Meditações - PSB

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21.07.2015 Views

7. Não tenhas vergonha de ser ajudado. A tua obrigação é cumprir a tarefa quete foi destinada, como um soldado na seteira. Mas como o farás, se fores coxo eincapaz de trepar as ameias, senão com a ajuda de um camarada?8. Nunca deixes que o futuro te perturbe. Encontrá-lo-ás, se tiver de ser, com asmesmas armas da razão que te armam contra o presente.9. Todas as coisas estão entrelaçadas umas nas outras; um laço sagrado uneas;dificilmente se encontrará uma coisa isolada da outra. Tudo estácoordenado, tudo trabalha em conjunto para dar forma ao universo uno. A ordemmundial é uma unidade feita de multiplicidade: Deus é uno e impregna todas ascoisas; todo o ser é uno, toda a lei é una (nomeadamente, a razão comum quetodas as criaturas pensantes possuem) e toda a verdade é una — se, comocremos, não pode haver senão um caminho para a perfeição para seres que sãosemelhantes em género e razão.10. Rapidamente, cada partícula de matéria desaparece na Substânciauniversal; rapidamente, cada elemento de causação é retomado pela Razãouniversal; rapidamente, a memória de todas as coisas é enterrada no abismo daeternidade.11. Para um ser racional, um acto que se conforma com a natureza é um actoque se conforma com a razão.12. Pôr-se, ou ser posto, de pé?13. Num sistema que inclui diversos elementos, aqueles que possuem razãotêm o mesmo papel a desempenhar que os membros do corpo num organismoque é uno, sendo similarmente constituídos para mútua cooperação. Estareflexão impressionar-te-á mais fortemente se disseres constantemente a timesmo «Eu sou um “membro“ (melos) do todo complexo das coisas racionais».Se te considerares apenas como uma “parte“ (meros), não tens verdadeiro amorà humanidade, nem alegria no desempenho dos actos de bondade por sipróprios. Pratica-los como simples obrigação, e não como bons serviços para timesmo.14. Aconteça o que acontecer às partes de mim que possam ser afectadas pelasua incidência, elas que se queixem disso, se quiserem. Quanto a mim, não vejoa coisa como um mal, não me sinto magoado. E nada me pode obrigar a vê-lodessa maneira.15. Faça o mundo o que fizer, diga o mundo o que disser, o meu papel écontinuar a ser bom; tal como uma peça de ouro ou uma esmeralda ou ummanto de púrpura, repete sempre «Faça o mundo o que fizer, diga o mundo oque disser, o meu papel é continuar a ser uma esmeralda e conservar a minhacor verdadeira».— 78 —

16. A razão-mestra nunca é vítima de qualquer perturbação vinda de si própria;nunca, por exemplo, suscita paixões dentro de si. Se outro pode inspirar-lheterror ou dor, que o faça; mas ela, por si mesma, nunca permite que as suaspróprias assunções a desviem para tais disposições. O corpo que, por todos osmeios, cuide por si próprio de evitar o traumatismo, se puder; e se ficar ferido,que o diga. Mas a alma, que é a única que pode conhecer o medo ou a dor, e decujo julgamento depende a existência, não se magoa; não se pode forçá-la a umveredicto. A razão-mestra é auto-suficiente, e não conhece necessidades, a nãoser aquelas que ela cria para si mesma, e por isso não pode experimentarperturbações ou obstruções, a não ser que elas sejam de sua própria criação.17. Felicidade, por derivação, significa “um bom deus interior” 44 ; isto é, umaboa razão-mestra. Então, vã Fantasia, que andas tu a fazer aqui? Vai-te, emnome de Deus, como vieste; não quero nenhuma de vós. Eu sei que o que vostraz aqui é um longo hábito, e não vos quero mal; mas ponde-vos a andar.18. Nós fugimos à mudança; contudo, há alguma coisa que possa nascer semela? O que é que a Natureza considera de mais querido ou mais próprio para simesma? Poderias tu tomar um banho se a lenha da fogueira não sofresse umamudança? Poderias tu alimentar-te se a comida não sofresse uma alteração?Será possível, para uma coisa útil, a realização sem mudança? Não vês, pois,que a mudança em ti próprio é da mesma ordem e não menos necessária àNatureza?19. Todos os corpos passam pela substância universal, como que entrando esaindo de um curso de água impetuoso; aderindo e trabalhando como um todo,como fazem os nossos membros físicos uns com os outros. Quantos Chrísipos,Sócrates, Epictetos é que o tempo já engoliu no seu abismo! Lembra-te distoquando tens de lidar com qualquer homem ou coisa, sejam eles quais forem.20. Só há uma coisa que me perturba: o medo de poder fazer qualquer coisaque a constituição do homem não permite, ou desejaria que fosse feita de outromodo, ou proíbe até um dia futuro.21. Em breve terás esquecido o mundo, e em breve o mundo te terá esquecido.22. O que distingue particularmente o homem é o amar mesmo aqueles queerram e descaminham. Tal amor nasce logo que tu realizas que eles são teusirmãos; que eles andam a tropeçar por ignorância, e não por vontade própria;que dentro de pouco tempo ambos já não serão; e, sobretudo, que tu mesmonão ficaste magoado porque a tua razão-mestra não ficou minimamente pior doque era.23. Da substância universal, como da cera, a Natureza molda um potro, edepois destrói-o e usa a matéria para fazer uma árvore, e depois, um homem, e— 79 —

