Meditações - PSB

Meditações - PSB Meditações - PSB

juliano.multiculturas.com
from juliano.multiculturas.com More from this publisher
21.07.2015 Views

7. Toda a natureza tira satisfação da serena busca do seu próprio caminho.Para uma natureza dotada de razão, isto significa não sancionar qualquerimpressão que seja enganadora ou obscura, não dando rédea solta ao impulsopara acções que não tenham sentido social, limitando todos os desejos ourejeições das coisas que estão dentro do seu poder, e saudando todas asdisposições da Natureza com iguais boas vindas. Porque estas disposiçõesfazem tão verdadeiramente parte dela como a natureza de uma folha é parte dada planta; salvo que a da folha é parte de uma natureza que não temsentimentos nem razão e está sujeita à frustração, enquanto que a do homem éparte de uma natureza que não só não pode ser frustrada, como também édotada tanto de inteligência como de justiça, uma vez que atribui a todos oshomens de forma igual o seu quinhão de tempo, ser, causação, actividade eexperiências. (Mas, não procures encontrar esta igualdade numa qualquercorrespondência entre um e outro homem, no particular, mas, antes, numacomparação geral de ambos na sua inteireza.)8. Tu não podes ter a esperança de ser um erudito. Mas o que podes fazer érefrear a arrogância; o que podes fazer é elevar-te acima dos prazeres e dasdores; podes ser superior à tentação da popularidade; podes conter a tuaimpaciência com os insensatos e os ingratos, sim, e até olhar por eles.9. Não permitas que alguém, nem mesmo tu próprio, te ouça a caluniar outravez a vida da corte.10. O arrependimento é remorso pela perda de uma qualquer oportunidade útil.Ora, o que é bom é sempre útil, e deve ser preocupação de todo o homem bom;mas uma oportunidade de prazer é uma coisa que nenhum homem bom jamaisse arrependeria de deixar passar. Daí, portanto, que o prazer não é bom nemútil.11. Pergunta-te, O que é esta coisa em si própria, pela sua própria constituiçãoespecial? O que é que ela é em substância, e na forma, e na matéria? Porquanto tempo é que subsiste?12. Quando é difícil espantar o sono, lembra-te de que ir cumprir com osdeveres que tens para com a sociedade é estar a obedecer às leis da naturezahumana e à tua própria constituição, enquanto que o sono é uma coisa quepartilhamos com a criação bruta e irracional; e ainda mais, que a obediência ànossa própria natureza é o caminho mais correcto, o mais adequado e realmenteo mais agradável.13. Habitua-te, se possível, a descobrir o carácter essencial de todas asimpressões, dos seus efeitos no eu, e a sua reacção a uma análise lógica.— 88 —

