</strong> várias dificulda<strong>de</strong>s associadas à adopção <strong>de</strong> valores limite <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, ou<br />

vibrações, para as estruturas que possam vir a ser afectadas por escavações ou rebaixamento<br />

do nível freático. É complicado avaliar o estado actual da estrutura, especialmente edifícios<br />

históricos e/ou antigos, <strong>em</strong> que há pouca informação acerca das suas fundações, el<strong>em</strong>entos<br />

estruturais ou tensões instaladas <strong>de</strong>vido a <strong>de</strong>formações anteriores. No sentido <strong>de</strong> contornar as<br />

incertezas associadas às características das construções existentes, os <strong>de</strong>slocamentos do<br />

terreno são calculados geralmente s<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> conta a rigi<strong>de</strong>z das estruturas adjacentes,<br />

supondo que estes são transmitidos por completo às estruturas afectadas [32]<br />

Como é bastante difícil relacionar directamente os movimentos na escavação e da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção com os <strong>de</strong>slocamentos nos edifícios, a prática comum consiste <strong>em</strong> limitar os<br />

<strong>de</strong>slocamentos apenas da estrutura <strong>de</strong> contenção, como forma <strong>de</strong> controlo indirecto dos danos<br />

nas construções adjacentes às escavações. Estes critérios <strong>de</strong> limitação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser aplicados numa fase inicial do projecto, contribuindo mesmo para a escolha do<br />

27


28<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

próprio tipo <strong>de</strong> contenção. Dev<strong>em</strong> então ser a<strong>de</strong>quados, e por vezes aferidos numa fase<br />

posterior.<br />

A ocorrência <strong>de</strong> danos nas estruturas adjacentes a escavações dá-se mais <strong>de</strong>vido a<br />

fenómenos <strong>de</strong> assentamentos diferenciais, do que aos valores médios das <strong>de</strong>formações <strong>em</strong><br />

absoluto. As condições <strong>de</strong> tensões antes do início da escavação por vezes são subestimadas,<br />

sendo que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre os resultados se encontram do lado da segurança. É também difícil<br />

admitir parâmetros do solo relacionados com o t<strong>em</strong>po [32].<br />

Os gráficos <strong>de</strong> dimensionamento e a experiência <strong>de</strong> campo são ferramentas bastante úteis<br />

para obter valores iniciais <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, e mesmo para comparação com os resultados<br />

fornecidos pelos métodos <strong>de</strong> cálculo numérico mais avançados, como o <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos.<br />

Estes últimos serão os que fornec<strong>em</strong> resultados mais fiáveis, pois usam mo<strong>de</strong>los constitutivos<br />

para o solo que têm <strong>em</strong> conta o seu comportamento não linear e contínuo, e simulam as várias<br />

fases dos processos construtivos e a interface entre o solo e a estrutura <strong>de</strong> contenção. No<br />

entanto, os <strong>de</strong>slocamentos fornecidos por estes mo<strong>de</strong>los são mais fiáveis na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção do que os resultados <strong>em</strong> relação à superfície do terreno. Apesar do crescente<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>stes métodos mais recent<strong>em</strong>ente, é necessário adoptar condições <strong>de</strong><br />

fronteira e mo<strong>de</strong>los constitutivos mais avançados e a<strong>de</strong>quados à situação real para que se<br />

obtenham melhores resultados nessas zonas, que irão condicionar os danos provocados nos<br />

edifícios adjacentes. As incertezas associadas a estas previsões são <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte<br />

compensadas pelos factores <strong>de</strong> segurança adoptados no dimensionamento das estruturas <strong>de</strong><br />

contenção, aliados a um investimento na instrumentação e monitorização do surgimento <strong>de</strong><br />

fissuras e <strong>de</strong>slocamentos superiores aos expectáveis.<br />

2.3.3 Transmissão dos movimentos do terreno às construções existentes<br />

As <strong>de</strong>formações das escavações transmitidas aos edifícios adjacentes faz<strong>em</strong> com que estes<br />

tenham movimentos <strong>de</strong> rotação, translação, distorção e possivelmente que sofram danos,<br />

assim que se esgota a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação. Os pequenos <strong>de</strong>slocamentos horizontais e<br />

verticais, e rotações <strong>de</strong> corpo rígido geralmente não afectam a segurança das estruturas,<br />

afectando mais o seu funcionamento <strong>em</strong> serviço <strong>de</strong>vido aos danos que surg<strong>em</strong>. As distorções<br />

são provocadas por <strong>de</strong>slocamentos diferenciais <strong>de</strong> diferentes partes da estrutura. Os<br />

<strong>de</strong>slocamentos horizontais diferenciais dão orig<strong>em</strong> a compressões ou extensões, enquanto os<br />

verticais originam <strong>de</strong>formações <strong>de</strong> flexão ou corte. Quando são feitas avaliações da resposta<br />

<strong>de</strong> edifícios a <strong>de</strong>formações do terreno <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser separadas as parcelas associadas a<br />

movimentos <strong>de</strong> corpo rígido e às distorções, caso contrário é frequente ser<strong>em</strong> feitas<br />

consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong>masiado conservativas, principalmente quando os edifícios analisados têm<br />

fundações que consegu<strong>em</strong> absorver esses tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos [31].<br />

Geralmente as fissuras e fendas que se geram nos edifícios <strong>de</strong>vido aos <strong>de</strong>slocamentos<br />

impostos na base pelas <strong>de</strong>formações do solo localizam-se com mais <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> perto das


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

janelas, por ser<strong>em</strong> zonas menos confinadas estruturalmente, e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> concentração <strong>de</strong><br />

tensões [33].<br />

No Quadro 2.4 po<strong>de</strong> ver-se um resumo realizado por Poulos, que com base <strong>em</strong><br />

recomendações <strong>de</strong> vários autores, <strong>de</strong>screve alguns limites <strong>de</strong> assentamentos e assentamentos<br />

diferenciais, <strong>em</strong> edifícios [34]. É <strong>de</strong> notar no entanto que estes valores são indicativos para<br />

assentamentos <strong>de</strong>vido à estrutura <strong>em</strong> si, e s<strong>em</strong> relação com escavações adjacentes ou<br />

rebaixamentos do nível freático, sendo pois questionável a sua aplicação para estimativas no<br />

contexto das estruturas <strong>de</strong> contenção periféricas.<br />

Quadro 2.4 – Valores limite <strong>de</strong> assentamentos e assentamentos diferenciais para estruturas<br />

(adaptado <strong>de</strong> [32])<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

estrutura<br />

Estruturas tipo<br />

pórtico e<br />

pare<strong>de</strong><br />

Tipo <strong>de</strong> dano/probl<strong>em</strong>a Critério Valor limite<br />

Danos estruturais Distorção angular 1/150 – 1/250<br />

Fendilhação <strong>em</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

estruturais e não<br />

estruturais<br />

Distorção angular<br />

1/500<br />

(1/1000 – 1/1400) para<br />

varandas<br />

Aparência visual Inclinação 1/300<br />

Ligações a serviços Assentamento total<br />

Edifícios altos Operação <strong>de</strong> ascensores<br />

Estruturas com<br />

pare<strong>de</strong>s<br />

estruturais não<br />

armadas<br />

Pontes (geral)<br />

Pontes<br />

(múltiplos<br />

tramos)<br />

Pontes (1<br />

tramo)<br />

Fendilhação <strong>de</strong>vido a<br />

<strong>de</strong>formação por flexão:<br />

“Côncava” // “Convexa”<br />

Inclinação após<br />

instalação dos<br />

ascensores<br />

Flecha L/H<br />

50 – 75 mm (areias)<br />

75 – 135 mm (argilas)<br />

1/1200 – 1/2000<br />

L/H=1: 1/2500 // 1/5000<br />

L/H=5: 1/1250 // 1/2500<br />

Funcionamento Assentamento total 100 mm<br />

Danos estruturais Assentamento total 63 mm<br />

Funcionamento Movimento horizontal 38 mm<br />

Danos estruturais Distorção angular 1/250<br />

Danos estruturais Distorção angular 1/200<br />

2.3.4 Estimativa <strong>de</strong> danos <strong>em</strong> edifícios provocados por movimentos do terreno<br />

Um dos critérios usados para estimar a resposta dos edifícios aos movimentos do terreno é o<br />

da distorção angular (β), também conhecida por rotação relativa, e que correspon<strong>de</strong> à rotação<br />

<strong>de</strong>vido a assentamento, <strong>de</strong> uma linha entre dois pontos <strong>de</strong> referência na estrutura, menos a<br />

inclinação <strong>de</strong>vido ao movimento <strong>de</strong> corpo rígido. Para estimar a influência <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong><br />

escavações nas construções existentes po<strong>de</strong> ser usado o esqu<strong>em</strong>a da Figura 2.12, <strong>em</strong> que é<br />

estabelecida uma relação entre a extensão horizontal e o nível <strong>de</strong> danos provocados na<br />

estrutura, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> fissuras (Quadro 2.5). Este método po<strong>de</strong> ser útil para uma avaliação<br />

inicial da resposta do edifício, tendo por base valores médios <strong>de</strong> movimentos do terreno,<br />

extensões e inclinações sofridas pelo mesmo para o método construtivo adoptado e as<br />

características do solo interessado pela escavação [31].<br />

29


30<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 2.12 – Relação entre o nível <strong>de</strong> danos com a distorção angular e a extensão horizontal<br />

(adaptado <strong>de</strong> [31])<br />

Quadro 2.5 – Classificação <strong>de</strong> danos visíveis (adaptado <strong>de</strong> [31])<br />

Classe <strong>de</strong><br />

danos<br />

Descrição dos danos 1<br />

Abertura 2 aproximada<br />

<strong>de</strong> fendas (mm)<br />

Desprezáveis Fissuras<br />

Fendas finas facilmente reparáveis. Possíveis fracturas<br />


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

específicos, baseada numa tensão crítica <strong>de</strong> tracção que permite estimar aberturas <strong>de</strong> fissuras,<br />

que se relacionam com os níveis <strong>de</strong> danos do Quadro 2.5.<br />

Se o nível <strong>de</strong> danos previsto for inaceitável, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomadas medidas preventivas, que<br />

po<strong>de</strong>m passar por mudar o processo construtivo da escavação, reforçar ou reparar o edifício,<br />

ou tratar o solo.<br />

Son e Cording [33] apresentaram resultados das relações entre movimentos do terreno <strong>de</strong>vido<br />

a escavações e danos nos edifícios <strong>de</strong> alvenaria adjacentes a estas, obtidos num estudo<br />

realizado pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Illinois. Este estudo utilizou três meios principais para a<br />

realização <strong>de</strong>sta análise: observações <strong>de</strong> campo <strong>em</strong> casos reais, ensaios <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los físicos e<br />

mo<strong>de</strong>lação numérica do probl<strong>em</strong>a. Foi usado também o critério da distorção angular já<br />

mencionado anteriormente [36] para avaliar o nível <strong>de</strong> danos das estruturas. A observação dos<br />

casos reais foi bastante útil para perceber o funcionamento dos mecanismos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação,<br />

mas <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> dados <strong>de</strong>talhados não foi possível analisar todos os <strong>de</strong>slocamentos e<br />

fenómenos que as estruturas sofreram. Estes lapsos <strong>de</strong> informação foram completados pelos<br />

ensaios nos mo<strong>de</strong>los à escala e pela mo<strong>de</strong>lação numérica. Na Figura 2.13 po<strong>de</strong> ver-se um<br />

esqu<strong>em</strong>a duma adaptação do critério utilizado, realizada por Cording et al. [37].<br />

Figura 2.13 – Estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação num ponto, ou estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação média, na distorção<br />

dum el<strong>em</strong>ento da estrutura (adaptado <strong>de</strong> [33])<br />

No estudo foram também utilizados o Quadro 2.6, on<strong>de</strong> estão representados os valores <strong>de</strong><br />

extensão crítica <strong>de</strong> tracção correspon<strong>de</strong>ntes aos diferentes níveis <strong>de</strong> danos, e o Quadro 2.7,<br />

que contém uma esqu<strong>em</strong>atização da relação entre os assentamentos e <strong>de</strong>clives verificados<br />

nos edifícios, e a categoria <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong>scrição do risco [33].<br />

31


32<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Quadro 2.6 – Extensões críticas <strong>de</strong> tracção correspon<strong>de</strong>ntes aos vários níveis <strong>de</strong> danos (adaptado<br />

<strong>de</strong> [33])<br />

Nível <strong>de</strong> danos Extensão crítica <strong>de</strong> tracção εc(X10 -3 ) [m]<br />

Desprezável 0-0.5<br />

Muito ligeiro 0.5-0.75<br />

Ligeiro 0.75-1.67<br />

Mo<strong>de</strong>rado a grave 1.67-3.33<br />

Severo a muito grave >3.33<br />

Quadro 2.7 – Valores típicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives máximos <strong>em</strong> edifícios e assentamentos, para análise do<br />

risco <strong>de</strong> danos (adaptado <strong>de</strong> [38]]<br />

Categoria<br />

<strong>de</strong> risco<br />

Declive<br />

máximo do<br />

edifício<br />

Assentamento<br />

máximo do<br />

edifício (mm)<br />

Descrição do risco<br />

1 75<br />

expectáveis. Danos <strong>em</strong> tubagens rígidas<br />

expectáveis e possíveis danos noutros tipos<br />

<strong>de</strong> tubagens<br />

Segundo os resultados obtidos por Son e Cording [33], as pare<strong>de</strong>s estruturais dum edifício <strong>de</strong><br />

alvenaria adjacente a uma escavação que se encontr<strong>em</strong> orientadas perpendicularmente à<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção da escavação ten<strong>de</strong>m a sofrer distorção e <strong>de</strong>formações por corte, e<br />

laterais ao nível da fundação. Quando o movimento do terreno é inicialmente induzido na frente<br />

do edifício, este é sujeito a distorção por corte e <strong>de</strong>formação lateral na base. Além disso, o<br />

arrastamento das fachadas induzido pelo assentamento da superfície do terreno aumenta a<br />

distorção perto da extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> das pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte e provoca a abertura <strong>de</strong> fissuras<br />

concentradas perto das pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fachada ou da primeira coluna <strong>de</strong> janelas. Para<br />

assentamentos mais abrangentes, à medida que os movimentos do terreno se esten<strong>de</strong>m mais<br />

para a base do edifício, este po<strong>de</strong> começar a sofrer <strong>de</strong>formação <strong>de</strong>vido a flexão e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> fissuras no topo do mesmo, se se verificar um comprimento muito maior do<br />

que a altura da construção.<br />

As fissuras formam-se inicialmente junto às áreas <strong>de</strong> aberturas, e propagam-se para cima com<br />

o aumento dos movimentos do terreno. A abertura <strong>de</strong> fissuras diminui a rigi<strong>de</strong>z do edifício e<br />

aumenta a tendência para o movimento <strong>de</strong>ste acompanhar mais o perfil <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações que é<br />

induzido à superfície do terreno. As distorções aumentam, a fendilhação passa a controlar<br />

bastante a resposta do edifício aos movimentos, e uma análise elástica do fenómeno po<strong>de</strong><br />

conduzir a resultados que não correspon<strong>de</strong>m à realida<strong>de</strong>.


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Num outro estudo elaborado por Son e Cording, foi analisada a resposta <strong>de</strong> edifícios com<br />

diferentes sist<strong>em</strong>as estruturais a movimentos do terreno <strong>de</strong> fundação, <strong>de</strong>vido a escavações<br />

próximas. Este indicou que a resposta dos edifícios a este tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações é bastante<br />

controlada pela interacção solo-estrutura e pela fendilhação da estrutura, sendo que uma<br />

análise elástica só por si po<strong>de</strong> levar a resultados diferentes da realida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

previsão <strong>de</strong> danos nos edifícios [39]. Assim, a estimativa dos danos <strong>de</strong>verá ser feita tendo <strong>em</strong><br />

conta o efeito da fendilhação das estruturas e o comportamento <strong>de</strong>stas já <strong>em</strong> estado<br />

fendilhado, relacionando com a interacção solo-estrutura.<br />

Para uma estrutura constituída por alvenaria <strong>de</strong> tijolo, uma vez que se inicia a fendilhação, as<br />

fissuras seguintes concentram-se na zona das iniciais, e propagam-se para cima com o avanço<br />

dos assentamentos do terreno. No entanto, para uma estrutura <strong>em</strong> pórtico preenchida por<br />

alvenaria <strong>de</strong> tijolo, <strong>de</strong>vido ao maior confinamento existente, não se verifica uma propagação <strong>de</strong><br />

fissuras tão intensa, havendo distorções menos acentuadas. Também se concluiu que uma<br />

estrutura <strong>em</strong> solo mais rígido é mais susceptível <strong>de</strong> sofrer danos <strong>de</strong>vido a assentamentos do<br />

terreno do que uma estrutura assente <strong>em</strong> solos moles para o mesmo nível <strong>de</strong> assentamentos,<br />

pois esta t<strong>em</strong> mais capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar o perfil <strong>de</strong> assentamentos à superfície do terreno<br />

evitando distorções ao nível do edifício. No entanto, este efeito diminui quando a estrutura t<strong>em</strong><br />

mais resistência, ou <strong>em</strong> estruturas mais restringidas por el<strong>em</strong>entos estruturais, tipo pórtico [39].<br />

Apesar do conhecimento já adquirido nas análises já realizadas sobre este t<strong>em</strong>a, continua a<br />

ser bastante difícil <strong>de</strong>terminar com exactidão o comportamento <strong>de</strong> certos edifícios quando<br />

submetidos a movimentos do terreno <strong>de</strong> fundação. Pois além <strong>de</strong> não se conhecer exactamente<br />

o tipo <strong>de</strong> movimentos que o solo terá, <strong>de</strong>vido à sua heterogeneida<strong>de</strong> e a todos os factores já<br />

referidos que são difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> projecto, exist<strong>em</strong> também gran<strong>de</strong>s<br />

incertezas associadas à constituição dos próprios edifícios. Estes têm por vezes um sist<strong>em</strong>a<br />

estrutural misto, entre alvenaria, estruturas porticada e outros sist<strong>em</strong>as mais antigos, que<br />

po<strong>de</strong>m coexistir mutuamente, <strong>de</strong>vido a alterações que foram sendo feitas no edifício ao longo<br />

do t<strong>em</strong>po. Esta heterogeneida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sconhecimento da constituição dos próprios edifícios<br />

adjacentes às escavações tornam assim bastante complicadas previsões exactas do seu<br />

comportamento, assim como a realização <strong>de</strong> análises <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los reduzidos com condições<br />

controladas <strong>em</strong> laboratório. Ganha então importância a análise controlada dos casos práticos<br />

<strong>de</strong> que se vai tendo conhecimento, que contribuirá para se encontrar<strong>em</strong> padrões <strong>de</strong><br />

comportamento dos vários tipos <strong>de</strong> estrutura adjacentes a escavações e contenções<br />

periféricas.<br />

2.3.5 Movimentos nos edifícios <strong>de</strong>vido a vibrações<br />

Em termos <strong>de</strong> legislação sobre a influência <strong>de</strong> vibrações <strong>em</strong> edifícios, a Comissão Técnica <strong>de</strong><br />

Normalização Portuguesa CT 28 (Acústica e Vibrações, na SC 5 – Vibrações), preten<strong>de</strong><br />

actualizar as Normas Portuguesas, publicando, <strong>em</strong> breve, para além <strong>de</strong> uma norma <strong>de</strong><br />

33


34<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

vocabulário, duas normas sobre danos nas construções e uma sobre sensibilida<strong>de</strong> humana<br />

[40].<br />

A norma <strong>em</strong> vigor <strong>em</strong> Portugal que t<strong>em</strong> como objectivo limitar os efeitos nocivos que as<br />

vibrações po<strong>de</strong>m ter construções vizinhas <strong>de</strong>vido a trabalhos <strong>de</strong> escavações com explosivos,<br />

<strong>de</strong> cravação <strong>de</strong> estacas e outros do mesmo tipo, t<strong>em</strong> a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> NP 2074. A norma<br />

estabelece um valor limite para a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> pico através <strong>de</strong> três factores, que<br />

preten<strong>de</strong>m ter <strong>em</strong> conta o tipo <strong>de</strong> construção envolvido, o tipo <strong>de</strong> terreno <strong>de</strong> fundação, e a<br />

periodicida<strong>de</strong> diária das solicitações, o que a distingue da maioria das outras normas na área<br />

das vibrações [41]. No entanto, não t<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta a frequência ondulatória, o que constitui uma<br />

limitação significativa à sua aplicação, dada a extr<strong>em</strong>a importância <strong>de</strong>sse parâmetro <strong>em</strong><br />

critérios <strong>de</strong> danos a nível internacional. O projecto <strong>de</strong> revisão da norma, que está a <strong>de</strong>correr,<br />

preten<strong>de</strong> incluir a relação intrínseca entre as litologias e as gamas <strong>de</strong> frequência expectáveis<br />

[42].<br />

A NP 2074 dá a indicação <strong>de</strong> um valor limite (Vl) <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula (Vr), para o qual,<br />

não ocorre fendilhação e danos estruturais nas estruturas junto à perturbação do terreno. O<br />

valor limite é calculado através da seguinte equação [41].<br />

Em que,<br />

α – Coeficiente relativo às características do terreno.<br />

β – Coeficiente relativo ao tipo <strong>de</strong> construção.<br />

γ – Coeficiente relativo ao nº médio <strong>de</strong> solicitações por dia.<br />

Os coeficientes α, β e γ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vários factores, e conjugam-se <strong>de</strong> forma a obter os<br />

valores limite para as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> pico (Quadro 2.8).<br />

Já o critério proposto na revisão da norma (que ainda não foi publicada) baseia-se, não no<br />

máximo do módulo do vector velocida<strong>de</strong>, mas no máximo das suas três componentes (Quadro<br />

2.9) [40].<br />

E <strong>em</strong> relação a danos <strong>em</strong> estruturas correntes (excluindo monumentos e edifícios sensíveis), o<br />

LNEC t<strong>em</strong> utilizado o critério apresentado no Quadro 2.10 [40].<br />

No que diz respeito à publicação da nova Norma Portuguesa (na ausência da norma europeia),<br />

elaborada na CT 28, o critério encontra-se no Quadro 2.11 [40].


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Quadro 2.8 – Limites estabelecidos na NP 2074, para a velocida<strong>de</strong> da vibração <strong>de</strong> pico (mm.s -1 )<br />

(adaptado <strong>de</strong> [40])<br />

Tipos <strong>de</strong><br />

construção<br />

(que afectam<br />

os valores<br />

da constante<br />

β)<br />

Construções<br />

sensíveis<br />

Construções<br />

correntes<br />

Características do terreno (que afectam os valores da constante α)<br />

Solos incoerentes;<br />

areias e misturas areiaseixo<br />

b<strong>em</strong> graduadas;<br />

areias uniformes; solos<br />

coerentes moles e muito<br />

moles<br />

Solos coerentes muito<br />

duros, duros e <strong>de</strong><br />

consistência média;<br />

solos incoerentes<br />

compactos; areias e<br />

misturas areia-seixo<br />

graduadas; areias<br />

uniformes<br />

Rochas e solos<br />

coerentes e rijos<br />

cp ≤ 1000 m/s 1000 < cp < 2000 m/s cp ≥ 2000 m/s<br />

γ = 1.0 γ = 0.7 γ = 1.0 γ = 0.7 γ = 1.0 γ = 0.7<br />

2.50 1.75 5.00 3.50 10.00 7.00<br />

5.00 3.50 10.00 7.00 20.00 14.00<br />

Construções<br />

15.00 10.5 30.00 21.00 60.00 42.00<br />

reforçadas<br />

Notas: cp – Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propagação das ondas sísmicas longitudinais no terreno (rocha ou solo); <strong>em</strong><br />

cada situação, a constante γ é aplicada no sentido <strong>de</strong> reduzir <strong>em</strong> 30% (γ = 0.7) os valores da velocida<strong>de</strong>,<br />

caso se efectu<strong>em</strong> mais <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong>tonações diárias, ou seja, se for aplicada uma fonte vibratória permanente,<br />

ou quase; a gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> a medir é o módulo resultante da medição das três componentes<br />

ortogonais da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração.<br />

Quadro 2.9 – NP revista – Valores limite do valor da maior componente da velocida<strong>de</strong> da vibração<br />

na base da edificação (vi máx, mm/s) (adaptado <strong>de</strong> [40])<br />

|v|M \ tipo <strong>de</strong> solo →<br />

↓ tipo <strong>de</strong> construção\<br />

Incoerentes soltos e<br />

coerentes moles<br />

f < 10 Hz<br />

Incoerentes<br />

compactados e<br />

coerentes duros e<br />

médios<br />

10 < f < 40 Hz<br />

Coerentes rijos<br />

40 Hz < f<br />

sensíveis 1,3 – 1,8 – 2,5 2,5 – 3,5 - 5 5 – 7 – 10<br />

correntes 2,5 – 3,5 – 5 5 – 7 – 10 10 – 14 – 20<br />

<strong>de</strong> betão armado 6,5 – 9 – 12,5 12,5 – 17,5 – 50 25 – 35 – 50<br />

Notas: os primeiros valores val<strong>em</strong> para um número total <strong>de</strong> vibrações superior a c<strong>em</strong>, os segundos para<br />

um número diário <strong>de</strong> vibrações superior a três, os terceiros valores val<strong>em</strong> para 3 ou menos vibrações<br />

diárias; a gran<strong>de</strong>za a medir é a sua componente mais significativa da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração; f é a<br />

frequência predominante no espectro <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>.<br />

Quadro 2.10 – Danos: Valores limite da velocida<strong>de</strong> eficaz da vibração, no local [40]<br />

Vef (mm/s) Efeitos<br />

Vef < 3,5 Praticamente nulos<br />

3,5 < vef < 7 Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> danos cosméticos <strong>em</strong> edifícios antigos<br />

7 < vef < 21 Fendilhação ligeira nos revestimentos<br />

21 < vef < 42 Fendilhação acentuada nos revestimentos e alvenarias<br />

42 < vef<br />

Danos consi<strong>de</strong>ráveis; possível fendilhação da estrutura <strong>de</strong> betão armado<br />

Nota: Componente vertical ou horizontal se esta for mais significativa. Nas vibrações continuadas <strong>de</strong><br />

maior intensida<strong>de</strong> o factor <strong>de</strong> crista, vM / vef, é geralmente menor, e este critério correspon<strong>de</strong> ≈ à limitação<br />

<strong>de</strong> vM < 5 ou 10 mm/s, respectivamente para edifícios antigos ou recentes.<br />

35


36<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Quadro 2.11 – Danos: valores limite da velocida<strong>de</strong> efectiva da vibração, no local [40]<br />

vef <strong>em</strong> mm/s Duração inferior a 1 hora/dia<br />

Duração superior a 1<br />

hora/dia<br />

Construções sensíveis (e1) 1 0.7<br />

Construções correntes (e2) 2 1.8<br />

Construções reforçadas (e3) 5 5<br />

Notas: vef – valor da componente mais significativa; e1 – construções sensíveis: monumentos e outros<br />

edifícios históricos, casas antigas <strong>em</strong> centros históricos, <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> água e chaminés <strong>em</strong> alvenaria, etc..<br />

e2 – construções correntes, como edifícios <strong>de</strong> habitação <strong>em</strong> boa alvenaria, edifícios industriais menos<br />

recentes, etc.. e3 – construções reforçadas, como edifícios com estrutura <strong>de</strong> betão armado, edifícios<br />

industriais <strong>de</strong> construção recente, etc..<br />

Segundo Bernardo e Dinis da Gama [40], a actualização da NP 2074 é necessária, pois é<br />

importante que esta inclua a frequência das vibrações que ating<strong>em</strong> as estruturas, juntamente<br />

com a amplitu<strong>de</strong> da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração, que são parâmetros essenciais <strong>de</strong> segurança<br />

contra as operações que geram vibrações. Estes autores concluíram também que o facto <strong>de</strong> se<br />

consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> as características do terreno <strong>em</strong> que as estruturas estão fundadas conduz a<br />

resultados diferentes dos obtidos na realida<strong>de</strong>, sendo preferível o uso do parâmetro da<br />

frequência, como já referido anteriormente.<br />

2.4 Muros <strong>de</strong> Munique<br />

2.4.1 Generalida<strong>de</strong>s<br />

Este tipo <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contenção t<strong>em</strong> vindo a ser utilizado já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 70 <strong>em</strong><br />

contenções periféricas e muros <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>vido às suas vantagens, entre elas,<br />

no que respeita à facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução. No entanto, mais recent<strong>em</strong>ente têm vindo a ser<br />

substituídas por outras técnicas <strong>de</strong> contenção mais eficazes, como pare<strong>de</strong>s moldadas ou<br />

cortinas <strong>de</strong> estacas, por representar<strong>em</strong> menores <strong>de</strong>scompressões dos terrenos, assim como<br />

prazos <strong>de</strong> execução mais reduzidos.<br />

A <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>sta técnica como Pare<strong>de</strong>s tipo Munique t<strong>em</strong> sido alvo <strong>de</strong> alguma controvérsia,<br />

variando a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> Munique para tipo “Berlim <strong>de</strong>finitivo”, <strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhança aos Muros <strong>de</strong><br />

Berlim ou pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Berlim provisórias, cuja entivação entre os perfis metálicos é feita por<br />

meio <strong>de</strong> tábuas <strong>de</strong> solho, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> painéis <strong>de</strong> betão armado [43]. Os perfis metálicos têm<br />

como função transmitir as cargas verticais ao terreno, sendo estas a componente vertical do<br />

impulso, o peso próprio da cortina e a componente vertical das ancoragens.<br />

Em termos <strong>de</strong> dimensionamento, o comportamento <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> contenção ass<strong>em</strong>elha-se a<br />

uma cortina <strong>de</strong> contenção flexível multi-ancorada, que se caracteriza por ter uma elevada<br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na fase construtiva, e é influenciada ao nível dos esforços <strong>de</strong> cálculo pela<br />

interacção solo-estrutura.<br />

Com base <strong>em</strong> resultados obtidos através <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação numérica, Guerra [2] concluiu que, <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> cargas verticais, quase todas ao longo da escavação são provocadas pela<br />

componente vertical das ancoragens, e não pelo peso próprio da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão. Estas


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

cargas verticais são suportadas <strong>em</strong> gran<strong>de</strong> parte pelos perfis verticais <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento da<br />

mobilização da resistência lateral na interface cortina-solo, sendo que esta é mais mobilizada<br />

no início da escavação, mantém-se constante com o avanço da mesma, e acaba por diminuir<br />

nas últimas fases, o que significa que há movimentos ascen<strong>de</strong>ntes da massa <strong>de</strong> terreno <strong>em</strong><br />

relação à cortina.<br />

2.4.2 Processo construtivo<br />

Na execução <strong>de</strong> muros <strong>de</strong> Munique, <strong>de</strong> forma geral <strong>de</strong>ve ser respeitada a seguinte sequência:<br />

� <strong>Escavação</strong> geral;<br />

� Introdução dos perfis metálicos;<br />

� Execução da viga <strong>de</strong> coroamento;<br />

� Execução dos painéis primários;<br />

� Execução das ancoragens dos painéis primários;<br />

� Execução dos painéis secundários e respectivas ancoragens, caso existam;<br />

� Execução dos painéis terciários (<strong>de</strong> canto) e respectivos escoramentos;<br />

� Execução da cortina até à cota <strong>de</strong> fundação, execução da superstrutura e <strong>de</strong>sactivação<br />

das ancoragens e escoramentos.<br />

Dev<strong>em</strong> ser tidos <strong>em</strong> conta alguns aspectos no que respeita à sequência construtiva indicada<br />

anteriormente:<br />

� Na primeira fase da escavação geral é usual ser feito um rebaixamento da cota do terreno<br />

<strong>em</strong> todo o recinto até à cota inferior da viga <strong>de</strong> coroamento, que <strong>de</strong>ve ser o mais baixo<br />

quanto possível tendo <strong>em</strong> conta as condições do terreno. A restante escavação <strong>de</strong>verá ser<br />

feita <strong>em</strong> talu<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser garantidas, se possível, as condições para a circulação dos<br />

equipamentos necessários à obra.<br />

� Antes da introdução dos perfis metálicos <strong>de</strong>ve ser verificado à priori se a sua localização<br />

não coinci<strong>de</strong> com a <strong>de</strong> eventuais pilares <strong>de</strong>finitivos <strong>em</strong>bebidos nas pare<strong>de</strong>s.<br />

� Ainda que <strong>em</strong> projecto a probl<strong>em</strong>ática das cargas verticais tenha sido tida <strong>em</strong> conta no<br />

dimensionamento da solução, por vezes <strong>em</strong> obra a sua execução não garante as<br />

condições supostas <strong>em</strong> projecto. Como já referido anteriormente um dos aspectos <strong>em</strong> que<br />

isto se verifica é na selag<strong>em</strong> dos perfis, <strong>em</strong> que é conveniente que a injecção da calda <strong>de</strong><br />

cimento para a selag<strong>em</strong> seja feita com recurso a mangueira, e não simplesmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

superfície do terreno, como se verifica nalgumas situações. O perfil <strong>de</strong>ve ser mantido<br />

centrado no furo durante a injecção, e até a calda fazer presa, principalmente quando as<br />

suas dimensões são consi<strong>de</strong>ravelmente inferiores às dimensões do furo. (No estrangeiro<br />

os perfis usados são muito maiores, e a sua selag<strong>em</strong> é feita com betão) [2].<br />

37


38<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

� O processo <strong>de</strong> execução dos furos para introdução dos perfis po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser utilizado<br />

também para aferir as características dos estratos subterrâneos, confirmando e<br />

compl<strong>em</strong>entando assim, as informações fornecidas no Relatório Geológico-Geotécnico. A<br />

zona “livre” do furo <strong>de</strong>ve ser preenchida com areia até à superfície, se b<strong>em</strong> que noutros<br />

países é também usual preencher o furo com betão pobre, calda <strong>de</strong> cimento ou lamas<br />

bentoníticas, sendo também conveniente que o material <strong>de</strong> preenchimento seja<br />

incompressível. O material <strong>de</strong> preenchimento t<strong>em</strong> como função, além <strong>de</strong> diminuir os<br />

<strong>de</strong>slocamentos da cortina e do terreno induzidos pelo espaço vazio criado, também impedir<br />

a encurvadura dos perfis, que po<strong>de</strong> acontecer <strong>de</strong>vido aos elevados comprimentos livres, e<br />

ao aumento <strong>de</strong> carga que vai havendo durante a escavação, sobre os mesmos. A solução<br />

que passa por <strong>de</strong>ixar os perfis no exterior da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> furação junto à<br />

<strong>em</strong>pena <strong>de</strong> edifícios adjacentes é altamente <strong>de</strong>saconselhável, no que respeita ao seu<br />

funcionamento para a transmissão das cargas verticais [2]. Nestas situações, os perfis<br />

ficam também mais expostos aos trabalhos que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> durante a escavação, como<br />

sejam, a impactos <strong>de</strong> equipamentos que circulam no recinto, diminuindo a sua capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> carga. Há também a <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> não ficar<strong>em</strong> confinados n<strong>em</strong> pela areia, n<strong>em</strong> pela<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão, o que aumenta o risco <strong>de</strong> encurvadura, diminuindo também a resistência<br />

axial.<br />

� A viga <strong>de</strong> coroamento t<strong>em</strong> como objectivo solidarizar todos os perfis para que estes<br />

possam funcionar <strong>em</strong> conjunto. É usual proce<strong>de</strong>r-se à colocação <strong>de</strong> uma “almofada <strong>de</strong><br />

areia” na zona inferior da viga antes da betonag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> modo a evitar o contacto directo<br />

entre o betão e o terreno. A viga é cofrada na face exterior e betonada contra o terreno na<br />

face interior, e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>ixadas armaduras <strong>de</strong> espera laterais, superiores (para a<br />

superstrutura) e inferiores (para os painéis <strong>de</strong> betão armado que lhe suce<strong>de</strong>rão).<br />

� Para a execução dos painéis primários é necessário proce<strong>de</strong>r-se à sua abertura, que<br />

consiste <strong>em</strong> escavar a porção <strong>de</strong> terreno entre perfis verticais, <strong>de</strong>ixando duas banquetas<br />

<strong>de</strong> terreno, uma <strong>de</strong> cada lado da zona escavada, cuja função é a <strong>de</strong> suportar parte do<br />

impulso do terreno que era suportado pelo solo através do chamado “efeito <strong>de</strong> arco”, sendo<br />

que a restante parte do impulso é suportada pelo próprio terreno colocado a <strong>de</strong>scoberto,<br />

<strong>de</strong>vido à sua coesão aparente. É notável assim a importância do solo ter coesão aparente<br />

suficiente para a execução <strong>de</strong>ste processo, s<strong>em</strong> que ocorra <strong>de</strong>scompressão do terreno<br />

suportado. A altura <strong>de</strong> escavação correspon<strong>de</strong> aproximadamente ao pé-direito <strong>de</strong> um piso<br />

enterrado, e a profundida<strong>de</strong> para o interior da escavação é variável, po<strong>de</strong>ndo atingir até 4<br />

m. É comum proce<strong>de</strong>r-se também à colocação duma camada <strong>de</strong> areia e/ou terra na base<br />

do painel a betonar, que t<strong>em</strong> como função impedir a infiltração do betão no terreno durante<br />

a betonag<strong>em</strong> do painel, e também assegurar o espaço para as armaduras <strong>de</strong> espera da<br />

parte inferior, que farão a ligação ao painel seguinte.<br />

� Na montag<strong>em</strong> das armaduras correspon<strong>de</strong>ntes a cada painel, a armadura posterior é<br />

colocada <strong>em</strong> primeiro lugar, seguida do reforço para o punçoamento e flexão na zona da


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

ancorag<strong>em</strong>, as armaduras <strong>de</strong> espera <strong>de</strong> eventuais lajes, ou pilares (caso estes fiqu<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong>bebidos no muro), e por fim a armadura <strong>de</strong> intradorso. As armaduras dos pilares, caso<br />

existam, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser colocadas antes das armaduras dos painéis, e localizadas, <strong>de</strong><br />

preferência na fronteira entre dois painéis. Dev<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>ixados negativos (geralmente <strong>em</strong><br />

PVC) para as ancoragens, ou escoramentos [43].<br />

� Embora na técnica <strong>de</strong> escavação e contenção recorrendo a muros <strong>de</strong> Munique haja <strong>em</strong><br />

geral um gran<strong>de</strong> cuidado nas fases iniciais da escavação, <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sconhecimento das<br />

condições das fundações das construções vizinhas, assim como as características do<br />

terreno, há uma tendência para esse cuidado ir diminuindo à medida que a escavação vai<br />

avançado, visto já haver uma maior confiança e conhecimento das condições envolventes.<br />

No entanto, esta é precisamente a fase crítica no que diz respeito ao equilíbrio vertical da<br />

cortina, pois é quando esta possui a carga máxima, estando todos os troços <strong>de</strong> betão<br />

armado completos e as ancoragens inclinadas todas executadas. Assim, também não é<br />

aconselhável per<strong>de</strong>r totalmente o seguimento do faseamento construtivo, abrindo vários<br />

painéis ao mesmo t<strong>em</strong>po, ainda que o terreno aparente características <strong>de</strong> coesão aparente<br />

suficientes para isso [2].<br />

� A cofrag<strong>em</strong> dos painéis é feita geralmente com recurso a tábuas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, mas po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizados também el<strong>em</strong>entos metálicos. O escoramento da cofrag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser b<strong>em</strong><br />

garantido, uma vez que esta <strong>de</strong>ve resistir ao impulso do betão fresco, e também do terreno.<br />

Este suporte po<strong>de</strong> ser conseguido por meio <strong>de</strong> um escoramento contra o terreno, com<br />

recurso a injecções <strong>de</strong> cimento ou tábuas para aumentar a área <strong>de</strong> contacto, ou contra<br />

maciços <strong>de</strong> betão, através <strong>de</strong> prumos metálicos ou barrotes <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Deve ser <strong>de</strong>ixada<br />

uma abertura na cofrag<strong>em</strong> (“bico <strong>de</strong> pato”) para que se possa proce<strong>de</strong>r à betonag<strong>em</strong> do<br />

painel. A <strong>de</strong>scofrag<strong>em</strong> do painel <strong>de</strong>ve ser feita cerca <strong>de</strong> 48 horas após a betonag<strong>em</strong>, sendo<br />

a fase <strong>em</strong> que os painéis se encontram mais vulneráveis, pois já não estão a ser<br />

suportados pela cofrag<strong>em</strong>, e ainda não possu<strong>em</strong> as características <strong>de</strong> resistência finais<br />

para fazer<strong>em</strong> face aos impulsos do terreno. Assim, partir <strong>de</strong>ste momento a execução das<br />

ancoragens <strong>de</strong>ve seguir-se o mais rápido possível. Como a utilização do processo <strong>de</strong><br />

muros <strong>de</strong> Munique implica a presença <strong>de</strong> solos coesivos, a técnica mais usada na furação<br />

para execução <strong>de</strong> ancoragens será a do trado contínuo. Os procedimentos relacionados<br />

com a execução das ancoragens foram já <strong>de</strong>scritos anteriormente, na secção 2.2.2. Na<br />

fase <strong>de</strong> execução dos painéis secundários e respectivas ancoragens o procedimento é<br />

essencialmente s<strong>em</strong>elhante à execução dos painéis primários, apenas com a diferença <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r ser dispensado o recurso a ancoragens, e também <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r adoptar-se uma largura<br />

superior à dos painéis primários, quando o terreno apresenta boas características.<br />

� A execução dos painéis terciários (<strong>de</strong> canto) e respectivos escoramentos <strong>de</strong>ve ser feita <strong>em</strong><br />

primeiro lugar <strong>em</strong> relação aos painéis secundários, pois é conveniente confinar logo à<br />

partida essa zona sensível da escavação [43]. Nos cantos convexos, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

escoramentos o suporte po<strong>de</strong> ser feito por meio <strong>de</strong> tirantes – varões <strong>de</strong> aço. Des<strong>de</strong> que as<br />

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40<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

condições do terreno o permitam, e até porque a obra po<strong>de</strong> ter cotas <strong>de</strong> fundação<br />

diferentes conforme o alçado, po<strong>de</strong> avançar-se com o processo <strong>de</strong> escavação <strong>em</strong> frentes<br />

diferentes e trabalhar <strong>em</strong> vários níveis <strong>de</strong> painéis simultaneamente, o que permite diminuir<br />

os prazos <strong>de</strong> execução.<br />

� À medida que se vai proce<strong>de</strong>ndo à construção da superstrutura, as ancoragens vão<br />

<strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> ser necessárias, uma vez que a função <strong>de</strong> suporte dos impulsos das terras<br />

passa a ser assegurada pelas lajes dos pisos enterrados. A posição das ancoragens <strong>de</strong>ve<br />

ser <strong>de</strong>ixada perto das lajes, mas não <strong>em</strong> sobreposição com estas, para que se possa<br />

proce<strong>de</strong>r à sua <strong>de</strong>sactivação, e recuperação das respectivas cabeças assim que as lajes<br />

correspon<strong>de</strong>ntes estiver<strong>em</strong> concluídas. A <strong>de</strong>sactivação das ancoragens é feita geralmente<br />

cortando com um maçarico um a um, os cabos <strong>de</strong> pré-esforço, soltando assim a cabeça<br />

para futuras reutilizações. Deve ser <strong>de</strong>ixado um registo da localização <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong><br />

das ancoragens <strong>de</strong>finitivas, a fim <strong>de</strong> evitar probl<strong>em</strong>as ou danos nas construções vizinhas<br />

[43].<br />

Controlo <strong>de</strong> execução<br />

Deve ser feito um controlo da escavação através <strong>de</strong> instrumentação, antes, durante e após a<br />

execução da mesma. Esta instrumentação po<strong>de</strong> ser feita por meio <strong>de</strong> diversos aparelhos, como<br />

inclinómetros imediatamente a tardoz da cortina, inseridos <strong>em</strong> furos <strong>de</strong> sondag<strong>em</strong>, alvos e<br />

marcas topográficas, células <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancoragens e extensómetros nos escoramentos.<br />

Estes meios permit<strong>em</strong> monitorizar os <strong>de</strong>slocamentos que ocorr<strong>em</strong> na cortina <strong>de</strong> contenção<br />

executada, no terreno envolvente e nas construções vizinhas, variações <strong>de</strong> pré-esforço nas<br />

ancoragens, e variação <strong>de</strong> comprimento dos escoramentos. Estes aspectos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

especificados no Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação, que <strong>de</strong>verá ser incluído na m<strong>em</strong>ória<br />

<strong>de</strong>scritiva e justificativa do projecto <strong>de</strong> escavação e contenção periférica.<br />

2.4.3 Aplicabilida<strong>de</strong> e comparação com outras técnicas <strong>de</strong> contenção<br />

O campo <strong>de</strong> aplicação das pare<strong>de</strong>s tipo Munique po<strong>de</strong> ser directamente relacionado com as<br />

suas vantagens e <strong>de</strong>svantagens, que serão <strong>de</strong>scritas mais adiante. As limitações e vantagens<br />

<strong>de</strong>sta técnica <strong>em</strong> relação às alternativas para cada situação <strong>de</strong> projecto acabam por <strong>de</strong>terminar<br />

a viabilida<strong>de</strong> do uso <strong>de</strong>sta solução. Assim, a escolha da solução i<strong>de</strong>al não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> só das<br />

condições do terreno, mas também da urgência <strong>de</strong> prazos da obra e do orçamento disponível,<br />

sendo necessário encontrar um equilíbrio, não comprometendo os critérios <strong>de</strong> segurança.<br />

No Quadro 2.12 encontram-se esqu<strong>em</strong>atizadas as vantagens e <strong>de</strong>svantagens das técnicas <strong>de</strong><br />

contenção que po<strong>de</strong>m ser aplicadas a escavações e contenções periféricas <strong>em</strong> meio urbano.


