causa da ignorância dos homens a respeito do bem e do mal — uma fraquezatão mutiladora como a incapacidade de distinguir o preto do branco.14. Mesmo que vivesses três mil anos, ou até trinta mil, lembra-te que a únicavida que um homem pode perder é aquela que está a viver no momento; e mais,que ele não pode ter qualquer outra vida a não ser aquela que ele perde. Istosignifica que uma vida mais longa ou mais curta vão dar ao mesmo. Porque ominuto que passa é o bem igual de todos os homens, mas o que já passou não énosso. A nossa perda, portanto, limita-se àquele momento fugaz, uma vez queninguém pode perder o que já passou, nem o que está ainda para vir — porquecomo é que ele pode ser despojado daquilo que não tem? Assim, duas coisastemos de ter em atenção. Primeiro, que todos os ciclos da criação, desde oprincípio do tempo, têm o mesmo padrão recorrente, de modo que não importaque o mesmo espectáculo se observe durante cem anos ou durante duzentos,ou para sempre. Segundo, que quando aqueles de nós que vivem mais, e osque vivem menos, morrem, as suas perdas são perfeitamente iguais. Porque aúnica coisa de que o homem pode ser despojado é o presente, uma vez que issoé tudo o que ele possui, e ninguém pode perder o que não é seu.15. Há óbvias objecções à afirmação do cínico Mónimo de que «as coisas sãodeterminadas pelo que vemos nelas»; mas o valor do seu aforismo é igualmenteóbvio, se aceitarmos a sua substância até ao ponto de considerarmos que elacontém uma verdade.16. Para uma alma humana, o maior dos males auto- infligidos é tornar-se(podendo) uma espécie de tumor ou abcesso no universo; porque contendercom as circunstâncias é sempre uma rebelião contra a Natureza — e a Naturezainclui a natureza de cada parte individual. Outro mal é rejeitar um semelhante ouopor-se-lhe com más intenções, como os homens fazem quando estãozangados. Um terceiro, render-se ao prazer ou à dor. Um quarto, dissimular emostrar insinceridade ou falsidade em palavras ou em actos. Um quinto, a almanão dirigir os seus actos e esforços para um objectivo determinado, e gastar assuas energias sem qualquer fim e sem o devido pensamento; porque mesmo amais insignificante das nossas actividades deve ter um fim em vista — e paracriaturas dotadas de razão, o fim é a conformidade com a razão e a lei daCidade e Comunidade originais.17. Na vida de um homem, o seu tempo é apenas um momento, o seu ser umfluxo incessante, os sentidos uma vela mortiça, o corpo uma presa dos vermes,a alma um turbilhão inquieto, o destino, negro, e a fama, duvidosa. Em resumo,tudo o que é do corpo, é como água corrente, tudo o que é da alma, comosonhos e vapores; a vida, uma guerra, uma curta estadia numa terra estranha; edepois da fama, o esquecimento. Onde, pois, poderá o homem encontrar opoder de guiar e salvaguardar os seus passos? Numa e só numa coisa apenas:a Filosofia. Ser filósofo é manter o espírito divino puro e incólume dentro de si,para que ele transcenda todo o prazer e toda a dor, não empreenda nada sem— 38 —
um objectivo, ou com falsidade ou dissimulação, não fique na dependência dasacções ou inacções dos outros, aceite todas e cada uma das prescrições comovindas da mesma Fonte donde ele próprio veio — e final e principalmente, paraque espere a morte com dignidade, como nada mais do que a simplesdissolução dos elementos de que todo o organismo vivo é composto. Se essespróprios elementos não se danificam com a incessante formação e re-formação,porquê olhar com desconfiança a transformação e dissolução do todo? Trata-seapenas do curso da Natureza; e no curso da Natureza não se encontra malnenhum.— 39 —
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