melhor maneira e ele servir-te-á como material de trabalho. Em todos os actos,que a tua auto-aprovação seja o único objectivo, tanto do teu esforço como datua intenção, tendo sempre em mente que, em si mesmo, o acontecimento queinduziu o teu acto é uma coisa sem consequências para nenhuma delas.59. Escava dentro de ti. Aí está a fonte do bem: escava continuamente e ele iráfluir sempre.60. Deixa também que o teu porte corporal seja firme e sem contorções, querem movimento, quer em repouso. Tal como o espírito transparece na cara,emprestando-lhe uma expressão composta e decente, também o mesmo deveser exigido dele em relação a todo o corpo. Tudo isto, porém, deve serassegurado sem nenhuma espécie de afectação.61. A arte de viver é mais como uma luta do que como uma dança, na medidaem que também exige uma postura de firmeza e de alerta contra qualquerinvestida inesperada.62. Aprende sempre a conhecer o carácter daqueles cuja aprovação queresconquistar, bem como os seus princípios condutores. Examina as fontes dassuas opiniões e dos seus motivos, e, desta maneira, não os irás culpar das suasofensas involuntárias, ou sentir a falta da sua aprovação.63. «Alma nenhuma», já se disse, «é privada da verdade por sua vontade». 59 Eo mesmo se aplica à justiça, ao autodomínio, à bondade ou a qualquer outravirtude. Não há nada que mais precises de ter constantemente em mente do queisto; e isso vai ajudar-te a uma maior gentileza em todas as tuas relações comas pessoas.64. Quando em sofrimento, lembra-te de imediato de que não há nisso nada devergonhoso, nem nada de prejudicial ao espírito timoneiro, que não sofrenenhum dano nem no aspecto racional nem no social. Em muitos casos, aafirmação de Epicuro de que «A dor nunca é insuportável ou infinda desde quenos lembremos das suas limitações e não nos entreguemos a exagerosfantasiosos», deve ser uma ajuda. Tem em mente também que, embora não opercebamos, muitas outras coisas que achamos incómodas são, na realidade,da mesma natureza da dor: sensações de letargia, por exemplo, ou umatemperatura febril, ou a perda de apetite. Quando inclinado a resmungar contraisto, diz a ti mesmo que estás a ceder à dor.65. Quando os homens são desumanos, cuida de não sentires em relação aeles o mesmo que eles sentem em relação aos outros seres humanos.66. Como é que nós sabemos que Telauges pode não ter sido um homemmelhor do que Sócrates? Está muito certo argumentar que Sócrates teve umamorte mais digna, ou que discutiu com mais perspicácia com os sofistas, ou que— 84 —
enfrentou mais arduamente os rigores de uma noite gelada; que resistiuvivamente à ordem para prender Leo de Salamis, 60 ou que «andou pelas ruascom pompa» 61 (embora a verdade desta última possa ser questionada) — masa verdadeira questão a considerar é, Que espécie de alma tinha ele? Ele nãopedia mais do que ser considerado justo em relação aos homens e puro peranteos deuses? Evitava o ressentimento pelos vícios dos outros ou a submissão àsua ignorância? Aceitava o que o destino lhe reservava, não o olhando comocoisa antinatural, nem o sofrendo como uma aflição insuportável, nem deixandoo espírito ser influenciado por experiências da carne?67. A natureza não misturou o espírito com o corpo tão inextricavelmente que oimpeça de estabelecer as suas próprias fronteiras e de controlar os seuspróprios domínios. É perfeitamente possível ser semelhante a deus, mesmo quenão se seja reconhecido como tal. Lembra-te sempre disto; e lembra-te tambémde que o que é preciso para uma vida feliz é muito pouco. O domínio dadialéctica ou da física pode ter-te iludido, mas isso não é razão paradesesperares de conquistar a liberdade, o respeito próprio, a generosidade e aobediência à vontade de Deus.68. Vive os teus dias em calma serenidade, recusando a coerção, embora todoo mundo te ensurdeça com as suas exigências, e embora os animais selvagenste dilacerem este pobre invólucro de barro. Em tudo isso, nada pode impedir oespírito de se possuir em paz, de avaliar correctamente os acontecimentos à suavolta, e de utilizar prontamente o material que assim lhe é oferecido; para que ojuízo diga ao acontecimento, «Isto é o que tu és na essência, seja qual for amaneira como os boatos te pintem», e o serviço diga à oportunidade, «Tu ésaquilo que eu procurava». A ocorrência do momento é sempre uma boa matériapara empregar a razão e a fraternidade — numa palavra, para as práticaspróprias dos homens e dos deuses. Porque não há uma só coisa que aconteçaque não tenha a sua especial pertinência para deus ou para o homem; ela nãoaparece como um problema novo e intratável, mas como um velho e prestávelamigo.69. Viver cada dia como se fosse o último, nunca perturbado, nunca apático,nunca com atitudes afectadas — aqui está a perfeição de carácter.70. Os deuses, embora vivam eternamente, não sentem ressentimento porterem de suportar eternamente gerações de homens e os seus erros; e mais,eles mostram por eles até todo o cuidado e preocupação possíveis. E vais tu,cuja duração é de apenas um instante, perder a paciência — tu que és até umdos culpados?71. Que ridículo é não fugirmos da nossa própria maldade, o que é possível, etentarmos fugir da dos outros, o que não o é.— 85 —
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