Escavações e Contenções <strong>Periférica</strong>s <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong><br />

Quadro 2.12 – Vantagens e <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> soluções <strong>de</strong> contenção periférica <strong>em</strong> meio urbano<br />

Solução Vantagens Desvantagens<br />

Muros <strong>de</strong><br />

Munique<br />

(Definitivo)<br />

Muros <strong>de</strong><br />

Berlim<br />

(Provisório)<br />

Cortina <strong>de</strong><br />

estacas<br />

moldadas<br />

Cortina <strong>de</strong><br />

estacasprancha<br />

Pare<strong>de</strong>s<br />

Moldadas<br />

Cortinas <strong>de</strong><br />

colunas <strong>de</strong><br />

Jet-Grout<br />

� Economia nos processos construtivos;<br />

� Não exige gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> estaleiro, n<strong>em</strong><br />

pessoal e tecnologia especializados;<br />

� Proporcionam acabamento aceitável, por<br />

ser<strong>em</strong> cofrados interiormente;<br />

� Permit<strong>em</strong> um bom aproveitamento da<br />

área útil do edifício, uma vez que as<br />

pare<strong>de</strong>s são <strong>de</strong> espessura relativamente<br />

reduzida e são executadas no limite do<br />

lote (betonadas contra o terreno).<br />

� Economia, sobretudo para contenções<br />

provisórias;<br />

� Facilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> manobrar e construir, com<br />

bons rendimentos diários <strong>em</strong> área;<br />

� Não exige gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> estaleiro, n<strong>em</strong><br />

pessoal e tecnologia especializados.<br />

� Ating<strong>em</strong>-se profundida<strong>de</strong>s elevadas;<br />

� Po<strong>de</strong>-se dispensar o uso <strong>de</strong> fluidos<br />

estabilizadores caso o terreno possua<br />

consistência suficiente;<br />

� O processo <strong>de</strong> execução não provoca<br />

vibrações excessivas, excepto quando é<br />

feito o recurso ao trépano;<br />

� Gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> diâmetros<br />

disponíveis.<br />

� Facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> execução abaixo do nível<br />

freático, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> água <strong>em</strong> presença <strong>de</strong><br />

solos moles;<br />

� Oferec<strong>em</strong> ao terreno superfícies<br />

contínuas;<br />

� Garantia <strong>de</strong> estanqueida<strong>de</strong> na<br />

passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> água para o exterior;<br />

� É possível recuperar e reutilizar as<br />

estacas.<br />

� Po<strong>de</strong> ser utilizado <strong>em</strong> qualquer<br />

circunstância <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> condições<br />

hidro-geológicas (mesmo com nível<br />

freático elevado, percolação <strong>de</strong> água<br />

e/ou terrenos incoerentes ou moles);<br />

� Ating<strong>em</strong>-se profundida<strong>de</strong>s elevadas;<br />

� Garantia <strong>de</strong> estanqueida<strong>de</strong> na<br />

passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> água para o exterior;<br />

� Maleabilida<strong>de</strong> na programação, por ter a<br />

configuração <strong>de</strong> painéis.<br />

� Solução económica e com altos<br />

rendimentos comparativamente com as<br />

soluções tradicionais alternativas<br />

(Pare<strong>de</strong>s Moldadas, Cortina <strong>de</strong> estacas);<br />

� Não provoca vibrações;<br />

� Garantia <strong>de</strong> estanqueida<strong>de</strong>;<br />

� Processo muito moroso e fracos<br />

rendimentos diários <strong>em</strong> área;<br />

� Mau <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para nível freático<br />

elevado, não garantindo a<br />

estanqueida<strong>de</strong> a longo prazo;<br />

� Exig<strong>em</strong> terrenos com alguma<br />

consistência;<br />

� Provocam alguma <strong>de</strong>scompressão<br />

do solo, originando assentamentos<br />

das fundações das construções<br />

vizinhas e <strong>de</strong>slocamentos da própria<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, o que po<strong>de</strong><br />

provocar danos.<br />

� Mau <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho para nível freático<br />

elevado, <strong>de</strong>vido à percolação dos<br />

finos e erosão interna do solo; a<br />

água passa livr<strong>em</strong>ente entre os<br />

el<strong>em</strong>entos;<br />

� Exig<strong>em</strong> terrenos com alguma<br />

consistência;<br />

� Estão relativamente limitados <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>.<br />

� Dificulda<strong>de</strong> na garantia <strong>de</strong><br />

verticalida<strong>de</strong>;<br />

� A entrada <strong>de</strong> água e/ou percolação<br />

po<strong>de</strong> causar anomalias no betão<br />

antes da presa;<br />

� Exige equipamentos e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializados.<br />

� A cravação po<strong>de</strong> originar ruído e<br />

vibrações, assim como a danificação<br />

dos el<strong>em</strong>entos;<br />

� Têm probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> corrosão a longo<br />

prazo;<br />

� Dificulda<strong>de</strong> na garantia <strong>de</strong><br />

verticalida<strong>de</strong> e na correcção da<br />

mesma;<br />

� Não po<strong>de</strong>m ser utilizadas <strong>em</strong><br />

terrenos com camadas ou blocos<br />

dispersos <strong>de</strong> rochas.<br />

� Execução difícil <strong>em</strong> terrenos rijos,<br />

com gran<strong>de</strong>s perdas <strong>de</strong> rendimentos;<br />

� Exige equipamentos e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializados;<br />

� Exige gran<strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> estaleiro;<br />

� Solução relativamente onerosa<br />

(<strong>de</strong>vido a por ex<strong>em</strong>plo, fabrico,<br />

recuperação e reciclag<strong>em</strong> das lamas<br />

bentoníticas, ou transporte para local<br />

<strong>de</strong> vazadouro apropriado).<br />

� Necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma rigorosa<br />

interpretação dos cenários geológico<br />

- geotécnico e estrutural;<br />

� Importância da calibração prévia <strong>de</strong><br />

parâmetros <strong>de</strong> execução, quando<br />

justificável através do recurso a<br />

41


42<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Solução Vantagens Desvantagens<br />

Cortinas <strong>de</strong><br />

painéis <strong>de</strong><br />

CSM<br />

� Po<strong>de</strong> ser utilizado <strong>em</strong> terrenos<br />

incoerentes e com nível freático elevado;<br />

� Permite a realização da contenção antes<br />

da escavação – segurança;<br />

� Versatilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções;<br />

� Representa um tratamento do solo, o<br />

que traz vantagens a nível ambiental e<br />

económicas, não sendo necessário<br />

transporte <strong>de</strong> material para o exterior.<br />

� Solução com vantagens económicas e<br />

ambientais (incorporação do solo na<br />

solução, com minimização <strong>de</strong> refluxo);<br />

� Altos rendimentos;<br />

� Garantia <strong>de</strong> estanqueida<strong>de</strong>;<br />

� Não provoca vibrações;<br />

� Po<strong>de</strong> ser executado <strong>em</strong> todos os tipos<br />

<strong>de</strong> solo, incluindo os incoerentes e com<br />

nível freático elevado;<br />

� Permite a realização da contenção antes<br />

da escavação – segurança;<br />

� Versatilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> soluções ;<br />

� Bom controlo <strong>de</strong> verticalida<strong>de</strong> e<br />

qualida<strong>de</strong>.<br />

ensaios <strong>de</strong> carga à escala real,<br />

assim como do controlo da<br />

execução;<br />

� Exige algum espaço <strong>de</strong> estaleiro<br />

para instalação <strong>de</strong> um silo;<br />

� Exige equipamentos e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializados;<br />

� Não po<strong>de</strong> ser utilizado <strong>em</strong> solos com<br />

camadas ou blocos <strong>de</strong> rocha<br />

dispersos.<br />

� Importância <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong><br />

formulação laboratorial para a<br />

<strong>de</strong>terminação do melhor ou melhores<br />

ligantes a adoptar na mistura com o<br />

solo, assim como das respectivas<br />

quantida<strong>de</strong>s;<br />

� Exige equipamentos e mão-<strong>de</strong>-obra<br />

especializados.<br />

Analisando os aspectos referidos no Quadro 2.12 é possível concluir que a escolha da técnica<br />

<strong>de</strong> contenção a adoptar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> quase inteiramente da situação, quer seja <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

condições geológico-geotécnicas e hidrológicas, dos prazos, capital disponível, condições<br />

vizinhas e outros condicionamentos. Assim, no caso <strong>de</strong> estudo apresentado no capítulo<br />

seguinte, a solução adoptada, tendo <strong>em</strong> conta todas as características da obra a realizar,<br />

passou pela execução <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique. Como não se consi<strong>de</strong>rou a existência <strong>de</strong> nível<br />

freático no interior do recinto, foi possível recorrer a uma solução que não garantisse a<br />

estanqueida<strong>de</strong>; e como os terrenos interessados pela escavação apresentam alguma<br />

coerência pô<strong>de</strong> escolher-se uma solução mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das características do solo. Quanto<br />

“piores” as condições do terreno: solos moles e nível freático elevado, menos económicas<br />

serão as técnicas necessárias, para que se garanta a segurança. Como os condicionamentos a<br />

nível <strong>de</strong> custos eram superiores às limitações <strong>de</strong> prazos optou-se então pela contenção tipo<br />

Berlim <strong>de</strong>finitivo, pois enquadrava-se nos objectivos e características da obra a realizar.


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

3. CASO DE ESTUDO: PALÁCIO DOS CONDES DE MURÇA<br />

3.1 Enquadramento geral e el<strong>em</strong>entos base<br />

A obra que serviu <strong>de</strong> caso <strong>de</strong> estudo a esta dissertação teve como objectivo a escavação e<br />

contenção periférica para a execução dos pisos enterrados previstos para o <strong>em</strong>preendimento<br />

“Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça”, <strong>em</strong> Lisboa. A área a intervencionar situa-se na freguesia <strong>de</strong><br />

Santos e encontra-se limitada a Sul pela Rua <strong>de</strong> Santos-o-Velho e a Leste pela Rua S. João da<br />

Mata (Figura 3.1). Os pontos <strong>de</strong> referência e respectivos alçados do recinto da escavação<br />

encontram-se representados na Figura 3.2.<br />

Figura 3.1 – Área <strong>de</strong> implantação do<br />

Empreendimento “Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Murça” [44]<br />

Figura 3.2 – Alçados adoptados para o recinto<br />

da escavação (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

O Projecto <strong>de</strong> Execução <strong>de</strong> escavação e contenção periférica elaborado pela <strong>em</strong>presa “JetSJ”<br />

teve por base o projecto <strong>de</strong> licenciamento elaborado pela <strong>em</strong>presa “AfaConsult”. A solução<br />

construtiva sugerida no projecto inicial sofreu algumas alterações, no sentido <strong>de</strong> haver uma<br />

optimização dos custos, uma vez que os condicionamentos locais o possibilitavam. No projecto<br />

<strong>de</strong> licenciamento, a solução passava pela realização <strong>de</strong> uma contenção do tipo “Berlim<br />

<strong>de</strong>finitivo” ou “Muros <strong>de</strong> Munique”, com espessura variável entre 0.35 m e 0.50 m, travada com<br />

recurso a ancoragens, escoras <strong>de</strong> canto e tirantes, e suportada verticalmente por meio <strong>de</strong><br />

perfis verticais tipo HEB e CHS [45].<br />

As alterações feitas ao projecto inicial consistiram <strong>em</strong> reduzir a espessura dos muros <strong>de</strong><br />

contenção para 0.30 m, alterar os perfis verticais todos para HEB, e respectivas selagens, e<br />

reduzir o número <strong>de</strong> ancoragens, através do aumento das respectivas cargas <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>.<br />

Foram mantidos <strong>em</strong> relação ao projecto inicial os muros <strong>em</strong> consola pregados com<br />

microestacas, nos alçados que confrontam com a igreja (parte do alçado A-E, na Figura 3.3),<br />

na zona Sudoeste do recinto <strong>de</strong> escavação. Foi necessário recorrer a esta solução <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

ancoragens <strong>de</strong>finitivas porque não foi obtida a autorização para a sua realização no terreno<br />

subterrâneo da igreja. Estas teriam que ser <strong>de</strong>finitivas, por não estar prevista a construção <strong>de</strong><br />

pisos enterrados nesta zona, e haver a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suporte do terreno escavado. Já no<br />

alçado que confronta para a cisterna, foi possível a execução das ancoragens <strong>de</strong>finitivas [46].<br />

43


44<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 3.3 – Estado inicial do alçado AE, que confronta com a Igreja [47]<br />

A técnica adoptada <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique a<strong>de</strong>qua-se ao cenário <strong>em</strong> questão, pois exige solos<br />

com alguma coesão, <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> reduzida, e nível freático e caudais afluentes<br />

suficient<strong>em</strong>ente reduzidos, para que possam ser controlados por aparelhos <strong>de</strong> bombag<strong>em</strong> e<br />

outras técnicas s<strong>em</strong>elhantes. Como já referido anteriormente, este processo construtivo<br />

consegue ser económico e ter bons rendimentos, tanto quanto o terreno a escavar o permitir,<br />

não tolerando no entanto, a presença <strong>de</strong> água <strong>em</strong> quantida<strong>de</strong>. Embora o cenário geológico-<br />

geotécnico permitisse a realização da contenção com recurso a esta técnica, as condições <strong>de</strong><br />

vizinhança exigiam um controlo <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos muito rigoroso. Os edifícios envolventes,<br />

pelo facto <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> fundados <strong>em</strong> aterros e a pouca profundida<strong>de</strong>, eram muito sensíveis a<br />

pequenas perturbações e <strong>de</strong>scompressões do terreno. Assim, durante todos os trabalhos <strong>de</strong><br />

furação e escavação foi feita uma análise cuidadosa às características dos terrenos, <strong>em</strong><br />

compl<strong>em</strong>ento à informação inicialmente existente.<br />

Os el<strong>em</strong>entos base que serviram <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> partida à elaboração do projecto <strong>de</strong> escavação e<br />

contenção foram os disponibilizados pelo dono <strong>de</strong> obra: o Relatório <strong>de</strong> Reconhecimento<br />

Geológico – Geotécnico, realizado pela <strong>em</strong>presa “GEOMA”, <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong> 2010; e o Projecto<br />

Base <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong>, elaborado pela <strong>em</strong>presa “AfaConsult”, <strong>em</strong> Abril <strong>de</strong><br />

2010. Os condicionamentos <strong>de</strong>scritos nos el<strong>em</strong>entos base foram compl<strong>em</strong>entados com novos<br />

el<strong>em</strong>entos recolhidos <strong>em</strong> visitas ao local para melhor interpretação do cenário geológico –<br />

geotécnico, e da vizinhança.<br />

3.2 Principais condicionantes<br />

3.2.1 Enquadramento geológico e geotécnico<br />

Com o objectivo <strong>de</strong> caracterizar a geologia do espaço anexo ao Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça,<br />

proce<strong>de</strong>u-se à realização <strong>de</strong> 10 sondagens mecânicas, 10 poços <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> fundações,<br />

à instalação <strong>de</strong> piezómetros clássicos <strong>em</strong> 4 furos <strong>de</strong> sondag<strong>em</strong>, e à colheita <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong><br />

água e <strong>de</strong> solos para caracterização laboratorial. Estes trabalhos <strong>de</strong> campo, e sua localização,<br />

apoiaram-se na planta fornecida pelo dono <strong>de</strong> obra. Na Figura 3.4 po<strong>de</strong> observa-se a<br />

disposição das sondagens e dos poços <strong>de</strong> prospecção no recinto da obra.


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 3.4 – Localização das sondagens e dos poços <strong>de</strong> prospecção (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Da interpretação dos resultados obtidos nos ensaios foi possível apurar a existência <strong>de</strong> três<br />

unida<strong>de</strong>s geológicas distintas, sendo a camada superficial constituída por aterros, que se<br />

encontravam <strong>de</strong>positados sobre terrenos miocénicos, <strong>em</strong> resultado da preparação do terreno<br />

para construção <strong>de</strong> edifícios anteriores [49].<br />

Os <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> aterro, <strong>de</strong> espessura muito variável, possuíam na sua constituição calhaus e<br />

fragmentos <strong>de</strong> calcário dispersos, cerâmicos e alguma contaminação orgânica, como raízes e<br />

restos vegetais. Caracterizavam-se também por uma matriz argilosa dominante, e uma<br />

compacida<strong>de</strong> solta a média, tendo <strong>em</strong> conta os resultados dos ensaios SPT obtidos <strong>de</strong> 3 a 10<br />

pancadas. O estrato mais superficial pertencente ao Miocénico é constituído por argilas<br />

avermelhadas com fragmentos <strong>de</strong> calcário erráticos até profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 6 a 10 m. A terceira<br />

unida<strong>de</strong> do Miocénico i<strong>de</strong>ntificada correspon<strong>de</strong> a rocha calcária, <strong>de</strong> cor esbranquiçada,<br />

apresentando-se genericamente muito fragmentada, mas com percentagens <strong>de</strong> recuperação<br />

elevadas, e com alguns sinais <strong>de</strong> carsificação, mas não suficientes para classificar o maciço<br />

como cársico, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> compacto. O estrato encontrava-se disposto <strong>em</strong> bancadas sub-<br />

horizontais entr<strong>em</strong>eadas por níveis e/ou passagens argilosas pouco espessas [49]. Com base<br />

na caracterização das formações geológicas <strong>de</strong>tectadas nos ensaios, foi feito o zonamento<br />

geotécnico presente no Quadro 3.1.<br />

Ainda com base nos dados obtidos nas sondagens foram feitos 8 cortes-tipo <strong>em</strong> várias zonas<br />

do recinto, que permitiram visualizar melhor a constituição das camadas <strong>de</strong> solo presentes. A<br />

título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo encontra-se na Figura 3.5 um esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 1, encontrando-<br />

se os restantes no Anexo III, assim como a localização <strong>de</strong> cada perfil <strong>em</strong> planta.<br />

45


46<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Quadro 3.1 – Parâmetros geotécnicos <strong>em</strong> função da zona [46]<br />

Nspt γ (kN/m 3 ) Φ' (º) c' (kPa) E (MN/m 2 ) Cu (kPa)<br />

Aterro 30 22-24 50 50-100 100-200 150<br />

Figura 3.5 – Perfil geológico nº 1 (adaptado <strong>de</strong> [49])<br />

Devido à impermeabilida<strong>de</strong> da fracção argilosa superior (M1), foi <strong>de</strong>terminado que a estrutura<br />

Miocénica calcária não era propícia à alimentação e manutenção <strong>de</strong> níveis aquíferos, pelo que<br />

os níveis medidos <strong>de</strong> água foram consi<strong>de</strong>rados residuais. Além disso, o nível freático só foi<br />

<strong>de</strong>tectado <strong>em</strong> 3 das 10 sondagens, e a profundida<strong>de</strong>s a partir dos 14.5, 20 m, e a 4 m <strong>de</strong><br />

profundida<strong>de</strong> na sondag<strong>em</strong> nº 9, que se realizou <strong>de</strong>baixo do edifício existente e fora do recinto<br />

da escavação, não afectando portanto os trabalhos <strong>de</strong> escavação. Foi então possível controlar<br />

o aparecimento <strong>de</strong> água apenas com os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> bombag<strong>em</strong> disponíveis [49].<br />

3.2.2 Condições <strong>de</strong> vizinhança<br />

Conforme já referido anteriormente, e <strong>de</strong> acordo com o âmbito <strong>de</strong>sta dissertação, a área <strong>de</strong><br />

intervenção encontrava-se numa zona <strong>de</strong>nsamente urbanizada, <strong>em</strong> que as edificações<br />

circundantes são antigas, e dispõ<strong>em</strong> <strong>de</strong> estruturas sensíveis <strong>de</strong> alvenaria <strong>de</strong> pedra. O recinto<br />

encontrava-se <strong>de</strong>limitado por arruamentos, e diversas construções vizinhas a preservar.<br />

No projecto <strong>de</strong> escavação e contenção foram adoptadas as cotas <strong>de</strong> fundação das estruturas<br />

vizinhas indicadas pelo reconhecimento geológico-geotécnico, tendo sido no entanto, alvo <strong>de</strong><br />

confirmação ao longo da realização dos trabalhos <strong>de</strong> escavação [46].<br />

Foram também realizadas vistorias aos edifícios e estruturas vizinhas, incluindo os muros <strong>de</strong><br />

suporte adjacentes à escavação, assim como todas as estruturas e edificações que se


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

localizass<strong>em</strong> no exterior do perímetro da obra, mas que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> vir a ser afectadas pelos<br />

trabalhos <strong>de</strong> escavação realizados (Figura 3.6 e Figura 3.7).<br />

Figura 3.6 – Estado inicial do alçado FG e canto<br />

F, ao fundo (edifício anexo à Embaixada da<br />

Bélgica) [47]<br />

3.3 Solução Proposta<br />

3.3.1 <strong>Contenção</strong> com recurso a Muros <strong>de</strong> Munique ancorados<br />

Figura 3.7 – Muro <strong>de</strong> separação do alçado JI, e<br />

canto J, com edifícios sensíveis adjacentes à<br />

direita (Infantário) [47]<br />

Dado o cenário geológico <strong>de</strong>scrito anteriormente, a tecnologia para a realização da contenção<br />

adoptada foi a <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique (ou Berlim <strong>de</strong>finitivo), por ser a mais indicada para o tipo<br />

<strong>de</strong> solos interessados pela escavação. A contenção foi então constituída por painéis <strong>de</strong> betão<br />

armado, provisoriamente apoiados <strong>em</strong> perfis metálicos do tipo HEB, que foram na sua<br />

generalida<strong>de</strong>, ancorados ou escorados provisoriamente.<br />

Po<strong>de</strong> observar-se nas Peças Desenhadas do Anexo IV a configuração da solução adoptada,<br />

incluindo a disposição <strong>em</strong> planta do muro <strong>de</strong> contenção executado, a localização das<br />

ancoragens <strong>de</strong>finitivas, provisórias, e escoramentos e tirantes <strong>de</strong> canto. Encontram-se<br />

igualmente <strong>em</strong> anexo as diversas vistas da solução proposta, para melhor percepção e<br />

visualização da mesma.<br />

Os perfis metálicos HEB foram colocados <strong>em</strong> furos <strong>de</strong> ϕmín=10’’ (25 cm), e selados e injectados<br />

através <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a apropriado no comprimento correspon<strong>de</strong>nte ao bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>,<br />

localizado abaixo da cota <strong>de</strong> fundação prevista para as sapatas <strong>de</strong> fundação. Após a<br />

escavação para execução dos painéis, estes foram betonados, garantindo-se a estabilida<strong>de</strong> da<br />

pare<strong>de</strong> através da execução <strong>de</strong> ancoragens pré-esforçadas, tirantes (nos cantos convexos) ou<br />

com a colocação <strong>de</strong> escoramentos <strong>de</strong> canto (côncavos). Para evitar a <strong>de</strong>scompressão<br />

excessiva dos terrenos, foi imposto que o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre as operações <strong>de</strong> escavação<br />

e <strong>de</strong> betonag<strong>em</strong> dos painéis não ultrapassasse as 12 horas [46]. Em fase <strong>de</strong>finitiva as lajes dos<br />

pisos enterrados iriam substituir as ancoragens e escoramentos provisórios na sua função <strong>de</strong><br />

suporte da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, para fazer face aos impulsos do terreno, que seriam<br />

entretanto <strong>de</strong>sactivados.<br />

47


48<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Segundo os dados recolhidos, o terreno apresentava a coerência necessária para suportar a<br />

abertura dos painéis, a execução das ancoragens e escoramentos e tirantes <strong>de</strong> canto, s<strong>em</strong><br />

excessiva <strong>de</strong>scompressão, havendo no entanto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> constante monitorização<br />

para confirmação <strong>de</strong>ssa hipótese.<br />

As ancoragens adoptadas eram constituídas por 5 cordões <strong>de</strong> 0.6’’, e resistiam a uma carga <strong>de</strong><br />

blocag<strong>em</strong> máxima <strong>de</strong> 780 kN, e a um pré-esforço útil <strong>de</strong> 650 kN. Tinham um afastamento<br />

médio <strong>em</strong> planta <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3.0 m, e inclinações e comprimentos variáveis, sendo o<br />

comprimento <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> mínimo <strong>de</strong> 7.0 m. As inclinações e comprimentos variáveis <strong>de</strong>v<strong>em</strong>-se<br />

a vários factores, como à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evitar a intersecção com instalações e estruturas<br />

existentes, e garantir a amarração das ancoragens <strong>em</strong> terreno competente para que houvesse<br />

transmissão das cargas ao longo do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>. No alçado <strong>em</strong> que se localiza a<br />

cisterna, <strong>de</strong>vido à impossibilida<strong>de</strong> arquitectónica da realização <strong>de</strong> lajes que travass<strong>em</strong> a<br />

contenção, manteve-se a solução <strong>de</strong> ancoragens <strong>de</strong>finitivas. Estas são s<strong>em</strong>elhantes às<br />

provisórias, excepto na protecção extra contra a corrosão, e nas condições criadas no local<br />

para que se possam efectuar leituras das células <strong>de</strong> carga, numa fase posterior. Os perfis HEB<br />

e microestacas verticais foram dispostos também com afastamentos médios <strong>em</strong> planta <strong>de</strong> 3.0<br />

m, localizando-se <strong>em</strong> regra nas extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s dos painéis primários, ou <strong>em</strong> certas situações no<br />

centro do painel, com o objectivo <strong>de</strong> limitar a <strong>de</strong>scompressão dos terrenos nos painéis <strong>de</strong> maior<br />

largura. Os comprimentos <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> são variáveis, conforme a geometria e as características<br />

<strong>de</strong> cada alçado, sendo que os comprimentos mínimos são <strong>de</strong> 3.0 ou 4.0 m, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo<br />

<strong>de</strong> perfil [46].<br />

Durante a fase <strong>de</strong> escavação foi também impl<strong>em</strong>entado um Plano <strong>de</strong> Instrumentação e<br />

Observação, como forma <strong>de</strong> aferir o comportamento da estrutura <strong>de</strong> contenção, do terreno e<br />

das estruturas adjacentes, que será abordado <strong>em</strong> pormenor na secção 3.4..<br />

3.3.2 Muro <strong>em</strong> consola fundado <strong>em</strong> microestacas<br />

Para a contenção no alçado ABCDD’ manteve-se a solução proposta pelo projecto inicial da<br />

<strong>em</strong>presa “Afa Consult”, que consistiu num muro <strong>em</strong> consola fundado <strong>em</strong> microestacas, ligado<br />

estruturalmente à contenção <strong>de</strong> Munique. Esta solução difere dos restantes alçados <strong>de</strong>vido ao<br />

facto <strong>de</strong> não estar prevista a realização <strong>de</strong> pisos enterrados nesta zona, pelo que a pare<strong>de</strong><br />

ficará s<strong>em</strong> contenção por parte dos el<strong>em</strong>entos estruturais interiores (lajes). A concepção do<br />

muro <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> betão armado e as microestacas <strong>de</strong> fundação foi mantida <strong>em</strong> relação ao<br />

projecto inicial, tendo havido apenas alterações <strong>em</strong> relação às ancoragens provisórias, que<br />

seriam <strong>em</strong> menor número, <strong>de</strong>vido à maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga do que as <strong>de</strong>finidas pela “Afa<br />

Consult” [46].


3.3.3 Faseamento Construtivo<br />

Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Para a solução preconizada foi sugerido um faseamento construtivo s<strong>em</strong>elhante ao <strong>de</strong>scrito<br />

anteriormente na secção 2.4.2, estando este sujeito a adaptações <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> obra, conforme<br />

as condições <strong>de</strong> trabalho assim o impusess<strong>em</strong>.<br />

Na face <strong>de</strong> extradorso da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção houve a indicação <strong>de</strong> nunca ser colocada<br />

qualquer tipo <strong>de</strong> cofrag<strong>em</strong> ou enchimento, <strong>de</strong>vendo garantir-se que os painéis foss<strong>em</strong><br />

totalmente betonados contra o terreno. Tendo <strong>em</strong> conta as características dos terrenos a<br />

conter, consi<strong>de</strong>rou-se importante que o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po necessário para a escavação e<br />

betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cada painel não fosse superior a 12 horas. O intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre a<br />

betonag<strong>em</strong> dos painéis e o tensionamento das ancoragens, ou a instalação das escoras<br />

<strong>de</strong>veria ser, igualmente, o menor possível [46].<br />

Também havia a indicação <strong>de</strong> que, salvo <strong>em</strong> situações excepcionais <strong>de</strong>vidamente justificadas e<br />

autorizadas pela fiscalização e pelo projectista, não <strong>de</strong>veriam ser <strong>de</strong>ixados rasgos com altura<br />

igual à espessura das lajes, com o objectivo <strong>de</strong> facilitar o apoio das lajes <strong>de</strong> piso das caves nas<br />

pare<strong>de</strong>s periféricas da contenção. Este apoio <strong>de</strong>veria, se possível, ser realizado à custa <strong>de</strong><br />

ferrolhos, a instalar aquando da execução das lajes dos pisos.<br />

Para a zona do muro <strong>em</strong> consola fundado <strong>em</strong> microestacas o procedimento foi s<strong>em</strong>elhante ao<br />

anterior, com a diferença da execução das microestacas inclinadas <strong>de</strong> fundação, no final da<br />

execução <strong>de</strong> todos os níveis <strong>de</strong> painéis (e respectivas ancoragens) nesse alçado, e antes da<br />

execução da sapata <strong>de</strong> fundação. Executou-se então a sapata da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção,<br />

solidarizando a cabeça das microestacas inclinadas, e incluindo os eventuais contrafortes<br />

adjacentes.<br />

3.4 Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação<br />

3.4.1 Generalida<strong>de</strong>s<br />

O Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação teve como objectivo garantir a realização, <strong>em</strong><br />

condições <strong>de</strong> segurança e economia, dos trabalhos relativos à escavação e à construção das<br />

estruturas <strong>de</strong> contenção, assim como a análise do comportamento das estruturas e infra-<br />

estruturas vizinhas, durante a execução <strong>de</strong>sta fase da obra, confirmando assim as hipóteses<br />

admitidas <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> dimensionamento.<br />

O plano proposto foi <strong>de</strong>finido a partir da análise dos principais condicionamentos, que na fase<br />

inicial, se consi<strong>de</strong>raram que tinham mais probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vir a afectar a intervenção. A análise<br />

dos condicionamentos permitiu a quantificação dos principais riscos associados à execução<br />

dos trabalhos.<br />

Neste tipo <strong>de</strong> obras, o Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação ganha uma elevada importância,<br />

pois o principal condicionamento estava relacionado com as construções vizinhas antigas. Para<br />

49


50<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

assegurar que não havia efeitos negativos nas mesmas durante a realização dos trabalhos, foi<br />

necessário garantir que não se atingiss<strong>em</strong> certos níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos e vibrações na<br />

estrutura <strong>de</strong> contenção, e nas vizinhas. Como tal, dada a incerteza associada aos probl<strong>em</strong>as<br />

geotécnicos, a instrumentação da obra surge como um investimento, para assegurar que o<br />

comportamento da contenção e do solo se enquadram no previsto, e caso não se verifique, que<br />

se possam adoptar medidas preventivas, e <strong>de</strong> reforço <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po útil.<br />

3.4.2 Gran<strong>de</strong>zas a medir<br />

Durante os trabalhos <strong>de</strong> escavação e construção das estruturas <strong>de</strong> contenção dos pisos<br />

enterrados, o Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação proposto teve como objectivo permitir a<br />

medição das seguintes gran<strong>de</strong>zas:<br />

� Deslocamentos horizontais e verticais das estruturas <strong>de</strong> contenção;<br />

� Deslocamentos horizontais e verticais das estruturas vizinhas;<br />

� Deslocamentos verticais dos pavimentos e da superfície do terreno envolvente;<br />

� Medição da tensão/carga instalada nas ancoragens executadas;<br />

� Medição da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> pico.<br />

3.4.3 <strong>Meio</strong>s para medição<br />

As gran<strong>de</strong>zas a medir <strong>de</strong>scritas anteriormente foram medidas através dos seguintes<br />

dispositivos instalados [46]:<br />

� Alvos topográficos para medição dos <strong>de</strong>slocamentos tridimensionais das estruturas <strong>de</strong><br />

contenção (mín. 37 unid.);<br />

� Alvos topográficos para medição dos <strong>de</strong>slocamentos tridimensionais das estruturas<br />

vizinhas (mín. 25 unid);<br />

� Marcas topográficas para medição dos <strong>de</strong>slocamentos verticais dos pavimentos e da<br />

superfície do terreno envolvente (mín. 2 unid);<br />

� Células <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancoragens para medição da tensão/carga instalada nas ancoragens<br />

executadas (mín 9 unid);<br />

� Acelerómetros piezoeléctricos para a medição da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração admissível <strong>de</strong><br />

pico (mín. 6 unid).<br />

A disposição dos alvos topográficos no recinto encontra-se esqu<strong>em</strong>atizada nas Peças<br />

Desenhadas do Anexo IV, tendo no entanto sido reformulada no <strong>de</strong>correr dos trabalhos, <strong>em</strong><br />

função da análise da evolução do seu comportamento global.<br />

A instalação dos alvos foi sequencial, à medida que ia sendo executada a estrutura <strong>de</strong><br />

contenção. Assim, os primeiros 15 alvos foram colocados nas construções vizinhas, a cerca <strong>de</strong><br />

5-6 m do início da contenção, ao longo <strong>de</strong> todo o recinto, como ilustrado <strong>em</strong> planta, na Figura<br />

3.8.


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 3.8 - Localização dos alvos topográficos no dia 4 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2010 [50]<br />

Em fase posterior, a indicação do projecto era colocar os alvos topográficos <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>, a<br />

vários níveis dos muros <strong>de</strong> Munique. No entanto, <strong>em</strong> obra verificou-se que os <strong>de</strong>slocamentos<br />

maiores estavam a ocorrer ao nível das construções vizinhas. Os alvos seguintes foram então<br />

sendo colocados <strong>de</strong> forma distribuída, nas construções vizinhas que estavam a ser mais<br />

afectadas, na viga <strong>de</strong> coroamento, e na cortina <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>. No entanto, o número final <strong>de</strong><br />

alvos instalados (44 unid.) não cumpriu os mínimos impostos pelo P.I.O. (62 unid.).<br />

A título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, está representado na Figura 3.9 o esqu<strong>em</strong>a da localização final dos alvos<br />

no alçado DF.<br />

51


52<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 3.9 – Vista final dos alvos topográficos no alçado DF (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

As leituras topográficas foram apresentadas <strong>em</strong> relatórios elaborados pela <strong>em</strong>presa “Geofix”, e<br />

fornecidos pela <strong>em</strong>presa “Concreto Plano”, <strong>em</strong> que era possível ver graficamente a evolução<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> cada alvo topográfico. Estas leituras tinham uma frequência inicial<br />

s<strong>em</strong>anal, mas esta sofreu também alterações ao longo do <strong>de</strong>correr dos trabalhos.<br />

Foi proposta no projecto a instalação <strong>de</strong> duas marcas <strong>de</strong> nivelamento <strong>de</strong> superfície, uma no<br />

alçado IJ e outra no alçado B´C. No entanto, não estão disponíveis os dados sobre a sua<br />

localização real, ou medições, pelo que não farão parte da análise da instrumentação a<br />

realizar.<br />

A instalação das células <strong>de</strong> carga estava prevista <strong>em</strong> 9 ancoragens, distribuídas pelo recinto <strong>de</strong><br />

escavação, e pelos níveis <strong>de</strong> painéis: 1 na zona intermédia do alçado B'C, primeiro nível <strong>de</strong><br />

ancoragens; 1 também na zona intermédia do alçado DE, no primeiro nível (ou seja, na viga <strong>de</strong><br />

coroamento); 2 no alçado EF, a dois níveis - no 1º e no 3º níveis <strong>de</strong> ancoragens; 3 células <strong>de</strong><br />

carga no alçado FG; 1 no alçado GH no 1º nível; e por fim, 1 no alçado HI, também no 1º nível.<br />

A localização prevista das células <strong>de</strong> carga encontra-se esqu<strong>em</strong>atizada nas peças <strong>de</strong>senhadas<br />

do projecto <strong>de</strong> escavação e contenção periférica, presente no Anexo IV. No entanto, só 5<br />

células <strong>de</strong> carga foram instaladas (Figura 3.10 e Figura A VIII. 1) e só foi possível ter acesso<br />

aos relatórios <strong>de</strong> medição do pré-esforço instalado nas mesmas numa fase final da obra e da<br />

elaboração da dissertação. Assim, estes dados não serão tidos <strong>em</strong> conta na análise da<br />

instrumentação.<br />

Figura 3.10 – Célula <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancorag<strong>em</strong> no alçado DE


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Com o objectivo <strong>de</strong> haver um controlo <strong>de</strong> vibrações transmitidas ao terreno, <strong>de</strong>vido aos<br />

trabalhos <strong>de</strong> escavação <strong>em</strong> rocha com recurso a meios mecânicos pesados (martelo), foram<br />

utilizados dois sismógrafos (<strong>em</strong> vez dos 6 propostos no projecto): um instalado no edifício<br />

anexo à Embaixada da Bélgica, e o outro na capela que confronta com o alçado AC do recinto<br />

da escavação. Este controlo é bastante importante na medida <strong>em</strong> que permite analisar a<br />

influência dos meios <strong>de</strong> escavação nas estruturas contíguas à obra.<br />

Como meio <strong>de</strong> avaliação da evolução dos trabalhos foi também feito um levantamento<br />

fotográfico inicial, e ao longo da obra, sendo acompanhados por uma observação visual e<br />

crítica dos mesmos.<br />

3.4.4 Características dos aparelhos<br />

Os aparelhos utilizados na instrumentação da obra tinham as seguintes características:<br />

3.4.4.1 Alvos topográficos<br />

A instalação dos alvos foi realizada através da sua fixação às estruturas, por colag<strong>em</strong> e/ou<br />

selag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> placas metálicas planas on<strong>de</strong> foram colocados previamente os alvos. A orientação<br />

dos alvos podia ser corrigida, <strong>de</strong> forma a facilitar as pontarias do equipamento topográfico e,<br />

consequent<strong>em</strong>ente reduzir os erros (da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 1 mm na direcção horizontal, e <strong>de</strong> 0.5 mm na<br />

direcção vertical). As medições trigonométricas absolutas s<strong>em</strong> contacto <strong>de</strong> convergências e<br />

<strong>de</strong>formações previstas foram realizadas utilizando uma estação total com hardware e software<br />

indicados para o efeito. As campanhas consistiram na leitura <strong>de</strong> ângulos e distâncias para<br />

alvos instalados nos el<strong>em</strong>entos cujos <strong>de</strong>slocamentos se pretendiam <strong>de</strong>terminar.<br />

Os pontos <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> apoio à execução das leituras, estavam localizados <strong>em</strong> zonas fora<br />

da área <strong>de</strong> influência da obra, e os alvos a utilizar <strong>de</strong>veriam ser do tipo prisma <strong>de</strong> reflexão total,<br />

<strong>de</strong> forma a compensar a distância a que os mesmos se localizavam dos pontos <strong>de</strong> leitura,<br />

instalados como referido, <strong>em</strong> suportes a<strong>de</strong>quados que permitiram o ajuste da sua orientação.<br />

No entanto, os efectivamente utilizados foram alvos <strong>de</strong> autocolante com chapa metálica. As<br />

precisões finais do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> observação foram estimadas <strong>em</strong> aproximadamente ± 1mm, quer<br />

planimetricamente, quer <strong>em</strong> altimetria.<br />

3.4.4.2 Marcas topográficas<br />

As marcas topográficas para medições à superfície seriam fundadas a uma profundida<strong>de</strong><br />

máxima <strong>de</strong> 1.0 m, possuindo na sua extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> superior um suporte <strong>de</strong> mira protegido com<br />

uma tampa <strong>de</strong> protecção. Os nivelamentos superficiais das marcas seriam realizados utilizando<br />

um nível <strong>de</strong> precisão com lâminas <strong>de</strong> faces paralelas e mira <strong>de</strong> invar. As cotas seriam<br />

referenciadas a pontos fixos, ou a pontos suficient<strong>em</strong>ente afastados da obra para que<br />

pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados como efectivamente fixos. Dentro das condições normais <strong>de</strong><br />

operação o erro associado à leitura das marcas <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong> ±0.5mm [46].<br />

