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Meditações - PSB

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11. Em tudo o que fizeres, disseres ou pensares, lembra-te de que está semprena tua mão o poder de te retirares da vida. Se os deuses existem, não tens nadaa temer em te despedires da humanidade, pois eles não deixarão que teaconteça qualquer mal. Mas se não há deuses, ou se eles não se metem nosassuntos dos mortais, o que é a vida para mim, num mundo desprovido dedeuses ou desprovido da Providência? Os deuses, contudo, existem, epreocupam-se com o mundo dos homens. Deram-nos o poder suficiente paranão cairmos em qualquer dos males absolutos; e se houvesse verdadeiro malnas outras experiências da vida, eles teriam providenciado nesse sentidotambém, para que estivesse na mão de todos os homens evitá-lo. Mas quandouma coisa não piora o próprio homem, como pode ela piorar a vida que ele vive?O Mundo-Natureza não pode ter sido tão ignorante a ponto de descurar um riscodeste tipo, ou, dele conhecedor, não ser capaz de inventar uma salvaguarda ouum remédio. Nem a falta de poder, nem a falta de competência poderiam terlevado a Natureza a cair no erro de permitir que o bem e o mal visitassemindiscriminadamente o justo e o pecador. Contudo, viver e morrer, fama edescrédito, dor e prazer, riqueza e pobreza, e por aí adiante, são quotas- partesque cabem igualmente aos homens bons e maus. Coisas como estas nãoelevam nem aviltam; e portanto não são nem boas nem más.12. Os nossos poderes mentais deviam permitir-nos perceber a rapidez comque todas as coisas se desvanecem; os corpos no mundo do espaço, e aslembranças no mundo do tempo. Devíamos também observar todos os objectosda percepção — particularmente aqueles que nos enchem de prazer ou nosafligem com sofrimento, ou são clamorosamente impelidos até nós pela voz davaidade — a sua vulgaridade e baixeza, como são sórdidos, e como sedesvanecem e morrem rapidamente. Devíamos distinguir o verdadeiromerecimento daqueles cuja palavra e opinião conferem reputação. Devíamosapreender, também, a natureza da morte; e que basta contemplá-la fixamente edissecar as fantasias a ela mentalmente associadas, para acabarmos por pensarnela como nada mais do que um processo natural (e só as crianças se assustamcom um processo natural) — ou melhor, como qualquer coisa mais do que umprocesso natural, uma contribuição positiva para o bem-estar da natureza.Também podemos aprender como o homem tem contacto com Deus, e com queparte de si próprio esse contacto se mantém, e como essa parte se comportadepois da sua remoção daqui.13. Nada mais triste do que fazer o circuito de toda a criação, «esquadrinhandoas profundezas da terra», como diz o poeta, e espreitando curiosamente ossegredos das almas dos outros, sem por uma vez compreendermos que agarrarfirmemente o espírito divino que neles reside e servi-lo lealmente é tudo aquilode que precisamos. Tal serviço implica o mantê-lo livre da paixão, e da falta deobjectivos, e da insatisfação com a obra dos deuses ou dos homens; porque aprimeira merece o nosso respeito pela sua excelência; a segunda, a nossa boavontade,em nome da fraternidade, e por vezes também, a nossa piedade, por— 37 —

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