11. Quando a força das circunstâncias perturba a tua equanimidade, não percastempo a recuperar o teu autocontrole e não fiques em dissonância senãodurante o tempo que não possas evitar. O regresso habitual à harmoniaaumentará a tua capacidade de a dominar.12. Se tivesses uma madrasta e uma mãe simultaneamente, cumpririas o teudever para com a primeira, mas recorrerias continuamente à tua mãe. Aqui tensas duas: a corte e a filosofia. Volta continuamente à filosofia por refrigério; eentão mesmo a vida da corte, e tu nela, parecerão suportáveis.13. Quando tiveres carne e outros petiscos à tua frente reflecte: Isto é peixemorto, ou aves, ou galináceos, ou porco; ou: Este Falerno 38 é uma parte dosumo de um punhado de cachos de uva; o meu manto purpúreo é lã tingida comum pouco de sangue de um marisco; a cópula é a fricção dos membros e umaejaculação. Reflexões deste tipo vão ao fundo das coisas, penetrando nelas eexpondo a sua verdadeira natureza. O mesmo processo deve ser aplicado atoda a vida. Quando as credenciais de uma coisa parecem muito plausíveis,desnuda-a, observa a sua trivialidade, e despe-a do manto de verborreia que lhedá dignidade. A presunção é o que há de mais enganador, mas nunca ela é maisilusória do que quando tu te convences de que o teu trabalho é muito meritório.Repara no que Crates tem a dizer sobre o próprio Xenocrates. 3914. As pessoas vulgares limitam a sua admiração principalmente às coisas decategoria elementar que existem em virtude de mera coesão ou de processosinorgânicos da natureza; coisas de madeira e pedra, por exemplo, ou arvoredosde figueiras ou videiras ou oliveiras. Espíritos com um grau de esclarecimentosuperior são atraídos por coisas que têm animação, como rebanhos oumanadas. Um grau de refinamento ainda mais elevado leva à admiração daalma racional: racional, mas ainda não no sentido de ser parte da Razãouniversal, mas simplesmente como possuidora de certas capacidades manuaisou outros talentos do género — ou até como mera detentora de grande númerode escravos. Mas um homem que valoriza uma alma que é racional, e universal,e social, já não se interessa por nada mais, procura unicamente manter aserenidade da sua alma e todas as suas actividades racionais e sociais, etrabalha juntamente com os seus semelhantes nesse sentido.15. Uma coisa apressa-se a entrar em existência, outra a sair dela. Mesmoenquanto uma coisa está em processo de nascimento, uma parte dela já deixoude existir. O fluxo e a mudança estão permanentemente a renovar a estrutura douniverso, tal como a incessante passagem do tempo está sempre a renovar aface da eternidade. Num tal rio, onde não há qualquer ponto de apoio firme, oque é que há para um homem prezar de entre as muitas coisas que por elepassam a correr? Isso seria como afeiçoarmo-nos a um pardal que passavoando rapidamente e que no mesmo momento desaparece da nossa vista. Avida de um homem não é mais do que uma inalação do ar e uma exalação dosangue; 40 e não há verdadeira diferença entre inspirar o ar para logo o soprar— 68 —
para fora, como nós fazemos a cada instante, e receber a faculdade de respirar,como fizemos ainda ontem no nosso nascimento, para a devolver um dia à fonteonde a fomos buscar.16. A transpiração não é coisa para prezar; partilhamo-la com as plantas. Nem arespiração; partilhamo-la com os animais dos campos e das florestas. Nem aspercepções dos sentidos, nem os impulsos do instinto, nem o instinto gregário,nem o processo de nutrição — que de facto não é mais maravilhoso do que o daexcreção. Então o que é que nós devemos prezar? O bater das palmas? Não; etambém não o bater das línguas, que é tudo aquilo a que se limita o louvor daspessoas vulgares. Excluindo a ilusão da fama, o que é que resta para apreciar?Quanto a mim, isto: organizar, na acção, como na inacção, o objectivo dasnossas estruturas naturais. Isso, ao fim e ao cabo, é o objectivo de todo o nossoadestramento e de todo o nosso trabalho; porque todas as obras têm comoobjectivo a adaptação de um produto ao fim para que foi produzido. O agricultorque trata da sua vinha, o moço de estrebaria que doma o cavalo, o empregadodo canil que treina o seu cão, todos têm este propósito em vista. Os trabalhosdos tutores e dos professores dirigem-se, também, ao mesmo fim. Eis, pois, ogalardão que procuramos. E se fizeres disto o teu próprio galardão, maisnenhum objectivo te tentará. Deixa todas as outras ambições que cultivas, senãonunca serás senhor de ti mesmo, nunca serás independente em relação aosoutros, nem nunca estarás ao abrigo das paixões. Olharás com inveja, comciúme e suspeição aqueles que possam desapossar-te dessas coisas, eintrigarás contra quem possa deter o mesmo que tu próprio cobiças. A crença deque as coisas deste género são indispensáveis vai seguramente provocartumulto interiormente, e muitas vezes leva também ao murmúrio contra osdeuses; enquanto que o respeito e a estima pela tua própria compreensão temanterá em paz contigo próprio, em unidade com a humanidade, e em harmoniacom os deuses; isto é, de acordo com tudo o que eles distribuem e ordenam.17. Por cima, por baixo, e à nossa volta, redemoinham os elementos nos seuscursos. Mas a virtude não conhece tais movimentos: ela é qualquer coisa maisdivina que avança serenamente em caminhos que estão para além dacompreensão.18. Que estranhos são os caminhos dos homens! Não poupam palavras delouvor aos seus contemporâneos que vivem mesmo no meio deles, e contudocobiçam para si próprios o louvor das gerações futuras que nunca viram nemnunca verão. E mais ou menos da mesma maneira, queixam-se por nãoreceberem os louvores dos antepassados!19. Se uma coisa é difícil para ti, não concluas daí que ela está para além dopoder dos mortais. Terás de admitir, pelo contrário, que, se uma coisa épossível, e própria para o homem fazer, tem de estar dentro das tuas própriascapacidades.— 69 —
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