53


54<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

3.4.4.3 Células <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancoragens<br />

As células <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> ancoragens permit<strong>em</strong> a monitorização da carga <strong>de</strong> pré-esforço<br />

instalada. Em projecto estava proposta a instalação <strong>de</strong> células <strong>de</strong> carga do tipo eléctrico, que<br />

permitiss<strong>em</strong> uma medição do pré-esforço até 1200kN, com uma precisão associada ao<br />

equipamento <strong>de</strong> 0.5%. A leitura das células <strong>de</strong> carga seria efectuada através <strong>de</strong> dispositivo<br />

manométrico. Com vista à sua correcta colocação, cada célula foi montada sobre placas<br />

metálicas <strong>de</strong> uniformização <strong>de</strong> esforços [46].<br />

3.4.4.4 Acelerómetros piezométricos<br />

Os acelerómetros piezométricos para medição das ondas sísmicas e da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

partícula seriam fixados nas pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>em</strong>pena dos edifícios limítrofes ao lote a sofrer<br />

intervenção através <strong>de</strong> material a<strong>de</strong>sivo compatível com o equipamento, e colocados anexos<br />

aos alvos topográficos. A instalação dos acelerómetros respeitou a norma NP 2074,<br />

nomeadamente no que toca à sua colocação a 0.50 m da fundação das construções a<br />

instrumentar. Dentro das condições normais <strong>de</strong> operação, o erro associado à leitura dos<br />

acelerómetros piezométricos foi <strong>de</strong> ± 100 �m/s 2 .<br />

Este meio <strong>de</strong> medição ainda não é prática corrente neste <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> intervenções <strong>em</strong> Portugal,<br />

estando no entanto directamente relacionado com o objectivo <strong>de</strong> provocar o menor número <strong>de</strong><br />

danos possível nas estruturas vizinhas, por controlo das vibrações induzidas no terreno.<br />

Os sismógrafos utilizados foram do Mo<strong>de</strong>lo MR2002, da marca “Syscom”, que é composto por<br />

um transdutor triaxial, uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> amplificação e um registador digital <strong>de</strong> dados (Figura<br />

3.11) [51].<br />

Figura 3.11 – Sismógrafo instalado na capela<br />

Nos relatórios fornecidos, os resultados das leituras foram apresentados graficamente, para<br />

cada dia, estando assinalado <strong>em</strong> cada gráfico o horário normal para a ocorrência <strong>de</strong> trabalhos<br />

na obra.<br />

O sismógrafo instalado na capela (SIS2) apresentava-se com uma configuração diferente do da<br />

Embaixada (SIS1), com um comando <strong>de</strong> leitura <strong>em</strong> modo “Buffer”, <strong>em</strong> que o equipamento<br />

criava apenas dois ficheiros <strong>de</strong> leitura e sobrepunha os dados ciclicamente, para poupar


Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

m<strong>em</strong>ória. Por esta razão, o sismógrafo 2 só apresentou resultados dos dias 7 a 9 <strong>de</strong> Março. O<br />

programa <strong>de</strong> leitura foi reposto no dia 14 <strong>de</strong> Março, passando a apresentar dados a partir<br />

<strong>de</strong>sta data. Foram disponibilizados para análise 11 relatórios <strong>de</strong> instrumentação dos<br />

sismógrafos, sendo cada relatório relativo a um intervalo t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> vários dias.<br />

3.4.4.5 Fissurómetros<br />

Tendo sido observada uma abertura anormal das fissuras já existentes nos edifícios vizinhos,<br />

no dia 20 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro foram instalados 5 fissurómetros, do tipo “Gauge 1”, que é indicado<br />

para a medição <strong>de</strong> fissuras no mesmo plano. A divisão superior é graduada <strong>em</strong> milímetros, <strong>de</strong><br />

0 a 30, e a divisão inferior é móvel, permitindo chegar às décimas <strong>de</strong> milímetro (Figura 3.12)<br />

[52].<br />

3.4.5 Frequência <strong>de</strong> leituras<br />

Figura 3.12 – Fissurómetro do tipo “Gauge 1” (adaptado <strong>de</strong> [53])<br />

Tendo <strong>em</strong> conta as características da obra preconizou-se que o conjunto <strong>de</strong> aparelhos<br />

instalados foss<strong>em</strong> lidos durante a execução dos trabalhos, até à construção das lajes dos pisos<br />

localizados acima das vigas <strong>de</strong> coroamento e à <strong>de</strong>sactivação das ancoragens/r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong><br />

escoras, com uma frequência, à partida, não inferior a uma vez por s<strong>em</strong>ana. Os resultados<br />

seriam apresentados sob forma gráfica, e <strong>de</strong>veriam ser at<strong>em</strong>padamente interpretados e<br />

analisados pelos técnicos projectistas das estruturas <strong>de</strong> contenção instrumentadas, <strong>em</strong><br />

colaboração com os técnicos da obra e com a Fiscalização [46].<br />

Após a conclusão da obra e durante os primeiros 6 meses seguintes, a realização das leituras<br />

<strong>de</strong>veria ser efectuada mensalmente. No restante período, as leituras po<strong>de</strong>rão ser conduzidas<br />

<strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>estral durante os primeiros 5 anos, e anual durante o restante período <strong>de</strong> vida útil<br />

da obra. A responsabilida<strong>de</strong> da realização das leituras e respectivo tratamento é do Dono <strong>de</strong><br />

Obra. Em qualquer dos instrumentos, caso o resultado das leituras o justificasse, <strong>de</strong>veriam ser<br />

realizadas leituras adicionais. Foi também proposto que o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre cada<br />

campanha <strong>de</strong> leituras, e a entrega dos respectivos resultados, <strong>de</strong>vidamente processados <strong>em</strong><br />

forma gráfica, aos técnicos responsáveis pela respectiva análise e interpretação não fosse, à<br />

partida, superior a 3 dias úteis [46].<br />

55


56<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Como indicado no projecto a frequência <strong>de</strong> leituras foi efectivamente aumentada, <strong>em</strong><br />

consequência dos <strong>de</strong>senvolvimentos negativos, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, no <strong>de</strong>correr da<br />

obra, como será aprofundado no capítulo seguinte.<br />

3.4.6 Critérios <strong>de</strong> alerta e <strong>de</strong> alarme<br />

Tendo por base a solução proposta para a contenção a executar, assim como a geologia do<br />

local <strong>de</strong> intervenção, foi possível estimar os seguintes critérios para a mesma, a confirmar <strong>em</strong><br />

fase <strong>de</strong> execução:<br />

� Critério <strong>de</strong> alerta: <strong>de</strong>slocamentos máximos da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 20mm/10m <strong>de</strong> <strong>de</strong>snível <strong>de</strong> terras,<br />

no sentido horizontal e <strong>de</strong> 15mm/10m <strong>de</strong> <strong>de</strong>snível <strong>de</strong> terras, no sentido vertical;<br />

velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> partícula <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2.5 mm/s na zona da Igreja, e <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 5.0 mm/s<br />

nos outros locais;<br />

� Critério <strong>de</strong> alarme: <strong>de</strong>slocamentos máximos da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 30mm/10m <strong>de</strong> <strong>de</strong>snível <strong>de</strong> terras,<br />

no sentido horizontal e <strong>de</strong> 30mm/10m <strong>de</strong> <strong>de</strong>snível <strong>de</strong> terras, no sentido vertical;<br />

velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> partícula <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3.5 mm/s na zona da Igreja, e <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 7.0 mm/s<br />

<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula nos outros locais.<br />

A Equipa a cargo da Instrumentação Topográfica utilizava nos relatórios elaborados, um<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> alerta e alarme ligeiramente diferente, com base na sua experiência <strong>em</strong><br />

obras s<strong>em</strong>elhantes. Este tinha também 3 níveis, e tinha <strong>em</strong> conta uma relação da <strong>de</strong>formação<br />

<strong>em</strong> função do t<strong>em</strong>po (Quadro 3.2).<br />

Nível<br />

Def. /t<strong>em</strong>po<br />

Quadro 3.2 – Níveis <strong>de</strong> alerta e alarme, e acções a tomar [50]<br />

Critério<br />

Deformação máxima / 10 n<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>snível <strong>de</strong> terras<br />

horizontal vertical<br />

Acção<br />

1 < 1 mm/dia < 20 mm < 15 mm Estável<br />

2 2-4 mm/dia 20-30 mm 15-30 mm<br />

3 > 5 mm/dia > 30 mm > 30 mm<br />

Comunicação às entida<strong>de</strong>s envolvidas,<br />

acompanhamento especial, verificação das<br />

leituras, elaboração <strong>de</strong> plano <strong>de</strong> acção.<br />

Comunicação às entida<strong>de</strong>s envolvidas,<br />

verificação das leituras, aumento da frequência<br />

<strong>de</strong> leituras e aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong><br />

reposição <strong>de</strong> segurança.<br />

O conjunto dos sismógrafos media a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração (mm/s) <strong>de</strong> forma contínua ao<br />

longo do t<strong>em</strong>po, num sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> 3 eixos (Vx, Vy e Vz). Com o resultado das três componentes,<br />

e segundo a norma NP-2074, foi posteriormente <strong>de</strong>terminado o valor máximo <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vibração pela seguinte expressão [51].


On<strong>de</strong>,<br />

Vx (t) - velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração no t<strong>em</strong>po t sobre o eixo x.<br />

Vy (t) - velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração no t<strong>em</strong>po t sobre o eixo y.<br />

Vz (t) - velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração no t<strong>em</strong>po t sobre o eixo z.<br />

|√<br />

Caso <strong>de</strong> Estudo: Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Com base no Quadro 2.8, e consi<strong>de</strong>rando uma situação alternativa da existência <strong>de</strong> solos<br />

coerentes moles a muito moles e solos incoerentes soltos, e construções correntes, ou solos<br />

coerentes <strong>de</strong> consistência média a muito duros e solos incoerentes compactos, e construções<br />

sensíveis, com um número médio diário <strong>de</strong> solicitações superior a 3, o valor limite obtido para a<br />

velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> partícula (Vl) foi <strong>de</strong> 3.5 mm/s. Para efeitos <strong>de</strong> instrumentação, foi então admitido<br />

um valor <strong>de</strong> alerta <strong>de</strong> 3.0 mm/s, e <strong>de</strong> alarme <strong>de</strong> 3.5 mm/s [51]. No entanto, como <strong>de</strong>scrito<br />

anteriormente, os valores admitidos para critérios <strong>de</strong> alerta e alarme no Plano <strong>de</strong><br />

Instrumentação e Observação da M<strong>em</strong>ória Descritiva [46] foram respectivamente, <strong>de</strong> 2.5 mm/s,<br />

e 3.5 mm/s, nas zonas mais sensíveis (junto à capela da Igreja).<br />

A interpretação dos valores citados foi realizada <strong>de</strong> forma comparativa com a dos valores<br />

obtidos nas leituras anteriores, pois além da informação dada pelos valores absolutos, é<br />

importante a análise das tendências da respectiva evolução.<br />

3.4.7 Medidas <strong>de</strong> reforço<br />

As medidas <strong>de</strong> reforço, ou acções <strong>de</strong> contingência previstas inicialmente no projecto, <strong>em</strong><br />

consequência dos critérios citados anteriormente po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ser atingidos, <strong>de</strong>veriam ser<br />

analisadas individualmente, e consistiam, entre outras e a título indicativo, <strong>em</strong> [46]:<br />

� Reforço da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga vertical da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, através da realização<br />

adicional <strong>de</strong> perfis verticais ou <strong>de</strong> microestacas;<br />

� Reforço do travamento horizontal da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, através da realização adicional<br />

<strong>de</strong> escoramentos ou <strong>de</strong> ancoragens, eventualmente com maior comprimento livre e maior<br />

inclinação;<br />

� Realização parcial da escavação e da contenção ao abrigo do método invertido (por troços<br />

<strong>de</strong> laje);<br />

� Reforço das condições <strong>de</strong> drenag<strong>em</strong> da pare<strong>de</strong>;<br />

� Tratamento dos terrenos <strong>de</strong>scomprimidos localizados a tardoz da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção.<br />

|<br />

57


58<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça


4. EVOLUÇÃO DA OBRA<br />

4.1 Visitas à Obra – Processos construtivos envolvidos<br />

4.1.1 Abertura <strong>de</strong> painéis<br />

Evolução da Obra<br />

As visitas à obra foram realizadas com o objectivo <strong>de</strong> acompanhar o evoluir dos trabalhos, e<br />

também a execução <strong>de</strong> alguns processos construtivos envolvidos na técnica <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong><br />

Munique.<br />

A fase inicial <strong>de</strong>sta técnica e também uma das mais críticas, consiste na escavação para<br />

abertura <strong>de</strong> painéis primários, <strong>de</strong>ixando banquetas no lugar dos painéis secundários, e<br />

terciários (caso existam). Em várias visitas à obra (<strong>de</strong>scritas no Anexo II) assistiu-se a este<br />

processo. O tipo <strong>de</strong> escavação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> bastante das características do solo na zona a<br />

escavar. Por ex<strong>em</strong>plo, num painel que intersecte a camada correspon<strong>de</strong>nte às zonas<br />

geotécnicas <strong>de</strong> Aterros e M1, a escavação será feita com recurso ao bal<strong>de</strong>, sendo necessário<br />

algum cuidado para que o terreno não <strong>de</strong>scomprima, dada a possível incoerência do solo <strong>em</strong><br />

questão. Na Figura 4.1 po<strong>de</strong> ver-se a escavação para abertura <strong>de</strong> um painel a intersectar a<br />

zona geotécnica M1, registada na 2ª visita à obra, no alçado DE.<br />

Figura 4.1 – <strong>Escavação</strong> para abertura <strong>de</strong> painel na zona geotécnica M1<br />

É possível ver que há dificulda<strong>de</strong>s acrescidas <strong>em</strong> escavar formando uma superfície recta com<br />

recurso ao bal<strong>de</strong>, assim como impedir que o terreno <strong>de</strong>scomprima, uma vez que nalgumas<br />

zonas este t<strong>em</strong> tendência para se libertar da posição inicial, assim que <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> experimentar<br />

confinamento. Na Figura 4.2 po<strong>de</strong> observar-se a escavação <strong>de</strong> outro painel com recurso ao<br />

bal<strong>de</strong>, na zona inferior ao primeiro nível <strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje, e a heterogeneida<strong>de</strong> do terreno, que<br />

alterna entre as zonas geotécnicas M1 e M2, o que também dificulta os trabalhos <strong>de</strong><br />

escavação.<br />

59


60<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.2 – <strong>Escavação</strong> para abertura <strong>de</strong> painel <strong>em</strong> zona heterogénea<br />

Como abordado no capítulo 2, a escavação <strong>de</strong> painéis alternados tira partido do efeito <strong>de</strong> arco<br />

criado no terreno, e torna-se crucial seguir este faseamento construtivo para que não haja<br />

<strong>de</strong>slocamentos excessivos provocados pela escavação. Por vezes, quando se observa <strong>em</strong><br />

obra que o terreno é suficient<strong>em</strong>ente competente, po<strong>de</strong> optar-se por abrir painéis consecutivos.<br />

No entanto, esta <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ve ser s<strong>em</strong>pre fort<strong>em</strong>ente fundamentada e analisada pelos<br />

projectistas responsáveis, e fiscalização.<br />

Na Figura 4.3 está representada uma situação na qual po<strong>de</strong> ter havido algum <strong>de</strong>srespeito<br />

<strong>de</strong>ste faseamento construtivo, o que po<strong>de</strong> ter representado algumas <strong>de</strong>svantagens, a nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formações provocadas, dado o tipo <strong>de</strong> solo. O registo foi feito na 9ª Visita à Obra, durante a<br />

abertura do 3º nível <strong>de</strong> painéis no canto I. Como referido também no Capítulo 2, esta zona <strong>de</strong><br />

canto <strong>de</strong>veria ser tratada com especial cuidado, e ser executada posteriormente a painéis<br />

primários, ao contrário do que aconteceu, <strong>em</strong> que foi a primeira zona a ser escavada,<br />

funcionando assim como um duplo painel primário, <strong>de</strong> canto. Isto po<strong>de</strong> ter provocado alguma<br />

<strong>de</strong>scompressão nos terrenos nesta zona.<br />

Quando o terreno intersectado passou a ser o maciço calcário, os meios <strong>de</strong> escavação tiveram<br />

que mudar para o martelo como acessório da giratória, ou com recurso ao martelo eléctrico,<br />

para que se conseguisse uma superfície mais regular. Neste caso, o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompressão<br />

diminuiu drasticamente, mas acresce a <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> provocar vibrações possivelmente<br />

prejudiciais para construções vizinhas (para o martelo <strong>de</strong> maiores dimensões), assim como<br />

uma diminuição significativa do rendimento do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> escavação. Po<strong>de</strong> ver-se na Figura 4.4<br />

o uso manual do martelo eléctrico na abertura 2º nível <strong>de</strong> painéis no alçado EF, registada na 1ª<br />

Visita.


Evolução da Obra<br />

Figura 4.3 – Abertura do 3º nível <strong>de</strong> painéis no canto Figura 4.4 – <strong>Escavação</strong> com recurso a<br />

I<br />

martelo eléctrico<br />

Como se po<strong>de</strong> ver na Figura 4.5 encontravam-se ao longo do alçado FG uma série <strong>de</strong> perfis<br />

metálicos tortos, que <strong>de</strong>veriam servir <strong>de</strong> suporte vertical à contenção, enquanto não se<br />

chegava à cota <strong>de</strong> fundação e execução da respectiva sapata. O facto <strong>de</strong> estes ter<strong>em</strong> ficado no<br />

exterior da pare<strong>de</strong> contribuiu provavelmente para a ocorrência <strong>de</strong> fenómenos <strong>de</strong> encurvadura<br />

dos perfis, que foram agravados pelos impactos sofridos durante a escavação, provocados<br />

pelos equipamentos pesados.<br />

Figura 4.5 – Perfis metálicos tortos ao longo do alçado FG<br />

Esta situação provavelmente levou a uma <strong>de</strong>ficiência na transmissão das cargas verticais ao<br />

firme, e no consequente aumento <strong>de</strong> assentamentos. As consequências não foram mais<br />

graves, pois já tinha sido atingido um estrato <strong>de</strong> terreno rígido, o que permitiu um bom<br />

encastramento da cortina, e <strong>em</strong> algumas zonas da contenção já se tinha atingido a cota <strong>de</strong><br />

fundação. Este comportamento foi sendo seguido pela instrumentação, e estas hipóteses<br />

confirmaram-se, pois os <strong>de</strong>slocamentos registados não atingiram critérios <strong>de</strong> alarme,<br />

susceptíveis <strong>de</strong> por<strong>em</strong> <strong>em</strong> risco a segurança dos trabalhadores; contudo, contribuíram<br />

possivelmente para os danos nas estruturas vizinhas.<br />

4.1.2 Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis e troços <strong>de</strong> sapatas<br />

A fase imediatamente a seguir à abertura dos painéis consiste na betonag<strong>em</strong> dos mesmos.<br />

Como indicado no faseamento construtivo previsto na M<strong>em</strong>ória Descritiva do Projecto (Secção<br />

61


62<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

3.3), as duas fases <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizadas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 12 horas, para evitar <strong>de</strong>formações<br />

excessivas da cortina. Para que se cumpriss<strong>em</strong> estes requisitos, era prática na obra proce<strong>de</strong>r à<br />

escavação para abertura <strong>de</strong> painéis <strong>de</strong> manhã, seguidamente montar a cofrag<strong>em</strong> para a<br />

betonag<strong>em</strong>, e quando esta estivesse terminada, procedia-se então à betonag<strong>em</strong> dos mesmos.<br />

Por vezes a operação <strong>de</strong> montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cofragens e betonag<strong>em</strong> dos painéis encontrava<br />

algumas dificulda<strong>de</strong>s, pois para que esta se realize <strong>em</strong> segurança, é necessário haver uma<br />

estrutura <strong>de</strong> reacção para suportar os impulsos do terreno e do betão fluido. N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre era<br />

fácil materializar esta estrutura <strong>de</strong> reacção <strong>de</strong>vido à disposição <strong>de</strong> terras, máquinas e<br />

plataformas <strong>de</strong> trabalho, no recinto da obra. Estes factores têm alguma importância numa obra<br />

<strong>de</strong>ste tipo, uma vez que os trabalhos <strong>de</strong>correram s<strong>em</strong>pre com a presença <strong>de</strong> um talu<strong>de</strong> no<br />

meio do recinto, sendo necessário que houvesse cuidados para evitar a instabilização do<br />

mesmo. Na Figura 4.6 é possível ver um ex<strong>em</strong>plo dum painel já betonado com a cofrag<strong>em</strong><br />

ainda montada, e respectiva estrutura <strong>de</strong> suporte, que consistia <strong>em</strong> barrotes, tábuas <strong>de</strong> solho e<br />

prumos, apoiados no terreno existente.<br />

Segundo o faseamento construtivo proposto, as sapatas da contenção seriam betonadas a<br />

seguir ao último nível <strong>de</strong> painéis, e por troços correspon<strong>de</strong>ntes à largura dos painéis. Na Figura<br />

4.7 está representada uma sapata da contenção betonada <strong>de</strong> fresco. Neste caso proce<strong>de</strong>u-se<br />

à betonag<strong>em</strong> da sapata primeiro do que o último nível <strong>de</strong> painel da contenção.<br />

Figura 4.6 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painel no alçado BC<br />

Figura 4.7 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> sapata da<br />

contenção no alçado AB<br />

Esta alteração po<strong>de</strong> ter-se <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong>ste painel se localizar no início da contenção, o<br />

que significa que havia escavação apenas do lado direito da sapata <strong>em</strong> questão. Esta<br />

correspon<strong>de</strong> também a um painel secundário e a escavação nesta zona tinha uma<br />

profundida<strong>de</strong> relativamente reduzida, cerca <strong>de</strong> 6 metros. Provavelmente também <strong>de</strong>vido a<br />

estes factores, este acontecimento não teve consequências negativas no comportamento da<br />

cortina nesta zona, tanto <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos como <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> fendas. É também<br />

visível na Figura 4.7 a heterogeneida<strong>de</strong> dos estratos geológicos presentes naquela zona do<br />

terreno, sendo que além da camada <strong>de</strong> aterros, distingu<strong>em</strong>-se ainda dois tipos <strong>de</strong> solo <strong>de</strong>ntro<br />

da <strong>de</strong>signada zona geotécnica M1: superficialmente a camada <strong>de</strong> argilas vermelhas mais<br />

predominante, e abaixo <strong>de</strong>sta, uma intercalação <strong>de</strong> argilas mais esbranquiçadas, que terão<br />

provavelmente características ligeiramente diferentes das primeiras.


4.1.3 Furação para execução <strong>de</strong> ancoragens e injecção<br />

Evolução da Obra<br />

A furação para a execução <strong>de</strong> ancoragens proce<strong>de</strong>u-se com recurso a trado, dado o terreno<br />

apresentar características <strong>de</strong> coerência suficientes para o furo conservar as suas pare<strong>de</strong>s. A<br />

máquina utilizada foi a representada na Figura 4.8, e a furação foi realizada com a inclinação<br />

prevista <strong>em</strong> projecto, que foi imposta ao trado através dos comandos da máquina.<br />

Figura 4.8 – Máquina <strong>de</strong> furação para execução <strong>de</strong> ancoragens<br />

A pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> Munique já tinha o local do furo <strong>de</strong>finido, <strong>de</strong>ixado por um negativo, aquando da<br />

betonag<strong>em</strong> da mesma. A furação e injecção a que se assistiu correspon<strong>de</strong>ram a uma<br />

ancorag<strong>em</strong> provisória, tendo sido posteriormente também injectadas outras ancoragens<br />

<strong>de</strong>finitivas, na mesma visita. Por o trado ter um comprimento limitado, este ia sendo inserido no<br />

furo por troços, sendo estes encaixados à boca do furo, como ilustrado na Figura 4.9. Após o<br />

furo estar concluído, foram inseridos o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção e a armadura (Figura 4.10). A<br />

armadura era constituída por cabos <strong>de</strong> aço <strong>de</strong> alta resistência, envolvidos por bainhas plásticas<br />

individuais, que se encontravam também acoplados aos tubos <strong>de</strong> injecção.<br />

Figura 4.9 – Colocação <strong>de</strong> novo troço <strong>de</strong> trado<br />

Começou por se fazer a injecção <strong>de</strong> preenchimento do furo e selag<strong>em</strong> da armadura, a baixas<br />

pressões, e da zona mais profunda para a zona mais exterior, até a calda <strong>de</strong> cimento afluir à<br />

boca do furo, com uma consistência s<strong>em</strong>elhante à injectada, e através dum dos tubos <strong>de</strong><br />

injecção <strong>de</strong> menor diâmetro. Esta injecção selou a armadura da zona <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> ao furo, e na<br />

zona <strong>de</strong> comprimento livre, selou as bainhas plásticas que envolviam a armadura ao furo,<br />

<strong>de</strong>ixando a armadura s<strong>em</strong> a<strong>de</strong>rência ao terreno neste comprimento.<br />

63


64<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.10 – Inserção <strong>de</strong> armadura e tubos <strong>de</strong> injecção no furo<br />

Como suporte às injecções das ancoragens estava presente uma central misturadora (Figura<br />

4.11), que permitia a mistura da calda <strong>de</strong> cimento com os componentes pré-requesitados, e<br />

aditivos ou aceleradores <strong>de</strong> presa, para as ancoragens <strong>de</strong>finitivas, e também fornecia a<br />

pressão para as injecções a altas pressões para formar o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>. As injecções <strong>de</strong><br />

selag<strong>em</strong> seriam dadas posteriormente, após cerca <strong>de</strong> 5 dias.<br />

Assistiram-se também a algumas injecções <strong>de</strong> ancoragens <strong>de</strong>finitivas no alçado AB. As<br />

injecções realizadas nestas ancoragens foram as <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, que consistiram numa<br />

adaptação do sist<strong>em</strong>a IGU, como já referido no Capítulo 2. Como se po<strong>de</strong> ver na Figura 4.12, a<br />

injecção foi feita até a calda afluir à boca do furo, através do tubo <strong>de</strong> injecção preto, que se<br />

encontrava ligado à central misturadora. Os outros tubos coloridos <strong>de</strong>stinavam-se a injecções<br />

com o objectivo <strong>de</strong> levar a calda a outras zonas do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, estando as válvulas anti-<br />

retorno <strong>em</strong> localizações diferentes, e também a servir<strong>em</strong> <strong>de</strong> limpeza do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> injecção.<br />

Figura 4.11 – Central misturadora Figura 4.12 – Injecções <strong>em</strong> ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>finitiva<br />

4.1.4 Ensaio <strong>de</strong> recepção e tensionamento <strong>de</strong> ancoragens<br />

No tensionamento <strong>de</strong> todas as ancoragens foi necessário realizar ensaios <strong>de</strong> recepção, usando<br />

o método 3, <strong>de</strong> acordo com a EN 1537. Na 8ª visita à obra, assistiu-se a um <strong>de</strong>stes ensaios,<br />

<strong>de</strong>scrito no Anexo I. A ancorag<strong>em</strong> a ensaiar correspondia ao 4º nível <strong>de</strong> painéis no alçado FG e<br />

era provisória, não sendo obrigatório fazer os ensaios mais <strong>de</strong>talhados, como nas ancoragens


Evolução da Obra<br />

<strong>de</strong>finitivas. A cabeça da ancorag<strong>em</strong> já se encontrava posicionada, com os cabos <strong>de</strong> aço a<br />

passar<strong>em</strong> através <strong>de</strong>sta, e com uma geometria que <strong>de</strong>finia o ângulo <strong>de</strong> inclinação <strong>de</strong> projecto.<br />

Colocou-se então o macaco hidráulico numa posição anterior à cabeça da ancorag<strong>em</strong>, fazendo<br />

os cabos passar<strong>em</strong> também através <strong>de</strong>ste (Figura 4.13).<br />

Figura 4.13 – Colocação do macaco hidráulico para a realização do ensaio <strong>de</strong> recepção<br />

Imprimiu-se alguma tensão inicial, só para garantir a fixação do aparelho à cabeça da<br />

ancorag<strong>em</strong>, e iniciar o ensaio (Pa). Começou-se então a aplicar pressão nos cabos, dada pela<br />

bomba <strong>de</strong> pressão, representada na Figura 4.14, <strong>de</strong> acordo com o indicado no ensaio.<br />

Especificamente para esta ancorag<strong>em</strong> (Nº 101), a carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> prevista era <strong>de</strong> 715 kN<br />

(236 bar), e a carga máxima <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong> 894 kN (290 bar). Assim, <strong>de</strong> acordo com o ensaio <strong>de</strong><br />

recepção <strong>de</strong>scrito na norma EN 1537, e como indicado no Anexo I, o primeiro patamar <strong>de</strong><br />

carregamento correspon<strong>de</strong> a 10% da carga máxima <strong>de</strong> ensaio (Pp), ou seja, a um pré-esforço<br />

<strong>de</strong> 89 kN, que correspon<strong>de</strong>u a aplicar uma pressão no êmbolo <strong>de</strong> 33 bar. Para este valor<br />

mediu-se o <strong>de</strong>slocamento no macaco hidráulico, recorrendo a uma craveira digital, como<br />

ilustrado na Figura 4.15. Prosseguiu-se com a sequência <strong>de</strong> carregamentos, registando os<br />

<strong>de</strong>slocamentos do êmbolo, passando pelos patamares <strong>de</strong> 40%, 70%, e atingindo os 100% <strong>de</strong><br />

Pp. A partir <strong>de</strong>ste ponto, registaram-se os <strong>de</strong>slocamentos ao fim <strong>de</strong> 0, 1, 2, 3, 5, 10, 15 minutos,<br />

após o que se iniciou a <strong>de</strong>scarga.<br />

Figura 4.14 – Bomba <strong>de</strong> pressão<br />

Figura 4.15 – Medição do <strong>de</strong>slocamento no<br />

êmbolo com recurso a craveira digital<br />

Esta passou também pelos patamares <strong>de</strong> 70%, 40%, e por fim 10% da carga <strong>de</strong> ensaio. O<br />

ensaio resultou num diagrama <strong>de</strong> carga-<strong>de</strong>scarga, que <strong>de</strong>ve ser aproximado do admitido <strong>em</strong><br />

projecto, e um coeficiente <strong>de</strong> fluência, que <strong>de</strong>ve respeitar os limites regulamentares. Quando o<br />

65


66<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

ensaio terminou retirou-se o macaco hidráulico para se colocar<strong>em</strong> as cunhas encaixadas na<br />

cabeça da ancorag<strong>em</strong> (Figura 4.16), voltando <strong>de</strong>pois a colocar-se o macaco, para o<br />

retensionamento da mesma. Proce<strong>de</strong>u-se então à aplicação da carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> aos cabos<br />

<strong>de</strong> pré-esforço, recorrendo novamente à bomba <strong>de</strong> pressão e ao macaco hidráulico.<br />

Figura 4.16 – Colocação das cunhas na cabeça da ancorag<strong>em</strong><br />

Como não foi possível ter acesso aos resultados do ensaio <strong>de</strong> recepção a que se assistiu na<br />

visita, apresentam-se os resultados obtidos <strong>de</strong> outra ancorag<strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhante, localizada<br />

também no alçado FG, correspon<strong>de</strong>nte ao 3º nível <strong>de</strong> painéis, e provisória (Nº 124). O<br />

esqu<strong>em</strong>a <strong>de</strong> carregamento foi s<strong>em</strong>elhante ao <strong>de</strong>scrito anteriormente, com 3 patamares <strong>de</strong><br />

incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga, e medição dos <strong>de</strong>slocamentos da cabeça da ancorag<strong>em</strong> <strong>em</strong> cada um<br />

<strong>de</strong>les, sendo este gran<strong>de</strong>za medida durante um intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> 15 minutos na carga<br />

máxima <strong>de</strong> ensaio. Obteve-se o gráfico <strong>de</strong> carga-<strong>de</strong>scarga representado na Figura 4.17,<br />

retirado da folha <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> ancoragens, fornecida pela <strong>em</strong>presa “Geofix”, que se encontra<br />

completa no Anexo VI [55]. O comprimento livre <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> aparente foi calculado <strong>de</strong> acordo<br />

com a EN 1537, assim como os seus limites mínimo e máximo.<br />

Figura 4.17 – Diagrama carga-<strong>de</strong>scarga do ensaio <strong>de</strong> recepção da ancorag<strong>em</strong> nº 124 [55]<br />

No entanto, o procedimento <strong>de</strong>scrito não correspon<strong>de</strong>u exactamente ao procedimento indicado<br />

na norma. Para além <strong>de</strong> não se ter cumprido o requisito <strong>de</strong> existir<strong>em</strong> 4 incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga<br />

(houve apenas 3), foi medido o coeficiente <strong>de</strong> fluência Ks, <strong>em</strong> vez do <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> fluência<br />

α, que se traduz pelo <strong>de</strong>clive do <strong>de</strong>slocamento da cabeça da ancorag<strong>em</strong> versus o log da curva<br />

do t<strong>em</strong>po no fim <strong>de</strong> cada incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga, e que <strong>de</strong>veria ser medido entre o 3º e o 15º<br />

minutos. O coeficiente <strong>de</strong> fluência é o parâmetro utilizado para avaliar a fluência nos ensaios<br />

segundo o método 1, <strong>em</strong> que o carregamento é feito por ciclos e o t<strong>em</strong>po mínimo <strong>de</strong>


Evolução da Obra<br />

observação para a carga <strong>de</strong> ensaio é <strong>de</strong> 5 minutos [24]. Verifica-se assim que houve uma<br />

adaptação dos ensaios <strong>de</strong> recepção das ancoragens, o que não terá contribuído para um<br />

a<strong>de</strong>quado controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> suporte da contenção.<br />

Segundo o projecto, as ancoragens instrumentadas com células <strong>de</strong> carga teriam que ser<br />

sujeitas a ensaios <strong>de</strong> carga <strong>de</strong>talhados. Os ensaios realizados nestas ancoragens foram os<br />

ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong>, segundo o método 1, <strong>de</strong>scrito também no Anexo I. Na Figura 4.18<br />

encontra-se o diagrama <strong>de</strong> carga-<strong>de</strong>scarga obtido num <strong>de</strong>stes ensaios (ancorag<strong>em</strong> nº 163), e a<br />

ficha completa encontra-se no Anexo VI.<br />

Figura 4.18 – Diagrama carga-<strong>de</strong>scarga do ensaio <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> da ancorag<strong>em</strong> nº 163 [55]<br />

De acordo com os dados fornecidos, este ensaio já foi realizado <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com a EN<br />

1537, e portanto, como indicado no Anexo I. Foram feitos 5 ciclos <strong>de</strong> carga, respeitadas as<br />

percentagens da carga <strong>de</strong> ensaio nesses ciclos, os t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> observação (15 minutos, e 60<br />

minutos no patamar <strong>de</strong> carga máxima), e avaliadas as características <strong>de</strong> fluência através do<br />

coeficiente <strong>de</strong> fluência Ks. Neste ensaio o comprimento <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> efectivo calculado cumpriu<br />

com os limites inferior e superior, e o coeficiente <strong>de</strong> fluência apresentou-se também abaixo dos<br />

limites impostos pela norma, <strong>em</strong> todos os patamares, que neste caso era <strong>de</strong> 0,8 mm.<br />

4.2 Evolução da Instrumentação<br />

Após a leitura <strong>de</strong> referência, a 28 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010, foi feita a primeira leitura <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos dos alvos topográficos instalados a 4 <strong>de</strong> Outubro, poucos dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

começar<strong>em</strong> os trabalhos. Inicialmente foram colocados apenas 15 alvos, segundo a localização<br />

<strong>em</strong> planta exposta na Figura 3.8, sendo a disposição ligeiramente diferente da apresentada no<br />

Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação. Nesta campanha <strong>de</strong> leituras, não houve<br />

<strong>de</strong>slocamentos significativos, tendo estes atingido valores máximos <strong>de</strong> apenas 1.3 mm <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento horizontal (no alvo 10).<br />

Estes resultados <strong>de</strong>veram-se provavelmente ao facto das escavações nesta data se<br />

encontrar<strong>em</strong> numa fase muito inicial, <strong>em</strong> que ainda não tinha havido perturbação do terreno<br />

suficiente para provocar movimentos significativos. Verificou-se também que as zonas <strong>em</strong> que<br />

os dados recolhidos indicaram maiores <strong>de</strong>slocamentos coinci<strong>de</strong>m com as zonas <strong>em</strong> que se<br />

67


68<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

iniciaram as escavações. Nas leituras que se seguiram não houve gran<strong>de</strong>s alterações dos<br />

movimentos das terras, havendo tendência crescente <strong>de</strong> pequenos <strong>de</strong>slocamentos <strong>em</strong> alguns<br />

alvos, com valores não susceptíveis <strong>de</strong> causar<strong>em</strong> efeitos negativos.<br />

4.2.1 Deslocamentos excessivos <strong>em</strong> fase inicial<br />

No dia 10 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010 já se tinha procedido à execução <strong>de</strong> microestacas no alçado<br />

AE, e ao início das escavações nos alçados FG e GH [50]. No alçado EF foi realizado um poço<br />

<strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> fundações, que teve lugar na base do muro on<strong>de</strong> se encontrava<br />

instalado o alvo 7. Provavelmente por esta razão, o alvo 7 teve assentamentos da or<strong>de</strong>m dos 5<br />

mm. No alvo 10 houve também uma variação brusca do <strong>de</strong>slocamento vertical, que passou <strong>de</strong><br />

1.3 mm para 9.7 mm. Este aumento <strong>de</strong>veu-se provavelmente ao facto do tardoz da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção nesta zona ter sido preenchido com betão após o terreno superficial ter colapsado, o<br />

que acrescentou carga ao terreno e viga <strong>de</strong> coroamento, provocando o seu assentamento.<br />

Também é provável que para isso também tenha contribuído a precipitação intensa que se fez<br />

sentir nessa altura, e que provocou uma diminuição substancial da coesão do terreno das<br />

camadas mais superficiais, propenciando maiores assentamentos (Figura 4.19).<br />

Figura 4.19 – Perda <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> do terreno <strong>de</strong>vido a precipitação intensa (10 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro, [47])<br />

Na s<strong>em</strong>ana seguinte (18 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro) o alvo 10 continuou com um aumento muito intenso do<br />

<strong>de</strong>slocamento vertical, atingindo os 19.4 mm, e sendo acompanhado pelo alvo 9, que também<br />

teve um assentamento brusco, passando <strong>de</strong> 0.3 mm para 5.6 mm, o que fez com que estes<br />

alvos atingiss<strong>em</strong> os critérios <strong>de</strong> alerta <strong>de</strong> nível 2, segundo a equipa a cargo da instrumentação<br />

topográfica (<strong>de</strong>slocamentos superiores a 5 mm <strong>em</strong> 3 dias) [50]. O alvo 10 encontrava-se<br />

localizado numa estrutura diferente da imediatamente no limite do lote. Por apresentar mais<br />

fragilida<strong>de</strong>s estruturais e/ou construtivas, aliado a fundações insuficientes ou inexistentes, po<strong>de</strong><br />

ter tido uma reacção mais intensa ao colapso do terreno superficial mencionado anteriormente,<br />

que se prolongou ao longo do t<strong>em</strong>po, traduzindo-se <strong>em</strong> assentamentos bastante elevados<br />

registados. Como a estrutura que serviu <strong>de</strong> suporte ao alvo não era habitada, fazendo apenas<br />

parte <strong>de</strong> um logradouro, e não estava directamente ligada à pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, consi<strong>de</strong>ra-se<br />

que não teve influências negativas no comportamento da cortina. Este alvo <strong>de</strong>veria ter sido<br />

novamente zerado e possivelmente colocado noutro local, para se obter<strong>em</strong> resultados mais<br />

realistas e úteis ao controlo e instrumentação da escavação. Além <strong>de</strong>stes assentamentos foi


Evolução da Obra<br />

também verificada alguma fissuração <strong>em</strong> estruturas localizadas a tardoz do alçado FG. Este<br />

alçado passou a ser alvo <strong>de</strong> atenção redobrada, no seguimento da obra, e leituras seguintes.<br />

À data da 7ª leitura topográfica (22 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro) já tinham sido acrescentados mais alvos<br />

topográficos, por ser ter progredido na execução da viga <strong>de</strong> coroamento e pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção, o que possibilitou a sua instalação, e também por necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais<br />

monitorização nas construções vizinhas. Na Figura 4.20 encontra-se esqu<strong>em</strong>atizada a<br />

localização dos alvos topográficos já existentes, e dos novos instalados.<br />

Figura 4.20 - Localização dos alvos topográficos no dia 22 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010 [50]<br />

Ao longo das leituras <strong>de</strong>tectou-se que alguns alvos foram mexidos, ou danificados, tendo sido<br />

substituídos e novamente zerados. Além disso, o alvo 7 foi perdido por se encontrar localizado<br />

num muro existente que ruiu no dia 20 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro, <strong>de</strong>vido a probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> execução. O alvo<br />

10 continuou a apresentar assentamentos acumulados relativamente elevados, tendo mostrado<br />

69


70<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

no entanto, tendência para estabilizar. Dados os acontecimentos ocorridos nos dias anteriores,<br />

e confirmados pela instrumentação, foi aplicada uma das medidas preventivas, que consistiu<br />

<strong>em</strong> aumentar a frequência das leituras, <strong>de</strong> s<strong>em</strong>anal para diária.<br />

Aquando da 10ª leitura (29 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro), já se procedia à execução <strong>de</strong> ancoragens e<br />

aplicação do respectivo pré-esforço. Todos os alvos mostravam valores muito próximos dos<br />

obtidos nas leituras anteriores, excepto o alvo 10, que ainda apresentava alguma tendência no<br />

sentido do aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos no eixo z. Estes <strong>de</strong>slocamentos eram também<br />

acompanhados por alguns dos alvos mais próximos (9, 12, 23), ainda que com menos<br />

intensida<strong>de</strong>.<br />

4.2.2 Deslocamentos excessivos na zona da Embaixada da Bélgica<br />

Por volta <strong>de</strong> dia 10 <strong>de</strong> Janeiro foi <strong>de</strong>cidido que seriam adoptadas novas medidas que reforço,<br />

<strong>de</strong>vido ao aumento da abertura <strong>de</strong> fissuras que se tinha vindo a verificar <strong>em</strong> edifícios vizinhos<br />

no alçado FG (junto ao canto F), pertencentes à Embaixada da Bélgica [54]. Estas estavam a<br />

verificar-se na zona on<strong>de</strong> estava a avançar uma frente <strong>de</strong> escavação e execução <strong>de</strong> painéis.<br />

As fissuras tiveram orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> movimentos <strong>de</strong> terra originados por diversos factores naquela<br />

zona: provavelmente associados ainda às perturbações provocadas pelo ruimento do muro no<br />

alçado EF; pela escavação junto ao canto F possivelmente não ter respeite o faseamento<br />

construtivo (abertura <strong>de</strong> vários painéis <strong>em</strong> simultâneo); precipitação intensa; aliada também ao<br />

facto <strong>de</strong> vários painéis consecutivos na zona do canto F já se encontrar<strong>em</strong> betonados, mas<br />

ainda s<strong>em</strong> ancoragens executadas, n<strong>em</strong> escoramentos <strong>de</strong> canto, ou com uma profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

escavação <strong>de</strong>masiado elevada para os escoramentos executados (Figura 4.21 e Figura 4.22).<br />

Como referido no capítulo 2, esta é uma fase crítica <strong>de</strong>ste processo construtivo, principalmente<br />

na presença <strong>de</strong> um solo com características <strong>de</strong> coesão piores do que as consi<strong>de</strong>radas <strong>em</strong><br />

projecto (<strong>de</strong>vido à chuva).<br />

Figura 4.21 – <strong>Escavação</strong> na zona do canto<br />

F, a 5 <strong>de</strong> Janeiro [48]<br />

Figura 4.22 – Pormenor do canto F, a 10 <strong>de</strong> Janeiro,<br />

com vários painéis executados s<strong>em</strong> ancoragens<br />

[48]<br />

Em consequência do aumento <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> fendas, optou-se por instalar um conjunto <strong>de</strong><br />

fissurómetros nestes edifícios. Estes não estavam inicialmente previstos no Plano <strong>de</strong><br />

Instrumentação e Observação do Projecto, pois não se consi<strong>de</strong>rou que as fissuras já existentes<br />

nos edifícios vizinhos viess<strong>em</strong> a ser afectadas pelo <strong>de</strong>correr dos trabalhos <strong>de</strong> escavação e


Evolução da Obra<br />

contenção. No entanto, tal não se verificou, tendo sido então necessário controlar a evolução<br />

<strong>de</strong>sta abertura <strong>de</strong> fendas, através <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> monitorização a<strong>de</strong>quados para o efeito. A<br />

primeira vistoria realizada ao local tinha tido lugar no dia 22 <strong>de</strong> Set<strong>em</strong>bro, antes dos trabalhos<br />

<strong>de</strong> escavação ter<strong>em</strong> início. Os 5 fissurómetros foram instalados segundo a localização<br />

esqu<strong>em</strong>atizada na Figura 4.23, <strong>de</strong> acordo com as fissuras existentes.<br />

Figura 4.23 – Disposição dos fissurómetros nos edifícios anexos da Embaixada da Bélgica [52]<br />

Também nesta fase (10 <strong>de</strong> Janeiro) já se tinha passado à execução <strong>de</strong> ancoragens no alçado<br />

DE, e escavação e execução <strong>de</strong> painéis do 2º nível no alçado GH. A tendência dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos dos alvos topográficos mantinha-se s<strong>em</strong>elhante às visitas anteriores, incluindo<br />

o ligeiro aumento <strong>de</strong> assentamentos no alvo 10, pelas razões mencionadas anteriormente<br />

(Figura 4.24).<br />

Figura 4.24– Deslocamentos no alvo nº 10, a 10 <strong>de</strong> Janeiro [50]<br />

Além do alvo 10, também o alvo 8 <strong>de</strong>spertava a atenção, pois apesar <strong>de</strong> não ter atingido<br />

nenhum critério <strong>de</strong> alerta, apresentava assentamentos absolutos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 14 mm, e<br />

localizava-se na zona dos edifícios anexos à <strong>em</strong>baixada da Bélgica, on<strong>de</strong> se estava a verificar<br />

a abertura <strong>de</strong> fendas. No entanto, é necessário ter algum cuidado nas interpretações da<br />

instrumentação, pois estas muitas vezes não são directas, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> vários factores.<br />

Como se po<strong>de</strong> ver na Figura 4.25, houve uma interrupção nas leituras do alvo, <strong>de</strong>vido a este<br />

ter sido danificado, e posteriormente reinstalado. E a partir <strong>de</strong>ste momento, começou a ter<br />

algumas variações bruscas nos <strong>de</strong>slocamentos, sendo a sua tendência global para estabilizar,<br />

<strong>em</strong> cada direcção.<br />

71


72<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

4.2.3 Medidas <strong>de</strong> reforço<br />

Figura 4.25 - Deslocamentos no alvo nº 8, a 17 <strong>de</strong> Janeiro [50]<br />

As medidas <strong>de</strong> reforço adoptadas, (uma <strong>de</strong>las já prevista no Plano <strong>de</strong> Instrumentação e<br />

Observação, 3.4.7), consistiram <strong>em</strong> reforçar as zonas on<strong>de</strong> as construções vizinhas se<br />

encontrass<strong>em</strong> <strong>de</strong>gradadas, através da execução <strong>de</strong> troços <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção,<br />

compl<strong>em</strong>entada com o prolongamento dos perfis verticais, e solidarização dos mesmos a estes<br />

novos troços, através <strong>de</strong> cachorros metálicos; e <strong>em</strong> executar um escoramento rígido no canto<br />

F, recorrendo a troços <strong>de</strong> laje <strong>em</strong> betão armado, <strong>em</strong> vez dos escoramentos metálicos previstos<br />

inicialmente no projecto.<br />

Na Figura 4.26 e Figura 4.27 estão representados dois esqu<strong>em</strong>as do alçado FG, <strong>em</strong> que<br />

po<strong>de</strong>m ver-se as diferenças entre a solução inicial, e a final, respectivamente, no que respeita à<br />

execução <strong>de</strong> troços da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção acima da viga <strong>de</strong> coroamento, que foram<br />

executadas com o intuito <strong>de</strong> conter as fachadas dos edifícios vizinhos.<br />

Na Figura 4.27 também é possível observar a configuração <strong>em</strong> corte da segunda medida <strong>de</strong><br />

reforço proposta, os três troços <strong>de</strong> laje <strong>em</strong> betão armado para a contenção do canto, <strong>em</strong> vez<br />

das ancoragens e escoramentos metálicos <strong>de</strong> canto.<br />

É também visível na Figura 4.28 e Figura 4.29, respectivamente, a solução inicial para o canto<br />

F <strong>em</strong> planta, e a solução incluindo a medida <strong>de</strong> reforço, sendo que inicialmente estava previsto<br />

um escoramento metálico, como nos outros cantos côncavos da contenção.