14. Quando conheceres alguém, seja quem for, começa logo por te perguntar,Quais são as suas opiniões sobre a bondade ou maldade das coisas? Porque,assim, se os seus pontos de vista sobre o prazer e a dor e as suas causas, ousobre a boa ou má reputação, ou sobre a vida e a morte são de um determinadotipo, não ficarei surpreendido ou escandalizado, por achar que os seus actosestão em consonância com aqueles; direi a mim mesmo que ele não temalternativa.15. Ninguém fica surpreendido quando uma figueira dá figos. Do mesmo modo,devemos ficar envergonhados do nosso espanto quando o mundo produz a suacolheita de acontecimentos. Um médico ou um mestre de navio corariam seficassem surpreendidos com um doente com febre ou com um vento contrário.16. Mudar de ideias e adiar para corrigir não é sacrificar a tua independência;porque tal atitude é só tua, na busca dos teus próprios impulsos, dos teuspróprios juízos e da tua própria maneira de pensar.17. Se a escolha é tua, porquê proceder assim? Se é de outrem, quem vais tuculpar? Os deuses? Os átomos? Em ambos os casos seria loucura. Todos ospensamentos de culpa estão deslocados. Se puderes, corrige o transgressor;senão, corrige a transgressão; se também isto é impossível, para quêrecriminar? Tudo o que não tem sentido não vale a pena.18. Aquilo que morre não abandona o mundo. Fica aqui, e aqui também sealtera e se transforma, decompondo-se nas suas várias partículas; isto é, noselementos que vão formar o universo e tu próprio. Da mesma maneira, elespróprios sofrem alterações, e, contudo, deles não nos chega qualquer queixa.19. Tudo — um cavalo, uma videira — é criado para um determinado fim. E istonão é de admirar: mesmo o sol dourado te dirá, «Estou aqui para cumprir umatarefa», tal como todos os outros habitantes do céu. Qual a tarefa, pois, para quefoste criado? Para o prazer? Um tal pensamento será tolerável?20. A natureza tem sempre um objectivo em vista; e este objectivo inclui tanto ofim da coisa como o seu princípio e duração. Ela é como o atirador da bola. Abola, em si mesma, fica melhor em resultado do seu voo? E fica pior quandovem a descer, ou quando fica cá em baixo, depois da queda? O que é que umabola de sabão ganha por se manter, ou perde por rebentar? Isto também éverdadeiro em relação a uma vela.21. Vira este corpo mortal do avesso e repara no aspecto que ele tem. Vê comoele fica com a idade ou com a doença ou com a decrepitude. Que fugazes sãoas vidas, tanto a daquele que elogia, como a do que é elogiado; a daquele querecorda e a do recordado; que pequenos, os seus cantinhos nesta zona terrestre— e mesmo aí, eles não estão em paz uns com os outros. Não, a terra inteiranão é, ela própria, mais do que o mais insignificante dos pontos.— 89 —

7. Toda a natureza tira satisfação da serena busca do seu próprio caminho.Para uma natureza dotada de razão, isto significa não sancionar qualquerimpressão que seja enganadora ou obscura, não dando rédea solta ao impulsopara acções que não tenham sentido social, limitando todos os desejos ourejeições das coisas que estão dentro do seu poder, e saudando todas asdisposições da Natureza com iguais boas vindas. Porque estas disposiçõesfazem tão verdadeiramente parte dela como a natureza de uma folha é parte dada planta; salvo que a da folha é parte de uma natureza que não temsentimentos nem razão e está sujeita à frustração, enquanto que a do homem éparte de uma natureza que não só não pode ser frustrada, como também édotada tanto de inteligência como de justiça, uma vez que atribui a todos oshomens de forma igual o seu quinhão de tempo, ser, causação, actividade eexperiências. (Mas, não procures encontrar esta igualdade numa qualquercorrespondência entre um e outro homem, no particular, mas, antes, numacomparação geral de ambos na sua inteireza.)8. Tu não podes ter a esperança de ser um erudito. Mas o que podes fazer érefrear a arrogância; o que podes fazer é elevar-te acima dos prazeres e dasdores; podes ser superior à tentação da popularidade; podes conter a tuaimpaciência com os insensatos e os ingratos, sim, e até olhar por eles.9. Não permitas que alguém, nem mesmo tu próprio, te ouça a caluniar outravez a vida da corte.10. O arrependimento é remorso pela perda de uma qualquer oportunidade útil.Ora, o que é bom é sempre útil, e deve ser preocupação de todo o homem bom;mas uma oportunidade de prazer é uma coisa que nenhum homem bom jamaisse arrependeria de deixar passar. Daí, portanto, que o prazer não é bom nemútil.11. Pergunta-te, O que é esta coisa em si própria, pela sua própria constituiçãoespecial? O que é que ela é em substância, e na forma, e na matéria? Porquanto tempo é que subsiste?12. Quando é difícil espantar o sono, lembra-te de que ir cumprir com osdeveres que tens para com a sociedade é estar a obedecer às leis da naturezahumana e à tua própria constituição, enquanto que o sono é uma coisa quepartilhamos com a criação bruta e irracional; e ainda mais, que a obediência ànossa própria natureza é o caminho mais correcto, o mais adequado e realmenteo mais agradável.13. Habitua-te, se possível, a descobrir o carácter essencial de todas asimpressões, dos seus efeitos no eu, e a sua reacção a uma análise lógica.— 88 —

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!