Meditações - PSB
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10. Quanto à verdade, ela está tão envolta na obscuridade que muitosfilósofos 31 reputados asseveram a impossibilidade de alcançar qualquerconhecimento certo. Mesmo os Estóicos admitem que a sua obtenção está cheiade dificuldades e que todas as nossas conclusões intelectuais são falíveis; pois,onde é que está o homem infalível? Ou vira-te para coisas mais materiais: quetransitórias estas são, que inúteis — abertas à aquisição por todos os libertinos,mulheres de maus costumes ou criminosos. Ou repara nos caracteres dos teuscompanheiros: mesmo os mais agradáveis de entre eles são difíceis de suportar;e quanto a isso, já é bastante difícil suportarmo-nos a nós próprios. Em toda estatreva, em todo este lamaçal, portanto, em todo este fluir incessante do ser e dotempo, de mudanças impostas e mudanças sofridas, não consigo pensar emnada que mereça alto apreço ou dedicação séria. Não; o que um homem devefazer é encher-se de coragem para esperar calmamente a sua naturaldissolução; e entretanto não se agastar com a sua demora, mas antes procurara sua consolação em dois pensamentos: primeiro, que nada nos pode acontecerque não esteja de acordo com a natureza; e segundo, que o poder de me absterde agir contra o espírito divino dentro de mim está nas minhas mãos, uma vezque não há homem nenhum vivo que me possa obrigar a tal desobediência.11. Que uso estou eu agora a dar aos poderes da minha alma? Auto-examina-tesobre este ponto a cada passo, e pergunta, «Como é que ela se dá com aquelaparte de mim a que os homens chamam a parte-mestra? Que alma é que habitao meu corpo neste momento? A de uma criança, a de um rapaz, a de umamulher, a de um tirano, a de um boi mudo, ou a de um animal selvagem?»12. A concepção popular de “bens” pode ser testada desta maneira. 32 Se umhomem, no seu espírito, identifica como “bens” coisas como a prudência, atemperança, a justiça e a coragem, então, de acordo com essa ideia, ele nãodará ouvidos àquela velha graça que fala de «tantos bens», porque não fazqualquer sentido. Por outro lado, se ele partilha da ideia vulgar daquilo queconstituem os “bens”, logo apreciará o gracejo e não terá dificuldade em ver asua justeza. A maioria das pessoas tem, de facto, esta ideia de valores e nuncaficariam ofendidas com a graça ou recusariam ouvi-la; realmente, temos deaceitá-la como uma observação adequada e inteligente se considerarmos queela se refere à riqueza ou a coisas que conduzem ao luxo ou ao prestígio. Agoraquanto ao teste: pergunta-te se agimos bem ao dar grande importância às coisase considerá-las como “bens”, se o retrato mental que fazemos delas é de moldea dar sentido à chalaça que diz, «ao possuidor de tantos bens não sobra espaçopara se apaziguar».13. Eu consisto de um elemento formal e de matéria. Nenhum deles jamaispode transformar-se em nada, como também nenhum deles nasceu do nada.Consequentemente, cada uma das partes que me constituem será um diaremodelada, por um processo de transição, e transformada em alguma outraparte do universo; a qual, por sua vez, será de novo transformada em ainda— 60 —
outra parte, e assim sucessivamente até ao infinito. (a palavra “infinito” pode serusada, mesmo que o mundo seja gerido em ciclos finitos.)14. A razão e o acto de raciocinar são faculdades auto-suficientes, tantoinerentemente, como no método de operar. É em suas próprias fontes queadquirem o seu ímpeto inicial; e avançam a direito, rumo aos seus objectivosautodeterminados. Acções deste tipo recebem concordantemente o nome de“rectidão” devido à linha recta que seguem.15. A menos que as coisas sejam parte de um homem, na sua qualidade dehomem, não se pode dizer com propriedade que lhe pertencem. Não lhe podemser exigidas; porque a sua natureza nem lhas promete, nem é aperfeiçoada porelas. Portanto, elas não podem representar o seu objectivo principal na vida.Além disso, se a herança do homem incluísse tais coisas, não poderia aomesmo tempo ter incluído o desprezo e a renúncia a elas; nem a capacidade depassar sem elas teria sido razão de louvor; nem, supondo que elas sãorealmente boas, o facto de não reclamar uma boa parte delas seria compatívelcom a bondade. Mas assim, contudo, quanto mais um homem se despoja, ou sedeixa despojar de tal tipo de coisas, mais ele cresce em bondade.16. O teu espírito será