Figura 4.26 – Solução inicial para um troço do alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Figura 4.27 – Solução final para um troço do alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Evolução da Obra<br />

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74<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.28 – Escoramento metálico do canto F (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

2xA<br />

2xA<br />

H-H<br />

A-A<br />

Figura 4.29 – Escoramento do canto F por troços <strong>de</strong> lajes <strong>de</strong> betão armado (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Para uma melhor percepção da evolução dos acontecimentos na obra, optou-se por fazer uma<br />

análise da zona do alçado FG e canto F, ao longo do t<strong>em</strong>po, tendo por base os resultados<br />

obtidos dos alvos topográficos, dos fissurómetros instalados, e também das informações<br />

acerca das fases dos trabalhos, procurando apurar relações entre estes.<br />

Encontram-se assim apresentados os gráficos relativos à evolução dos <strong>de</strong>slocamentos <strong>em</strong><br />

alguns alvos que se consi<strong>de</strong>raram mais relevantes, b<strong>em</strong> como o gráfico <strong>de</strong>scritivo da evolução<br />

da abertura <strong>de</strong> fissuras nos edifícios da Embaixada da Bélgica.<br />

2xA


Evolução da Obra<br />

Na Figura 4.30 encontra-se a evolução dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo 10, posicionado numa<br />

construção vizinha do alçado FG (Figura 5.12). Este alvo sofreu um assentamento muito<br />

elevado logo no início dos trabalhos, provavelmente <strong>de</strong>vido ao betão colocado a tardoz da<br />

cortina, e posteriormente aos factores referidos anteriormente. Após este inci<strong>de</strong>nte, o alvo não<br />

foi novamente posicionado e zerado, o que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> a assentamentos finais absolutos<br />

bastante elevados, ultrapassando assim os critérios <strong>de</strong> alerta, sendo que ficou <strong>de</strong>finitivamente<br />

danificado no início <strong>de</strong> Junho.<br />

Figura 4.30 – Deslocamentos do alvo nº 10 até ao início <strong>de</strong> Junho [50]<br />

No entanto, apesar <strong>de</strong>stes valores, <strong>de</strong>ve ser analisada acima <strong>de</strong> tudo a tendência, e não<br />

apenas os valores absolutos. Ainda que com um aumento relativo dos <strong>de</strong>slocamentos, a<br />

tendência <strong>de</strong>stes assentamentos foi a <strong>de</strong> estabilização ao longo do t<strong>em</strong>po, provando o bom<br />

funcionamento das medidas <strong>de</strong> reforço, nomeadamente a contenção das fachadas vizinhas<br />

com o prolongamento dos troços <strong>de</strong> muro para cima da viga <strong>de</strong> coroamento. Em relação aos<br />

<strong>de</strong>slocamentos horizontais, po<strong>de</strong> ver-se que não apresentaram valores tão elevados, mas<br />

tiveram um andamento mais irregular, que ganhou expressão a partir do momento <strong>em</strong> que se<br />

aumentou a frequência <strong>de</strong> leituras, nomeadamente no eixo do M. Estas flutuações po<strong>de</strong>m ser<br />

explicadas pelas etapas do faseamento construtivo, como sejam a abertura dos painéis, o<br />

tensionamento das ancoragens, visto tratar<strong>em</strong>-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos para o interior e exterior<br />

da escavação. Com base nestes resultados, é provável que nesta zona, o terreno, as<br />

fundações da estrutura <strong>em</strong> que estava colocada o alvo, e a constituição do edifício foss<strong>em</strong> algo<br />

sensíveis a perturbações. É <strong>de</strong> notar no entanto a estabilização dos valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

horizontais, <strong>em</strong> relação às fases iniciais dos trabalhos. É também provável que a diminuição da<br />

precipitação ao longo da evolução obra tenha vindo a contribuir para uma melhoria do<br />

comportamento das duas camadas mais superficiais do terreno.<br />

Com o objectivo <strong>de</strong> estabelecer um paralelo entre as medições obtidas nos fissurómetros<br />

instalados na Embaixada, e as dos alvos topográficos, estas encontram-se esqu<strong>em</strong>atizadas no<br />

Quadro 4.1 e na Figura 4.31. A partir da leitura <strong>de</strong> referência, no dia 20 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro, foi<br />

realizada uma primeira série <strong>de</strong> 15 leituras, acompanhada <strong>de</strong> relatórios fornecidos pela<br />

<strong>em</strong>presa “SpyBuilding”. Após estas leituras as fissuras foram reparadas, foram colocados<br />

novos fissurómetros e feitas novas medições.<br />

75


76<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Quadro 4.1– Abertura <strong>de</strong> fendas registadas nos fissurómetros da Embaixada da Bélgica (adaptado<br />

<strong>de</strong> [52])<br />

Leitura Data<br />

Gauge 1.1 Gauge 1.2<br />

Largura (mm)<br />

Gauge 1.3 Gauge 1.4 Gauge 1.5<br />

1 20-Dez-10 0 0 0 0 0<br />

2 23-Dez-10 0,9 0,6 -0,4 0,6 1,4<br />

3 30-Dez-10 1,2 0,6 -0,4 0,8 2<br />

4 7-Jan-11 1,4 0,9 -0,2 1 2,2<br />

5 13-Jan-11 1,4 1,3 0,4 1,2 2,7<br />

6 20-Jan-11 1,6 2 0,6 1,9 3,5<br />

7 27-Jan-11 1,7 2,7 1,1 2,5 4<br />

8 3-Fev-11 1,9 2,7 1,2 2,8 4,6<br />

9 11-Fev-11 1,9 2,5 1 2,8 4,6<br />

10 17-Fev-11 1,9 2,7 1,2 2,8 4,6<br />

11 28-Fev-11 1,9 0,6 0,4 2,5 6,7<br />

12 4-Mar-11 1,9 0,6 0,6 2,5 6,5<br />

13 10-Mar-11 2 -0,7 -0,3 2,5 -<br />

14 17-Mar-11 2 -1,2 -0,3 2,5 -<br />

15 25-Mar-11 2 -1,5 -0,3 2,1 -<br />

Abertura <strong>de</strong><br />

fendas (mm)<br />

7<br />

6<br />

5<br />

4<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

15-Dez-10 4-Jan-11 24-Jan-11 13-Fev-11 5-Mar-11 25-Mar-11<br />

Figura 4.31 – Evolução da abertura <strong>de</strong> fendas dos fissurómetros da Embaixada (adaptado <strong>de</strong> [52])<br />

Em relação à abertura <strong>de</strong> fendas nas várias localizações dos edifícios anexos à Embaixadas<br />

apenas se po<strong>de</strong>m estabelecer hipóteses e observar a tendência das <strong>de</strong>formações, pois seria<br />

necessário um conhecimento e análise mais pormenorizada do sist<strong>em</strong>a estrutural dos edifícios<br />

para se conseguir explicar mais objectivamente as discrepâncias observadas.<br />

4.2.3.1 Alvo topográfio nº 8<br />

Gauge 1.1<br />

Gauge 1.2<br />

Gauge 1.3<br />

Gauge 1.4<br />

Gauge 1.5<br />

Observando a evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 8 (Figura 4.32 e Figura 5.12),<br />

<strong>de</strong>notam-se maiores variações nos eixos M e Z ao longo do t<strong>em</strong>po. Apesar da aparente<br />

tendência para a estabilização dos <strong>de</strong>slocamentos <strong>em</strong> meados <strong>de</strong> Janeiro, voltou a registar-se<br />

um aumento <strong>de</strong>stes, no sentido do interior da escavação (M-) e <strong>em</strong> assentamentos (Z-), até<br />

meados <strong>de</strong> Abril. A partir <strong>de</strong>sta altura, os <strong>de</strong>slocamentos continuaram a aumentar ligeiramente,<br />

mas a uma taxa mais reduzida. Sabendo que a esta data já se encontravam executados os<br />

troços <strong>de</strong> muros acima da viga <strong>de</strong> coroamento nesta zona, assim como os dois primeiros níveis<br />

<strong>de</strong> troços <strong>de</strong> laje, faz sentido que estes <strong>de</strong>slocamentos tenham estabilizado, ou tendam para a


Evolução da Obra<br />

estabilização, sendo uma indicação do bom funcionamento das medidas <strong>de</strong> reforço. O facto <strong>de</strong><br />

esta reacção não ter sido imediata po<strong>de</strong> ser explicado por o terreno ter sido bastante<br />

<strong>de</strong>scomprimido no início dos trabalhos, apresentando características “piores” do que as<br />

inicialmente admitidas. As perturbações que foram sendo provocadas nas fundações do<br />

edifício vizinho foram-se propagando até aos níveis superiores do edifício, à medida que a<br />

escavação ia avançando. Em relação aos <strong>de</strong>slocamentos no eixo P, po<strong>de</strong> ver-se que não<br />

houve variações tão acentuadas, o que faz sentido, visto que a tendência <strong>de</strong> movimento seria<br />

para o interior da escavação.<br />

Figura 4.32 – Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 8 (adaptado <strong>de</strong> [50])<br />

É possível estabelecer uma relação entre o alvo 8 e o Gauge 1.1, pois estes encontram-se na<br />

mesma localização <strong>em</strong> planta. Observando na Figura 4.31 a evolução <strong>de</strong>ste fissurómetro, é<br />

possível ver que este começou a estabilizar a abertura <strong>de</strong> fissuras por volta do fim do mês <strong>de</strong><br />

Janeiro, início <strong>de</strong> Fevereiro. Tendo <strong>em</strong> conta que também por esta altura se estava a proce<strong>de</strong>r<br />

à execução dos muros <strong>de</strong> prolongamento nos alçados B-C, E-F, D-E e FG [50], é plausível<br />

estabelecer uma relação entre a execução <strong>de</strong>sta medida <strong>de</strong> reforço, e a estabilização da<br />

abertura <strong>de</strong> fissuras do Gauges 1.1. À medida que se foi concluindo o escoramento rígido do<br />

canto F, executando o 1º nível <strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje por volta <strong>de</strong> dia 7 <strong>de</strong> Fevereiro [50], o 2º nível a<br />

dia 20 <strong>de</strong> Fevereiro, e o 3º nível no início <strong>de</strong> Maio (Anexo II), foi-se obtendo também uma<br />

estabilização praticamente total dos <strong>de</strong>slocamentos neste fissurómetro.<br />

4.2.3.2 Alvo topográfico nº 17<br />

Observando agora a evolução dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo nº 17 (Figura 4.33 e Figura 5.12),<br />

que estava localizado no edifício 2 anexo da Embaixada, po<strong>de</strong> ver-se que este teve alguns<br />

assentamentos ao longo do t<strong>em</strong>po, ten<strong>de</strong>ndo a partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> Abril para a estabilização,<br />

resultando também provavelmente da aplicação das medidas <strong>de</strong> reforço nesta zona. Em<br />

termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais, os do eixo M foram sendo cada vez mais negativos,<br />

como esperado para o interior da escavação, ten<strong>de</strong>ndo no final também para a estabilização.<br />

No eixo P houve algumas flutuações, mas que não chegaram a atingir os 5 mm, estando <strong>de</strong>ntro<br />

dos critérios estabelecidos.<br />

77


78<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.33 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 17 (adaptado <strong>de</strong> [50])<br />

É possível relacionar este alvo com os Gauges 1.2, 1.3 e 1.4 dada a sua próxima localização<br />

<strong>em</strong> planta. Tal como no Gauge 1.1 também estes fissurómetros começaram a estabilizar<br />

(Figura 4.31) por volta da mesma altura. Nos Gauges 1.2 e 1.3 após a estabilização dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos foi registada uma acentuada diminuição dos mesmos, chegando mesmo a<br />

verificar-se um fecho das fendas <strong>em</strong> relação à situação inicial. Este fenómeno po<strong>de</strong> ter-se<br />

<strong>de</strong>vido também à aplicação das medidas <strong>de</strong> reforço mencionadas, havendo um efeito <strong>de</strong><br />

rigi<strong>de</strong>z do canto F mais <strong>de</strong>marcado nesta zona, do que nas zonas mais afastadas do canto. O<br />

andamento inicial da abertura <strong>de</strong> fissuras no Gauge 1.4 foi bastante s<strong>em</strong>elhante à do Gauge<br />

1.1, sendo que neste último foi mais acentuada e não estabilizou <strong>em</strong> valores tão reduzidos<br />

como no Gauge 1.4. Este comportamento po<strong>de</strong> ter-se <strong>de</strong>vido ao facto <strong>de</strong> o Gauge 1.1 se<br />

encontrar numa zona mais sensível da estrutura, perto <strong>de</strong> aberturas, como janelas ou portas, e<br />

também a sua leitura foi interrompida para reparação mais cedo no que nos outros<br />

fissurómetros, quase um mês antes. Isto não permitiu verificar se as fendas também seguiriam<br />

a tendência <strong>de</strong> fechamento, como se observou nos restantes, ficando registada na última<br />

leitura uma diminuição da abertura <strong>de</strong> fendas, o que po<strong>de</strong>ria indicar um possível fechamento.<br />

A partir da leitura topográfica nº 35 foram colocados e zerados novos alvos topográficos, <strong>de</strong>vido<br />

ao avanço da contenção, e também <strong>de</strong> modo a obter uma maior redundância nas leituras. Na<br />

Figura 4.34 encontra-se um esqu<strong>em</strong>a da localização <strong>em</strong> planta dos alvos iniciais, e dos novos<br />

alvos na zona do canto F.<br />

Figura 4.34 - Alvos topográficos na zona do canto F (adaptado <strong>de</strong> [50])


4.2.3.3 Alvo topográfico nº 35<br />

Evolução da Obra<br />

Na Figura 4.35 po<strong>de</strong> ver-se a evolução dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo nº 35, posicionado no<br />

edifício 1, anexo à Embaixada. Este alvo só foi colocado numa fase mais avançada da obra, e<br />

não teve <strong>de</strong>slocamentos significativos <strong>em</strong> relação à sua posição inicial, o que é outro indicativo<br />

do funcionamento das medidas <strong>de</strong> reforço, e provável controlo das <strong>de</strong>formações do terreno do<br />

exterior à escavação.<br />

Figura 4.35 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 35 (adaptado <strong>de</strong> [50])<br />

Na segunda série <strong>de</strong> leituras dos fissurómetros nos edifícios da Embaixada, verificou-se que as<br />

fendas não voltaram a abrir, n<strong>em</strong> mesmo fissuras. Este resultado é mais um indicativo <strong>de</strong> que a<br />

execução das medidas <strong>de</strong> reforço potenciou a estabilização das <strong>de</strong>formações nesta zona,<br />

apesar da elevada, e comprovada sensibilida<strong>de</strong> das construções vizinhas; e <strong>de</strong> nesta zona se<br />

verificar a maior profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação do recinto, <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 17 metros até à sapata <strong>de</strong><br />

contenção.<br />

4.2.4 Deslocamentos excessivos na zona do Infantário<br />

Pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter registado uma abertura anormal <strong>de</strong> fendas nos edifícios anexos<br />

à Embaixada da Bélgica, o mesmo suce<strong>de</strong>u no edifício do Infantário, localizado no alçado IH.<br />

Foram então instalados 3 fissurómetros s<strong>em</strong>elhantes aos <strong>de</strong>scritos na secção anterior, a fim <strong>de</strong><br />

monitorizar as fendas existentes. Tendo sido verificada a abertura <strong>de</strong> uma outra fenda<br />

existente, no dia 4 <strong>de</strong> Março foi instalado um quarto fissurómetro para a sua monitorização. Os<br />

fissurómetros encontravam-se localizados todos na mesma divisão, segundo ilustrado na<br />

Figura 4.36.<br />

Figura 4.36 – Localzação dos fissurómetros no Infantário [52]<br />

79


80<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Foram realizadas 27 leituras nestes fissurómetros, e a sua evolução encontra-se<br />

esqu<strong>em</strong>atizada na Figura 4.37.<br />

Abertura <strong>de</strong><br />

fendas (mm)<br />

1<br />

0,75<br />

0,5<br />

0,25<br />

0<br />

-0,25<br />

-0,5<br />

13-Jan-11 17-Fev-11 24-Mar-11 28-Abr-11 2-Jun-11 7-Jul-11<br />

Figura 4.37 – Evolução da abertura <strong>de</strong> fendas nos fissurómetros do Infantário (adaptado <strong>de</strong> [52])<br />

Possivelmente <strong>de</strong>vido ao fim dos trabalhos no alçado GH (execução da sapata da contenção, e<br />

ancoragens), e à suspensão provisória dos mesmos no alçado IH após executada a viga <strong>de</strong><br />

coroamento, as fendas instrumentadas tiveram um comportamento relativamente estável,<br />

chegando até a verificar-se um fecho da fissura correspon<strong>de</strong>nte ao Gauge 1.1 <strong>de</strong> quase 0.5<br />

mm. No entanto, após se ter<strong>em</strong> iniciado os trabalhos <strong>de</strong> escavação e abertura <strong>de</strong> painéis no<br />

alçado IH os Gauges 1.1 e 1.2 começaram a aumentar as <strong>de</strong>formações.<br />

4.2.4.1 Alvo topográfico nº 14<br />

Este comportamento é também observado na Figura 4.38, que mostra a evolução dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos medidos no alvo topográfico nº 14, posicionado no edifício do Infantário (Figura<br />

5.16). No mês <strong>de</strong> Fevereiro os trabalhos neste alçado voltaram a ser suspensos, a fim <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ixar que o terreno estabilizasse, e não houvesse mais danos no edifício. Em Março foram<br />

colocados novos alvos topográficos no recinto, sendo alguns localizados a vários níveis <strong>de</strong>ste<br />

edifício e na viga <strong>de</strong> coroamento (Figura 5.16).<br />

Gauge 1.1<br />

Gauge 1.2<br />

Gauge 1.3<br />

Gauge 1.4<br />

Figura 4.38 - Evolução dos <strong>de</strong>slocamentos registados no alvo nº 14 (adaptado <strong>de</strong> [50])<br />

Em relação à evolução da abertura <strong>de</strong> fendas não será possível estabelecer uma relação<br />

linear, pois a evolução dos trabalhos afecta <strong>de</strong> forma diferente os <strong>de</strong>slocamentos do edifício,


Evolução da Obra<br />

estando estes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da resposta do edifício aos movimentos do terreno, com base nas<br />

suas fundações e sist<strong>em</strong>a estrutural. É no entanto, possível apurar uma tendência <strong>de</strong><br />

estabilização a partir do mês <strong>de</strong> Maio, correspon<strong>de</strong>nte provavelmente ao fim dos trabalhos <strong>de</strong><br />

escavação, execução <strong>de</strong> painéis e tensionamento <strong>de</strong> ancoragens neste alçado, e posterior<br />

aterro <strong>de</strong>sta zona (Figura 4.37). Esta tendência é também visível através da Figura 4.38,<br />

verificando-se também que o maior incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, verticais e horizontais (para<br />

o interior da escavação) se <strong>de</strong>u entre Março e Maio, quando se avançou mais intensamente na<br />

execução dos muros <strong>de</strong> Munique nesta zona, estabilizando mesmo no limite dos critérios <strong>de</strong><br />

alerta (9.45 mm para assentamentos, e 12.6 mm para <strong>de</strong>slocamentos horizontais). Nos<br />

restantes alvos instalados posteriormente (24 a 28, e 44) verificou-se esta mesma tendência,<br />

tendo sido registados maiores <strong>de</strong>slocamentos no topo do edifício do que ao nível da viga <strong>de</strong><br />

coroamento, o que explica as fissuras no Infantário.<br />

A abertura da fenda correspon<strong>de</strong>nte ao Gauge 1.4 continuou a aumentar ainda durante uns<br />

dias, mesmo após os <strong>de</strong>slocamentos registados nos alvos topográficos ter<strong>em</strong> estabilizado.<br />

Po<strong>de</strong> ter-se <strong>de</strong>vido à sua localização específica, junto à janela, que se sabe ser uma zona<br />

propícia ao aparecimento <strong>de</strong> fendas, e também ao facto <strong>de</strong> as <strong>de</strong>formações se propagar<strong>em</strong> ao<br />

longo da estrutura <strong>de</strong> formas diferentes, e também a taxas t<strong>em</strong>porais variáveis. Esperava-se<br />

um comportamento s<strong>em</strong>elhante do Gauge 1.3, mas por este não ter apresentado um<br />

agravamento da abertura <strong>de</strong> fendas nas primeiras medições, foi retirado, não sendo possível<br />

assim fazer uma comparação directa.<br />

Estes resultados também sustentam o facto <strong>de</strong> o solo nesta zona se apresentar bastante<br />

sensível a perturbações, assim como as fundações dos edifícios adjacentes, apresentando<br />

respostas negativas muito rápidas assim que se proce<strong>de</strong>ram a intervenções. Também<br />

contribuiu para estas <strong>de</strong>scompressões do terreno, o facto <strong>de</strong> os painéis permanecer<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>masiado t<strong>em</strong>po betonados antes <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> executadas as respectivas ancoragens. Houve<br />

algumas dificulda<strong>de</strong>s na coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>sta sequência construtiva, pois o equipamento e a<br />

mão-<strong>de</strong>-obra especializada para furação e tensionamento <strong>de</strong> ancoragens não se encontravam<br />

a t<strong>em</strong>po inteiro na obra. Assim, foi complicado <strong>em</strong> algumas fases da escavação respeitar os<br />

limites t<strong>em</strong>porais máximos: após a <strong>de</strong>scofrag<strong>em</strong> do painel (cerca <strong>de</strong> 48 horas após a<br />

betonag<strong>em</strong>) se proce<strong>de</strong>r o mais rápido possível à execução das ancoragens, <strong>de</strong> modo a<br />

suportar os impulsos do terreno que tinha sido <strong>de</strong>scomprimido. Como já foi referido<br />

anteriormente, é extr<strong>em</strong>amente difícil recriar e prever estas condições numa fase <strong>de</strong><br />

dimensionamento, e na mo<strong>de</strong>lação da solução da contenção. Daí ser vital um<br />

acompanhamento muito próximo da obra, auxiliado pela instrumentação.<br />

81


82<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

4.3 Evolução da restante instrumentação<br />

4.3.1 Alçado da Igreja e alçado GH<br />

No alçado AE também houve especial cuidado na realização dos muros <strong>de</strong> Munique, pois a<br />

tardoz <strong>de</strong>stes encontrava-se a Igreja e a cisterna, com particular realce para a capela no alçado<br />

AB, consi<strong>de</strong>rada um ponto frágil entre as construções vizinhas. Foram colocados alguns alvos<br />

nesta fachada vizinha, e também na cúpula da Igreja, assim como um conjunto <strong>de</strong> 15<br />

fissurómetros no interior do edifício, só no fim <strong>de</strong> Março, por receio que os trabalhos <strong>de</strong><br />

escavação para abertura <strong>de</strong> painéis e escavação com recurso a meios mecânicos pesados<br />

(martelo) provocass<strong>em</strong> a abertura <strong>de</strong> algumas fissuras já existentes.<br />

Ambos os meios <strong>de</strong> instrumentação registaram <strong>de</strong>slocamentos e abertura <strong>de</strong> fissuras muito<br />

reduzidos ao longo do t<strong>em</strong>po, que estabilizaram <strong>em</strong> valores distantes dos critérios <strong>de</strong> alerta<br />

(para os alvos topográficos). Em relação aos fissurómetros, verificou-se uma abertura <strong>de</strong><br />

fissuras <strong>de</strong>, no máximo, 0.6 mm num dos aparelhos, ten<strong>de</strong>ndo no entanto para a estabilização,<br />

assim como os restantes. Num dos fissurómetros houve até um fecho da fissura <strong>em</strong> cerca <strong>de</strong><br />

0.2 mm. Este Gauge encontrava-se no arco Este que sustenta a cúpula no piso 1 da Igreja, ou<br />

seja, no lado que confronta com a obra. Este fenómeno po<strong>de</strong> ter-se <strong>de</strong>vido ao tensionamento<br />

das ancoragens durante a execução dos muros.<br />

Também nos alvos instalados na viga <strong>de</strong> coroamento do alçado GH (alvos 20 e 21, Figura<br />

5.13) não se verificaram <strong>de</strong>slocamentos excessivos ou susceptíveis <strong>de</strong> causar<strong>em</strong> danos às<br />

estruturas vizinhas. Não se registaram <strong>de</strong>slocamentos acima <strong>de</strong> 5 mm ao longo <strong>de</strong> todos os<br />

trabalhos <strong>de</strong> escavação, o que <strong>de</strong>monstra um bom comportamento, tanto do terreno como das<br />

construções vizinhas; apesar <strong>de</strong> já <strong>em</strong> fase da execução da superstrutura se estar a proce<strong>de</strong>r à<br />

escavação para execução das fundações, abaixo da cota da sapata <strong>de</strong> fundação da contenção,<br />

o que aumentou o risco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scalçamento da mesma.<br />

4.3.2 Vibrações <strong>de</strong>vido a meios mecânicos pesados<br />

No primeiro relatório disponível para análise foram apresentados os dados dos dias 17 a 24 <strong>de</strong><br />

Fevereiro, só relativos ao sismógrafo 1, instalado na Embaixada da Bélgica. Durante estes<br />

dias, as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração máximas medidas apresentaram valores muito inferiores aos<br />

valores limite consi<strong>de</strong>rados. Como se po<strong>de</strong> ver na Figura 4.39, verificou-se um pico <strong>de</strong><br />

acelerações no dia 21 <strong>de</strong> Fevereiro, pelas 11.00 h da manhã, que não atingiu os 1.5 mm/s,<br />

tendo sido este o valor máximo <strong>de</strong>tectado no intervalo t<strong>em</strong>poral do relatório. No Quadro 4.2<br />

estão indicados todos os valores máximos atingidos <strong>em</strong> cada dia, no intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>em</strong><br />

análise, valores que se apresentam bastante afastados dos valores limite.


Evolução da Obra<br />

Figura 4.39 – Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 21 <strong>de</strong> Fevereiro [51]<br />

No segundo relatório fornecido pela <strong>em</strong>presa “Geofix”, no seguimento do primeiro, foram<br />

apresentados os dados relativos aos dias 25 <strong>de</strong> Fevereiro a 3 <strong>de</strong> Março. Também neste<br />

intervalo t<strong>em</strong>poral verificaram-se valores <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração muito inferiores ao valor<br />

limite admitido. Os valores máximos atingidos verificaram-se no dia 3 <strong>de</strong> Março pelas 16.30 h e<br />

17.30 h, chegando quase aos 3 mm/s, mas verificou-se ser<strong>em</strong> ocorrências isoladas (Figura<br />

4.41). Nos dias 26, 28 e 2 também se <strong>de</strong>tectaram picos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s, ainda que com valores<br />

inferiores aos <strong>de</strong> dia 3 <strong>de</strong> Março. Estes picos foram provavelmente provocados por activida<strong>de</strong><br />

mais intensa <strong>de</strong> escavação com recurso ao martelo (Figura 4.40).<br />

Quadro 4.2– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 17 a 24 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

[51]<br />

Dia<br />

Valor máximo registado (mm/s)<br />

Vx Vy Vz Vr<br />

17 Fev. 0.07 0.09 0.05 0.11<br />

18 Fev. 0.15 0.57 0.14 0.60<br />

19 Fev. 0.15 0.53 0.21 0.59<br />

20 Fev. 0.08 0.06 0.06 0.10<br />

21 Fev. 0.33 1.36 0.45 1.42<br />

22 Fev. 0.27 1.28 0.42 1.36<br />

23 Fev. 0.36 0.49 0.47 0.77<br />

24 Fev. 0.11 0.14 0.12 0.18<br />

Figura 4.40 – Recurso ao martelo para escavação<br />

83


84<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.41 – Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 3 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2011<br />

[51]<br />

Os valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração atingidos <strong>em</strong> cada dia encontram-se<br />

representados no Quadro 4.3.<br />

Quadro 4.3– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 25 <strong>de</strong> Fevereiro a 3<br />

<strong>de</strong> Março [51]<br />

Dia<br />

Valor máximo registado (mm/s)<br />

Vx Vy Vz Vr<br />

25 Fev. 0.21 0.34 0.22 0.42<br />

26 Fev. 0.37 1.31 0.63 0.36<br />

27 Fev. 0.04 0.10 0.04 0.11<br />

28 Fev. 0.37 1.00 0.50 1.18<br />

1 Fev. 0.23 0.20 0.16 0.35<br />

2 Mar. 0.68 1.53 0.73 1.78<br />

3 Mar. 0.93 2.18 1.62 2.87<br />

No 3º relatório fornecido, as medições cobriram os dias 4 <strong>de</strong> Março a 10 <strong>de</strong> Março, <strong>em</strong> que se<br />

verificou também a ocorrência <strong>de</strong> valores bastante aceitáveis <strong>de</strong> vibração, <strong>em</strong> relação aos<br />

valores limite admitidos. A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração máxima teve lugar no dia 4 <strong>de</strong> Março, pelas<br />

15 h, e não chegou a atingir os 2.5 mm/s. Houve mais activida<strong>de</strong> nos dias 7 e 10, mas com<br />

valores que mal ultrapassaram o 1 mm/s.<br />

No relatório seguinte também não foram registadas velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração susceptíveis <strong>de</strong><br />

causar<strong>em</strong> danos à estruturas sensíveis <strong>em</strong> causa, <strong>de</strong> acordo com os valores limite admitidos.<br />

No Quadro 4.4 estão representados os valores máximos atingidos diariamente no intervalo<br />

t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> 11 a 17 <strong>de</strong> Março na Embaixada, e só a partir <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> Março na Capela, por só<br />

se ter iniciado o registo do sismógrafo na Capela nesta data, como referido anteriormente.<br />

No intervalo <strong>de</strong> 18 a 24 <strong>de</strong> Março não foram atingidos os valores limite <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vibração. A partir dos resultados <strong>de</strong>ste relatório foi também possível analisar a sensibilida<strong>de</strong> do<br />

edifício da Embaixada, e da Capela, para os mesmos dias e horas. Como se po<strong>de</strong> ver na<br />

Figura 4.42, no dia 18 <strong>de</strong> Março houve alguma activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação que provocou<br />

vibrações ao nível da Embaixada, não atingido no entanto o 1 mm/s. Para o mesmo dia, <strong>em</strong><br />

horário da tar<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos na Figura 4.43 que a zona da Capela não foi praticamente afectada


Evolução da Obra<br />

por esta activida<strong>de</strong> <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> vibrações. Estes resultados relacionam-se provavelmente<br />

com o facto da escavação com recurso a martelo <strong>de</strong>correr maioritariamente junto ao alçado<br />

FG. Segundo o projecto <strong>de</strong> Estabilida<strong>de</strong> era necessário rebaixar a cota <strong>de</strong> escavação mais<br />

nesta zona, sendo necessário atravessar um maciço calcário que oferece bastante resistência<br />

aos trabalhos <strong>de</strong> escavação. Assim, no geral das medições foi-se verificando que a Embaixada<br />

era mais afectada pelo uso <strong>de</strong> meios mecânicos pesados do que a Capela, provavelmente por<br />

razões <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong>. Por outro lado, com base nos resultados obtidos, po<strong>de</strong> inferir-se que os<br />

estratos geológicos atravessados até à zona inferior à Capela não facilitam particularmente a<br />

transmissão das ondas sísmicas, ganhando peso o factor da distância, e não algum possível<br />

efeito local <strong>de</strong> sítio.<br />

Quadro 4.4– Valores máximos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registados nos dias 11 a 17 <strong>de</strong> Março [51]<br />

Dia Sismógrafo<br />

11 Mar.<br />

Valor máximo registado (mm/s)<br />

Vx Vy Vz Vr<br />

0.42 0.68 0.36 0.87<br />

12 Mar. 0.25 0.32 0.16 0.38<br />

13 Mar. 0.08 0.10 0.05 0.11<br />

Embaixada<br />

14 Mar. 0.20 0.40 0.12 0.42<br />

(SIS1)<br />

15 Mar. 0.26 0.42 0.21 0.47<br />

16 Mar. 1.77 0.46 0.20 1.83<br />

17 Mar. 0.33 0.34 0.21 0.52<br />

14 Mar.<br />

0.33 0.43 0.35 0.57<br />

15 Mar. Capela 0.23 0.38 0.45 0.59<br />

16 Mar. (SIS2) 0.17 0.23 0.36 0.43<br />

17 Mar. 0.11 0.11 0.11 0.16<br />

Figura 4.42 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 18 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51]<br />

Esta análise comparativa <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> vibrações através do terreno não po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong><br />

forma linear, e apenas com base nas Figura 4.42 e Figura 4.43. Pois analisando agora a Figura<br />

4.44 e a Figura 4.45, que mostram as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração registadas no dia 19 <strong>de</strong> Março<br />

na Embaixada e na Capela, respectivamente, po<strong>de</strong> ver-se que há alguma coincidência nos<br />

dados recolhidos, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> picos <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectados. Nesta situação, é possível<br />

que a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação com recurso ao martelo tenha ocorrido numa posição<br />

intermédia dos dois locais <strong>de</strong> captação do sinal, o que fez com que as velocida<strong>de</strong>s medidas<br />

foss<strong>em</strong> quase coinci<strong>de</strong>ntes, verificando-se ainda assim picos mais intensos no sismógrafo 1.<br />

85


86<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 4.43 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Capela, a 18 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2011<br />

[51]<br />

Figura 4.44 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51]<br />

Figura 4.45 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Capela, a 19 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 2011<br />

[51]<br />

Na Figura 4.46 po<strong>de</strong> observar-se o andamento das velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração <strong>de</strong> partícula no dia<br />

23 <strong>de</strong> Março, que foi quando se atingiu o valor máximo no 5º relatório <strong>de</strong> instrumentação. No<br />

relatório seguinte, as velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração atingiram valores ainda mais reduzidos do que<br />

os do relatório nº 5. Nos dias 1 a 7 <strong>de</strong> Abril houve registos <strong>de</strong> vibrações regulares, apesar <strong>de</strong><br />

não ultrapassar<strong>em</strong> os valores limite. O registo mais elevado <strong>de</strong>u-se no dia 5 <strong>de</strong> Abril (próximo<br />

dos 2.5 mm/s), mas verificou-se uma activida<strong>de</strong> mais uniforme no dia 1 <strong>de</strong> Abril, apesar do<br />

valor absoluto <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> ter atingido apenas 1.5 mm/s.<br />

Esta activida<strong>de</strong> manteve-se nos dias 8 a 14 <strong>de</strong> Abril, <strong>em</strong> que os valores das velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

vibração registadas no sismógrafo da Embaixada continuaram a ser muito reduzidos. No


Evolução da Obra<br />

entanto, é possível que ainda que reduzidos, tenham tido influência na abertura <strong>de</strong> fissuras nos<br />

edifícios anexos à Embaixada. Os valores limite são obtidos a partir <strong>de</strong> hipóteses<br />

simplificativas, parâmetros do solo e das construções, que não são exactos e po<strong>de</strong>m não<br />

correspon<strong>de</strong>r à realida<strong>de</strong>.<br />

Figura 4.46 - Velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração registada no sismógrafo da Embaixada, a 23 <strong>de</strong> Março <strong>de</strong><br />

2011 [51]<br />

Além disso, não se t<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta nestes cálculos o facto <strong>de</strong> os edifícios vizinhos já se<br />

encontrar<strong>em</strong> <strong>de</strong>gradados e não novos, ou seja, algumas fissuras e fendas já se encontravam<br />

abertas antes do início dos trabalhos da obra. É então possível que seja necessária a<br />

ocorrência <strong>de</strong> vibrações inferiores para aumentar a abertura <strong>de</strong> fissuras já existentes, do que<br />

para abrir novas.<br />

Segundo o relatório dos dias 15 a 21 <strong>de</strong> Abril, a activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escavação com recurso a meios<br />

pesados diminuiu, reduzindo ainda mais os valores máximos registados <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vibração. A activida<strong>de</strong> vibratória manteve-se <strong>de</strong>sprezável também <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 22 ao dia 25 <strong>de</strong><br />

Abril. No sismógrafo da Embaixada, só nos dias 26 a 28 <strong>de</strong> Abril voltaram a <strong>de</strong>tectar-se<br />

velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração regulares, que pouco ultrapassaram o 1 mm/s. O sismógrafo da<br />

Capela registou um pequeno pico apenas no dia 27 <strong>de</strong> Abril. O relatório seguinte disponível,<br />

surge com um lapso t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um mês, apresentando os registos dos dias 10 a 16<br />

<strong>de</strong> Junho, e só para o sismógrafo da Embaixada. Dado o sismógrafo da Igreja ter <strong>de</strong>tectado<br />

valores bastante reduzidos <strong>em</strong> relação ao esperado, e aos valores limite, e já ter passado a<br />

fase crítica <strong>de</strong> recurso a meios mecânicos pesados naquela zona, este foi r<strong>em</strong>ovido. O<br />

sismógrafo da Embaixada foi mantido, pois ainda se procedia a activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escavação<br />

naquela zona, e este já tinha registado valores <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração relativamente<br />

próximos dos valores limite admitidos no Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação. No período<br />

<strong>em</strong> questão, apenas nos dias 14 e 15 <strong>de</strong> Junho foi registada alguma activida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vibração,<br />

ainda que muito reduzida (não tendo atingido 0.5 mm/s).<br />

Conclui-se então dos resultados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meio <strong>de</strong> instrumentação, que a intensida<strong>de</strong> dos meios<br />

mecânicos pesados não foi suficiente para se atingir<strong>em</strong> os critérios <strong>de</strong> alerta e alarme, <strong>de</strong>vido à<br />

existência das construções sensíveis, ou que os critérios não foram a<strong>de</strong>quados, dado o estado<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação que se verificava <strong>em</strong> algumas <strong>de</strong>ssas construções. No entanto, a instalação<br />

87


88<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

dos sismógrafos não representou <strong>de</strong> todo um <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> recursos, pois ajudou a garantir<br />

uma boa monitorização da obra, e acrescentar informações aos conhecimentos sobre a<br />

utilização <strong>de</strong>stes meios <strong>de</strong> escavação, no tipo <strong>de</strong> solo atravessado e junto a este tipo <strong>de</strong><br />

construções.<br />

Como já referido, <strong>em</strong> obras geotécnicas <strong>em</strong> meio urbano, como a estudada nesta dissertação,<br />

é bastante difícil apurar com exactidão os parâmetros reais do terreno no qual se vai intervir,<br />

assim como as condições <strong>de</strong> fundação dos edifícios adjacentes, e o seu estado <strong>de</strong><br />

conservação. Assim, nesta obra a instrumentação teve um papel importante na monitorização<br />

do comportamento do solo, e das estruturas vizinhas. Numas zonas, contribuiu para confirmar<br />

as hipóteses inicialmente admitidas, e noutras para indicar um comportamento mais real do<br />

cenário geológico-geotécnico, face aos trabalhos executados.


