Meditações - PSB

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21.07.2015 Views

vacila e move-se por si própria; tem os seus padrões de julgamento autoaprovados,e é a eles que se reportam todas as experiências.20. De certa maneira, a humanidade toca-me de muito perto, tanto mais queestou destinado a fazer bem ao meu semelhante e a ser indulgente para comele. Por outro lado, e na medida em que os homens, individualmenteconsiderados, dificultam a minha própria actividade, a humanidade torna-se paramim uma coisa tão indiferente como o sol, o vento ou as criaturas do mundoselvagem. É verdade que outros me podem impedir a realização de certasacções, mas não podem obstaculizar a minha vontade, nem a disposição domeu espírito, uma vez que estes sempre se resguardarão e se adaptarão àscircunstâncias. O espírito pode vencer todos os obstáculos com vista à acção, econvertê-los em avanço no sentido do seu principal objectivo, de modo quequalquer impedimento ao seu trabalho se torna, ao contrário, um auxiliar, e asbarreiras no seu caminho se tornam uma ajuda ao progresso.21. No universo, venera aquele que está mais alto; nomeadamente, Aquele aque tudo o resto serve, e que dita a lei para todos. Da mesma maneira, venera omais elevado em ti mesmo: ele constitui, com o Outro, uma só peça, uma vezque em ti próprio também reside aquilo a que tudo o resto serve e pelo qual serege a tua vida.22. Aquilo que não é prejudicial para a cidade, também o não pode ser para ocidadão. Em todos os casos de prejuízo possíveis e imaginários aplica sempre aregra, «se a cidade não é prejudicada, eu também o não serei». Mas se a cidadefor, de facto, prejudicada, nunca vociferes contra o culpado; procura, antes,descobrir em que ponto é que a sua visão falhou.23. Reflecte sobre a rapidez com que todas as coisas que existem, ou as queestão a nascer, passam velozmente por nós e desaparecem. O grande rio doSer continua a fluir sem parar; as suas acções sempre em mudança, as suascausas sempre em infindável deslocamento, quase nada se mantendo parado;enquanto, sempre à mão, se estende para o passado e para o futuro o infinito —o abismo em que tudo desaparece da vista. Nestas condições, seria certamenteabsurdo um homem arfar, enfurecer-se, queixar-se, como se o tempo dos seusproblemas pudesse alguma vez ser de duração contínua.24. Pensa na totalidade de todo o Ser e na insignificante migalha que é a tuaparte nele; pensa em todo o Tempo e no instante fugaz que dele te cabe; pensano Destino e como é insignificante a porção dele que tu és.25. Uma pessoa está a fazer-te mal? Ela própria que atente nisso; os seushumores e acções são só dela. Quanto a mim, estou apenas a receber aquiloque a Natureza-Mundo quer que eu receba, e estou a agir como a minhanatureza quer que eu aja.— 62 —

26. Não deixes que as emoções da carne, sejam elas de dor ou de prazer,afectem a porção suprema e soberana da alma. Faz com que esta nunca seenvolva com elas: ela deve manter-se dentro dos seus próprios domínios emanter os sentimentos confinados à sua própria esfera. Se (pela simpatia queimpregna qualquer organismo uno) elas se propagam ao espírito, é inútilqualquer tentativa de resistir à sensação física; só que, a razão-mestra deveabster-se de acrescentar as suas próprias presunções sobre a bondade oumaldade delas.27. Vive com os deuses. Viver com os deuses é mostrar-lhes em todas asocasiões uma alma satisfeita com as suas recompensas, e cumprir inteiramentea vontade daquela divindade interior, daquela partícula de si próprio, que Zeusdeu a cada homem para seu regente e guia — o espírito e a razão.28. Os sovacos malcheirosos e o mau hálito irritam-te? Que bem é que isso tefará? Com a boca e os sovacos que aquela pessoa tem, essa condição temnecessariamente de produzir esses cheiros. «Mas afinal, esse indivíduo édotado de razão, e é perfeitamente capaz de compreender aquilo que érepugnante se pensar um pouco nisso». Muito bem: mas tu próprio também ésdotado de razão; aplica, pois, a tua razoabilidade para o levares a umarazoabilidade semelhante; comenta, aconselha. Se ele te escutar, terás operadouma cura, e a cólera será desnecessária. Deixa essa para os actores e para asprostitutas.29. Viver na terra como tu tencionas viver daqui para a frente é possível. Mas seos homens não te deixarem, então abandona a casa da vida, mas sem qualquersentimento de vítima. «A cabana está a deitar fumo; saio». Não há razão parafazer grande questão disso. Contudo, desde que nada desse género me obriguea partir, aqui continuo, dono de mim mesmo, e ninguém me impedirá de fazeraquilo que eu escolher - e aquilo que eu escolho é viver a vida que a naturezaimpõe a um membro sensato de uma comunidade social.30. O Espírito do universo é social. Seja como for, ele criou as formas inferiorespara servirem as superiores, e depois ligou as superiores numa dependênciamútua umas das outras. Repara como algumas estão sujeitas, outras ligadas,todas e cada uma recebem o que lhes é devido, e as mais eminentes de entreelas estão combinadas de mútuo acordo.31. Como é que te comportaste no passado para com os deuses, para com osteus pais, para com os teus irmãos, mulher, filhos, professores, tutores, amigos,parentes, pessoal da casa? Em todas estas relações, e até hoje, poderás turepetir as palavras do poeta, «Nunca uma palavra mais áspera, nunca umainjustiça para com uma única pessoa?» 34 Recorda tudo aquilo por quepassaste, e tudo aquilo que foste capaz de suportar. Pensa que a história da tuavida acabou, e o teu serviço está no fim; lembra-te de todas as belas vistas quedesfrutaste, dos prazeres e dores que rejeitaste, das muitas honrarias que— 63 —

