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Meditações - PSB

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LIVRO 51. Aos primeiros raios de luz, e para contrariar aquela aversão a deixar a cama,pensa logo «Vou-me levantar para o trabalho do homem». Estará certo euresmungar por ter de começar a fazer aquilo para que nasci e que é a razão deser da minha vinda ao mundo? Foi este o objectivo da minha criação, ficar aquideitado debaixo dos cobertores para me manter quentinho? «Ah, mas é muitomais agradável!» Foi então para o prazer que vieste ao mundo, e não para otrabalho, para o esforço? Olha para as plantas, os pardais, as formigas, asaranhas, as abelhas, todos ocupados nas suas tarefas, cada umdesempenhando o seu papel com vista a uma ordem mundial coerente; e vais turejeitar a parte do homem nesse trabalho, em vez de cumprires sem demoras asordens da Natureza? «Sim, mas uma pessoa tem de ter também algumdescanso.» Claro; mas o descanso tem os seus limites estabelecidos pelanatureza, da mesma maneira que também os têm a alimentação e a bebida; e tuultrapassas esses limites, tu vais para além da suficiência; enquanto, por outrolado, quando se trata de acção, tu ficas aquém daquilo que podias conseguir.Tu não tens verdadeiro amor por ti próprio; se o tivesses, amarias a tuanatureza e a vontade da tua natureza. Os artesãos que amam a sua profissãoempenham-se ao máximo no seu trabalho, mesmo sem se lavarem e semcomerem; mas tu tens a tua natureza em menos consideração do que ogravador tem a sua gravação, o dançarino a sua dança, o avarento o seu montede prata, ou o presunçoso o seu momento de glória. Quando põem o coração notrabalho, estes homens estão prontos a sacrificar a alimentação e o sono aoavanço no sentido do objectivo que escolheram. Será o serviço da comunidademenos digno, aos teus olhos, e merecerá ele menos devoção?2. Oh, quem me dera a consolação de ser capaz de pôr de lado e atirar para oesquecimento todas as impressões importunas e fastidiosas, e ficar num instantecompletamente em paz!3. Reserva-te o direito a qualquer acto ou afirmação que esteja de acordo com anatureza. Que as críticas ou comentários que se possam seguir não to impeçam;se há alguma coisa boa para fazer ou dizer, nunca renuncies ao teu direito a ela.Aqueles que te criticam têm a sua própria razão a guiá-los, e os seus própriosimpulsos a instigá-los; não deves deixar que os teus olhos se desviem na suadirecção, mas antes manter um rumo certo e seguir a tua própria natureza e aNatureza-Mundo (e o rumo destes dois é um só).4. Eu trilho as estradas da natureza até à hora em que me deitarei paradescansar, devolvendo o meu último sopro ao ar de que o aspirei diariamente, emergulhando na terra donde o meu pai tirou a semente, a minha mãe, o sangue,e a minha ama, o leite do meu ser — terra que durante tantos anos me forneceudiariamente comida e bebida, e, embora tão atrozmente maltratada, aindapermite que eu pise a sua superfície.— 57 —

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