5. MODELAÇÃO DA SOLUÇÃO DE CONTENÇÃO<br />

Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

No dimensionamento da solução <strong>de</strong> contenção foi utilizado um programa <strong>de</strong> cálculo numérico<br />

usando el<strong>em</strong>entos finitos, o Plaxis 2D. Este programa é uma ferramenta bastante usada na<br />

mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as geotécnicos, pois permite recriar <strong>de</strong> forma aproximada o<br />

comportamento mecânico do solo e estruturas enterradas, possibilitando também uma análise<br />

da interacção solo-estrutura.<br />

5.1 Solução inicial<br />

Na mo<strong>de</strong>lação da solução do projecto foram analisados 6 cortes <strong>em</strong> várias localizações que se<br />

consi<strong>de</strong>rou ser<strong>em</strong> as mais condicionantes e representativas do probl<strong>em</strong>a. Na Figura 5.1<br />

encontra-se esqu<strong>em</strong>atizada a localização e numeração <strong>de</strong>stes cortes, que correspon<strong>de</strong>m aos<br />

cortes pertencentes às peças <strong>de</strong>senhadas do projecto <strong>de</strong> escavação e contenção periférica<br />

[46].<br />

Figura 5.1 – Localização dos cortes analisados no Plaxis (adaptado <strong>de</strong> [46])<br />

Descrev<strong>em</strong>-se a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo as opções tomadas na mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> um dos cortes da<br />

escavação (Corte 4), sendo que os outros seguiram princípios s<strong>em</strong>elhantes, mudando apenas<br />

a geometria do local e a respectiva solução construtiva.<br />

5.1.1 Definição da geometria<br />

Na construção do mo<strong>de</strong>lo foi necessário <strong>de</strong>finir inicialmente a geometria da janela a analisar,<br />

assim como as unida<strong>de</strong>s, e o número <strong>de</strong> nós <strong>em</strong> cada el<strong>em</strong>ento finito (triângulos, neste caso),<br />

entre outros parâmetros. Para o mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> questão escolheu-se uma janela <strong>de</strong> 40 m <strong>de</strong><br />

largura por 34 m <strong>de</strong> altura, por se consi<strong>de</strong>rar que com estas dimensões havia distância<br />

suficiente da contenção às fronteiras para reproduzir a situação real. Adoptaram-se el<strong>em</strong>entos<br />

89


90<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

triangulares <strong>de</strong> 15 nós para a malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos. O passo seguinte foi o <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir a<br />

geometria do mo<strong>de</strong>lo, usando o comando Geometry line, representando as 3 camadas<br />

diferentes <strong>de</strong> solo, e também as linhas que dividiam as diferentes fases <strong>de</strong> escavação. Foram<br />

também <strong>de</strong>finidas as condições <strong>de</strong> fronteira usando o comando Standart fixities, que criou um<br />

conjunto <strong>de</strong> apoios fixos na base, e apoios móveis nas zonas laterais, permitindo os<br />

<strong>de</strong>slocamentos verticais nas zonas <strong>de</strong> fronteira lateral. Após <strong>de</strong>finida a geometria inicial do<br />

mo<strong>de</strong>lo passou-se aos el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> contenção e escoramento, ou seja, a cortina multi-<br />

ancorada; e também o carregamento variável aplicado, sendo que o programa já t<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta<br />

os impulsos provocados pelo terreno. A sobrecarga admitida a tardoz da cortina foi <strong>de</strong> 10<br />

kN/m 2 , usando o comando Distributed load – load syst<strong>em</strong> A. Começou-se por <strong>de</strong>senhar a<br />

cortina, com 18.5 m <strong>de</strong> altura nesta secção, e recorrendo a um el<strong>em</strong>ento Plate, para simular o<br />

comportamento <strong>de</strong> “pare<strong>de</strong>” do muro <strong>de</strong> Munique. Desenharam-se também as ancoragens,<br />

adoptando um el<strong>em</strong>ento tipo No<strong>de</strong>-to-no<strong>de</strong> Anchor para o comprimento livre, e do tipo Geogrid<br />

para o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>. A geometria final do mo<strong>de</strong>lo ficou com o aspecto que se vê na Figura<br />

5.2.<br />

Figura 5.2 – Geometria do mo<strong>de</strong>lo do corte 4<br />

Após a <strong>de</strong>finição da geometria do mo<strong>de</strong>lo foi necessário caracterizar o terreno, assim como os<br />

el<strong>em</strong>entos estruturais participantes do conjunto, associando estas características aos<br />

el<strong>em</strong>entos já <strong>de</strong>senhados.<br />

5.1.2 Características dos materiais e malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos<br />

Para <strong>de</strong>finir as características do solo, o Plaxis t<strong>em</strong> a opção <strong>de</strong> vários mo<strong>de</strong>los constitutivos<br />

que simul<strong>em</strong> o comportamento dos materiais. O mo<strong>de</strong>lo escolhido foi o Har<strong>de</strong>ning soil. Este<br />

mo<strong>de</strong>lo recria o comportamento dos diferentes tipos <strong>de</strong> material admitindo uma relação tensão-<br />

<strong>de</strong>formação não linear. À medida que o material é sujeito a tensões <strong>de</strong> corte crescentes, a sua<br />

rigi<strong>de</strong>z vai diminuindo, havendo <strong>de</strong>formações plásticas e irreversíveis. Ao contrário do mo<strong>de</strong>lo<br />

Mohr Coulomb (também disponível no programa), este t<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta a <strong>de</strong>pendência da tensão


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

com o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, o que faz com que as rigi<strong>de</strong>zes dos estratos aument<strong>em</strong> com<br />

a pressão. O Har<strong>de</strong>ning Soil t<strong>em</strong> por base o mo<strong>de</strong>lo hiperbólico, e utiliza a teoria da<br />

plasticida<strong>de</strong> <strong>em</strong> vez da teoria da elasticida<strong>de</strong>, incluindo o valor da dilatância do solo e uma<br />

superfície <strong>de</strong> cedência. Para a sua completa <strong>de</strong>finição foi necessária a introdução <strong>de</strong> vários<br />

parâmetros [56]:<br />

c´- coesão efectiva do solo;<br />

ϕ' - ângulo <strong>de</strong> resistência ao corte efectivo;<br />

ψ - ângulo <strong>de</strong> dilatância;<br />

m - expoente da lei <strong>de</strong> potência que expressa a <strong>de</strong>pendência da rigi<strong>de</strong>z <strong>em</strong> relação ao<br />

nível <strong>de</strong> tensão (power);<br />

- módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> secante <strong>em</strong> estado triaxial (correspon<strong>de</strong>nte a 50% da<br />

tensão <strong>de</strong> rotura) para uma tensão <strong>de</strong> referência, pref, consi<strong>de</strong>rada igual a 100 kPa;<br />

- módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> edométrico tangente para tensão vertical igual à tensão<br />

<strong>de</strong> referência (pref);<br />

- módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scarga/recarga, <strong>em</strong> estado triaxial, para uma<br />

tensão <strong>de</strong> referência pref;<br />

νur - coeficiente <strong>de</strong> Poisson na fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga;<br />

Rf - coeficiente <strong>de</strong> rotura, que relaciona a tensão <strong>de</strong>viatórica na rotura com a assímptota<br />

da hipérbole que traduz a relação tensão-<strong>de</strong>formação;<br />

- coeficiente <strong>de</strong> impulso <strong>em</strong> repouso correspon<strong>de</strong>nte ao solo normalmente<br />

consolidado.<br />

Segundo o Manual do utilizador do Plaxis [57], este mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong> ser utilizado na mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong><br />

solos do tipo arenoso, argiloso ou siltoso, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que estejam disponíveis os resultados <strong>de</strong><br />

ensaios triaxiais e edométricos, para que se possam admitir parâmetros próximos dos reais. No<br />

entanto, po<strong>de</strong> admitir-se, através da experiência e consi<strong>de</strong>rando algumas relações já testadas<br />

entre os parâmetros, o uso <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo mesmo s<strong>em</strong> todos os dados dos ensaios, sabendo<br />

que associado aos ensaios e aos parâmetros, existe algum grau <strong>de</strong> incerteza associado.<br />

Para o caso <strong>em</strong> análise foi este o mo<strong>de</strong>lo adoptado, tendo por base os parâmetros médios<br />

fornecidos pelo Relatório geológico-geotécnico [49], e algumas correlações entre os<br />

parâmetros não <strong>de</strong>terminados nos ensaios realizados. Para os diferentes valores do módulo <strong>de</strong><br />

elasticida<strong>de</strong>, é proposto no Manual do utilizador e também segundo [58] que se admitam, como<br />

aproximações, as seguintes relações:<br />

91


92<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Além dos parâmetros integrantes do critério <strong>de</strong> rotura <strong>de</strong> Mohr-Coulomb (c´, ϕ' e ψ), também<br />

fornecidos <strong>em</strong> Projecto [46], admitiram-se as relações das equações anteriores para os<br />

restantes parâmetros do mo<strong>de</strong>lo; para o valor <strong>de</strong> m e outros parâmetros avançados, admitiram-<br />

se os valores indicados por <strong>de</strong>feito pelo programa. Neste corte foram consi<strong>de</strong>radas 3 camadas<br />

distintas <strong>de</strong> terreno, <strong>de</strong> acordo com o zonamento geotécnico. Numa das secções tipo analisada<br />

foi consi<strong>de</strong>rada uma zona geotécnica adicional <strong>em</strong> relação ao projecto inicial, <strong>de</strong>signada por<br />

“M1 melhorado”, <strong>de</strong>vido a injecções <strong>de</strong> calda <strong>de</strong> cimento que foram feitas no sentido <strong>de</strong><br />

melhorar as condições <strong>de</strong> fundação do edifício vizinho, numa fase inicial dos trabalhos. As<br />

características admitidas para cada estrato geológico encontram-se no Quadro 5.1.<br />

Parâmetros<br />

Quadro 5.1 – Características dos solos <strong>de</strong> cada zona geotécnica<br />

Zonas geotécnicas<br />

Aterros M1 M1 melhorado M2<br />

γ [kN/m 3 ] 18 18 18 19<br />

[kN/m 2 ] 8000 25000 35000 100000<br />

[kN/m 2 ] 8000 25000 35000 100000<br />

[kN/m 2 ] 24000 75000 105000 300000<br />

cref [kN/m 2 ] 0.1 30 30 100<br />

ϕ [°] 30 35 35 40<br />

ψ [°] 0 0 0 0<br />

νur 0.2 0.2 0.2 0.2<br />

K0 nc 0.5 0.426 0.426 0.357<br />

Também para os el<strong>em</strong>entos estruturais foi necessário atribuir características aos materiais.<br />

Para a cortina criaram-se dois materiais distintos, correspon<strong>de</strong>ndo um aos perfis HEB<br />

inicialmente colocados, e outro à pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão armado, posteriormente executada. Nas<br />

características do comprimento livre da ancorag<strong>em</strong>, era pedida pelo programa a rigi<strong>de</strong>z axial, e<br />

o espaçamento entre ancoragens, admitindo um comportamento elástico linear do material.<br />

Para o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, era pedida apenas a rigi<strong>de</strong>z axial. O método pré-<strong>de</strong>finido utilizado<br />

pelo programa para a mo<strong>de</strong>lação das ancoragens consiste <strong>em</strong> mo<strong>de</strong>lar o comprimento livre<br />

como el<strong>em</strong>ento barra, e o bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> através <strong>de</strong> vários el<strong>em</strong>entos barra ligados entre si<br />

por pontos nodais existentes na malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos [26]. No cálculo adoptou-se este<br />

método, pois a mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> estruturas constitui um probl<strong>em</strong>a tridimensional<br />

bastante complexo, e a experiência adquirida t<strong>em</strong> vindo a <strong>de</strong>monstrar que os resultados<br />

fornecidos por estes métodos não se afastam muito da realida<strong>de</strong>, havendo s<strong>em</strong>pre associado<br />

algum grau <strong>de</strong> incerteza. No Quadro 5.2 encontram-se as características dos el<strong>em</strong>entos<br />

estruturais presentes no mo<strong>de</strong>lo. A rigi<strong>de</strong>z axial da zona do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> da ancorag<strong>em</strong>


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

t<strong>em</strong> um valor inferior (apesar do valor teórico ser superior) para se ter <strong>em</strong> conta o facto <strong>de</strong><br />

haver<strong>em</strong> possíveis <strong>de</strong>slocamentos relativos na interface entre a calda <strong>de</strong> cimento, e o solo,<br />

funcionando assim como uma espécie <strong>de</strong> factor <strong>de</strong> segurança.<br />

Quadro 5.2 – Características dos el<strong>em</strong>entos estruturais da contenção<br />

El<strong>em</strong>entos estruturais<br />

Parâmetros<br />

Perfis HEB<br />

Pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão<br />

armado<br />

Ancorag<strong>em</strong> –<br />

comprimento livre<br />

Ancorag<strong>em</strong> -<br />

Bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong><br />

EA [kN/m] 380100 9000000 147000 100000<br />

EI [kNm 2 /m] 1744.4 67500 - -<br />

d [m] 0.235 0.3 - -<br />

w [kN/m/m] 0.5 2.1 - -<br />

ν 0.2 0.2 - -<br />

Lspacing [m] - - 3 -<br />

Para terminar a <strong>de</strong>finição do mo<strong>de</strong>lo proce<strong>de</strong>u-se à geração da malha <strong>de</strong> el<strong>em</strong>entos finitos.<br />

Recorrendo ao comando Mesh do Plaxis, e escolhendo um refinamento da malha Fine, obteve-<br />

se uma malha com 608 el<strong>em</strong>entos e 5001 nós. O programa fornece também a opção <strong>de</strong> um<br />

refinamento localizado da malha nalgumas zonas, mas neste caso usou-se a malha gerada<br />

inicialmente. Por fim, foi necessário gerar as tensões iniciais, para que se instalasse um estado<br />

<strong>de</strong> tensão com a distribuição <strong>de</strong> pressões efectivas, horizontais e verticais, para a geometria<br />

mo<strong>de</strong>lada, condições <strong>de</strong> fronteira, características do terreno e el<strong>em</strong>entos estruturais. Nesta<br />

fase <strong>de</strong>finir-se-ia também o nível freático e a geração <strong>de</strong> pressões intersticiais, o que não foi<br />

feito por o nível freático na obra se encontrar a gran<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> (Secção 3.3.1).<br />

Estava-se então <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> proce<strong>de</strong>r ao cálculo do mo<strong>de</strong>lo. Na interface <strong>de</strong> cálculo foi<br />

necessário <strong>de</strong>finir o faseamento construtivo, e <strong>em</strong> Define caracterizar os acontecimentos para<br />

cada fase da obra. Após cada fase estar criada e caracterizada o mo<strong>de</strong>lo foi corrido, tendo-se<br />

obtido os esforços e <strong>de</strong>slocamentos finais, que serviriam <strong>de</strong> referência para o<br />

dimensionamento da solução, previsão dos resultados reais <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos, e<br />

monitorização dos trabalhos <strong>em</strong> função <strong>de</strong>stes.<br />

5.1.3 Faseamento construtivo e cálculos<br />

Esta fase é bastante importante na mo<strong>de</strong>lação da solução, pois é no faseamento construtivo<br />

que se introduz<strong>em</strong> algumas alterações que permit<strong>em</strong> a simulação aproximada da técnica <strong>de</strong><br />

Muros <strong>de</strong> Munique. Quando se calcula uma solução do tipo cortina ancorada no Plaxis, esta<br />

correspon<strong>de</strong>nte mais directamente a uma técnica do tipo Cortina <strong>de</strong> Estacas ou Pare<strong>de</strong>s<br />

Moldadas, <strong>em</strong> que a cortina <strong>de</strong> contenção é executada toda <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>, e só <strong>de</strong>pois se<br />

proce<strong>de</strong> à escavação faseada, e execução das ancoragens. Na Figura 5.3 encontra-se uma<br />

vista da interface <strong>de</strong> cálculo do programa, com o faseamento construtivo para a secção <strong>em</strong><br />

análise. Como se po<strong>de</strong> observar, no separador General i<strong>de</strong>ntificam-se as fases construtivas, e<br />

o tipo <strong>de</strong> análise a aplicar no cálculo. Adicionalmente à Initial phase já <strong>de</strong>finida por <strong>de</strong>feito pelo<br />

programa, foi acrescentada ainda outra fase inicial (Total), <strong>em</strong> que no separador Parameters se<br />

<strong>de</strong>finiu o loading input para total multipliers (Figura 5.4). Esta fase foi criada com o objectivo <strong>de</strong><br />

93


94<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

fazer com que se <strong>de</strong>ss<strong>em</strong> todos os assentamentos <strong>de</strong>vido ao peso do solo, sobrecarga e às<br />

condições iniciais, para não haver interferências nos <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>vidos à escavação.<br />

Figura 5.3 – Faseamento construtivo do corte 4<br />

Na fase seguinte, SC e micro, foi seleccionada a opção Reset displac<strong>em</strong>ents to zero no<br />

separador Parameters, <strong>em</strong> Control Parameters, com o objectivo <strong>de</strong> “zerar” os <strong>de</strong>slocamentos<br />

que surgiram nas fases iniciais, ou seja, para se analisar somente os <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>vidos<br />

ao processo da escavação. Seleccionou-se também a opção Staged construction, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

Total Multipliers, para dar início ao processo. Clicando <strong>em</strong> Define, era possível ace<strong>de</strong>r a uma<br />

janela com o esqu<strong>em</strong>a do mo<strong>de</strong>lo, e fazer as alterações correspon<strong>de</strong>ntes a cada fase. Nesta<br />

fase, foram activadas a cortina e a sobrecarga (10 kN/m 2 ), estando activadas todas camadas<br />

<strong>de</strong> solo. O el<strong>em</strong>ento plate da cortina nesta fase tinha atribuído o material Micro HEB 160, pois a<br />

fase inicial correspon<strong>de</strong>u à inserção dos perfis metálicos na contenção, que serviriam <strong>de</strong><br />

fundação provisória à mesma, possibilitando a execução dos muros <strong>de</strong> Munique.<br />

A fase 1ºesc correspon<strong>de</strong>u à escavação do primeiro nível, correspon<strong>de</strong>nte à camada <strong>de</strong> aterros<br />

e a uma parte da camada seguinte, num total <strong>de</strong> 7.6 m. A escavação consistiu <strong>em</strong> “<strong>de</strong>sligar”<br />

estas camadas na geometria. A escavação no programa não t<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta o facto <strong>de</strong> os<br />

painéis ser<strong>em</strong> escavados <strong>de</strong> forma alternada (painéis primários e secundários), tirando partido<br />

do efeito <strong>de</strong> arco criado que permite que a escavação ocorra s<strong>em</strong> <strong>de</strong>scompressão do terreno.<br />

Para contornar este probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong>finiu-se o valor <strong>de</strong> ∑-Mstage para 0.5, <strong>em</strong> vez<br />

<strong>de</strong> 1, como estava pré-<strong>de</strong>finido (Figura 5.5). Com esta alteração conseguiu-se que a fase <strong>de</strong>


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

escavação da camada <strong>de</strong> terreno fosse reduzida para meta<strong>de</strong>, caso contrário os resultados<br />

seriam muito mais gravosos, não correspon<strong>de</strong>ndo à realida<strong>de</strong>. Esta simplificação não dará a<br />

solução exacta, mas têm sido conseguidas aproximações razoáveis do comportamento <strong>de</strong><br />

escavações recorrendo a este método.<br />

Figura 5.4 – Fase “Total” da sequência construtiva<br />

Figura 5.5 – Redução da fase <strong>de</strong><br />

escavação para meta<strong>de</strong><br />

A fase seguinte correspon<strong>de</strong>u à execução das ancoragens. Assim, <strong>em</strong> Define, activaram-se as<br />

ancoragens na escavação, tanto a zona <strong>de</strong> comprimento livre como a do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, e<br />

<strong>de</strong>finiu-se o valor do pré-esforço para a zona <strong>de</strong> comprimento livre. Este foi aplicado<br />

(automaticamente) por meio <strong>de</strong> duas forças com a mesma intensida<strong>de</strong> e sentidos contrários,<br />

uma <strong>em</strong> cada extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> do el<strong>em</strong>ento barra da ancorag<strong>em</strong>, ficando também este el<strong>em</strong>ento<br />

submetido a esforço normal <strong>de</strong> tracção [26]. O valor inserido correspon<strong>de</strong>u a um pré-esforço<br />

por metro <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cortina, sendo necessário dividir o valor original pelo<br />

comprimento <strong>de</strong> influência <strong>de</strong> cada ancorag<strong>em</strong>, neste caso por 3 metros (Figura 5.6).<br />

Figura 5.6 – Activação da ancorag<strong>em</strong> e do valor do pré-esforço<br />

Outra das alterações a que se proce<strong>de</strong>u também nesta fase foi a <strong>de</strong> mudar o material da<br />

cortina, do material dos perfis HEB para a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão armado, pois após a betonag<strong>em</strong><br />

dos painéis e tensionamento das ancoragens passa a ser a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão armado a<br />

funcionar como cortina, <strong>em</strong> vez dos perfis (Figura 5.7).<br />

95


96<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 5.7 – Mudança do material do el<strong>em</strong>ento “plate”, dos perfis para a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão<br />

Este procedimento foi repetido para as restantes fases, até se atingir o final da escavação,<br />

dando-se assim início à fase <strong>de</strong> cálculo.<br />

5.1.4 Resultados<br />

Após a fase <strong>de</strong> cálculo foi possível ver na interface <strong>de</strong> Output do programa a malha <strong>de</strong>formada,<br />

assim como os <strong>de</strong>slocamentos, tensões instaladas no terreno, e esforços e <strong>de</strong>slocamentos da<br />

cortina. Para esta secção, a malha <strong>de</strong>formada, os <strong>de</strong>slocamentos horizontais e verticais obtidos<br />

na fase final encontram-se esqu<strong>em</strong>atizados na Figura 5.8, Figura 5.9 e Figura 5.10,<br />

respectivamente.<br />

Figura 5.8 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina no final da escavação no corte 4, com a mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

Figura 5.9 – Deformações horizontais da cortina no final da escavação no corte 4, com a<br />

mo<strong>de</strong>lação inicial


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Para as outras secções mo<strong>de</strong>ladas no Plaxis houve algumas diferenças, nomeadamente a<br />

nível geométrico, e consequent<strong>em</strong>ente no número <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> ancoragens, etc. No Anexo VI<br />

encontram-se os esqu<strong>em</strong>as dos restantes 5 cortes.<br />

Figura 5.10 - Deformações verticais da cortina no final da escavação no corte 4, com a mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

5.2 Comparação entre resultados previstos pela mo<strong>de</strong>lação inicial e<br />

os reais<br />

Po<strong>de</strong>m ver-se no Quadro 5.3 os <strong>de</strong>slocamentos obtidos na mo<strong>de</strong>lação inicial para todos os<br />

cortes analisados no final da escavação, e a comparação com os critérios <strong>de</strong> alerta e alarme<br />

para os <strong>de</strong>slocamentos estabelecidos no Projecto [46], que variam <strong>em</strong> função da altura da<br />

escavação.<br />

Quadro 5.3 – Deformações máximas previstas do terreno na fase final <strong>de</strong> escavação, e critérios <strong>de</strong><br />

alerta e alarme para cada secção<br />

Secção<br />

Plaxis<br />

Def. hor. máx. (mm) Def. vert. máx. (mm)<br />

Critério <strong>de</strong><br />

alerta<br />

Critério <strong>de</strong><br />

alarme<br />

Plaxis<br />

Critério <strong>de</strong><br />

alerta<br />

Critério <strong>de</strong><br />

alarme<br />

Corte 1 6.1 10.0 15.0 8.4 7.5 10.0<br />

Corte 3 9.8 27.2 40.8 6.4 20.4 40.8<br />

Corte 4 4.6 27.2 40.8 1.3 20.4 40.8<br />

Corte 5 5.8 28.2 42.3 1.0 21.2 42.3<br />

Corte 6 9.6 11.4 17.1 1.3 8.6 17.1<br />

Corte 7 4.9 12.6 18.9 2.0 9.5 18.9<br />

Os valores do Quadro 5.3 relativos às <strong>de</strong>formações verticais máximas previstas pelo Plaxis não<br />

correspon<strong>de</strong>m <strong>em</strong> absoluto às verificadas no mo<strong>de</strong>lo. Acontece que as <strong>de</strong>formações máximas<br />

verificavam-se s<strong>em</strong>pre na base da escavação, havendo um <strong>em</strong>polamento do terreno, <strong>de</strong>vido a<br />

ter sido retirado todo o carregamento, como se po<strong>de</strong> ver na Figura 5.10. No entanto, t<strong>em</strong>-se<br />

vindo a constatar através da experiência que os <strong>em</strong>polamentos previstos pelo programa são<br />

<strong>de</strong>masiado elevados para o que acontece na realida<strong>de</strong>. Como a sua localização não é<br />

97


98<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

condicionante para o <strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos, estes foram <strong>de</strong>sprezados para efeitos <strong>de</strong><br />

análise, e as <strong>de</strong>formações registadas no Quadro 5.3 correspon<strong>de</strong>m aos assentamentos<br />

verificados imediatamente a tardoz da cortina, pois é nesse local que estes serão<br />

condicionantes para as construções vizinhas.<br />

Como se po<strong>de</strong> ver no Quadro 5.3 os critérios <strong>de</strong> alerta e alarme estabelecidos não foram<br />

atingidos pelos valores previstos pela mo<strong>de</strong>lação no Plaxis, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos. No<br />

entanto, com base nos resultados observados, não foi isso que se verificou, ou por <strong>de</strong>feitos no<br />

estabelecimento dos critérios face à fragilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sconhecimento das construções vizinhas,<br />

ou por imperfeições na mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong>vido ao <strong>de</strong>sconhecimento do comportamento exacto do<br />

solo, ou uma conjunção <strong>de</strong> ambas as situações.<br />

Não foi possível fazer uma comparação directa entre os resultados previstos pela mo<strong>de</strong>lação<br />

<strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos finitos e os resultados obtidos nos alvos topográficos, pois como estes acabaram<br />

por ser colocados <strong>em</strong> localizações diferentes das inicialmente propostas <strong>em</strong> projecto, exist<strong>em</strong><br />

na realida<strong>de</strong> poucos pontos <strong>em</strong> que há informação <strong>de</strong> ambas as fontes <strong>em</strong> simultâneo. Existiu<br />

portanto algum entrave à realização <strong>de</strong> uma retroanálise da solução através da<br />

instrumentação, pois a gran<strong>de</strong> maioria dos alvos topográficos foi instalada nas pare<strong>de</strong>s dos<br />

edifícios vizinhos que confrontam com a escavação, por ter sido aí que se verificou ter<strong>em</strong><br />

havido as maiores <strong>de</strong>formações. Como no programa é apenas possível mo<strong>de</strong>lar abaixo da<br />

superfície do terreno (e não os edifícios) é então difícil comparar os dados <strong>de</strong> todas as zonas<br />

da obra, nomeadamente aquelas <strong>em</strong> que houve maiores probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos, e abertura <strong>de</strong> fendas e fissuras.<br />

Além das dificulda<strong>de</strong>s referidas <strong>em</strong> relação à diferença <strong>de</strong> localização dos alvos topográficos e<br />

pontos <strong>de</strong> análise, surge também o probl<strong>em</strong>a associado ao facto <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> sido aplicadas<br />

nalgumas zonas da obra medidas <strong>de</strong> reforço, <strong>em</strong> função dos <strong>de</strong>slocamentos que se verificaram<br />

ao longo dos trabalhos, o que também dificulta a comparação directa entre soluções finais <strong>de</strong><br />

contenção. A medida <strong>de</strong> reforço que consistiu <strong>em</strong> prolongar os muros <strong>de</strong> contenção acima da<br />

viga <strong>de</strong> coroamento não foi possível incluir no mo<strong>de</strong>lo da contenção, por não se po<strong>de</strong>r mo<strong>de</strong>lar<br />

acima da superfície do terreno. Esta tinha como objectivo estabilizar as fachadas dos edifícios<br />

adjacentes, e com base na evolução dos <strong>de</strong>slocamentos dos alvos colocados nesses locais,<br />

cumpriu o seu objectivo. Em relação à medida <strong>de</strong> reforço que consistiu no escoramento rígido<br />

do “canto F” da escavação já se pô<strong>de</strong> estabelecer uma relação entre resultados finais, por meio<br />

duma mo<strong>de</strong>lação no Plaxis da própria medida <strong>de</strong> reforço a partir da solução inicial. Esta<br />

solução será concretizada na secção seguinte <strong>de</strong>ste capítulo, 5.3.<br />

Secções 1, 2, 3 e 4<br />

Com base nos valores expostos no Quadro 5.3 para a secção 1 po<strong>de</strong> concluir-se que os<br />

parâmetros geotécnicos <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z e resistência admitidos para a sua mo<strong>de</strong>lação foram,<br />

possivelmente <strong>de</strong> menor qualida<strong>de</strong> do que os reais, pois apesar dos <strong>de</strong>slocamentos previstos<br />

se aproximar<strong>em</strong> bastante dos critérios <strong>de</strong> alerta (e até ultrapassar<strong>em</strong>, para os assentamentos),


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

esta zona não teve um comportamento anormal durante a escavação. Não é possível fazer<br />

uma análise directa dos resultados pois o único alvo que foi instalado nesta zona encontrava-<br />

se colocado na fachada do edifício vizinho, não representando directamente os movimentos da<br />

cortina e do terreno (alvo 5, Figura 5.11). No entanto, <strong>de</strong>duz-se que estes não atingiram os<br />

critérios <strong>de</strong> alerta, ou não foram susceptíveis <strong>de</strong> causar danos, pois os <strong>de</strong>slocamentos nesse<br />

alvo topográficos foram relativamente reduzidos (Figura A VII. 6), e os fissurómetros instalados<br />

na Igreja, que confrontam com esta zona da obra, também registaram valores muito reduzidos.<br />

Figura 5.11 – Localização dos alvos topográficos no alçado AD (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

O corte 2, que se localiza na zona da cisterna (alçado DE, Figura 3.9) não contribuiu para esta<br />

análise, pois não foi mo<strong>de</strong>lada nenhuma secção correspon<strong>de</strong>nte no Plaxis, para comparação<br />

<strong>de</strong> resultados. Nesta zona os alvos topográficos também foram todos colocados nas estruturas<br />

vizinhas, e não na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção (Figura 3.9).<br />

O corte 3 foi uma das situações <strong>em</strong> que não foi possível comparar directamente os resultados<br />

da mo<strong>de</strong>lação com os da instrumentação, <strong>de</strong>vido à introdução das medidas <strong>de</strong> reforço. De<br />

qualquer modo, o único alvo localizado nesta zona (alvo nº 19) não registou <strong>de</strong>slocamentos<br />

próximos dos critérios <strong>de</strong> alerta e alarme.<br />

Esta comparação também não foi possível para a secção 4, pois o andamento dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos registados nos alvos topográficos daquela zona foi afectado pela execução das<br />

medidas <strong>de</strong> reforço. Além disso, não se encontrava nenhum alvo topográfico colocado na<br />

secção que foi mo<strong>de</strong>lada (Figura 5.12).<br />

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100<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 5.12 - Vista final dos alvos topográficos no alçado FG (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Secção 5<br />

Na zona da secção 5 as previsões da mo<strong>de</strong>lação indicaram <strong>de</strong>slocamentos bastante reduzidos<br />

face aos critérios <strong>de</strong> alerta. De resto, excepto os inci<strong>de</strong>ntes no início dos trabalhos que<br />

ocorreram <strong>em</strong> meados <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro, e que provocaram um aumento brusco nos<br />

assentamentos dos alvos nesta zona, <strong>de</strong>vido a colapso do terreno e posterior preenchimento<br />

com betão, não houve probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> maior. Para este colapso contribuiu provavelmente, como<br />

já foi referido, a precipitação intensa que se fez sentir naquela altura, e que diminuiu as<br />

características <strong>de</strong> resistência das camadas superficiais do solo, nomeadamente a coesão.<br />

Nas fases posteriores a estes eventos, os alvos topográficos <strong>de</strong>sta zona mostraram uma<br />

tendência para a estabilização, o que também <strong>de</strong>monstra o bom funcionamento da medida <strong>de</strong><br />

reforço aplicada, que consistiu no prolongamento da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção num troço acima da<br />

viga <strong>de</strong> coroamento. Em particular os alvos localizados na cortina (23 e 39) tiveram uma<br />

evolução bastante controlada das <strong>de</strong>formações (Figura A VII. 20 e Figura A VII. 35).<br />

Secção 6<br />

Na zona do corte 6, localizado no alçado GH, é possível fazer uma comparação directa dos<br />

resultados na fase final, pois não houve aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> reforço nesta zona, e os dois<br />

alvos topográficos foram colocados na viga <strong>de</strong> coroamento (alvos 20 e 21, Figura 5.13, Quadro<br />

5.4).


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Figura 5.13 - Vista final dos alvos topográficos no alçado GH (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Como não houve <strong>de</strong>slocamentos excessivos nesta zona optou-se por não se colocar mais<br />

alvos noutras zonas <strong>de</strong>ste alçado, n<strong>em</strong> nos edifícios vizinhos, n<strong>em</strong> na cortina <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong>.<br />

Quadro 5.4 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos previstos e verificados nos alvos 20 e 21<br />

Alvo Def. Hor. Máx. (M) [mm] Def. Hor. Máx. (P) [mm] Def. Vert. Máx (Z) [mm]<br />

20 -4.3 2.9 -4.9<br />

21 -4.5 -4.9 -3.3<br />

Plaxis -9.6 1.3<br />

Em relação às <strong>de</strong>formações horizontais há algumas diferenças entre os resultados dos alvos<br />

20 e 21, pois estes tiveram movimentos horizontais <strong>em</strong> sentidos contrários (<strong>em</strong> P), s<strong>em</strong> no<br />

entanto atingir<strong>em</strong> critérios <strong>de</strong> alerta (Figura A VII. 17 e Figura A VII. 18). As <strong>de</strong>formações finais<br />

do alvo 21 foram mais aproximadas do previsto, pois os <strong>de</strong>slocamentos horizontais finais foram<br />

para o exterior da escavação. No alvo 20, a posição final foi para o interior da escavação, mas<br />

também com valores muito reduzidos, não susceptíveis <strong>de</strong> causar<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as. Em relação<br />

aos assentamentos verificou-se que os reais foram superiores aos previstos, nomeadamente<br />

no alvo 20, mas ainda assim com valores reduzidos. Faz sentido que a situação mais gravosa<br />

tenha ocorrido perto do canto convexo do alçado, por ser a zona menos confinada, e também é<br />

possível que tenha tido influência o facto <strong>de</strong> se ter procedido a escavação abaixo da cota <strong>de</strong><br />

fundação da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção, para execução das fundações da superstrutura, sabendo<br />

que nesta zona e a esta profundida<strong>de</strong> o terreno ainda não podia ser consi<strong>de</strong>rado como rocha<br />

compacta, sendo até bastante heterogéneo (Figura 5.14 e Figura 5.15).<br />

Tendo <strong>em</strong> conta o grau <strong>de</strong> incerteza associado a este tipo <strong>de</strong> análise, e incluindo o<br />

<strong>de</strong>sconhecimento exacto das características do solo, comportamento da cortina, e condições<br />

<strong>de</strong> fundação dos edifícios vizinhos, consi<strong>de</strong>ra-se que os resultados obtidos nesta zona foram<br />

bastante aproximados.<br />

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102<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 5.14 – <strong>Escavação</strong> abaixo da cota <strong>de</strong><br />

fundação da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção<br />

Secção 7<br />

Fundação da<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção<br />

Figura 5.15 – Pormenor da heterogeneida<strong>de</strong> e<br />

natureza terrosa do solo escavado<br />

Na secção do corte 7, representativa do alçado IH, encontravam-se instalados 4 alvos<br />

topográficos próximos <strong>em</strong> planta: alvos 13, 14, 24 e 26 (Figura A VII. 12, Figura 4.38, Figura A<br />

VII. 21 e Figura A VII. 23). Como se po<strong>de</strong> ver na Figura 5.16, <strong>de</strong>stes alvos só o 24 estava<br />

colocado na viga <strong>de</strong> coroamento, ao nível da escavação, localizando-se os restantes no edifício<br />

do Infantário, <strong>de</strong>vido à abertura <strong>de</strong> fendas que se verificou ao longo dos trabalhos. Como esta<br />

secção localiza-se aproximadamente entre os alvos 24 e 25 serão analisados os resultados<br />

<strong>de</strong>stes dois alvos topográficos. Observando os resultados do Quadro 5.5 po<strong>de</strong> dizer-se que as<br />

<strong>de</strong>formações verificadas na realida<strong>de</strong> foram superiores às previstas no mo<strong>de</strong>lo, não tendo<br />

atingido nenhum dos critérios <strong>de</strong> alerta, mas provocando ainda assim perturbações nas<br />

estruturas vizinhas. Na secção 5.4.2 <strong>de</strong>ste capítulo proce<strong>de</strong>r-se-á a uma retroanálise <strong>de</strong>sta<br />

situação, com o objectivo <strong>de</strong> apurar as razões das discrepâncias <strong>de</strong> resultados.<br />

Infantário<br />

Figura 5.16 – Localização dos alvos topográficos no alçado IH (adaptado <strong>de</strong> [48])


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Quadro 5.5 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos previstos e verificados nos alvos 24 e 25<br />

Alvo Def. Hor. Máx. (M) [mm] Def. Hor. Máx. (P) [mm] Def. Vert. Máx. (Z) [mm]<br />

24 -1,3 2 -6,8<br />

25 -2,1 2,6 -7<br />

Plaxis -4.9 -2<br />

Como já referido anteriormente, e como esperado, os <strong>de</strong>slocamentos maiores nesta zona<br />

verificaram-se <strong>de</strong> facto nos alvos topográficos colocados ao longo da fachada lateral do edifício<br />

vizinho correspon<strong>de</strong>nte ao Infantário. Como a tendência <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>slocamentos foi a <strong>de</strong><br />

estabilização, consi<strong>de</strong>ra-se que a situação ficou controlada. Este aumento das <strong>de</strong>formações<br />

<strong>em</strong> altura, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o topo da contenção às pare<strong>de</strong>s do edifício vizinho, é também um indicativo<br />

da sua fragilida<strong>de</strong>, estruturalmente e das respectivas fundações. Nestes casos, também <strong>de</strong>vido<br />

à ausência <strong>de</strong> mais dados sobre as condições das construções já existentes, torna-se difícil<br />

prever este tipo <strong>de</strong> comportamentos numa mo<strong>de</strong>lação prévia. É então importante haver uma<br />

boa monitorização, no sentido <strong>de</strong> antecipar acontecimentos inesperados. Os valores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos no alvo 44, colocado já mais recent<strong>em</strong>ente, vêm confirmar a tendência <strong>de</strong><br />

estabilização dos movimentos do conjunto <strong>de</strong> terreno e edifício, tanto nas <strong>de</strong>formações<br />

horizontais como verticais (Figura A VII. 40).<br />

Foi também <strong>de</strong>notado um padrão <strong>de</strong> comportamento da contenção no que diz respeito à<br />

localização dos perfis metálicos que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> suporte à realização da escavação e pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção. Verificou-se que nos alçados <strong>em</strong> que os perfis ficaram no interior dos Muros <strong>de</strong><br />

Munique (alçados AE, GH e IJ) não ocorreram <strong>de</strong> facto situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

excessivos, apesar <strong>de</strong> existir<strong>em</strong> também construções vizinhas sensíveis, como a Igreja no<br />

alçado AE. Nos restantes alçados do recinto foi necessário <strong>de</strong>ixar os perfis no exterior da<br />

contenção, apesar <strong>de</strong>sse facto não ter sido tido <strong>em</strong> conta na mo<strong>de</strong>lação da solução para<br />

previsão dos <strong>de</strong>slocamentos. É assim plausível admitir que esta alteração introduzida ao<br />

método construtivo possa ter contribuído, juntamente com os outros factores já mencionados,<br />

para um comportamento pior do que o previsto inicialmente <strong>em</strong> projecto. Como também já<br />

referido no capítulo 2, esta alteração frequent<strong>em</strong>ente introduzida neste tipo <strong>de</strong> obras, t<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

geral consequências negativas para as <strong>de</strong>formações da cortina.<br />