16. A razão-mestra nunca é vítima de qualquer perturbação vinda de si própria;nunca, por exemplo, suscita paixões dentro de si. Se outro pode inspirar-lheterror ou dor, que o faça; mas ela, por si mesma, nunca permite que as suaspróprias assunções a desviem para tais disposições. O corpo que, por todos osmeios, cuide por si próprio de evitar o traumatismo, se puder; e se ficar ferido,que o diga. Mas a alma, que é a única que pode conhecer o medo ou a dor, e decujo julgamento depende a existência, não se magoa; não se pode forçá-la a umveredicto. A razão-mestra é auto-suficiente, e não conhece necessidades, a nãoser aquelas que ela cria para si mesma, e por isso não pode experimentarperturbações ou obstruções, a não ser que elas sejam de sua própria criação.17. Felicidade, por derivação, significa “um bom deus interior” 44 ; isto é, umaboa razão-mestra. Então, vã Fantasia, que andas tu a fazer aqui? Vai-te, emnome de Deus, como vieste; não quero nenhuma de vós. Eu sei que o que vostraz aqui é um longo hábito, e não vos quero mal; mas ponde-vos a andar.18. Nós fugimos à mudança; contudo, há alguma coisa que possa nascer semela? O que é que a Natureza considera de mais querido ou mais próprio para simesma? Poderias tu tomar um banho se a lenha da fogueira não sofresse umamudança? Poderias tu alimentar-te se a comida não sofresse uma alteração?Será possível, para uma coisa útil, a realização sem mudança? Não vês, pois,que a mudança em ti próprio é da mesma ordem e não menos necessária àNatureza?19. Todos os corpos passam pela substância universal, como que entrando esaindo de um curso de água impetuoso; aderindo e trabalhando como um todo,como fazem os nossos membros físicos uns com os outros. Quantos Chrísipos,Sócrates, Epictetos é que o tempo já engoliu no seu abismo! Lembra-te distoquando tens de lidar com qualquer homem ou coisa, sejam eles quais forem.20. Só há uma coisa que me perturba: o medo de poder fazer qualquer coisaque a constituição do homem não permite, ou desejaria que fosse feita de outromodo, ou proíbe até um dia futuro.21. Em breve terás esquecido o mundo, e em breve o mundo te terá esquecido.22. O que distingue particularmente o homem é o amar mesmo aqueles queerram e descaminham. Tal amor nasce logo que tu realizas que eles são teusirmãos; que eles andam a tropeçar por ignorância, e não por vontade própria;que dentro de pouco tempo ambos já não serão; e, sobretudo, que tu mesmonão ficaste magoado porque a tua razão-mestra não ficou minimamente pior doque era.23. Da substância universal, como da cera, a Natureza molda um potro, edepois destrói-o e usa a matéria para fazer uma árvore, e depois, um homem, e— 79 —

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