como os seus pensamentos habituais; porque a alma ficatingida na cor dos seus pensamentos. Impregna-o, pois, de correntes depensamento, como, por exemplo, Lugar onde a vida é mesmo possível, tambémé possível uma vida correcta; a vida num palácio é possível; portanto, mesmonum palácio uma vida correcta é possível 33 . Ou ainda: A finalidade que está pordetrás da criação de cada coisa determina o seu desenvolvimento: odesenvolvimento aponta para o seu estado final; o estado final dá a pista para asua principal vantagem e bem; portanto, o principal bem de um ser racional é asolidariedade com o semelhante — porque há muito que ficou claro que asolidariedade é o objectivo que está por detrás da criação. (É claramenteevidente, não é? que enquanto que os inferiores existem para os superiores,estes existem uns para os outros. E enquanto que o ser animado é superior aoinanimado, o racional é ainda superior àquele.17. Procurar alcançar o inatingível é loucura, contudo, o insensato nuncaconsegue deixar de o fazer.18. A homem nenhum pode acontecer uma coisa para a qual a natureza o nãotenha preparado para suportar. As experiências do teu vizinho não sãodiferentes das tuas; contudo, ele, por estar menos consciente do que aconteceu,ou mais ansioso por mostrar a sua têmpera, mantém-se firme e indómito. Pena éque a ignorância e a vaidade sejam comprovadamente mais fortes do que asabedoria.19. As coisas exteriores não podem tocar a alma nem um bocadinho; nãoconhecem o caminho até ela; não têm o poder de a fazer vacilar ou mudar; ela— 61 —
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outra parte, e assim sucessivamente até ao infinito. (a palavra “infinito” pode serusada, mesmo que o mundo seja gerido em ciclos finitos.)14. A razão e o acto de raciocinar são faculdades auto-suficientes, tantoinerentemente, como no método de operar. É em suas próprias fontes queadquirem o seu ímpeto inicial; e avançam a direito, rumo aos seus objectivosautodeterminados. Acções deste tipo recebem concordantemente o nome de“rectidão” devido à linha recta que seguem.15. A menos que as coisas sejam parte de um homem, na sua qualidade dehomem, não se pode dizer com propriedade que lhe pertencem. Não lhe podemser exigidas; porque a sua natureza nem lhas promete, nem é aperfeiçoada porelas. Portanto, elas não podem representar o seu objectivo principal na vida.Além disso, se a herança do homem incluísse tais coisas, não poderia aomesmo tempo ter incluído o desprezo e a renúncia a elas; nem a capacidade depassar sem elas teria sido razão de louvor; nem, supondo que elas sãorealmente boas, o facto de não reclamar uma boa parte delas seria compatívelcom a bondade. Mas assim, contudo, quanto mais um homem se despoja, ou sedeixa despojar de tal tipo de coisas, mais ele cresce em bondade.16. O teu espírito será como os seus pensamentos habituais; porque a alma ficatingida na cor dos seus pensamentos. Impregna-o, pois, de correntes depensamento, como, por exemplo, Lugar onde a vida é mesmo possível, tambémé possível uma vida correcta; a vida num palácio é possível; portanto, mesmonum palácio uma vida correcta é possível 33 . Ou ainda: A finalidade que está pordetrás da criação de cada coisa determina o seu desenvolvimento: odesenvolvimento aponta para o seu estado final; o estado final dá a pista para asua principal vantagem e bem; portanto, o principal bem de um ser racional é asolidariedade com o semelhante — porque há muito que ficou claro que asolidariedade é o objectivo que está por detrás da criação. (É claramenteevidente, não é? que enquanto que os inferiores existem para os superiores,estes existem uns para os outros. E enquanto que o ser animado é superior aoinanimado, o racional é ainda superior àquele.17. Procurar alcançar o inatingível é loucura, contudo, o insensato nuncaconsegue deixar de o fazer.18. A homem nenhum pode acontecer uma coisa para a qual a natureza o nãotenha preparado para suportar. As experiências do teu vizinho não sãodiferentes das tuas; contudo, ele, por estar menos consciente do que aconteceu,ou mais ansioso por mostrar a sua têmpera, mantém-se firme e indómito. Pena éque a ignorância e a vaidade sejam comprovadamente mais fortes do que asabedoria.19. As coisas exteriores não podem tocar a alma nem um bocadinho; nãoconhecem o caminho até ela; não têm o poder de a fazer vacilar ou mudar; ela— 61 —