5.3 Solução incluindo medidas <strong>de</strong> reforço<br />

Para tentar apurar a influência que as medidas <strong>de</strong> reforço tiveram no comportamento da<br />

contenção (escoramento rígido do canto F), além das informações fornecidas pela<br />

instrumentação, proce<strong>de</strong>u-se a uma nova mo<strong>de</strong>lação da solução, apenas do corte 4, incluindo<br />

esta medida <strong>de</strong> reforço.<br />

Dada a análise na versão do Plaxis utilizada ser bidimensional, não foi possível mo<strong>de</strong>lar a<br />

solução <strong>de</strong> troços <strong>de</strong> laje com a forma triangular <strong>de</strong> maneira exacta. Foi por isso necessário<br />

proce<strong>de</strong>r a algumas simplificações para obter uma aproximação da solução real. Em vez <strong>de</strong><br />

el<strong>em</strong>entos do tipo ancoragens, constituídas por comprimento livre e bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong>, foram<br />

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<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

adoptadas escoras a 2 níveis na escavação, que no programa correspon<strong>de</strong>m a um el<strong>em</strong>ento<br />

do tipo Fixed-end anchor, <strong>em</strong> que é pedido o comprimento da escora, e nas características do<br />

material (<strong>em</strong> que este é s<strong>em</strong>elhante ao das ancoragens, do tipo Anchor), o afastamento entre<br />

escoras e a sua rigi<strong>de</strong>z axial. Como o comprimento da escora-troço <strong>de</strong> laje é variável (visto ser<br />

triangular) adoptou-se um comprimento médio equivalente, e uma rigi<strong>de</strong>z axial dum el<strong>em</strong>ento<br />

<strong>de</strong> betão armado com uma espessura <strong>de</strong> 0.25 m e 1 m <strong>de</strong> largura (por metro <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento da escora), <strong>em</strong> que se obtiveram os resultados presentes na Figura 5.17. A<br />

solução para a secção mo<strong>de</strong>lada correspon<strong>de</strong>u então a um conjunto <strong>de</strong> escoras <strong>de</strong> betão<br />

armado com 8.6 m <strong>de</strong> comprimento, com rigi<strong>de</strong>z axial <strong>de</strong> 8.25E6 kN/m 2 , e espaçadas <strong>de</strong> 1 m.<br />

Figura 5.17 – Características das escoras-troços <strong>de</strong> laje<br />

No faseamento construtivo, o procedimento foi s<strong>em</strong>elhante à mo<strong>de</strong>lação inicial com a diferença<br />

<strong>de</strong> se activar<strong>em</strong> as escoras <strong>em</strong> vez das ancoragens, s<strong>em</strong>pre que se escavava uma camada <strong>de</strong><br />

terreno. Correndo o programa com esta mo<strong>de</strong>lação, os resultados obtidos po<strong>de</strong>m ver-se na<br />

Figura 5.18, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> cortina <strong>de</strong>formada, e <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais e verticais.<br />

Figura 5.18 – Cortina <strong>de</strong>formada para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4<br />

Comparando a figura anterior com a Figura 5.8, a forma como a cortina se <strong>de</strong>forma com um<br />

sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> 4 ancoragens e 2 troços <strong>de</strong> laje equivalentes <strong>de</strong> betão armado é bastante diferente,<br />

sendo que a segunda alternativa permite um melhor controlo das <strong>de</strong>formações, formando-se


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

uma “barriga” menos acentuada no el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> contenção. Na Figura 5.19 po<strong>de</strong>m ver-se as<br />

<strong>de</strong>formações horizontais previstas incluindo a medida <strong>de</strong> reforço, e comparando com a Figura<br />

5.9 po<strong>de</strong>m observar-se as diferenças <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais, entre as duas<br />

situações. É bastante visível nestas imagens que a massa <strong>de</strong> solo afectada pela escavação,<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais é muito maior na solução com as ancoragens, e a<br />

zona <strong>em</strong> que os <strong>de</strong>slocamentos são máximos (por volta dos 5 mm), é também maior do que na<br />

solução <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje, <strong>em</strong> que os <strong>de</strong>slocamentos verificados são também inferiores,<br />

atingindo máximos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 3.5 mm na zona <strong>de</strong> vão entre o 1º e o 2º troço <strong>de</strong> laje.<br />

Figura 5.19 – Deformações horizontais para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4<br />

Em termos <strong>de</strong> assentamentos, o comportamento da cortina com a solução <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje<br />

também é bastante melhor (Figura 5.10 e Figura 5.20). Além dos valores <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

atingidos ser<strong>em</strong> menores, cerca <strong>de</strong> 1 mm contra 3 mm na solução com ancoragens, a zona<br />

afectada correspon<strong>de</strong>nte aos <strong>de</strong>slocamentos negativos (assentamentos) é também <strong>de</strong><br />

dimensões muito mais reduzidas, e localiza-se mais longe do local da escavação, e numa área<br />

menor imediatamente a tardoz da cortina, para o mesmo nível <strong>de</strong> assentamentos. Esta<br />

diferença po<strong>de</strong> ser justificada pelo facto <strong>de</strong>, na solução <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> laje, não existir a<br />

componente vertical das ancoragens, que aumenta os assentamentos da massa <strong>de</strong> solo<br />

suportado.<br />

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106<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Figura 5.20 - Deformações verticais para a mo<strong>de</strong>lação com troços <strong>de</strong> laje, corte 4<br />

5.4 Retroanálise da solução<br />

A retroanálise da solução foi feita com recurso aos resultados dados pela instrumentação,<br />

nomeadamente dos alvos topográficos, pois os relatórios das células <strong>de</strong> carga das ancoragens<br />

só foram disponibilizados numa fase final, e as variações <strong>de</strong> pré-esforço medidas foram<br />

<strong>de</strong>sprezáveis [59]. Também seria útil e interessante comparar resultados fornecidos por<br />

inclinómetros e marcas topográficas.<br />

Este tipo <strong>de</strong> análise é bastante útil para compreen<strong>de</strong>r melhor o comportamento do terreno<br />

presente no caso <strong>de</strong> estudo, mas a sua extrapolação para outras situações não <strong>de</strong>ve ser<br />

directa e linear. Tanto do lado da mo<strong>de</strong>lação numérica como da instrumentação adoptam-se<br />

simplificações e comet<strong>em</strong>-se erros que po<strong>de</strong>m alterar o resultado da análise. Assim, é<br />

necessário haver uma amostra significativa <strong>de</strong> situações <strong>em</strong> que se fez retroanálise, tal como a<br />

experiência ganha ao longo do t<strong>em</strong>po com este género <strong>de</strong> obras para se tirar<strong>em</strong> conclusões,<br />

representando este capítulo uma contribuição para esse objectivo. Para a realização <strong>de</strong>sta<br />

análise é necessário partir <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> pressupostos que permitam diminuir a lista <strong>de</strong><br />

parâmetros a analisar. Tendo <strong>em</strong> conta que o grau <strong>de</strong> incerteza associado aos parâmetros do<br />

solo é muito superior ao associado aos parâmetros dos el<strong>em</strong>entos estruturais, optou-se por<br />

centrar a análise só nos primeiros, para que não se per<strong>de</strong>sse a objectivida<strong>de</strong> da análise. Por<br />

parâmetros dos el<strong>em</strong>entos estruturais enten<strong>de</strong>-se as características da cortina (perfis HEB e<br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> betão armado), e das ancoragens. O comportamento do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> das<br />

ancoragens e a interface entre a cortina e o terreno também po<strong>de</strong>riam ser parâmetros a<br />

calibrar, mas optou-se por <strong>de</strong>ixá-los inalterados, <strong>em</strong> relação aos admitidos por <strong>de</strong>feito.<br />

A análise paramétrica foi efectuada para cada zona geotécnica, e para cada parâmetro, usando<br />

para isso os resultados obtidos para o corte 7, nomeadamente no alvo topográfico nº 25,<br />

colocado na viga <strong>de</strong> coroamento do alçado IH (Figura 5.16). Optou-se por utilizar os resultados<br />

do alvo nº 25 <strong>em</strong> vez do nº 24 porque este último sofreu uma interrupção nas leituras, o que<br />

po<strong>de</strong> ter adulterado os <strong>de</strong>slocamentos obtidos. A retroanálise dos resultados <strong>de</strong>sta secção foi


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

realizada também utilizando os valores <strong>de</strong>ste alvo topográfico. Foi <strong>de</strong>finido no programa um<br />

ponto correspon<strong>de</strong>nte à localização do alvo topográfico (ao nível da viga <strong>de</strong> coroamento), e os<br />

resultados fornecidos são respeitantes aos <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>sse ponto. Foi feita uma<br />

retroanálise apenas dos <strong>de</strong>slocamentos horizontais, e não dos verticais, pois constatou-se que<br />

estes não consegu<strong>em</strong> ser a<strong>de</strong>quados à realida<strong>de</strong>, sendo previstos <strong>em</strong>polamentos à superfície<br />

do terreno, tanto no fundo da escavação como a tardoz <strong>de</strong>sta, o que não se verifica no terreno.<br />

Este comportamento <strong>de</strong>ve-se provavelmente a algum probl<strong>em</strong>a numérico do mo<strong>de</strong>lo.<br />

A retroanálise teve como objectivo aproximar os resultados previstos pela mo<strong>de</strong>lação dos<br />

efectivamente verificados nos meios <strong>de</strong> instrumentação, a fim <strong>de</strong> explicar melhor o<br />

comportamento da escavação, e cortina <strong>de</strong> contenção mo<strong>de</strong>lada e executada. No gráfico da<br />

Figura 5.21 po<strong>de</strong>m-se observar-se estas diferenças, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais,<br />

para o alvo nº 25. Os resultados da instrumentação foram ajustados aos da mo<strong>de</strong>lação, <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>pos entre as fases, pois na realida<strong>de</strong> o faseamento construtivo não foi dividido<br />

<strong>em</strong> intervalos t<strong>em</strong>porais iguais, como os admitidos pelo programa (Anexo II).<br />

Figura 5.21 – Deslocamentos horizontais previstos pelo Plaxis, e verificados no alvo topográfico nº<br />

25<br />

É possível ver no gráfico anterior que o andamento dos <strong>de</strong>slocamentos é s<strong>em</strong>elhante, até ao<br />

tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong> ancoragens, <strong>em</strong> que os <strong>de</strong>slocamentos previstos pelo<br />

Plaxis sofr<strong>em</strong> um <strong>de</strong>créscimo bastante acentuado (movimentos para o exterior da escavação),<br />

que não é verificado na realida<strong>de</strong> da escavação com tanta intensida<strong>de</strong>. Nas fases seguintes os<br />

valores absolutos nos dois casos apresentam s<strong>em</strong>pre diferenças da or<strong>de</strong>m dos 4.5 mm, mas<br />

com um andamento bastante s<strong>em</strong>elhante, no sentido do aumento dos movimentos para o<br />

interior da escavação com uma taxa <strong>de</strong> aumento reduzida. É assim bastante plausível inferir<br />

que as diferenças entre as <strong>de</strong>formações horizontais previstas e atingidas advêm da fase <strong>de</strong><br />

tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong> ancoragens. Nas fases seguintes a tendência da solução<br />

mo<strong>de</strong>lada é a do aumento do movimento para o interior da escavação, cuja taxa <strong>de</strong><br />

crescimento vai diminuindo. Esta estabilização <strong>de</strong>ve-se <strong>em</strong> parte, ao tensionamento do nível<br />

seguinte <strong>de</strong> ancoragens, que não teve uma influência tão gran<strong>de</strong> quanto o primeiro, pois esta<br />

foi pré-esforçada com menos carga, e numa fase <strong>em</strong> que a escavação já se encontrava mais<br />

estabilizada. Na fase final, a previsão indicava que o ponto analisado se encontraria numa<br />

posição para o exterior da escavação, enquanto que na realida<strong>de</strong> se verificou a situação<br />

contrária, ainda que com uma diferença <strong>de</strong> poucos milímetros, e s<strong>em</strong> atingir nenhum critério <strong>de</strong><br />

107


108<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

alerta neste alvo. No entanto, estas variações po<strong>de</strong>m ter dado orig<strong>em</strong> ao início <strong>de</strong> propagações<br />

<strong>de</strong> movimentos no edifício adjacente a este local, on<strong>de</strong> se verificou a abertura <strong>de</strong> fendas.<br />

5.4.1 Análise Paramétrica<br />

5.4.1.1 Parâmetros escolhidos e sua variação<br />

Ao realizar-se uma análise centrada nos parâmetros do solo inseridos no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cálculo,<br />

esta irá incidir sobre os parâmetros do mo<strong>de</strong>lo adoptado no Plaxis, o Har<strong>de</strong>ning Soil, abordado<br />

na secção 5.1.2. Também nesta fase foi necessário tomar opções para diminuir o número <strong>de</strong><br />

parâmetros a analisar, seguindo alguns critérios. Optou-se por fazer variar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente<br />

apenas dois parâmetros do mo<strong>de</strong>lo para cada tipo <strong>de</strong> terreno, seguindo as correlações<br />

admitidas pelo programa para os restantes parâmetros, que se po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rar <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<br />

dos primeiros, ou os valores admitidos pelo programa “por <strong>de</strong>feito”. Em relação aos módulos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, admitiu-se como parâmetro in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong><br />

secante <strong>em</strong> estado triaxial (<br />

edométrico (<br />

correlações <strong>de</strong>scritas <strong>em</strong> 5.1.2.<br />

), e como <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ste o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong><br />

) e o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>scarga (<br />

), respeitando as<br />

O critério <strong>de</strong> rotura incluído no mo<strong>de</strong>lo Har<strong>de</strong>ning Soil é o <strong>de</strong> Mohr-Coulomb. Assim,<br />

consi<strong>de</strong>rou-se também como in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte um dos parâmetros principais que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> este<br />

critério, a coesão aparente efectiva (c’). O ângulo <strong>de</strong> atrito interno efectivo (ϕ’) foi mantido<br />

inalterado, e o ângulo <strong>de</strong> dilatância (ψ) também. O coeficiente <strong>de</strong> impulso <strong>em</strong> repouso ( ) foi<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, aceitando a relação com o ângulo <strong>de</strong> atrito interno sugerida pelo<br />

Plaxis, que segue a equação <strong>de</strong> Terzaghi. O coeficiente <strong>de</strong> rotura (Rf) permaneceu inalterado<br />

durante a análise, aceitando o valor fornecido por <strong>de</strong>feito pelo programa, <strong>de</strong> 0.9. Dos<br />

parâmetros do critério <strong>de</strong> rotura foi escolhida a coesão <strong>de</strong>vido à sua maior influência neste<br />

processo construtivo, nomeadamente na fase da abertura e betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis dos Muros<br />

<strong>de</strong> Munique. Também é bastante provável que esta gran<strong>de</strong>za tenha sofrido uma diminuição <strong>em</strong><br />

relação à inicialmente estimada, nas fases da obra <strong>em</strong> que houve precipitação mais intensa,<br />

provocando assim maiores <strong>de</strong>formações. Consi<strong>de</strong>rou-se pertinente fazer variar<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente os parâmetros escolhidos <strong>em</strong> 50% do seu valor.<br />

Assim, após ser<strong>em</strong> escolhidos os parâmetros e a zona a analisar proce<strong>de</strong>u-se à análise<br />

paramétrica dos mesmos. Esta análise é fundamental para que se obtenha uma boa<br />

retroanálise pois permite apurar a influência <strong>de</strong> cada parâmetro nas gran<strong>de</strong>zas que se quer<strong>em</strong><br />

igualar, nomeadamente os <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> cada ponto <strong>em</strong> análise.<br />

5.4.1.2 Análise dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> e da coesão<br />

Proce<strong>de</strong>u-se então à análise paramétrica da solução, para apurar quais dos parâmetros, e <strong>em</strong><br />

que zonas geotécnicas teriam mais influência nas <strong>de</strong>formações da cortina que se vieram a<br />

verificar. Na Figura 5.22 po<strong>de</strong>m observar-se os resultados obtidos para os <strong>de</strong>slocamentos


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

horizontais, segundo a mo<strong>de</strong>lação inicial, e os casos analisados para a variação dos<br />

parâmetros dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>. Consi<strong>de</strong>rou-se a análise apenas a partir do passo<br />

número 6, pois as <strong>de</strong>formações verificadas nas fases iniciais são <strong>de</strong>vidas às condições iniciais<br />

no terreno, e não à execução da escavação e contenção. Os valores positivos das<br />

<strong>de</strong>formações horizontais correspon<strong>de</strong>m a movimentos para o interior da escavação, e os<br />

negativos no sentido contrário, tal como apresentado nos resultados do programa.<br />

Def. [mm]<br />

5<br />

2,5<br />

0<br />

-2,5<br />

-5<br />

-7,5<br />

-10<br />

-12,5<br />

6 8 10 12 14 16 18 20<br />

Fases da escavação<br />

Interior da<br />

escavação<br />

Exterior da<br />

escavação<br />

Ux inicial<br />

Ux_E_M1_+50%<br />

Ux_E_M1_-50%<br />

Ux_E_M1m_+50%<br />

Ux_E_M1m_-50%<br />

Ux_E_M2_+50%<br />

Ux_E_M2_-50%<br />

Figura 5.22 – Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 ref<br />

Na Figura 5.23 po<strong>de</strong>m ver-se os resultados obtidos para a análise da influência da coesão <strong>em</strong><br />

cada zona geotécnica, nos <strong>de</strong>slocamentos horizontais no local estudado. Como se po<strong>de</strong> ver<br />

nestes gráficos, o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> foi o parâmetro que teve mais influência no<br />

comportamento da cortina. No gráfico da Figura 5.22 verificou-se que um aumento <strong>de</strong> 50% do<br />

módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> da camada M1 fez com que a zona da viga <strong>de</strong> coroamento se<br />

<strong>de</strong>slocasse cerca <strong>de</strong> 2 mm para o interior da escavação, <strong>em</strong> relação à situação inicial, no final<br />

da escavação. E a outra situação extr<strong>em</strong>a ocorreu quando se diminuiu este parâmetro também<br />

<strong>em</strong> 50% na mesma camada <strong>de</strong> terreno. Daqui se infere que a camada com mais influência será<br />

a primeira (M1), no entanto os resultados aparentam alguma incoerência, pois um aumento das<br />

características <strong>de</strong> rigi<strong>de</strong>z do terreno resultou num aumento dos <strong>de</strong>slocamentos finais, e o<br />

contrário também se verificou, o que parece não fazer sentido. Observando o andamento dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos ao longo das fases <strong>de</strong> escavação, é perceptível que para módulos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> inferiores ao inicial, o terreno sofre mais <strong>de</strong>scompressão no início da<br />

escavação (maiores <strong>de</strong>slocamentos), e a alteração do estado <strong>de</strong> tensão <strong>de</strong>vido ao<br />

tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong> ancoragens provoca também um maior nível <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos no sentido contrário (para o exterior da escavação). Nas fases seguintes <strong>de</strong><br />

escavação há maiores <strong>de</strong>slocamentos para o caso <strong>de</strong> módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> inferiores,<br />

mas no final da escavação, os movimentos para o interior da escavação acabam por não<br />

compensar os do sentido contrário (na fase <strong>de</strong> tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong><br />

109


110<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

ancoragens), e terminam com valor absoluto inferior ao caso inicial, e à situação <strong>de</strong> módulos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> superiores.<br />

Def. [mm]<br />

3<br />

2<br />

1<br />

0<br />

-1<br />

-2<br />

-3<br />

-4<br />

-5<br />

-6<br />

-7<br />

Exterior da<br />

escavação<br />

6 8 10 12 14 16 18 20<br />

Figura 5.23 – Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> c ref<br />

No gráfico da Figura 5.23 observa-se que todas as alterações feitas, tanto na diminuição como<br />

no incr<strong>em</strong>ento da coesão <strong>de</strong> todas as camadas, provocaram um movimento da cortina para o<br />

interior da escavação, <strong>em</strong> relação à situação inicial, no entanto as variações <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos<br />

foram muito reduzidas. A situação extr<strong>em</strong>a foi obtida para o incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> 50% da coesão na<br />

camada M1, on<strong>de</strong> se obteve o movimento final máximo para o interior da escavação, sendo<br />

coerente com a análise do módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>. Para a coesão ocorreu o fenómeno<br />

<strong>de</strong>scrito anteriormente quando se proce<strong>de</strong>u à alteração dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, ainda<br />

que com menos intensida<strong>de</strong>.<br />

Fases da escavação<br />

5.4.1.3 Análise dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> simultâneo com a coesão e<br />

o ângulo <strong>de</strong> atrito interno<br />

Como a alteração dos parâmetros inicialmente escolhidos não conduziu a uma boa<br />

aproximação do comportamento real da cortina, na zona da viga <strong>de</strong> coroamento, optou-se por<br />

fazer variar também o ângulo <strong>de</strong> atrito interno da camada M1, admitindo que será esta zona<br />

geotécnica a mais influente no comportamento da contenção, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações<br />

horizontais. Com o objectivo <strong>de</strong> obter resultados mais realistas e coerentes, proce<strong>de</strong>u-se<br />

também a alterações dos parâmetros do solo <strong>em</strong> simultâneo, e segundo várias combinações,<br />

pois nas relações constitutivas inerentes ao mo<strong>de</strong>lo Har<strong>de</strong>ning Soil os parâmetros encontram-<br />

se todos correlacionados, e consequent<strong>em</strong>ente os efeitos das alterações <strong>de</strong> cada um estão<br />

longe <strong>de</strong> ser lineares, o que torna difícil uma análise da influência <strong>de</strong> um parâmetro<br />

isoladamente. Proce<strong>de</strong>u-se então à análise dos parâmetros referidos, combinando os módulos<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> com a coesão, os módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> com o ângulo <strong>de</strong> atrito, e os<br />

três <strong>em</strong> simultâneo, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r observar a influência <strong>de</strong>stas combinações <strong>de</strong> parâmetros no<br />

comportamento do terreno durante a escavação.<br />

Interior da<br />

escavação<br />

Ux inicial<br />

Ux_c_M1_+50%<br />

Ux_c_M1_-50%<br />

Ux_c_M1m_+50%<br />

Ux_c_M1m_-50%<br />

Ux_c_M2_+50%<br />

Ux_c_M2_-50%


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Começou por fazer-se uma análise inicial da influência do ângulo <strong>de</strong> atrito interno nas<br />

<strong>de</strong>formações horizontais, na camada M1. Os resultados encontram-se no gráfico da Figura<br />

5.24.<br />

Def. [mm]<br />

2,5<br />

0<br />

-2,5<br />

-5<br />

-7,5<br />

-10<br />

-12,5<br />

-15<br />

-17,5<br />

-20<br />

6 8 10 12 14 16 18 20 22<br />

Fases da escavação<br />

Figura 5.24 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> ϕ’ no estrato M1<br />

No gráfico da Figura 5.24 po<strong>de</strong> observar-se a influência da variação do ângulo <strong>de</strong> atrito interno<br />

inicial da camada M1, nas <strong>de</strong>formações horizontais do ponto analisado. Para uma diminuição<br />

<strong>de</strong>ste parâmetro <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong> 50% (17.5º), apesar da <strong>de</strong>scompressão inicial ser<br />

s<strong>em</strong>elhante à existente na situação inicial, a cortina t<strong>em</strong> um <strong>de</strong>slocamento para o exterior da<br />

escavação inferior aquando do tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong> ancoragens, sendo as<br />

<strong>de</strong>formações iniciais menos recuperáveis. Consequent<strong>em</strong>ente, no final da escavação os<br />

<strong>de</strong>slocamentos obtidos do ponto <strong>em</strong> análise foram mais para o sentido do interior da<br />

escavação, <strong>em</strong> relação à situação inicial. Para a situação <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> 50% do ângulo <strong>de</strong><br />

atrito (52.5º), a contenção teve o comportamento contrário ao <strong>de</strong>scrito anteriormente, ainda que<br />

com uma intensida<strong>de</strong> superior. Este comportamento po<strong>de</strong> ser explicado pelo facto <strong>de</strong>, para um<br />

ângulo <strong>de</strong> atrito superior, o impulso passivo será também superior, e será assim mais “fácil”<br />

<strong>em</strong>purrar a pare<strong>de</strong> no sentido da massa <strong>de</strong> solo suportada, no sentido do tensionamento das<br />

ancoragens. A diferença <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong>s com que este fenómeno se verifica <strong>de</strong>ve-se ao<br />

significado dos valores <strong>de</strong> ângulo <strong>de</strong> atrito assumidos, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> solo: um terreno<br />

com um ângulo <strong>de</strong> atrito <strong>de</strong> 17.5º t<strong>em</strong> provavelmente um comportamento mais aproximado a<br />

um terreno <strong>de</strong> 35º, do que um <strong>de</strong> 50º (mais próximo duma rocha) a um <strong>de</strong> 35º (solo). Assim,<br />

confirma-se que a alteração <strong>de</strong>ste parâmetro isoladamente não permite uma boa aproximação<br />

às <strong>de</strong>formações reais verificadas na cortina.<br />

Proce<strong>de</strong>u-se então à variação das várias combinações dos parâmetros geotécnicos escolhidos:<br />

os módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, a coesão e o ângulo <strong>de</strong> atrito, <strong>em</strong> 50%. Obtiveram-se os<br />

resultados apresentados nos gráficos da Figura 5.25 e da Figura 5.26.<br />

Mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

φ-50%<br />

φ+50%<br />

111


112<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Def. [mm]<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

-8<br />

-10<br />

-12<br />

-14<br />

-16<br />

-18<br />

6 11 16<br />

Fases da <strong>Escavação</strong><br />

21<br />

Figura 5.25 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 ref , ϕ’ e c ref no<br />

estrato M1, <strong>em</strong> combinações <strong>de</strong> dois<br />

Def. [mm]<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

-8<br />

-10<br />

-12<br />

6 11 16<br />

Fases da escavação<br />

21<br />

Figura 5.26 - Deformações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong> E50 ref , ϕ’ e c ref no<br />

estrato M1, <strong>em</strong> combinações <strong>de</strong> três<br />

Os resultados obtidos permitiram tirar algumas conclusões acerca da influência dos parâmetros<br />

geotécnicos analisados.<br />

� A alteração do módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> controla mais o modo como o terreno reage ao<br />

tensionamento das ancoragens: para módulos maiores, verifica-se que as <strong>de</strong>formações<br />

<strong>de</strong>vidas à aplicação do pré-esforço são consi<strong>de</strong>ravelmente inferiores à situação <strong>em</strong> que se<br />

diminui este parâmetro. Este fenómeno já tinha se tinha verificado anteriormente, na<br />

análise da influência do módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, isoladamente.<br />

� Uma diminuição do módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, juntamente com a coesão, provoca as<br />

maiores <strong>de</strong>scompressões do terreno na fase inicial. Esta <strong>de</strong>scompressão é agravada<br />

quando se diminui simultaneamente o ângulo <strong>de</strong> atrito. No entanto, <strong>em</strong> ambas as situações<br />

exist<strong>em</strong> <strong>de</strong>formações elevadas no sentido contrário, na fase <strong>de</strong> tensionamento do 1º nível<br />

<strong>de</strong> ancoragens (que não têm tanta intensida<strong>de</strong> quando também se diminui o ângulo <strong>de</strong><br />

atrito), como mencionado anteriormente.<br />

Mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

E+50, c+50<br />

E-50, c-50<br />

E+50, φ+50<br />

E-50, φ-50<br />

c+50, φ+50<br />

c-50, φ-50<br />

Mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

E+50, c+50,<br />

φ+50<br />

E-50, c-50, φ-50


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

� O aumento do ângulo <strong>de</strong> atrito interno traduz-se num aumento das <strong>de</strong>formações da cortina<br />

para o exterior da escavação na fase <strong>de</strong> tensionamento das ancoragens. Este<br />

comportamento opõe-se assim ao comportamento provocado pela variação do módulo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>.<br />

� A situação extr<strong>em</strong>a <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos máximos no sentido do interior da escavação<br />

obteve-se para a combinação do aumento <strong>de</strong> 50% do ângulo <strong>de</strong> atrito, e da coesão, <strong>em</strong><br />

simultâneo. E os <strong>de</strong>slocamentos máximos no sentido contrário foram obtidos para a<br />

combinação contrária, ou seja, com a diminuição <strong>em</strong> 50% dos mesmos parâmetros.<br />

Conclui-se assim, que para esta gama <strong>de</strong> valores, os parâmetros com mais influência nas<br />

<strong>de</strong>formações finais da cortina são o ângulo <strong>de</strong> atrito e a coesão, <strong>em</strong> simultâneo, que<br />

<strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o critério <strong>de</strong> rotura <strong>de</strong> Mohr-Coulomb.<br />

5.4.2 Retroanálise<br />

Com base nos resultados obtidos na análise paramétrica foi possível fazer uma estimativa das<br />

alterações a efectuar ao mo<strong>de</strong>lo inicial, para que as <strong>de</strong>formações fornecidas pelo programa<br />

foss<strong>em</strong> s<strong>em</strong>elhantes às verificadas na realida<strong>de</strong>. Tendo <strong>em</strong> conta que maiores módulos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> maiores dão orig<strong>em</strong> a menores <strong>de</strong>formações no sentido do exterior da<br />

escavação na fase <strong>de</strong> tensionamento das ancoragens, optou-se por incr<strong>em</strong>entar o valor <strong>de</strong>ste<br />

parâmetro. A diminuição do ângulo <strong>de</strong> atrito interno também provoca a mesma reacção, assim<br />

como um aumento das <strong>de</strong>formações horizontais para o interior da escavação nas fases <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scompressão do terreno, que se verificaram ser superiores na realida<strong>de</strong>, <strong>em</strong> relação à<br />

previsão do mo<strong>de</strong>lo. Assim, outra das alterações consistiu <strong>em</strong> diminuir o valor do ângulo <strong>de</strong><br />

atrito. Em relação à coesão, optou-se também por diminuir o seu valor <strong>em</strong> relação ao inicial,<br />

pois essa alteração juntamente com a diminuição do ângulo <strong>de</strong> atrito induziu <strong>de</strong>formações<br />

horizontais superiores às do mo<strong>de</strong>lo inicial, e mais aproximadas da realida<strong>de</strong>.<br />

Foram então realizadas várias iterações no sentido <strong>de</strong> aproximar os resultados, encontrando-<br />

se os resultados mais relevantes no gráfico da Figura 5.27.<br />

Def.<br />

[mm]<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

-2<br />

-4<br />

-6<br />

1 º<br />

painel<br />

2 º<br />

painel Re-Aterro 3 º<br />

painel<br />

Re-Aterro parcial e<br />

superstrutura<br />

-8<br />

16-Mar 26-Mar 5-Abr 15-Abr 25-Abr 5-Mai 15-Mai 25-Mai 4-Jun<br />

Alvo nº 25<br />

(experimental)<br />

Mo<strong>de</strong>lação<br />

inicial<br />

E+50, c-50, φ-50<br />

E+40, c-40, φ-40<br />

E+35, c-35, φ-35<br />

E+25, c-25, φ-25<br />

Figura 5.27 – Comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais obtidas na mo<strong>de</strong>lação por alteração <strong>de</strong><br />

E50 ref , ϕ’ e c ref no estrato M1, e resultados da instrumentação<br />

113


114<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Observando o gráfico po<strong>de</strong> verificar-se a relativamente boa aproximação que foi conseguida<br />

<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos horizontais, nomeadamente nas primeiras fases <strong>de</strong> escavação. A<br />

partir <strong>de</strong>ste ponto o andamento das <strong>de</strong>formações ao longo do faseamento construtivo é<br />

altamente controlado pela influência do tensionamento do primeiro nível <strong>de</strong> ancoragens no<br />

terreno, e não foi atingida uma situação i<strong>de</strong>al <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> previsões <strong>de</strong>ste andamento. Para a<br />

situação <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> 25% no módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong>, e diminuição <strong>de</strong> 25% no ângulo<br />

<strong>de</strong> atrito e coesão, os valores finais atingidos foram bastante s<strong>em</strong>elhantes, mas o mesmo não<br />

se verificou no andamento da curva. Nas situações <strong>em</strong> que se alterou os parâmetros <strong>em</strong> 40% e<br />

35%, a fase <strong>de</strong> tensionamento das ancoragens foi melhor aproximada, mas os <strong>de</strong>slocamentos<br />

finais sobrestimados. Ainda assim, esta tendência não se manteve na situação <strong>em</strong> que se<br />

alteraram os parâmetros <strong>em</strong> 50%. Isto mostra mais uma vez a não linearida<strong>de</strong> da presente<br />

análise, consequente da inter<strong>de</strong>pendência dos parâmetros geotécnicos no mo<strong>de</strong>lo constitutivo<br />

adoptado. No sentido <strong>de</strong> tentar aproximar mais os resultados da mo<strong>de</strong>lação aos da<br />

instrumentação foi feita uma nova tentativa <strong>de</strong> retroanálise, que consistiu no incr<strong>em</strong>ento dos<br />

módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> novamente <strong>em</strong> 50%, e na manutenção do <strong>de</strong>cr<strong>em</strong>ento do ângulo<br />

<strong>de</strong> atrito e coesão <strong>em</strong> 25%, com o objectivo <strong>de</strong> diminuir as <strong>de</strong>formações horizontais <strong>de</strong>vido ao<br />

tensionamento das ancoragens, mantendo a <strong>de</strong>formação horizontal consequente da<br />

<strong>de</strong>scompressão do terreno. No entanto, os resultados obtidos foram marcadamente<br />

s<strong>em</strong>elhantes à iteração anterior (25%), pelo que se concluiu que através da alteração <strong>de</strong>stes<br />

parâmetros não iria ser conseguida uma aproximação melhor dos <strong>de</strong>slocamentos.<br />

Assim, tendo <strong>em</strong> conta os resultados obtidos, e admitindo que os restantes parâmetros<br />

escolhidos para o mo<strong>de</strong>lo são s<strong>em</strong>elhantes aos reais, concluiu-se que os módulos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> são na realida<strong>de</strong> superiores aos admitidos no mo<strong>de</strong>lo, e o ângulo <strong>de</strong> atrito<br />

interno e a coesão, são inferiores. A configuração da cortina <strong>de</strong>formada na fase final, para a<br />

variação dos parâmetros <strong>em</strong> 25% encontra-se esqu<strong>em</strong>atizada na Figura 5.28, e a distribuição<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais e verticais, na Figura 5.29 e Figura 5.30, respectivamente.<br />

Figura 5.28 – Configuração <strong>de</strong>formada da cortina no final da escavação, após retroanálise


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Figura 5.29 – Deformações horizontais da cortina no final da escavação, após retroanálise<br />

Figura 5.30 - Deformações verticais da cortina no final da escavação, após retroanálise<br />

Como se po<strong>de</strong> observar na Figura 5.29 a <strong>de</strong>formação máxima horizontal ocorre abaixo do 2º<br />

nível <strong>de</strong> ancoragens, e toma o valor aproximado <strong>de</strong> 5.5 mm, ainda que não seja possível aferir<br />

estes <strong>de</strong>slocamentos com resultados <strong>de</strong> instrumentação. Como estes valores encontram-se<br />

ainda bastante distantes dos critérios <strong>de</strong> alerta e alarme, e sabendo que o edifício adjacente<br />

sofreu alguns danos durante a escavação, po<strong>de</strong> admitir-se que estes <strong>de</strong>veram-se<br />

principalmente aos assentamentos medidos nos alvos topográficos (incluindo os colocados no<br />

edifício), que foram incorrectamente previstos pelo programa, ou ainda que o edifício era mais<br />

sensível do que o inicialmente admitido, sendo afectado por <strong>de</strong>formações horizontais do<br />

terreno consi<strong>de</strong>radas reduzidas, e abaixo dos critérios <strong>de</strong> alerta e alarme consi<strong>de</strong>rados.<br />

Antes <strong>de</strong> se ter acesso aos relatórios <strong>de</strong> instrumentação das células <strong>de</strong> carga [58], tentou-se<br />

outra via na retroanálise, que consistiu <strong>em</strong> introduzir alguma perda <strong>de</strong> pré-esforço nas<br />

ancoragens, da qual resultaram boas aproximações <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formações horizontais. No<br />

entanto, após consulta dos mesmos relatórios [58] verificou-se que a célula <strong>de</strong> carga da zona<br />

<strong>em</strong> análise além <strong>de</strong> ter perdas <strong>de</strong> carga bastante reduzidas, até teve algum ganho <strong>de</strong> pré-<br />

esforço na fase final da escavação. Este aspecto <strong>de</strong>monstra mais uma vez a importância que a<br />

115


116<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

instrumentação e monitorização ganham na correcta interpretação e compreensão do<br />

comportamento das obras geotécnicas, e da mais-valia <strong>de</strong>sse conhecimento adquirido <strong>em</strong><br />

situações futuras.<br />

Além do elevado grau <strong>de</strong> incerteza e aleatorieda<strong>de</strong> associado aos parâmetros admitidos no<br />

mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> cálculo, e estimados com base nos intervalos fornecidos pelo Relatório Geológico<br />

Geotécnico [49], exist<strong>em</strong> várias possibilida<strong>de</strong>s para explicar as discrepâncias entre a realida<strong>de</strong><br />

e os resultados obtidos:<br />

� A mo<strong>de</strong>lação é feita <strong>em</strong> estado plano, a duas dimensões, não sendo possível recriar o<br />

comportamento do solo durante a execução dos muros <strong>de</strong> Munique. Neste processo tira-se<br />

partido precisamente do efeito <strong>de</strong> arco criado pelas banquetas, que é um fenómeno<br />

tridimensional;<br />

� O próprio faseamento construtivo <strong>de</strong>ste método não é perfeitamente simulado pelo<br />

programa, que é mais indicado para estruturas <strong>de</strong> contenção realizadas <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong> e<br />

antes da fase <strong>de</strong> escavação, como as cortinas <strong>de</strong> estacas ou pare<strong>de</strong>s moldadas;<br />

� Na mo<strong>de</strong>lação realizada também não se tiveram <strong>em</strong> conta vários aspectos relativos ao<br />

t<strong>em</strong>po, ao longo do faseamento construtivo que se verificaram no terreno, como os t<strong>em</strong>pos<br />

<strong>de</strong> espera que se verificavam antes do tensionamento das ancoragens, e o período <strong>em</strong> que<br />

a escavação esteve suspensa no alçado IH, <strong>de</strong>vido aos movimentos registados no edifício<br />

adjacente;<br />

� A mo<strong>de</strong>lação da solução não teve <strong>em</strong> conta o facto <strong>de</strong> ter havido precipitação intensa, s<strong>em</strong><br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombag<strong>em</strong> <strong>de</strong> toda a água acumulada, o que po<strong>de</strong> ter contribuído para a<br />

diminuição da resistência do solo, dada a natureza argilosa do estrato M1 e dos <strong>de</strong>pósitos<br />

<strong>de</strong> aterro;<br />

� Outra hipótese para a ocorrência <strong>de</strong> assentamentos superiores aos previstos é a <strong>de</strong><br />

insuficiência <strong>de</strong> equilíbrio vertical, resultante <strong>de</strong> um <strong>de</strong>ficiente funcionamento dos perfis<br />

metálicos <strong>de</strong> suporte à contenção. Foi observada uma situação padrão, <strong>em</strong> que nos<br />

alçados com os perfis metálicos colocados no exterior da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção,<br />

verificaram-se assentamentos superiores aos esperados, ao contrário do que aconteceu<br />

nos restantes alçados;<br />

� A sobrecarga utilizada para simular o peso dos edifícios também po<strong>de</strong> ter contribuído para<br />

as imprecisões na mo<strong>de</strong>lação, pois é praticamente impossível apurar as sobrecargas reais<br />

provocadas, por <strong>de</strong>sconhecimento da constituição dos edifícios vizinhos, e das suas<br />

fundações. Nalgumas zonas (por ex<strong>em</strong>plo, secção 4) <strong>de</strong>veria ter-se consi<strong>de</strong>rado uma<br />

sobrecarga superior para ter <strong>em</strong> conta a carga adicional exercida pelos dois edifícios<br />

vizinhos a tardoz da contenção;<br />

� Os parâmetros do comportamento mecânico do solo admitidos no mo<strong>de</strong>lo não foram<br />

exactamente os mesmos dos admitidos no dimensionamento da estrutura <strong>de</strong> contenção;


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

� As <strong>de</strong>formações do mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong>riam ter sido melhor aproximadas caso se tivesse<br />

adoptado uma relação <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre a coesão aparente, e o ângulo <strong>de</strong><br />

dilatância, que foi s<strong>em</strong>pre mantido nulo;<br />

� Também po<strong>de</strong>ria ter contribuído para a melhor aproximação dos <strong>de</strong>slocamentos verticais a<br />

variação do módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> edométrico, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do secante, no<br />

sentido <strong>de</strong> o aumentar – diminuindo assim expectavelmente os <strong>em</strong>polamentos previstos; e<br />

também aumentar mais o módulo <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>scarga, também<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do secante, com o mesmo objectivo <strong>de</strong> aproximar os <strong>de</strong>slocamentos<br />

verticais.<br />

� Na fase <strong>de</strong> análise paramétrica os resultados po<strong>de</strong>m ter pecado por perda <strong>de</strong> significado<br />

físico nas variações, nomeadamente <strong>de</strong> 50% para o ângulo <strong>de</strong> atrito interno, e coesão<br />

aparente.<br />

117


118<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

5.5 Estimativa <strong>de</strong> danos<br />

Foi feita uma breve análise <strong>de</strong> risco da escavação <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> danos, com base nos critérios<br />

apresentados no capítulo 2, para o caso <strong>de</strong> estudo. Optou-se por analisar apenas uma das<br />

secções mo<strong>de</strong>ladas com um edifício adjacente, a título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo – secção nº 7, junto ao<br />

edifício do Infantário. Com base nas plantas presentes no projecto <strong>de</strong> execução, admitiu-se que<br />

o edifício analisado t<strong>em</strong> 12.5 metros <strong>de</strong> largura, para o exterior da escavação.<br />

Esta estimativa foi feita tendo como referência o método sugerido <strong>em</strong> [31], representado pelo<br />

ábaco da Figura 2.12, e também o método indicado <strong>em</strong> [33], sugerido por Rankin [38], que<br />

utiliza o Quadro 2.7. Consi<strong>de</strong>rou-se que é razoável admitir um nível <strong>de</strong> danos correspon<strong>de</strong>nte a<br />

danos ligeiros (fissuras inferiores a 5 mm). E tendo <strong>em</strong> conta o objectivo do estudo, consi<strong>de</strong>rou-<br />

se aceitável consi<strong>de</strong>rar que a fase final da escavação foi a mais <strong>de</strong>sfavorável.<br />

Método 1<br />

De acordo com o gráfico da Figura 5.31, se o <strong>de</strong>slocamento horizontal for <strong>de</strong> 4.6 mm e a<br />

vertical 2 mm (Figura 5.32 e Figura 5.33), o que correspon<strong>de</strong> a uma extensão <strong>de</strong> 0.37x10 -3 e a<br />

uma distorção angular <strong>de</strong> 0.16x10 -3 (para um comprimento <strong>de</strong> referência <strong>de</strong> 12.5 m), os danos<br />

causados seriam “<strong>de</strong>sprezáveis”. Sabendo que a abertura <strong>de</strong> fendas máxima no edifício <strong>em</strong><br />

questão foi <strong>de</strong> 0.75 mm, o que segundo o Quadro 5.6 correspon<strong>de</strong> a um nível <strong>de</strong> danos “muito<br />

ligeiro”, a estimativa segundo este método não se revela exacta, e não seria necessária uma<br />

análise <strong>de</strong> risco mais elaborada com recurso a reforço <strong>de</strong> fundações do edifício vizinho ou<br />

alteração do processo construtivo.<br />

Figura 5.31 – Relação entre o nível <strong>de</strong> danos com a distorção angular e a extensão horizontal<br />

(adaptado <strong>de</strong> [31])<br />

No entanto, verificou-se que a mo<strong>de</strong>lação subestimou estas <strong>de</strong>formações, tendo sido registado<br />

um <strong>de</strong>slocamento horizontal máximo <strong>de</strong> 14 mm para o interior da escavação e um<br />

assentamento máximo <strong>de</strong> 10 mm, <strong>em</strong> alvos topográficos instalados na fachada do edifício.<br />

Utilizando estes valores, a extensão horizontal seria <strong>de</strong> 1.15x10 -3 e a distorção angular <strong>de</strong><br />

0.8x10 -3 , e os danos esperados passariam a ser “ligeiros”, o que continua a não correspon<strong>de</strong>r


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

aos danos registados. De notar que o procedimento correcto seria utilizar as <strong>de</strong>formações<br />

registadas no solo (recorrendo por ex<strong>em</strong>plo a medições feitas por inclinómetros), e não a<br />

<strong>de</strong>slocamentos medidos ao longo da fachada do edifício (alvos nº 14 e 26), o que po<strong>de</strong> ter<br />

adulterado a previsão dos danos; ainda assim, com base nestes resultados conclui-se que o<br />

critério <strong>de</strong> estimativa <strong>de</strong> danos revelou-se a<strong>de</strong>quado, mas a estimativa foi adulterada pelas<br />

discrepâncias da mo<strong>de</strong>lação numérica.<br />

Figura 5.32 – Deformações horizontais da<br />

escavação para o corte 7<br />

Figura 5.33 – Deformações verticais da escavação<br />

para o corte 7<br />

Quadro 5.6 – Classificação <strong>de</strong> danos visíveis (adaptado <strong>de</strong> [31])<br />

Classe <strong>de</strong><br />

danos<br />

Descrição dos danos 1<br />

Abertura 2 aproximada<br />

<strong>de</strong> fendas (mm)<br />

Desprezáveis Fissuras<br />

Fendas finas facilmente reparáveis. Possíveis fracturas<br />


Método 2<br />

120<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Na Figura 5.33 po<strong>de</strong> observar-se que a zona da base do edifício teria um assentamento<br />

máximo <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 2 mm, que se exten<strong>de</strong>ria até aproximadamente 5 m abaixo da superfície<br />

do terreno, o que abrangia s<strong>em</strong> dúvida as fundações superficiais do edifício adjacente <strong>de</strong><br />

alvenaria. Assumindo os mesmos 12.5 m na direcção perpendicular à secção analisada e o<br />

assentamento máximo <strong>de</strong> 2 mm, o edifício teria um <strong>de</strong>clive previsto <strong>de</strong> 1/6250, o que segundo<br />

o Quadro 5.7, indicaria um nível <strong>de</strong> danos superficiais improváveis, com um risco <strong>de</strong>sprezável.<br />

Esta previsão subestima os danos que ocorreram na realida<strong>de</strong>, apesar <strong>de</strong>stes ter<strong>em</strong> sido<br />

ligeiros.<br />

Quadro 5.7 – Valores típicos <strong>de</strong> <strong>de</strong>clives máximos <strong>em</strong> edifícios e assentamentos, para análise do<br />

risco <strong>de</strong> danos (adaptado <strong>de</strong> [38])<br />

Categoria<br />

<strong>de</strong> risco<br />

Declive<br />

máximo do<br />

edifício<br />

Assentamento<br />

máximo do<br />

edifício (mm)<br />

Descrição do risco<br />

1 75<br />

expectáveis. Danos <strong>em</strong> tubagens rígidas<br />

expectáveis e possíveis danos noutros tipos<br />

<strong>de</strong> tubagens<br />

Apesar dos alvos topográficos na fachada <strong>de</strong>ste edifício ter<strong>em</strong> registado assentamentos<br />

superiores, com um máximo <strong>de</strong> 10 mm, o <strong>de</strong>clive atingido é <strong>de</strong> 1/1250, o que ainda se encontra<br />

na categoria <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>sprezável. Estas discrepâncias po<strong>de</strong>m ser explicadas pelo facto do<br />

critério utilizado ser aplicado a estruturas menos sensíveis, tendo <strong>em</strong> conta que neste edifício<br />

<strong>em</strong> particular já existiam fendas. Observando agora o Quadro 5.8, é possível ver que para<br />

estruturas não reforçadas (<strong>de</strong> alvenaria, como no presente caso), os valores limite <strong>de</strong><br />

assentamentos diferenciais para a ocorrência <strong>de</strong> fendilhação, são mais reduzidos. Admitindo<br />

uma flecha mais próxima <strong>de</strong> L/H=1 (sabendo que o edifício t<strong>em</strong> aproximadamente 12 metros <strong>de</strong><br />

largura e uma altura s<strong>em</strong>elhante) os valores limite são <strong>de</strong> 1/2500 para a zona <strong>de</strong> “sagging” e <strong>de</strong><br />

1/5000 para a zona <strong>de</strong> “hogging”. Mesmo não dispondo <strong>de</strong> dados para proce<strong>de</strong>r à análise<br />

pormenorizada do perfil <strong>de</strong> assentamentos, verifica-se que o <strong>de</strong>clive real ultrapassou este<br />

limite, dando orig<strong>em</strong> a fendilhação, como <strong>de</strong> facto se registou.