26. Não deixes que as emoções da carne, sejam elas de dor ou de prazer,afectem a porção suprema e soberana da alma. Faz com que esta nunca seenvolva com elas: ela deve manter-se dentro dos seus próprios domínios emanter os sentimentos confinados à sua própria esfera. Se (pela simpatia queimpregna qualquer organismo uno) elas se propagam ao espírito, é inútilqualquer tentativa de resistir à sensação física; só que, a razão-mestra deveabster-se de acrescentar as suas próprias presunções sobre a bondade oumaldade delas.27. Vive com os deuses. Viver com os deuses é mostrar-lhes em todas asocasiões uma alma satisfeita com as suas recompensas, e cumprir inteiramentea vontade daquela divindade interior, daquela partícula de si próprio, que Zeusdeu a cada homem para seu regente e guia — o espírito e a razão.28. Os sovacos malcheirosos e o mau hálito irritam-te? Que bem é que isso tefará? Com a boca e os sovacos que aquela pessoa tem, essa condição temnecessariamente de produzir esses cheiros. «Mas afinal, esse indivíduo édotado de razão, e é perfeitamente capaz de compreender aquilo que érepugnante se pensar um pouco nisso». Muito bem: mas tu próprio também ésdotado de razão; aplica, pois, a tua razoabilidade para o levares a umarazoabilidade semelhante; comenta, aconselha. Se ele te escutar, terás operadouma cura, e a cólera será desnecessária. Deixa essa para os actores e para asprostitutas.29. Viver na terra como tu tencionas viver daqui para a frente é possível. Mas seos homens não te deixarem, então abandona a casa da vida, mas sem qualquersentimento de vítima. «A cabana está a deitar fumo; saio». Não há razão parafazer grande questão disso. Contudo, desde que nada desse género me obriguea partir, aqui continuo, dono de mim mesmo, e ninguém me impedirá de fazeraquilo que eu escolher - e aquilo que eu escolho é viver a vida que a naturezaimpõe a um membro sensato de uma comunidade social.30. O Espírito do universo é social. Seja como for, ele criou as formas inferiorespara servirem as superiores, e depois ligou as superiores numa dependênciamútua umas das outras. Repara como algumas estão sujeitas, outras ligadas,todas e cada uma recebem o que lhes é devido, e as mais eminentes de entreelas estão combinadas de mútuo acordo.31. Como é que te comportaste no passado para com os deuses, para com osteus pais, para com os teus irmãos, mulher, filhos, professores, tutores, amigos,parentes, pessoal da casa? Em todas estas relações, e até hoje, poderás turepetir as palavras do poeta, «Nunca uma palavra mais áspera, nunca umainjustiça para com uma única pessoa?» 34 Recorda tudo aquilo por quepassaste, e tudo aquilo que foste capaz de suportar. Pensa que a história da tuavida acabou, e o teu serviço está no fim; lembra-te de todas as belas vistas quedesfrutaste, dos prazeres e dores que rejeitaste, das muitas honrarias que— 63 —

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