Mo<strong>de</strong>lação da Solução <strong>de</strong> <strong>Contenção</strong><br />

Quadro 5.8 – Valores limite <strong>de</strong> assentamentos, e assentamentos diferenciais <strong>em</strong> estruturas<br />

(adaptado <strong>de</strong> [32])<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

estrutura<br />

Estruturas tipo<br />

pórtico e pare<strong>de</strong><br />

Edifícios altos<br />

Estruturas com<br />

pare<strong>de</strong>s<br />

estruturais não<br />

armadas<br />

Pontes (geral)<br />

Pontes (múltiplos<br />

tramos)<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

dano/probl<strong>em</strong>a<br />

Critério Valor limite<br />

Danos estruturais Distorção angular 1/150 – 1/250<br />

Fendilhação <strong>em</strong><br />

pare<strong>de</strong>s estruturais e<br />

não estruturais<br />

Distorção angular<br />

1/500<br />

(1/1000 – 1/1400) para<br />

varandas<br />

Aparência visual Inclinação 1/300<br />

Ligações a serviços Assentamento total<br />

Operação <strong>de</strong><br />

ascensores<br />

Fendilhação <strong>de</strong>vido a<br />

<strong>de</strong>formação por flexão:<br />

“Sagging” // “Hogging”<br />

Inclinação após<br />

instalação dos<br />

ascensores<br />

Flecha L/H<br />

50 – 75 mm (areias)<br />

75 – 135 mm (argilas)<br />

1/1200 – 1/2000<br />

L/H=1: 1/2500 // 1/5000<br />

L/H=5: 1/1250 // 1/2500<br />

Funcionamento Assentamento total 100 mm<br />

Danos estruturais Assentamento total 63 mm<br />

Funcionamento Movimento horizontal 38 mm<br />

Danos estruturais Distorção angular 1/250<br />

Pontes (1 tramo) Danos estruturais Distorção angular 1/200<br />

Esta breve estimativa reforça a importância da boa a<strong>de</strong>quação do mo<strong>de</strong>lo <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos finitos<br />

à realida<strong>de</strong>, assim como o critério <strong>de</strong> danos adoptado para a realização da análise.<br />

121


122<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

6.1 Conclusões<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Finalizado o presente estudo, é possível afirmar que os principais objectivos traçados foram<br />

atingidos <strong>de</strong> forma satisfatória. O t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>senvolvido e a análise realizada pretendiam ser um<br />

contributo para uma melhor <strong>de</strong>scrição do comportamento <strong>de</strong> contenções periféricas <strong>em</strong> meio<br />

urbano, e sua influência nas construções vizinhas. Face a esse objectivo, o seguimento feito<br />

dos trabalhos no terreno, a análise comparativa dos resultados da instrumentação, a<br />

componente <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação realizada, e os resultados obtidos, incidindo <strong>em</strong> aspectos sobre os<br />

quais o conhecimento científico é ainda insuficiente, consi<strong>de</strong>ram-se relevantes para o estado<br />

actual do mesmo, nomeadamente no que respeita a análises das <strong>de</strong>formações, <strong>em</strong> que a<br />

técnica <strong>de</strong> contenção utilizada é a <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, ou Muros <strong>de</strong> Berlim <strong>de</strong>finitivos.<br />

A concretização dos objectivos propostos passou pela realização <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica e<br />

pela caracterização do caso <strong>de</strong> estudo, e análise da instrumentação da obra seguida. Para<br />

uma abordag<strong>em</strong> mais aprofundada e <strong>de</strong> forma a compl<strong>em</strong>entar o estudo efectuado foi ainda<br />

realizada uma mo<strong>de</strong>lação numérica <strong>de</strong> uma parte da solução <strong>de</strong> contenção adoptada <strong>em</strong><br />

projecto, e uma retroanálise da mesma.<br />

A pesquisa bibliográfica efectuada permitiu compilar o conhecimento acerca do comportamento<br />

<strong>de</strong> cortinas flexíveis multi-ancoradas e aspectos relacionados com os <strong>de</strong>slocamentos da<br />

cortina, e no terreno envolvente, assim como dos mecanismos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong>stes<br />

movimentos aos edifícios próximos, e previsão dos respectivos danos. Por outro lado, incluiu<br />

uma abordag<strong>em</strong> aos tipos <strong>de</strong> suporte <strong>de</strong> contenções periférica, e uma <strong>de</strong>scrição do processo<br />

construtivo <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, e aspectos relevantes, visto ter sido esta a técnica utilizada<br />

no caso <strong>de</strong> estudo.<br />

As visitas realizadas à obra <strong>de</strong>monstraram a importância das condicionantes no local,<br />

nomeadamente no que respeita às condições <strong>de</strong> vizinhança, envolvendo construções<br />

particularmente sensíveis, assim como a heterogeneida<strong>de</strong> e variabilida<strong>de</strong> da geologia do<br />

terreno, que torna compreensível o grau <strong>de</strong> incerteza associado à adopção <strong>de</strong> parâmetros<br />

geotécnicos exactos para execução do projecto. Foi notável também a dificulda<strong>de</strong> associada<br />

ao cumprimento exacto da sequência construtiva indicada <strong>em</strong> projecto, pois num<br />

<strong>em</strong>preendimento <strong>de</strong>sta dimensão estes aspectos foram condicionados por questões <strong>de</strong><br />

logística, inerentes aos trabalhos <strong>de</strong> escavação e contenção. Consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>staca-se<br />

mais uma vez a importância da instrumentação e respectiva interpretação, que neste caso <strong>de</strong><br />

estudo teve consequências positivas no <strong>de</strong>senvolvimento dos trabalhos, tendo resultado na<br />

aplicação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> reforço que melhoraram o comportamento da contenção, impedindo<br />

danos mais graves nos edifícios vizinhos. Ainda assim, teria sido feita uma avaliação melhor se<br />

o Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação tivesse sido impl<strong>em</strong>entado com mais rigor,<br />

123


124<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

particularmente no que diz respeito à instalação <strong>de</strong> alvos topográficos <strong>em</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

número superior aos instalados, as marcas topográficas, e também inclinómetros, que apesar<br />

<strong>de</strong> não estar<strong>em</strong> incluídos no P.I.O. permitiriam analisar mais correctamente o andamento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos horizontais da cortina executada, e garantindo alguma redundância na<br />

instrumentação da obra.<br />

A análise dos resultados da instrumentação mostrou que os <strong>de</strong>slocamentos excessivos que se<br />

verificaram nalguns alvos topográficos colocados nas estruturas adjacentes <strong>de</strong>veram-se a<br />

vários factores. Entre eles, <strong>de</strong>stacaram-se as alterações ao processo construtivo, com t<strong>em</strong>pos<br />

<strong>de</strong> espera superiores ao recomendado na fase entre a betonag<strong>em</strong> dos painéis e o<br />

tensionamento das ancoragens, e a colocação dos perfis metálicos no exterior da pare<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

contenção, e consequente <strong>de</strong>ficiente funcionamento na transmissão das cargas verticais. Com<br />

base nos el<strong>em</strong>entos recolhidos aquando da realização dos trabalhos, concluiu-se que po<strong>de</strong>rá<br />

ter contribuído negativamente a não consi<strong>de</strong>ração <strong>em</strong> projecto da precipitação intensa que se<br />

fez sentir no início da escavação, e que fez com que o terreno se apresentasse com<br />

características <strong>de</strong> resistência e rigi<strong>de</strong>z mais fracas <strong>em</strong> relação ao inicialmente admitido.<br />

Também a não mo<strong>de</strong>lação dos edifícios adjacentes por <strong>de</strong>sconhecimento do seu sist<strong>em</strong>a<br />

estrutural, teria permitido analisar o tipo <strong>de</strong> resposta <strong>em</strong> relação às <strong>de</strong>formações impostas pelo<br />

terreno na fundação. E por fim, um probl<strong>em</strong>a geralmente encontrado nas obras geotécnicas: a<br />

assumpção <strong>de</strong> parâmetros geotécnicos diferentes dos reais, <strong>de</strong>vido à incerteza associada à<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>stes, ainda que por meio dos ensaios realizados. Contudo, apesar dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos excessivos verificados <strong>em</strong> alguns alvos topográficos, e dos valores registados<br />

nos fissurómetros instalados na Embaixada da Bélgica e no Infantário, verificou-se que ao<br />

longo do t<strong>em</strong>po e à medida que foram sendo aplicadas as medidas preventivas e <strong>de</strong> reforço, o<br />

comportamento das <strong>de</strong>formações evoluiu para uma tendência <strong>de</strong> estabilização, que se<br />

manteve até à conclusão dos trabalhos.<br />

Em relação à mo<strong>de</strong>lação numérica da solução, a análise efectuada permitiu concluir que<br />

exist<strong>em</strong> algumas limitações na utilização do Plaxis a duas dimensões, no que diz respeito à<br />

simulação da técnica <strong>de</strong> Muros <strong>de</strong> Munique, pois este não consegue recriar o efeito <strong>de</strong> arco<br />

criado pelas banquetas <strong>de</strong> solo, aquando da abertura dos painéis primários, e respectivos<br />

efeitos <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos. Através da retroanálise <strong>de</strong> uma das zonas analisadas, foi<br />

possível constatar que as diferenças entre as <strong>de</strong>formações previstas <strong>em</strong> projecto e as<br />

verificadas na realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veram-se provavelmente ao facto dos módulos <strong>de</strong> <strong>de</strong>formabilida<strong>de</strong><br />

do estrato M1 ter<strong>em</strong> valores superiores aos inicialmente admitidos, e o ângulo <strong>de</strong> atrito interno<br />

e a coesão, valores inferiores. Concluiu-se também que nesta zona, o estrato com mais<br />

influência nas <strong>de</strong>formações horizontais da cortina e do próprio terreno foi o M1, o que fez<br />

sentido, visto que na secção analisada a escavação foi realizada praticamente toda<br />

atravessando esta zona geotécnica. A breve análise <strong>de</strong> risco realizada, permitiu concluir que os<br />

métodos utilizados forneceram previsões razoáveis, e cuja falta <strong>de</strong> precisão foi afectada pelas


Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

discrepâncias entre o comportamento da escavação e a mo<strong>de</strong>lação, e pela a<strong>de</strong>quação da<br />

classificação <strong>de</strong> danos ao tipo <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a estrutural do edifício.<br />

Em suma, <strong>de</strong>staca-se mais uma vez o papel crucial do Plano <strong>de</strong> Instrumentação e Observação<br />

neste tipo <strong>de</strong> obras, e nesta <strong>em</strong> particular, como ferramenta que se revelou fundamental na<br />

impl<strong>em</strong>entação at<strong>em</strong>pada <strong>de</strong> medidas que permitiram assegurar a execução e manutenção da<br />

obra, assim como a preservação das estruturas e infra-estruturas vizinhas, <strong>em</strong> condições <strong>de</strong><br />

segurança e <strong>de</strong> economia.<br />

6.2 Desenvolvimentos futuros<br />

O t<strong>em</strong>a abordado nesta dissertação caracteriza-se por ser bastante vasto, havendo assim lugar<br />

para <strong>de</strong>senvolvimentos <strong>em</strong> trabalhos futuros, aprofundando múltiplos aspectos referidos. Nesse<br />

sentido, indicam-se <strong>de</strong> seguida alguns <strong>de</strong>sses aspectos e vias <strong>de</strong> estudo, passíveis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvidos futuramente, visando compl<strong>em</strong>entar a presente dissertação sobre escavações e<br />

contenções periféricas <strong>em</strong> meio urbano.<br />

� Análise <strong>de</strong> obras s<strong>em</strong>elhantes com um plano <strong>de</strong> instrumentação mais elaborado e com<br />

leituras <strong>de</strong> maior frequência, incluindo inclinómetros, marcas topográficas, alvos dispostos<br />

a vários níveis da cortina, <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r realizar análises mais directas envolvendo<br />

resultados <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lação e <strong>de</strong> campo.<br />

� Aferição do sist<strong>em</strong>a estrutural das construções vizinhas para, se necessário, fazer uma<br />

análise <strong>de</strong> risco mais <strong>de</strong>talhada e objectiva, <strong>em</strong> que o factor incerteza será menor, e as<br />

medidas preventivas aplicadas com maior antecipação. Fazer a mo<strong>de</strong>lação dos edifícios<br />

adjacentes com programas a<strong>de</strong>quados, que permitam prever os danos que possam ser<br />

provocados pelos movimentos do terreno <strong>de</strong>vido a escavações, com base num<br />

levantamento dos sist<strong>em</strong>as estruturais dos mesmos.<br />

� Mo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> solução <strong>em</strong> programas 3D, que consegu<strong>em</strong> simular melhor o<br />

efeito <strong>de</strong> arco, e consequent<strong>em</strong>ente o comportamento da cortina segundo este método<br />

construtivo. Avaliar o efeito do volume das banquetas durante o faseamento construtivo,<br />

nas <strong>de</strong>formações da cortina, e envolvente.<br />

� Realização <strong>de</strong> uma retroanálise mais exaustiva <strong>em</strong> que se variass<strong>em</strong> mais parâmetros<br />

geotécnicos e mesmo dos el<strong>em</strong>entos estruturais, e também utilizando outros mo<strong>de</strong>los<br />

constitutivos, a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r com mais certeza testar as várias hipóteses para explicar o<br />

comportamento real da contenção, <strong>de</strong> forma a obter melhores resultados nas obras<br />

seguintes com a mesma técnica, e <strong>em</strong> cenários geológico-geotécnicos s<strong>em</strong>elhantes.<br />

� Materialização na mo<strong>de</strong>lação das soluções da interface entre a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção e o<br />

solo, com o objectivo <strong>de</strong> se po<strong>de</strong>r aferir a a transmissão <strong>de</strong> tensão vertical por atrito lateral,<br />

do muro para o terreno, e o efeito <strong>de</strong>ste fenómeno nos <strong>de</strong>slocamentos previstos, e<br />

verificados.<br />

125


126<br />

<strong>Soluções</strong> <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> <strong>em</strong> <strong>Meio</strong> <strong>Urbano</strong> – Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

� Em análises futuras analisar com mais <strong>de</strong>talhe as zonas <strong>de</strong> plastificação da escavação e<br />

<strong>em</strong> redor <strong>de</strong>sta, no sentido <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r melhor o seu comportamento <strong>em</strong> termos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>formações.<br />

� Em relação à influência das vibrações provocadas pela utilização <strong>de</strong> meios pesados na<br />

escavação, nos edifícios vizinhos, sugere-se a realização <strong>de</strong> análises futuras que avali<strong>em</strong><br />

os seus efeitos <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> espectro <strong>de</strong> velocida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vibração: <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser assim<br />

analisados alguns dos parâmetros do espectro, tais como o valor <strong>de</strong> pico da velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vibração, a duração da acção, a frequência dominante (do espectro <strong>de</strong> Fourrier),<br />

comparando este último com a frequência própria das estruturas adjacentes.<br />

� Realização ao longo do t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> um trabalho completo <strong>de</strong> retroanálise para todos os<br />

métodos construtivos, incluindo as tecnologias utilizadas mais recent<strong>em</strong>ente, e para o<br />

máximo <strong>de</strong> tipo <strong>de</strong> terrenos possível, já que esta prática não é muito comum fora do meio<br />

académico, para escavações e contenções periféricas, sendo mais utilizada <strong>em</strong> projectos<br />

<strong>de</strong> túneis e <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> talu<strong>de</strong>s. Deveria então ser formada uma base <strong>de</strong> dados com<br />

partilha a nível mundial, que fosse reunindo os resultados <strong>de</strong>stes trabalhos, a fim <strong>de</strong> estes<br />

po<strong>de</strong>r<strong>em</strong> ser generalizados mais correctamente, e utilizados na prática da Engenharia Civil,<br />

com a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> haver simultaneamente ganhos <strong>de</strong> economia e segurança, passando a<br />

haver um grau <strong>de</strong> incerteza inferior ao geralmente associado a este tipo <strong>de</strong> intervenções.<br />

� Neste estudo não foi abordada a análise sísmica das estruturas envolvidas por se<br />

consi<strong>de</strong>rar que estas eram provisórias; no entanto, o muro <strong>de</strong> contenção foi dimensionado<br />

como estrutura <strong>de</strong>finitva tendo <strong>em</strong> conta o sismo <strong>de</strong> dimensionamento para a zona <strong>de</strong><br />

Lisboa <strong>de</strong>finido no EC8. Ainda assim, para a situação <strong>em</strong> que a estrutura se encontra a<br />

suportar a escavação (fase provisória), reconhece-se que o sismo <strong>de</strong> dimensionamento<br />

para estruturas provisórias <strong>de</strong>verá ser uma abordag<strong>em</strong> pertinente <strong>em</strong> estudos futuros.


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2011.<br />

[45] Afonso, F., M<strong>em</strong>ória Descritiva e Justificativa <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong><br />

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Consultadoria, Engenharia e Projectos, Vila Nova <strong>de</strong> Gaia, Junho <strong>de</strong> 2010.<br />

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<strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> do Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, JetSJ Geotecnia,<br />

Lda, Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010.<br />

[47] Arquivo <strong>de</strong> imagens e fotografias da <strong>em</strong>presa JetSJ Geotecnia, Lda.<br />

[48] Pita, X., Pinto, A., Peças <strong>de</strong>senhadas do Projecto <strong>de</strong> Execução <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e<br />

<strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> do Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, JetSJ Geotecnia, Lda,<br />

Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2010.<br />

[49] Tavares, A. J. C., Silva, R. P. A., Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, Reconhecimento<br />

Geológico-Geotécnico, Proc. 15110, Geoma Geotecnia e Mecânica dos Solos, Lda,<br />

Sta. Maria da Feira, Abril <strong>de</strong> 2010.<br />

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[51] Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, Santos, Lisboa, Relatórios <strong>de</strong> controlo <strong>de</strong> vibrações,<br />

Geofix – fundações e geotecnia, Lda, Lisboa, 2011.<br />

[52] Relatórios <strong>de</strong> leituras dos fissurómetros, Monitorização, Spybuilding – Inspecção <strong>de</strong><br />

Edifícios Lda, 2011.<br />

[53] Catálogo <strong>de</strong> fissurómetro - G1 Gauge, Saugnac Gauges®, obtido <strong>em</strong> www.saugnac-<br />

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[54] Pita, X., Pinto, A., Relatórios <strong>de</strong> Análise aos Resultados da Instrumentação, JetSJ<br />

Geotecnia, 2011.<br />

[55] Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, Santos, Lisboa, Fichas individuais <strong>de</strong> ensaios das<br />

ancoragens, Programa <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> acordo com norma EN 1537 – Exécution <strong>de</strong>s<br />

travaux géotechniques spéciaux – Tirants d’ancrage, Geofix – fundações e geotecnia,<br />

Lda, Lisboa, 2011.<br />

[56] Schanz, T., Vermeer, P. A., Bonnier P. G., The har<strong>de</strong>ning soil mo<strong>de</strong>l: Formulation and<br />

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[57] Brinkgreve, R. B. J., With co-operation of Al-Khoury, R., Bakker, K. J., Bonnier, P. G.,<br />

Brand, P. J. W., Broere, W., Burd, H. J., Soltys, G., Vermeer, P. A., .DOC Den Haag,<br />

Plaxis 2D – Version 8, A. A. Balk<strong>em</strong>a Publishers, Netherlands, Delft, 2002.<br />

[58] Calvello, M., Finno, R. J., Selecting parameters to optimize in mo<strong>de</strong>l calibration by<br />

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Environmental Engineering, Northwestern University, pp.411-425, Evanston, USA,<br />

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[59] Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça, Santos, Lisboa, Relatórios <strong>de</strong> instrumentação da<br />

células <strong>de</strong> carga das ancoragens, Geofix – fundações e geotecnia, Lda, Lisboa, 2011.<br />

131


132


ANEXOS<br />

133


134


Anexo I - Controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>: ensaios <strong>de</strong> carga nas ancoragens<br />

A norma europeia que fornece as indicações para o controlo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da execução das<br />

ancoragens é a EN 1537 [24]. O conjunto <strong>de</strong> regras inclui a especificação dos ensaios <strong>de</strong><br />

cargas que se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> realizar nas ancoragens. Exist<strong>em</strong> duas classes <strong>de</strong> ensaios: os <strong>de</strong><br />

conformida<strong>de</strong> (EP e EA), e os <strong>de</strong> aceitação (ERS). Os ensaios <strong>de</strong> conformida<strong>de</strong> englobam os<br />

Ensaios prévios (EP) e os Ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> (EA). Os ensaios <strong>de</strong> aceitação po<strong>de</strong>m<br />

também chamar-se ensaios <strong>de</strong> recepção simplificados (ERS).<br />

Cargas a aplicar nos ensaios<br />

As cargas a aplicar nos ensaios encontram-se <strong>de</strong>scritas na norma da seguinte forma:<br />

� Carga inicial ou <strong>de</strong> referência, Pa: correspon<strong>de</strong> à carga <strong>de</strong> alinhamento do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong><br />

pré-esforço;<br />

� Carga limite do ensaio, ou carga máxima <strong>de</strong> ensaio, Pp: correspon<strong>de</strong> à carga máxima a<br />

aplicar à ancorag<strong>em</strong> para a qual ainda se verifica a estabilização dos <strong>de</strong>slocamentos;<br />

� Carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>, P0: pré-esforço a aplicar para incorporar a ancorag<strong>em</strong> na<br />

estrutura;<br />

� Carga <strong>de</strong> serviço, P: representa o valor da carga <strong>de</strong> pré-esforço que assegura o nível<br />

<strong>de</strong> segurança necessário para que não ocorra o <strong>de</strong>slizamento da armadura, o<br />

arrancamento do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> e as <strong>de</strong>formações por fluência.<br />

São ainda apresentadas as seguintes variáveis, relevantes para os ensaios <strong>de</strong> carga das<br />

ancoragens:<br />

� Rd – capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> dimensionamento;<br />

� Ra – capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> carga ao arrancamento;<br />

� Ptk – carga característica da armadura;<br />

� Pt0,1k – carga característica com <strong>de</strong>formação permanente <strong>de</strong> 0,1%.<br />

Métodos <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> carga preconizados pela EN1537<br />

A EN 1537 indica 3 métodos <strong>de</strong> ensaios <strong>de</strong> carga para avaliar as características <strong>de</strong> resistência<br />

e <strong>de</strong> <strong>de</strong>formação das ancoragens. A carga <strong>de</strong>ve ser aplicada e aliviada <strong>de</strong> forma gradual <strong>em</strong><br />

todos os métodos <strong>de</strong> ensaio. O objectivo é não sujeitar a ancorag<strong>em</strong> a choques ou a cargas<br />

dinâmicas que possam interferir nos resultados. Durante os ensaios a ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser<br />

solicitada por incr<strong>em</strong>entos faseados <strong>de</strong> carga até atingir a carga máxima <strong>de</strong> ensaio, Pp <strong>de</strong><br />

acordo com os procedimentos <strong>de</strong> ensaio requeridos. O valor <strong>de</strong> pressão inicialmente exercido<br />

pelo macaco antes <strong>de</strong> se iniciar a sequência <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> cargas, correspon<strong>de</strong>nte à carga<br />

inicial (Pa), assume gran<strong>de</strong> relevância. T<strong>em</strong> o objectivo <strong>de</strong> equilibrar o sist<strong>em</strong>a, absorver as<br />

folgas iniciais e verificar a posição geométrica e o estado <strong>de</strong> cada componente [24].<br />

135


Os ensaios prévios são ensaios que levam a ancorag<strong>em</strong> até à rotura, e permit<strong>em</strong> avaliar, antes<br />

da construção das ancoragens <strong>em</strong> obra, a capacida<strong>de</strong> resistente ao arrancamento (Ra), da<br />

ancorag<strong>em</strong> na interface calda-terreno, as características <strong>de</strong> fluência da ancorag<strong>em</strong> e o<br />

comprimento livre aparente da ancorag<strong>em</strong> (Lapp).<br />

Segundo a EN1537 [24], antes <strong>de</strong> realizar<strong>em</strong> os ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> analisar-se<br />

os resultados dos ensaios prévios disponíveis. Caso não se tenham realizado EP, as<br />

ancoragens a ensaiar na fase inicial com EA <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter armaduras com resistência superior à<br />

prevista para as ancoragens da obra. Se se dispuser dos resultados <strong>de</strong> ensaios prévios, os<br />

ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stinam-se a avaliar se o valor da fluência é aceitável, ou verificar<br />

as características <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> carga durante o ensaio, fornecer el<strong>em</strong>entos para análise dos<br />

resultados dos ensaios futuros, e avaliar a carga crítica <strong>de</strong> fluência. Se não tiver<strong>em</strong> havido<br />

ensaios prévios iniciais, e se não se dispuser <strong>de</strong> outros resultados <strong>de</strong> EP obtidos <strong>em</strong><br />

ancoragens s<strong>em</strong>elhantes construídas <strong>em</strong> terrenos com características equivalentes, os ensaios<br />

<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> têm como objectivo avaliar as características acima referidas, e também<br />

<strong>de</strong>finir os critérios <strong>de</strong> aceitação da fluência e da perda <strong>de</strong> carga a consi<strong>de</strong>rar para os ensaios<br />

<strong>de</strong> recepção simplificados.<br />

De acordo com a EN 1537 [24] todas as ancoragens <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser sujeitas a ERS com excepção<br />

das que já tenham sido sujeitas a outro ensaio <strong>de</strong> carga. Estes têm como objectivo <strong>de</strong>monstrar<br />

que a carga <strong>de</strong> ensaio po<strong>de</strong> ser suportada pela ancorag<strong>em</strong>, e assegurar que a carga <strong>de</strong><br />

blocag<strong>em</strong> aplicada é a<strong>de</strong>quada para garantir a carga <strong>de</strong> projecto, excluído o atrito.<br />

No Quadro A I. 1 po<strong>de</strong>m observar-se os valores indicados na EN 1537 relativamente às cargas<br />

a aplicar nas ancoragens, conforme o método e o tipo <strong>de</strong> ensaio.<br />

Quadro A I. 1– Carga a aplicar nos ensaios <strong>de</strong> ancoragens e carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

136<br />

Tipo <strong>de</strong> ensaio e<br />

método<br />

Métodos 1 e 2<br />

Método 3<br />

Ensaios prévios (EP) – Método 1<br />

Carga máxima <strong>de</strong> ensaio (Pp)<br />

EP Ra ou ≤ 0.80 Ptk ou ≤ 0.95 Pt0,1k<br />

EA ≥ 1.25 P0 ou ≥ Rd; ≤ 0.95 Pt0,1k<br />

ERS ≥ 1,25 P0; ≤ 0.90 Pt0,1k<br />

EP Ra ou ≤ 0.80 Ptk ou ≤ 0.90 Pt0,1k<br />

EA ≥ 1.25 P0 ou ≥ Rd; ≤ 0.90 Pt0,1k<br />

ERS 1.25 P0 ou Rd; ≤ 0.90 Pt0,1k<br />

Carga <strong>de</strong><br />

blocag<strong>em</strong><br />

(P0)<br />

≤ 0.60 Ptk,<br />

respeitando os<br />

limites <strong>de</strong><br />

fluência e <strong>de</strong><br />

perdas <strong>de</strong><br />

carga<br />

Carga inicial (Pa)<br />

10% Pp<br />

Neste ensaio as tracções aplicam-se incr<strong>em</strong>entalmente, num ou mais ciclos que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a carga inicial até à carga máxima <strong>de</strong> ensaio (Pp). Dev<strong>em</strong> medir-se os <strong>de</strong>slocamentos da


cabeça, e a respectiva carga durante um intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, até à carga máxima <strong>de</strong> cada ciclo<br />

(Figura A I. 1). A carga Pp <strong>de</strong>ve ser distribuída, no mínimo, <strong>em</strong> 6 ciclos <strong>de</strong> carga.<br />

Figura A I. 1 – Sequência <strong>de</strong> carregamento segundo o método 1 (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> (EA) – Método 1<br />

Para o ensaio <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> a carga máxima <strong>de</strong> ensaio Pp <strong>de</strong>ve ser distribuída, no mínimo,<br />

<strong>em</strong> 5 ciclos <strong>de</strong> carga, omitindo o primeiro ciclo <strong>de</strong> carga do Quadro A I. 2.<br />

Ensaios <strong>de</strong> recepção simplificada (ERS) – Método 1<br />

Nos ensaios <strong>de</strong> recepção simplificados a carga <strong>de</strong>ve ser aplicada na ancorag<strong>em</strong> até à carga<br />

máxima, no mínimo com 3 incr<strong>em</strong>entos iguais. Quando se atingir a carga máxima, a<br />

ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>scarregada até à carga inicial <strong>de</strong> referência, Pa, seguindo-se novamente<br />

a aplicação <strong>de</strong> cargas até à carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>, P0.<br />

Quadro A I. 2 – Ciclos <strong>de</strong> carga e t<strong>em</strong>pos mínimos <strong>de</strong> observação para EP e EA: métodos 1 e 2<br />

(adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Nível <strong>de</strong> carga, <strong>em</strong> % Pp (%)<br />

Ciclo 1 Ciclo 2 Ciclo 3 Ciclo 4 Ciclo 5 Ciclo 6<br />

10<br />

T<strong>em</strong>po mínimo <strong>de</strong><br />

observação [min] (Só para o<br />

método 1)<br />

10 10 10 10 10 1<br />

25 40 55 70 85 1<br />

25 40 55 70 85 100 15 (60 ou 180*)<br />

25 40 55 70 85 1<br />

10<br />

10 10 10 10 10 1<br />

*Nota: No método 2, on<strong>de</strong> o pico <strong>de</strong> carga correspon<strong>de</strong> à carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> (P0), o período <strong>de</strong><br />

observação é extendido – ver Quadro A I.1.<br />

Ensaios prévios (EP) – Método 2<br />

Neste ensaio a aplicação do pré-esforço é incr<strong>em</strong>ental, <strong>em</strong> ciclos que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a carga<br />

inicial até à carga <strong>de</strong> ensaio, ou até à rotura. A perda <strong>de</strong> carga na cabeça da ancorag<strong>em</strong><br />

regista-se mantendo o <strong>de</strong>slocamento constante, durante um <strong>de</strong>terminado intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po<br />

enquanto é exercida a carga máxima <strong>de</strong> cada ciclo incr<strong>em</strong>ental, nomeadamente ao nível da<br />

carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>. A carga Pp a aplicar <strong>de</strong>ve ser distribuída, no mínimo, por 6 ciclos <strong>de</strong> carga<br />

(Figura A I. 2).<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pp [kN]<br />

Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm]<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pa [kN]<br />

137


138<br />

Figura A I. 2 - Sequência <strong>de</strong> carregamento segundo o método 2 (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Se <strong>de</strong>correr<strong>em</strong> 7 períodos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po (ou 3 dias), e a perda <strong>de</strong> carga acumulada para a tracção<br />

<strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> proposta não exce<strong>de</strong>r os valores admissíveis, e as perdas <strong>de</strong> carga por intervalo<br />

<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po não aumentar<strong>em</strong>, po<strong>de</strong> terminar-se o ciclo e prosseguir com o ensaio até atingir Pp,<br />

ou a rotura. Se a perda <strong>de</strong> carga admissível for excedida e/ou se a perda <strong>de</strong> carga aumentar<br />

por intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, po<strong>de</strong>rá aumentar-se o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> observação para 8 períodos (10 dias),<br />

ou mais, até estabilizar.<br />

Ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> (EA) – Método 2<br />

A ancorag<strong>em</strong> é tencionada até à carga máxima <strong>de</strong> ensaio, Pp, com 2 ciclos <strong>de</strong> carga, com a<br />

sequência <strong>de</strong> 10%Pp, 25%Pp, 50%Pp, 75%Pp, 100%Pp, 75%Pp, 50%Pp, 10%Pp, voltando a<br />

incr<strong>em</strong>entar a carga até à tracção <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>, P0. A perda <strong>de</strong> carga (K1) registada quando<br />

está instalada a carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> não <strong>de</strong>ve exce<strong>de</strong>r os limites <strong>de</strong>finidos para 7 períodos <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po (3 dias).<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pp [kN]<br />

Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm]<br />

Ensaios <strong>de</strong> recepção simplificada (ERS) – Método 2<br />

A ancorag<strong>em</strong> é solicitada até à carga máxima <strong>de</strong> ensaio, no mínimo, <strong>em</strong> 3 incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong><br />

carga iguais, após o que se alivia a carga da ancorag<strong>em</strong> até ao valor inicial, Pa, e se traciona<br />

novamente até P0. O comportamento da ancorag<strong>em</strong> é observado durante 3 períodos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po<br />

(50 minutos), ao nível <strong>de</strong> P0, não <strong>de</strong>vendo a perda <strong>de</strong> carga exce<strong>de</strong>r os valores acumulados<br />

indicados no Quadro A I. 3. Se as perdas exce<strong>de</strong>r<strong>em</strong> esses valores o ensaio <strong>de</strong>verá prolongar-<br />

se até estas estabilizar<strong>em</strong> com valores consi<strong>de</strong>rados aceitáveis.<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pa [kN]


Quadro A I. 3 – T<strong>em</strong>po, períodos e critérios <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong> carga: método 2 (adaptado<br />

<strong>de</strong> [24])<br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> observação<br />

(min)<br />

Número do período <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po<br />

Perda <strong>de</strong> carga<br />

acumulada Kl,<br />

admissível (% <strong>de</strong> carga<br />

aplicada) (%)<br />

5 1 1<br />

15 2 2<br />

30 3 3<br />

150 4 4<br />

500 5 5<br />

1500 (cerca <strong>de</strong> 1 dia) 6 6<br />

5000 (cerca <strong>de</strong> 3 dias) 7 7<br />

15000 (cerca <strong>de</strong> 10 dias) 8 8<br />

Ensaios prévios (EP) – Método 3<br />

Neste ensaio a aplicação do pré-esforço também é incr<strong>em</strong>ental, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a carga inicial até à<br />

carga <strong>de</strong> ensaio. Os <strong>de</strong>slocamentos da cabeça <strong>de</strong> ancorag<strong>em</strong> registam-se a carga constante,<br />

<strong>em</strong> cada incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga (Figura A I. 3, à esquerda). A carga <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong>ve distribuir-se,<br />

no mínimo, <strong>em</strong> 6 patamares <strong>de</strong> carga. No Quadro A I. 4 encontram-se os incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga<br />

e os t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> observação mínimos. Caso os valores <strong>de</strong> fluência sejam pouco relevantes o<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> monitorização po<strong>de</strong> reduzir-se para 30 minutos.<br />

Ensaios <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong> (EA) – Método 3<br />

Este ensaio é s<strong>em</strong>elhante ao <strong>de</strong>scrito anteriormente, com a diferença da carga <strong>de</strong> ensaio po<strong>de</strong>r<br />

ser distribuída <strong>em</strong> 5 patamares <strong>de</strong> carga (Figura A I. 3, à direita).<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pt0,1k [kN]<br />

Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm] Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm]<br />

Figura A I. 3 – Sequência <strong>de</strong> carregamento dos ensaios prévios (à esquerda) e <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quabilida<strong>de</strong><br />

(à direita) segundo o Método 3 (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Ensaios <strong>de</strong> recepção simplificada (ERS) – Método 3<br />

A ancorag<strong>em</strong> é tencionada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a carga inicial até à carga <strong>de</strong> ensaio, <strong>em</strong> pelo menos, 4<br />

incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga. A carga <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong>ve manter-se constante durante um período<br />

mínimo <strong>de</strong> 15 minutos (Figura A I. 4).<br />

Carga aplicada <strong>em</strong> %Pp [kN]<br />

Carga <strong>de</strong><br />

ensaio<br />

139


Figura A I. 4 - Sequência <strong>de</strong> carregamento do ensaio <strong>de</strong> recepção segundo o Método 3 (adaptado<br />

<strong>de</strong> [24])<br />

140<br />

Carga<br />

aplicada [kN]<br />

Quadro A I. 4 – Incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga e t<strong>em</strong>pos mínimos <strong>de</strong> monitorização dos EP: Método 3<br />

(adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga %Pt0,1k<br />

Carga<br />

inicial<br />

1 2 3 4 5 6 7 8<br />

Número do<br />

incr<strong>em</strong>ento<br />

10 20 30 40 50 60 70 80 90 %Pt0,1k<br />

0<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

Notas: Começa com carga inicial Pa=0,1 Pt0,1k; Ex<strong>em</strong>plo para 8 incr<strong>em</strong>entos.<br />

60<br />

(30)<br />

Período <strong>de</strong><br />

monitorização<br />

(min)<br />

Quadro A I. 5 – Incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga e t<strong>em</strong>pos mínimos <strong>de</strong> monitorização dos EA: Método 3<br />

(adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Incr<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> carga %Pp<br />

Carga inicial 1 2 3 4 5 6 Número do incr<strong>em</strong>ento<br />

10 20 30 40 50 60 70 %Pp<br />

0<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

60<br />

(30)<br />

Nota: Começa com carga inicial Pa = 0,1 Pp; Ex<strong>em</strong>plo para 6 incr<strong>em</strong>entos.<br />

Características <strong>de</strong> fluência obtidas nos ensaios <strong>de</strong> carga<br />

Período <strong>de</strong> monitorização (min)<br />

A fluência é uma das gran<strong>de</strong>zas que os ensaios acima <strong>de</strong>scritos permit<strong>em</strong> avaliar, através dos<br />

<strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> fluência e perda <strong>de</strong> carga. Estes são movimentos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do t<strong>em</strong>po,<br />

que se verificam ao nível da selag<strong>em</strong> através do solo, <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> do progressivo <strong>de</strong>slocamento<br />

da armadura relativamente à calda, e da fluência da própria armadura. No Quadro A I. 6<br />

encontram-se esqu<strong>em</strong>atizados os valores limite <strong>de</strong> fluência e perda <strong>de</strong> carga, para cada tipo <strong>de</strong><br />

ensaio, e cada método.<br />

Fluência<br />

Carga <strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Carga<br />

aplicada<br />

[kN]<br />

Fluência<br />

Atrito como<br />

uma proporção<br />

<strong>de</strong> pfPp<br />

Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm] Deslocamento na ancorag<strong>em</strong> [mm]<br />

Método 1 – Medição das características <strong>de</strong> fluência<br />

O coeficiente <strong>de</strong> fluência (Ks) calcula-se por meio <strong>de</strong> uma taxa <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamentos constante,<br />

<strong>em</strong> dois intervalos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po consecutivos, através da seguinte equação:<br />

Carga <strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Atrito como<br />

uma proporção<br />

<strong>de</strong> pfPp<br />

S<strong>em</strong> ciclo Com 1 ciclo<br />

parcial


Em que,<br />

ks – coeficiente <strong>de</strong> fluência (mm);<br />

δ1 – <strong>de</strong>slocamento na cabeça da ancorag<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po t1 (mm);<br />

δ2 – <strong>de</strong>slocamento na cabeça da ancorag<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po t2 (mm);<br />

ti – t<strong>em</strong>po após a aplicação do incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga (minutos).<br />

Assim, o objectivo <strong>de</strong> se estimar o coeficiente <strong>de</strong> fluência é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar os movimentos <strong>de</strong><br />

fluência da ancorag<strong>em</strong> ao nível do bolbo <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> do terreno. Os movimentos <strong>de</strong>terminados<br />

<strong>em</strong> cada ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> respeitar os limites impostos pelos critérios <strong>de</strong> aceitação<br />

previamente <strong>de</strong>finidos pela EN 1537 [24]. O coeficiente <strong>de</strong> fluência limite correspon<strong>de</strong> ao valor<br />

máximo indicado para o respectivo nível <strong>de</strong> carga, <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com o disposto para o<br />

respectivo tipo <strong>de</strong> ensaio (Quadro A I. 6).<br />

Método 2 – Medição das características <strong>de</strong> perda <strong>de</strong> carga<br />

Quando se aplica a carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve garantir-se que o <strong>de</strong>slocamento da cabeça da<br />

ancorag<strong>em</strong> relativamente à estrutura é constante, e que a carga é monitorizada. As<br />

características da perda <strong>de</strong> carga são representativas da perda <strong>de</strong> carga real se esta for<br />

aplicada à estrutura através da cabeça da ancorag<strong>em</strong>. Se a perda <strong>de</strong> carga for usada para<br />

interpretar o <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> fluência da selag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ve ter-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o efeito da<br />

influência do comprimento livre da ancorag<strong>em</strong>, ou seja, quanto maior for o comprimento livre da<br />

ancorag<strong>em</strong>, menor é o efeito das perdas <strong>de</strong> carga, para o mesmo valor absoluto <strong>de</strong> fluência da<br />

selag<strong>em</strong> [24].<br />

Método 3 – Medição da fluência e da carga característica<br />

A fluência e a carga característica po<strong>de</strong>m ser registadas e avaliadas das seguintes formas [24]:<br />

� O incr<strong>em</strong>ento do <strong>de</strong>slocamento da cabeça da ancorag<strong>em</strong>, relativo a um ponto fixo, <strong>de</strong>ve<br />

ser registado <strong>em</strong> cada passo <strong>de</strong> carga <strong>em</strong> t<strong>em</strong>os diferentes;<br />

� O <strong>de</strong>slocamento por fluência α <strong>de</strong>ve ser calculado <strong>em</strong> cada incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga, como se<br />

apresenta na Figura A I. 5. O <strong>de</strong>slocamento por fluência <strong>de</strong>fine-se como sendo a inclinação<br />

dos <strong>de</strong>slocamentos da cabeça da ancorag<strong>em</strong> versus o log. da curva do t<strong>em</strong>po, no fim <strong>de</strong><br />

cada incr<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga;<br />

� A resistência da ancorag<strong>em</strong> Ra é a carga correspon<strong>de</strong>nte à assímptota vertical <strong>de</strong> α versus<br />

a curva <strong>de</strong> carga. Se não houver possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a assímptota, <strong>de</strong>ve<br />

consi<strong>de</strong>rar-se que Ra correspon<strong>de</strong> ao valor para o qual α é igual a 5 mm (Figura A I. 6).<br />

� O valor da carga crítica <strong>de</strong> fluência Pc <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>terminado como se indica na Figura A I.<br />

6. A carga crítica <strong>de</strong> fluência é a carga correspon<strong>de</strong>nte ao fim do primeiro ramo linear do<br />

gráfico α versus curva <strong>de</strong> carga. Quando há dificulda<strong>de</strong>s na avaliação precisa da gran<strong>de</strong>za<br />

141


142<br />

<strong>de</strong> Pc po<strong>de</strong> recorrer-se à alternativa apresentada na Figura A I. 6, obtendo neste caso um<br />

valor <strong>de</strong> P’c, e Pc será <strong>de</strong>finido por: Pc=0.9P’c.<br />

Os <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong> fluência <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser medidos após cada alteração da carga, <strong>de</strong> acordo<br />

com os t<strong>em</strong>pos indicados no Quadro A I. 6.<br />

Figura A I. 5 – Deslocamento <strong>de</strong> fluência versus log do t<strong>em</strong>po, e <strong>de</strong>clive αn para o método 3<br />

(adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Figura A I. 6 – Fluência versus carga aplicada para o método 3<br />

Quadro A I. 6 – Deslocamentos <strong>de</strong> fluência e perda <strong>de</strong> carga acumulada: Critérios <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong><br />

ancoragens <strong>de</strong>finitivas sujeitas a ensaios <strong>de</strong> carga (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Método<br />

<strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Método 1<br />

Método 2<br />

Deslocamento<br />

<strong>de</strong> fluência<br />

Fluência<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Limite<br />

admissível<br />

EP Ks ≤ 2 mm (1)<br />

EA com EP<br />

EA s<strong>em</strong> EP<br />

ERS para Pp<br />

ERS para P0<br />

Ks ≤ 1 mm (5)<br />

Ks ≤ 0.8 mm (5)<br />

Ks ≤ 0.8 mm<br />

Ks ≤ 0.5 mm<br />

Critério<br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

observação<br />

≥ 15 minutos (2)<br />

≥ 60 minutos (3)<br />

≥ 180 minutos (4)<br />

≥ 15 minutos (2)<br />

≥ 60 minutos (3)<br />

≥ 180 minutos (4)<br />

≥ 5 minutos<br />

≥ 5 minutos<br />

Notas<br />

(1) Valor associado à rotura por<br />

fluência<br />

(2) para cargas < Pp<br />

(3) solos argilosos: para Pp<br />

(4) solos arenosos: para Pp<br />

(5) valores para Pp<br />

No ERS Ks po<strong>de</strong> atingir 1 mm para<br />

Pp caso os EP document<strong>em</strong> a sua<br />

aceitabilida<strong>de</strong><br />

EP K1 ≤ 7% P’ ≥ 3 dias (t períodos) P’ – carga do patamar<br />

EA K1 ≤ 7% P’ ≥ 3 dias (7 períodos)<br />

ERS para P0<br />

K1 ≤ 3% P’<br />

ou<br />

K1 ≤ 6% P0<br />

≥ 50 minutos (3<br />

períodos)<br />

1 dia (6 períodos)<br />

Log do t<strong>em</strong>po<br />

Carga aplicada [kN]<br />

K1 – perda <strong>de</strong> carga a<br />

<strong>de</strong>slocamento constante<br />

K1 admissível é <strong>de</strong> 1% da carga<br />

aplicada <strong>em</strong> cada período, sendo<br />

o total do valor acumulado


Método<br />

<strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Método 3<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

ensaio<br />

Limite<br />

admissível<br />

EP -<br />

EA com EP<br />

EA s<strong>em</strong> EP<br />

ERS com EP<br />

ERS s<strong>em</strong> EP<br />

α ≤ 1 mm<br />

α ≤ 0.8 mm (6)<br />

α ≤ 1.5 mm (7)<br />

α ≤ 1.2 mm<br />

Avaliação do comprimento livre aparente<br />

Critério<br />

T<strong>em</strong>po <strong>de</strong><br />

observação<br />

≥ 60 minutos<br />

≥ (30 minutos)<br />

≥ 60 minutos<br />

≥ (30 minutos)<br />

≥ 15 minutos<br />

Notas<br />

EP realizam-se até ocorrer rotura<br />

ou atingir Pp.<br />

No caso dos EP e dos EA po<strong>de</strong><br />

reduzir-se o t<strong>em</strong>po para 30<br />

minutos caso os solos não<br />

apresent<strong>em</strong> fluência significativa.<br />

(6) <strong>em</strong> ancoragens provisórias α ≤<br />

1.2 mm<br />

(7) <strong>em</strong> ancoragens provisórias α ≤<br />

1.8 mm<br />

O comprimento livre aparente (Lapp) é calculado a partir da medida da extensão do cabo (∆s),<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong> fixação da cabo, até ao macaco, ou a partir dum ponto <strong>de</strong> referência ligado<br />

ao cabo. Este valor <strong>de</strong>fine a localização duma zona fictícia da ancorag<strong>em</strong>, fixa, que po<strong>de</strong> ser<br />

comparada com a zona do fim do comprimento livre. Assim, o comprimento livre aparente po<strong>de</strong><br />

ser calculado através da seguinte expressão:<br />

Em que,<br />

Lapp – comprimento livre aparente do cabo;<br />

At – secção do cabo;<br />

Et – módulo <strong>de</strong> elasticida<strong>de</strong> do cabo da ancorag<strong>em</strong>;<br />

∆s – extensão elástica do cabo;<br />

∆P – diferença entre a carga <strong>de</strong> ensaio e a carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>;<br />

f – perda <strong>de</strong> atrito <strong>em</strong> percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Pp.<br />

De acordo com a EN 1537 [24] o valor obtido para o comprimento livre aparente <strong>de</strong>ve situar-se<br />

entre os seguintes limites (para o limite superior <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar-se o máximo dos dois<br />

valores):<br />

� Lapp ≤ Ltf + Le + 0.5 Ltb;<br />

� Lapp≤ 1.10 Ltf + Le;<br />

� Lapp ≥ 0.80 Ltf + Le<br />

Em que,<br />

Ltf – comprimento livre do cabo;<br />

143


Le – comprimento externo do cabo, medido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cabo na cabeça da ancorag<strong>em</strong> até ao<br />

ponto <strong>de</strong> tensionamento da ancorag<strong>em</strong> com o macaco;<br />

Ltb – comprimento <strong>de</strong> ligação do cabo.<br />

On<strong>de</strong> houver atrito significativo no comprimento livre po<strong>de</strong> ser usado o método ilustrado na<br />

Figura A I. 7, que consi<strong>de</strong>ra a histerese entre uma curva <strong>de</strong> carga e <strong>de</strong>scarga, para estimar a<br />

magnitu<strong>de</strong> da rigi<strong>de</strong>z elástica aparente do comprimento livre (∆P/∆s). On<strong>de</strong> o atrito exce<strong>de</strong>r<br />

5%Pp, este resultado <strong>de</strong>ve ser tido <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração na <strong>de</strong>terminação da carga <strong>de</strong> ensaio<br />

mínima ou na carga <strong>de</strong> blocag<strong>em</strong>. Se necessário a carga <strong>de</strong> ensaio po<strong>de</strong>rá ser reduzida. Se o<br />

comprimento livre aparente do cabo estiver fora dos limites acima referidos a ancorag<strong>em</strong><br />

po<strong>de</strong>rá ser sujeita a repetitivos ciclos <strong>de</strong> carga até Pp. Se a ancorag<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrar um<br />

comportamento <strong>de</strong> repetição da carga/extensão, esta po<strong>de</strong>rá ser aceite pelo projectista.<br />

144<br />

Carga aplicada (P)<br />

Atrito<br />

Figura A I. 7 – Estimativa da rigi<strong>de</strong>z elástica on<strong>de</strong> houver atrito significativo (adaptado <strong>de</strong> [24])<br />

Atrito<br />

Inclinação da carga<br />

vs. Curva <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>slocamentos ∆P/∆s<br />

Deslocamento (s)


Anexo II – Descrição das visitas realizadas ao local do caso <strong>de</strong> estudo<br />

– <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong> <strong>Periférica</strong> para construção do<br />

Empreendimento Palácio dos Con<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Murça<br />

Como as visitas à obra só tiveram início dia 18 <strong>de</strong> Março segue-se um registo das visitas<br />

anteriores, efectuadas pelos projectistas. As informações acerca do estado dos trabalhos foi<br />

obtida com base nos relatórios dos alvos topográficos [49], nas fotografias fornecidas e nas<br />

<strong>de</strong>scrições presentes nos relatórios da instrumentação [53].<br />

Visita 01 – 3 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro<br />

Nesta fase procedia-se à inserção dos perfis metálicos no canto F, e à execução <strong>de</strong> troços <strong>de</strong><br />

pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> contenção no alçado FG. Tinha também havido já algum avanço na escavação geral<br />

no recinto (Figura A II. 1 e Figura A II. 2).<br />

Figura A II. 1 – Vista do canto F Figura A II. 2 – Vista geral do recinto<br />

Visita 02 – 10 <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro<br />

Procedia-se à execução <strong>de</strong> microestacas nos alçados A a E e início da escavação nos alçados<br />

F a H. No alçado EF foi realizado um poço <strong>de</strong> reconhecimento <strong>de</strong> fundações, nas próximida<strong>de</strong>s<br />

do alvo A7. Como se po<strong>de</strong> observar na Figura A II. 3, o terreno apresentava sinais <strong>de</strong> falta <strong>de</strong><br />

coesão <strong>de</strong>vido à precepitação intensa e às perturbações provocadas pela escavação, e<br />

também a zona sensível no alçado EF envolvendo o muro existente.<br />

Figura A II. 3 – Vista dos alçados DF e canto F<br />

145


Visita 03 – 5 <strong>de</strong> Janeiro<br />

Decorriam os trabalhos <strong>de</strong> escavação (Figura A II. 4), e execução <strong>de</strong> painéis e ancoragens e<br />

aplicação <strong>de</strong> pré-esforço, no alçado FG (Figura A II. 5).<br />

Figura A II. 4 – Vista dos alçados DF, parte do<br />

FG e canto F<br />

Visita 04 – 10 <strong>de</strong> Janeiro<br />

146<br />

Figura A II. 5 – Vista do alçado FG<br />

Procedia-se já ao prologamento dos troço <strong>de</strong> contenção para a contenção das fachadas<br />

vizinhas, no início do alçado FG (Figura A II. 6). Decorria também a execução <strong>de</strong> ancoragens<br />

na viga <strong>de</strong> coroamento no alçado DE, e também a escavação e execução <strong>de</strong> painéis do 2º<br />

nível no alçado GH (Figura A II. 7).<br />

Figura A II. 6 – Vista <strong>em</strong> pormenor do alçado FG Figura A II. 7– Alçados FG e GJ<br />

Visita 05 – 3 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

Nesta fase procedia-se à execução da viga e muros nos alçados DE, e também à execução da<br />

primeira laje <strong>de</strong> travamento entre os alçados EF e FG (Figura A II. 8). Abertura <strong>de</strong> paineis do 1º<br />

nível nos alçados HI e 2º nível no alçado FG (Figura A II. 9); execução <strong>de</strong> perfis HEB nos<br />

alçados IK.


Figura A II. 8 – Vista geral do canto F Figura A II. 9 – Alçado FG<br />

Visita 06 – 28 <strong>de</strong> Fevereiro<br />

Continua a <strong>de</strong>correr a escavação geral, a execução <strong>de</strong> painéis, ancoragens e pré-esforço nos<br />

alçados A a E (Figura A II. 10) e FG; a abertura dos painéis no alçado HI tinha sido suspensa<br />

t<strong>em</strong>porariamente, e usadas as terras retiradas da escavação para aterrar aquela zona (Figura<br />

A II. 11).<br />

Figura A II. 10 – Vista geral do recinto Figura A II. 11 – Alçados FG, GH e HI<br />

Visita 1 – 18 <strong>de</strong> Março<br />

Na primeira visita realizada à obra, tinham sido já adoptadas algumas medidas <strong>de</strong> reforço,<br />

<strong>de</strong>vido aos dados fornecidos pela instrumentação, e como indicado no Plano <strong>de</strong><br />

Instrumentação e Observação.<br />

No alçado JH a escavação e execução dos painéis <strong>de</strong> betão armado do 1º nível estava<br />

t<strong>em</strong>porariamente suspensa, <strong>de</strong>vido aos <strong>de</strong>slocamentos excessivos que estavam a ocorrer, e<br />

abertura <strong>de</strong> fendas que se estava a verificar no edifício vizinho (Infantário). No alçado HG<br />

encontravam-se já executados 2 níveis <strong>de</strong> painéis ancorados. No alçado FG os dois primeiros<br />

níveis <strong>de</strong> painéis encontravam-se já quase completamente executados e ancorados, e estava a<br />

<strong>de</strong>correr a escavação e execução <strong>de</strong> painéis do 3º e 4º níveis. Já se encontrava feito o<br />

prolongamento superior do muro, para contenção das fachadas dos edifícios vizinhos, como<br />

medida <strong>de</strong> reforço (Figura A II. 12).<br />

147


148<br />

Figura A II. 12 - Vista do Alçado FG<br />

Como se po<strong>de</strong> ver na Figura A II. 13, já tinha começado a ser aplicada outra das medidas <strong>de</strong><br />

reforço, que consistiu no escoramento do canto F com troços <strong>de</strong> laje <strong>em</strong> betão armado, que<br />

seriam <strong>de</strong>pois solidarizados com as lajes dos pisos da superestrutura. A esta data já tinha sido<br />

executado o 1º troço <strong>de</strong> laje, e o 2º estava na fase <strong>de</strong> montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> cofragens. Estavam<br />

também a ocorrer as escavações para abertura <strong>de</strong> painéis do 2º nível, e betonagens no alçado<br />

AF, e já tinham sido aplicadas as medidas <strong>de</strong> reforço no alçado EF, que correspondiam<br />

também ao prolongamento dos muros <strong>de</strong> betão armado para cima da viga <strong>de</strong> coroamento, com<br />

o objectivo <strong>de</strong> conter os terrenos vizinhos e muros existentes (Figura A II. 14).<br />

Figura A II. 13 – Vista do troço <strong>de</strong> laje no canto<br />

F<br />

Visita 2 – 23 <strong>de</strong> Março<br />

Figura A II. 14 – Vista da contenção no alçado<br />

DF<br />

Na segunda visita realizada, os trabalhos no alçado JG permanecia t<strong>em</strong>porariamente suspenso<br />

(Figura A II. 15), enquanto era adiantada a contenção nas outras zonas do recinto. O 2º nível<br />

<strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje do canto F já tinha sido betonado, e ocorriam trabalhos <strong>de</strong> escavação para<br />

abertura <strong>de</strong> painéis <strong>de</strong>baixo da laje, e preparação para betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um painel junto <strong>de</strong>sta<br />

(Figura A II. 16).


Figura A II. 15 – Vista do alçado GH<br />

Como se po<strong>de</strong> observar na Figura A II. 17, estavam também a <strong>de</strong>correr trabalhos <strong>de</strong><br />

escavação para a abertura <strong>de</strong> painéis (alçado AF).<br />

Figura A II. 16 – Zona inferior do troço <strong>de</strong> laje<br />

Figura A II. 17 – <strong>Escavação</strong> para abertura <strong>de</strong><br />

painel<br />

Também no alçado AF ocorria a montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> armaduras para a betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um painel<br />

secundário. Como se po<strong>de</strong> ver na Figura A II. 18, a introdução da armadura para a ancorag<strong>em</strong>,<br />

e ligação com as existentes.<br />

Figura A II. 18 – Montag<strong>em</strong> <strong>de</strong> armaduras <strong>de</strong> painel (reforço para a zona <strong>de</strong> ancorag<strong>em</strong>)<br />

Visita 3 – 25 <strong>de</strong> Março<br />

Na 3ª visita prosseguiam os trabalhos <strong>de</strong> abertura <strong>de</strong> painéis, betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis, e<br />

execução <strong>de</strong> ancoragens. Mais especificamente, ocorria a betonag<strong>em</strong> duma sapata da<br />

contenção do alçado FG (Figura A II. 19), e <strong>de</strong> um painel do alçado AB (Figura A II. 20).<br />

149


150<br />

Figura A II. 19 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> troço da<br />

sapata da contenção<br />

Visita 4 – 29 <strong>de</strong> Março<br />

Figura A II. 20 – Vibração do betão dp painel <strong>de</strong><br />

Munique<br />

Dia 29 <strong>de</strong> Março a escavação na zona inferior ao 2º nível <strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje encontrava-se num<br />

estado mais avançado, como se po<strong>de</strong> ver na Figura A II. 21. Estavam a ser abertos novos<br />

painéis, com recurso a uma mini giratória, <strong>em</strong> vez da normal, <strong>de</strong>vido ao reduzido pé-direito<br />

disponível para estes trabalhos. Consequent<strong>em</strong>ente, os rendimentos <strong>de</strong> escavação estavam a<br />

ser mais baixos nesta zona. Nesta visita pô<strong>de</strong> também ser observado o procedimento <strong>de</strong><br />

furação, introdução da armadura, e injecção <strong>de</strong> preenchimento para execução <strong>de</strong> uma<br />

ancorag<strong>em</strong>, e <strong>de</strong> injecções <strong>de</strong> selag<strong>em</strong> para outras duas, no alçado AE (Figura A II. 22).<br />

Figura A II. 21 – Vista dos dois níveis <strong>de</strong> troço<br />

<strong>de</strong> laje<br />

Figura A II. 22 – Injecção das ancoragens<br />

Estava também a ser betonado o primeiro painel secundário do alçado IH (Figura A II. 23), e<br />

também, no alçado EF, a proce<strong>de</strong>r-se à escavação para execução do painel <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong> no<br />

alçado AB, e betonag<strong>em</strong> da respectiva sapata.Prosseguiam os trabalhos <strong>de</strong> rebaixamento da<br />

cota <strong>de</strong> escavação na zona do alçado FG, recorrendo ao martelo, <strong>de</strong>vido à elevada dureza do<br />

maciço calcário que já se encontrava à superfície. Estes trabalhos provocavam algumas<br />

vibrações no terreno, controladas pelos dois sismógrafos previstos no Plano <strong>de</strong> Instrumentação<br />

e Observação.


Visita 5 – 12 <strong>de</strong> Abril<br />

Figura A II. 23 – Betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painel secundário do alçado IH<br />

A esta data já se encontravam executadas as microestacas inclinadas, que iriam pregar o muro<br />

<strong>em</strong> consola no alçado AC, que confronta com a capela da igreja (Figura A II. 24). Durante a<br />

visita proce<strong>de</strong>u-se à betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis na zona inferior ao 2º nível <strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje. No<br />

alçado IH o primeiro nível <strong>de</strong> painéis já se encontra executado, faltando activar algumas<br />

ancoragens dos painéis secundários (Figura A II. 25).<br />

Figura A II. 24 –Microestacas inclinadas Figura A II. 25 – Alçado IH<br />

Estavam também a ser abertos outro painéis no canto F, recorrendo à giratória, uma vez que o<br />

pé-direito já o permitia (Figura A II. 24), e também nos alçados AE e FG os trabalhos <strong>de</strong><br />

execução dos painéis tinham avançado.<br />

Visita 6 – 20 <strong>de</strong> Abril<br />

Nesta fase dos trabalhos, já se tinha procedido à abertura <strong>de</strong> mais painéis primários do 2º nível<br />

no alçado IH, e secundário no alçado JI (Figura A II. 26). Tinha sido feita alguma escavação na<br />

zona das microestacas inclinadas, para execução da sapata do muro, no alçado AC (Figura A<br />

II. 27).<br />

151


152<br />

Figura A II. 26 – Canto I Figura A II. 27 – Alçado AF<br />

Na Figura A II. 28 po<strong>de</strong> observar-se uma vista geral da obra, do alçado AF, parte do FG e<br />

canto F. Po<strong>de</strong> ver-se também algum avanço nas escavações e execução <strong>de</strong> painéis na zona<br />

inferior ao troço <strong>de</strong> laje.<br />

Visita 7 – 29 <strong>de</strong> Abril<br />

Figura A II. 28 – Vista geral do recinto<br />

Na 7ª Visita, o canto I já se encontrava com um escoramento metálico (Figura A II. 29), e mais<br />

painéis executados nos alçados JI, e IH. Na Figura A II. 30 é também visível o rebaixamento da<br />

cota <strong>de</strong> escavação junto ao alçado FG, e na zona do canto F, tendo havido execução <strong>de</strong> mais<br />

painéis neste zona. Estes não necessitam <strong>de</strong> ancoragens, visto o terreno já estar contido pelos<br />

troços <strong>de</strong> laje. Houve também introdução <strong>de</strong> perfis para a execução do muro <strong>de</strong> separação,<br />

representado no alçado EE’.


Visita 8 – 5 <strong>de</strong> Maio<br />

Figura A II. 29 – Canto I Figura A II. 30 – Alçado FG e canto F<br />

A sapata do muro <strong>em</strong> consola já se encontrava <strong>em</strong> parte betonada, ainda sendo visíveis as<br />

microestacas <strong>de</strong> fundação (Figura A II. 31). Estava também a ser montada a cofrag<strong>em</strong> do 3º<br />

nível <strong>de</strong> troço <strong>de</strong> laje, e prosseguia a escavação e betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis na zona inferior ao<br />

mesmo (Figura A II. 32). O rebaixamento da cota <strong>de</strong> escavação avançou, e estavam a ser<br />

montadas as armaduras para execução do muro EE’ (Figura A II. 33). Nesta visita assistiu-se<br />

também a um ensaio <strong>de</strong> recepção <strong>de</strong> uma ancorag<strong>em</strong> no alçado FG, e respectiva blocag<strong>em</strong>.<br />

Figura A II. 31 – Canto D Figura A II. 32 – Troços <strong>de</strong> laje<br />

Figura A II. 33 – Vista do alçado DF<br />

153


Visita 9 – 13 <strong>de</strong> Maio<br />

Na Figura A II. 34 po<strong>de</strong> observar-se que a sapata do muro <strong>em</strong> consola já se encontrava<br />

concluída, e o 3º nível do troço já tinha sido betonado (Figura A II. 35).<br />

154<br />

Figura A II. 34 – Alçado AF Figura A II. 35 – Canto F<br />

A escavação no alçado KH prosseguia para o 3º nível, e já tinha finalizado o escoramento<br />

metálico do canto I. Houve um rebaixamento da cota <strong>de</strong> escavação na zona do alçado FG,<br />

assim como execução <strong>de</strong> novos painéis <strong>de</strong> betão armado, e betonag<strong>em</strong> do primeiro troço do<br />

muro EE’. Estavam também já concluídos os painéis do 2º nível do alçado IH, incluindo as<br />

ancoragens.<br />

Visita 10 – 25 <strong>de</strong> Maio<br />

Como mostrado na Figura A II. 36, nesta fase já se procedia à execução do 2º nível <strong>de</strong> painéis<br />

na zona inferior ao último troço <strong>de</strong> laje do escoramento rígido. No alçado FG já tinha sido<br />

atingido o último nível <strong>de</strong> painéis nalgumas zonas, e executados os respectivos troços <strong>de</strong><br />

sapata (Figura A II. 37).<br />

Figura A II. 36 – Canto F Figura A II. 37 – Alçados FG e GH<br />

Esta fase também foi atingida no alçado IH (Figura A II. 38).


Visita 11 – 24 <strong>de</strong> Junho<br />

Figura A II. 38 – Abertura e betonag<strong>em</strong> <strong>de</strong> painéis no alçado IH<br />

Após a 10ª visita, a obra <strong>de</strong> contenção já se encontrava praticamente concluída, salvo nalguns<br />

locais. No entanto, continuou-se a fazer um acompanhamento dos trabalhos, menos intensivo<br />

com o objectivo <strong>de</strong> observar o comportamento e a ligação da estrutura <strong>de</strong> contenção às<br />

fundações e superstrutura, assim como a <strong>de</strong>sactivação das ancoragens e escoramentos.<br />

Assim, à data da 11ª visita, a contenção no alçado IH já se encontrava terminada, incluindo as<br />

sapatas. Na zona do canto I foi feito um aterro <strong>de</strong> parte da contenção, com a dupla função <strong>de</strong><br />

armazenar as terras que seriam necessárias <strong>em</strong> fase posterior, e <strong>de</strong> estabilizar esta zona da<br />

escavação, que sofreu algumas <strong>de</strong>formações ao longo dos trabalhos. Na Figura A II. 39 é<br />

possível observar o estado geral da obra, com a contenção no alçado IH <strong>em</strong> parte aterrada, e o<br />

início da construção da superstrutura, incluindo a colocação do betão <strong>de</strong> limpeza.<br />

Figura A II. 39 – Vista geral do recinto<br />

Na Figura A II. 40 e na Figura A II. 41 são também visíveis algumas sapatas, pilares e muros,<br />

pertencentes já à superstrutura, enquanto ainda são terminados alguns painéis da contenção<br />

tipo Munique, no alçado FG (Figura A II. 41).<br />

155


156<br />

Figura A II. 40 – Início da execução da<br />

superestrutura<br />

Visita 12 – 15 <strong>de</strong> Julho<br />

Figura A II. 41 – Execução da superestrutura na<br />

zona do canto F<br />

A esta data a contenção já se encontrava totalmente concluída, assim como parte do primeiro<br />

piso enterrado (Figura A II. 42 e Figura A II. 43).<br />

Figura A II. 42 – Vista geral do recinto, já na fase <strong>de</strong> execução da superestrutura<br />

Estava-se a proce<strong>de</strong>r ao corte <strong>de</strong> perfis <strong>de</strong> fundação provisória dos Muros <strong>de</strong> Munique, uma<br />

vez que as sapatas (fundações <strong>de</strong>finitivas) já estavam concluídas (Figura A II. 44).<br />

Figura A II. 43 – Zona do alçado IH Figura A II. 44 – Zona do alçado FG


Anexo III – Descrição geológica do terreno intersectado pela<br />

escavação<br />

Figura A III. 1 – Caixa<br />

recolhida <strong>de</strong> uma das<br />

sondagens realizadas,<br />

nº 5 [48]<br />

Figura A III. 2 – Diagrama da sondag<strong>em</strong> nº 5 [48]<br />

157


158<br />

Figura A III. 3 - Localização das sondagens <strong>em</strong> planta, e perfis realizados (adaptado <strong>de</strong> [47])<br />

Figura A III. 4 – Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 2 (adaptado <strong>de</strong> [48])


Figura A III. 5 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 3 (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Figura A III. 6 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 4 (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Figura A III. 7 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 5 (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

159


160<br />

Figura A III. 8 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 6 (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Figura A III. 9 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 7 (adaptado <strong>de</strong> [48])<br />

Figura A III. 10 - Esqu<strong>em</strong>a do perfil geológico nº 8 (adaptado <strong>de</strong> [48])


Anexo IV – Peças <strong>de</strong>senhadas do Projecto <strong>de</strong> <strong>Escavação</strong> e <strong>Contenção</strong><br />

<strong>Periférica</strong><br />

161


Anexo V – Relatórios dos ensaios <strong>de</strong> carga das ancoragens<br />

Figura A V. 1 - Relatório <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong> carga simplificado <strong>de</strong> recepção da ancorag<strong>em</strong> nº 124 [54]<br />

165


Figura A V. 2 - Relatório <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong> carga <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> recepção da ancorag<strong>em</strong> nº 163, parte 1<br />

[54]<br />

166


Figura A V. 3 - Relatório <strong>de</strong> ensaio <strong>de</strong> carga <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong> recepção da ancorag<strong>em</strong> nº 163, parte 2<br />

[54]<br />

167


Anexo VI – Esqu<strong>em</strong>as das secções analisadas no Plaxis 2D<br />

168<br />

Figura A VI. 1 – Geometria da secção analisada para o corte 1 [45] Figura A VI. 2 – Configuração <strong>de</strong>formada da cortina para o corte 1 [45]<br />

Figura A VI. 3 - Deformações horizontais da cortina para o corte 1 [45] Figura A VI. 4 - Deformações verticais da cortina para o corte 1 [45]


Figura A VI. 5 - Geometria da secção analisada para o corte 3 [45] Figura A VI. 6 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina para o corte 3 [45]<br />

Figura A VI. 7 - Deformações horizontais da cortina para o corte 3 [45] Figura A VI. 8 - Deformações verticais da cortina para o corte 3 [45]<br />

169


170<br />

Figura A VI. 9 - Geometria da secção analisada para o corte 5 [45] Figura A VI. 10 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina para o corte 5 [45]<br />

Figura A VI. 11 - Deformações horizontais da cortina para o corte 5 [45] Figura A VI. 12 - Deformações verticais da cortina para o corte 5 [45]


Figura A VI. 13 - Geometria da secção analisada para o corte 6 [45] Figura A VI. 14 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina para o corte 6 [45]<br />

Figura A VI. 15 - Deformações horizontais da cortina para o corte 6 [45] Figura A VI. 16 - Deformações verticais da cortina para o corte 6 [45]<br />

171


172<br />

Figura A VI. 17 - Geometria da secção analisada para o corte 7 [45] Figura A VI. 18 - Configuração <strong>de</strong>formada da cortina para o corte 7 [45]<br />

Figura A VI. 19 - Deformações horizontais da escavação para o corte 7 [45] Figura A VI. 20 - Deformações verticais da escavação para o corte 7 [45]


Anexo VII – Relatório <strong>de</strong> instrumentação topográfica nº 119 (6 <strong>de</strong><br />

Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2011)<br />

Alvo<br />

Figura A VII. 1 – Localização final <strong>em</strong> planta <strong>de</strong> todos os alvos topográficos [49]<br />

Quadro A VII. 1 – Leituras topográficas dos alvos instalados (adaptado <strong>de</strong> [49])<br />

Zerag<strong>em</strong> Última Leitura Diferencial<br />

M P Z M P Z M P Z<br />

Nível alerta<br />

A1 3009,698 3997,1161 208,4703 3009,7 3997,114 208,4678 2,2 -2,1 -2,5 1<br />

A2 3009,723 3997,1009 204,3555 3009,722 3997,101 204,3558 -0,3 -0,1 0,3 1<br />

A3 3018,638 3999,3862 209,3082 3018,642 3999,382 209,3056 4,4 -3,8 -2,6 1<br />

A4 3018,577 3999,3417 205,8483 3018,58 3999,338 205,8438 3,1 -4 -4,5 1<br />

A5 3028,052 4003,5093 206,8183 3028,06 4003,502 206,8135 7,6 -7 -4,8 1<br />

A6 3034,469 4010,2188 209,5204 3034,481 4010,208 209,5029 11,3 -11 -17,5 1<br />

A7 3045,915 4014,7416 210,0045 3045,918 4014,736 210,0069 3,3 -5,7 2,4 1<br />

A8 3058,951 4000,2168 209,6743 3058,936 4000,22 209,6521 -15,6 3 -22,2 2<br />

173


Alvo<br />

174<br />

Zerag<strong>em</strong> Última Leitura Diferencial<br />

M P Z M P Z M P Z<br />

Nível alerta<br />

A9 3057,526 3990,9691 208,8856 3057,521 3990,967 208,8794 -4,6 -2 -6,2 1<br />

A10 3056,004 3983,3863 207,9638 3055,999 3983,381 207,9361 -4,8 -5,2 -27,7 2<br />

A11 3054,396 3976,9762 206,2662 3054,391 3976,981 206,2581 -4,5 4,4 -8,1 1<br />

A12 3053,508 3972,3462 207,5065 3053,504 3972,354 207,4979 -4 7,5 -8,6 1<br />

A13 3030,129 3970,456 203,4068 3030,125 3970,457 203,396 -4,6 0,6 -10,8 1<br />

A14 3026,803 3962,3418 205,1834 3026,793 3962,347 205,1743 -9,5 4,9 -9,1 1<br />

A15 3022,343 3950,8298 205,1925 3022,339 3950,832 205,1843 -4,7 2,2 -8,2 1<br />

A16 3060,032 4005,6196 209,4873 3060,028 4005,619 209,4824 -3,9 -0,2 -4,9 1<br />

A17 3061,695 4013,706 210,4636 3061,686 4013,704 210,4529 -8,9 -2,3 -10,7 1<br />

A18 3062,896 4019,5742 210,6158 3062,895 4019,57 210,6093 -0,6 -4,2 -6,5 1<br />

A19 3059,748 4019,4025 211,9002 3059,746 4019,401 211,8916 -1,5 -1,8 -8,6 1<br />

A20 3036,619 3971,5552 200,9708 3036,614 3971,56 200,9659 -4,3 4,4 -4,9 1<br />

A21 3045,929 3969,6039 200,8192 3045,924 3969,599 200,8159 -4,5 -4,5 -3,3 1<br />

A22 3054,133 3976,5507 201,3121 3054,133 3976,551 201,3071 0 0,6 -5 1<br />

A23 3056,315 3987,9445 202,4484 3056,316 3987,945 202,4412 1 0,5 -7,2 1<br />

A24 3026,008 3961,4936 199,0958 3026,007 3961,497 199,0881 -1 3,1 -7,7 1<br />

A25 3023,974 3956,3106 199,2803 3023,972 3956,313 199,2733 -2,1 2,6 -7 1<br />

A26 3026,799 3962,4565 211,0173 3026,785 3962,463 211,0096 -13,4 6,6 -7,7 1<br />

A27 3023,93 3955,2719 213,3031 3023,919 3955,278 213,2954 -11,2 6,1 -7,7 1<br />

A28 3022,17 3950,6205 211,544 3022,159 3950,627 211,5376 -11,4 6,1 -6,4 1<br />

A29 3036,688 4010,6381 208,8239 3036,69 4010,638 208,8226 2,4 0,2 -1,3 1<br />

A30 3048,792 4015,0049 208,9016 3048,791 4015,008 208,899 -0,4 2,6 -2,6 1<br />

A31 3053,077 4014,105 206,7425 3053,078 4014,105 206,7409 0,9 0,1 -1,6 1<br />

A32 3052,838 4014,4879 203,8691 3052,839 4014,489 203,8674 1,6 1,1 -1,7 1<br />

A33 3057,915 4005,8672 206,7478 3057,915 4005,866 206,7464 -0,2 -0,8 -1,4 1<br />

A34 3057,782 4006,1729 203,8645 3057,781 4006,173 203,8642 -1 -0,4 -0,3 1<br />

A35 3060,036 4005,4154 214,7818 3060,033 4005,416 214,7781 -2,7 0,7 -3,7 1<br />

A36 3058,702 3998,8213 214,7472 3058,698 3998,822 214,7429 -4,3 0,2 -4,3 1<br />

A37 3058,485 3999,6551 206,6129 3058,482 3999,657 206,6104 -2,7 1,5 -2,5 1<br />

A38 3058,54 3999,6127 197,8445 3058,538 3999,612 197,8424 -2 -0,4 -2,1 1<br />

A39 3056,291 3987,6958 195,9202 3056,289 3987,696 195,9181 -1,2 0,4 -2,1 1<br />

A40 3054,291 3976,3636 207,7515 3054,294 3976,364 207,7508 3,8 0,7 -0,7 1<br />

A41 3012,866 4006,3612 213,9176 3012,866 4006,362 213,9171 0,4 0,6 -0,5 1<br />

A42 3000,426 4000,6243 217,5935 3000,426 4000,624 217,5933 0,1 0 -0,2 1<br />

A43 3011,961 4009,2139 217,1048 3011,961 4009,214 217,1049 0,8 -0,2 0,1 1<br />

A44 3026,779 3962,444 209,9786 3026,78 3962,444 209,9785 1 0,3 -0,1 1


Figura A VII. 2 – Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 1 [49]<br />

Figura A VII. 3 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 2 [49]<br />

Figura A VII. 4 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 3 [49]<br />

Figura A VII. 5 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 4 [49]<br />

175


176<br />

Figura A VII. 6 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 5 [49]<br />

Figura A VII. 7 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 6 [49]<br />

Figura A VII. 8 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 7 [49]<br />

Figura A VII. 9- Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 9 [49]


Figura A VII. 10- Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 11 [49]<br />

Figura A VII. 11 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 12 [49]<br />

Figura A VII. 12 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 13 [49]<br />

Figura A VII. 13 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 15 [49]<br />

177


178<br />

Figura A VII. 14 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 16 [49]<br />

Figura A VII. 15 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 18 [49]<br />

Figura A VII. 16 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 19 [49]<br />

Figura A VII. 17 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 20 [49]


Figura A VII. 18 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 21 [49]<br />

Figura A VII. 19 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 22 [49]<br />

Figura A VII. 20 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 23 [49]<br />

Figura A VII. 21 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 24 [49]<br />

179


180<br />

Figura A VII. 22 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 25 [49]<br />

Figura A VII. 23 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 26 [49]<br />

Figura A VII. 24 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 27 [49]<br />

Figura A VII. 25 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 28 [49]


Figura A VII. 26 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 29 [49]<br />

Figura A VII. 27 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 30 [49]<br />

Figura A VII. 28 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 31 [49]<br />

Figura A VII. 29 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 32 [49]<br />

181


182<br />

Figura A VII. 30 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 33 [49]<br />

Figura A VII. 31 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 34 [49]<br />

Figura A VII. 32 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 36 [49]<br />

Figura A VII. 33 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 37 [49]


Figura A VII. 34 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 38 [49]<br />

Figura A VII. 35 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 39 [49]<br />

Figura A VII. 36 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 40 [49]<br />

Figura A VII. 37 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 41 [49]<br />

183


184<br />

Figura A VII. 38 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 42 [49]<br />

Figura A VII. 39 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 43 [49]<br />

Figura A VII. 40 - Andamento dos <strong>de</strong>slocamentos do alvo topográfico nº 44 [49]


Anexo VIII – Relatório <strong>de</strong> instrumentação das células <strong>de</strong> carga das<br />

ancoragens<br />

Figura A VIII. 1 – Localização final <strong>em</strong> planta das células <strong>de</strong> carga nas ancoragens [58]<br />

Figura A VIII. 2 - Variação do pré-esforço na célula <strong>de</strong> carga nº 1 [58]<br />

185


186<br />

Figura A VIII. 3 - Variação do pré-esforço na célula <strong>de</strong> carga nº 2 [58]<br />

Figura A VIII. 4 - Variação do pré-esforço na célula <strong>de</strong> carga nº 3 [58]<br />

Figura A VIII. 5 - Variação do pré-esforço na célula <strong>de</strong> carga nº 4 [58]<br />

Figura A VIII. 6 - Variação do pré-esforço na célula <strong>de</strong> carga nº 5 [58]

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