momento, perder de vista a razão. Também me instruiu no sentido de encarar osespasmos de uma dor aguda, a perda de um filho e o tédio de uma doençacrónica sempre com a mesma inalterável compostura. Ele próprio era umexemplo vivo de que nem mesmo a energia mais impetuosa é incompatível coma capacidade de descansar. As suas exposições eram sempre um modelo declareza; contudo, era claramente alguém para quem a experiência prática eaptidão para ensinar filosofia eram os talentos menos importantes. Foi ele, alémdisso, que me ensinou a aceitar os pretensos favores dos amigos sem merebaixar ou dar a impressão de insensível indiferença.9. As minhas dívidas para com Sexto 6 incluem a bondade, a maneira comodirigir o pessoal da casa com autoridade paternal, o verdadeiro significado daVida Natural, uma dignidade natural, uma intuitiva preocupação pelos interessesdos amigos, e uma paciência bem disposta com os amadores e os visionários. Adisponibilidade da sua delicadeza para com toda a gente emprestava à suaconvivência um encanto superior a qualquer lisonja, e, contudo, ao mesmotempo, impunha o completo respeito de todos os presentes. Também a maneiracomo ele precisava e sistematizava as regras essenciais da vida era tão amplaquanto metódica. Nunca mostrando sinais de zanga ou qualquer emoção, eleera, ao mesmo tempo, imperturbável e cheio de bondosa afeição. Quandomanifestava a sua concordância, fazia-o sempre calma e abertamente, e nuncafazia alarde do seu saber enciclopédico.10. Foi o crítico Alexandre 7 que me pôs em guarda contra a crítica supérflua.Não devemos corrigir bruscamente as pessoas pelos seus erros gramaticais,provincialismos, ou má pronúncia; é melhor sugerir a expressão correcta,apresentando-a nós próprios delicadamente, por exemplo, numa nossa respostaa uma pergunta, ou na concordância com as suas opiniões, ou numa conversaamigável sobre o próprio tema (não sobre a dicção), ou por qualquer outro tipode advertência.11. Ao meu conselheiro Fronto 8 devo a percepção de que a maldade, a astúciae a má-fé acompanham o poder absoluto; e que as nossas famílias patríciastendem, na sua maior parte, a carecer de sentimentos de humanidade.12. O platonista Alexandre 9 acautelou-me contra o uso frequente das palavras«Estou muito ocupado» na expressão oral ou na correspondência, excepto emcasos de absoluta necessidade; dizendo que ninguém deve furtar-se àsobrigações sociais devidas, com a desculpa de afazeres urgentes.13. O estóico Catulo, 10 aconselhou-me a nunca menosprezar a censura de umamigo, mesmo quando pouco razoável, mas em vez disso, fazer o possível porvoltar a agradar-lhe; a falar pronta e abertamente em louvor dos meusinstrutores, como se lê nas memórias de Domítio e Athenodoto; e a cultivar umgenuíno afecto pelos meus filhos.— 30 —
14. Com meu irmão Severo 11 aprendi a amar os meus familiares, a amar averdade e a justiça. Por ele tomei conhecimento de Thraseia, Catão, Helvidio,Dião e Bruto, e familiarizei-me com a ideia de uma comunidade baseada naigualdade e liberdade de expressão para todos, e de uma monarquiapreocupada sobretudo em garantir a liberdade dos seus súbditos. Ele reveloumea necessidade de uma avaliação desapaixonada da filosofia, do hábito dasboas acções, da generosidade, de um temperamento cordial, e da confiança noafecto dos meus amigos. Recordo, também, a sua franqueza para com aquelesque mereciam a sua repreensão, e a maneira como ele não deixava dúvidas aosamigos sobre aquilo de que gostava ou que detestava, dizendo-lho claramente.15. Máximo 12 foi o meu modelo de autocontrole, firmeza de intenções e de boadisposição em situações de falta de saúde e de outros infortúnios. O seucarácter era uma mistura admirável de dignidade e encanto, e todos os deveresinerentes à sua condição eram cumpridos sem alardes. Deixava em toda a gentea convicção de que acreditava no que dizia e agia da maneira que lhe parecia acorrecta. Não conhecia o espanto ou a timidez; nunca mostrava pressa, nuncaadiava; nunca se sentia perdido. Não se entregava ao desânimo nem a umaalegria forçada, nem sentia raiva ou inveja de qualquer poder acima dele. Abondade, a simpatia e a sinceridade, todas contribuíam para deixar a impressãode uma rectidão que lhe era mais inata do que cultivada. Nunca se superiorizavaa ninguém, e contudo ninguém se atrevia a desafiar a sua superioridade. Era,além disso, possuidor de um agradável sentido de humor.16. As qualidades que eu admirava no meu pai 13 eram a sua brandura, a suafirme recusa em se desviar de qualquer decisão a que tinha chegado, a suacompleta indiferença às falsas honrarias; o seu esforço, a sua perseverança evontade de ouvir atentamente qualquer projecto para o bem comum; a suainvariável insistência em que as recompensas devem depender do mérito; o seuhábil sentido de oportunidade para puxar ou soltar as rédeas; e os esforços quefazia para suprimir a pederastia.Ele tinha consciência de que a vida social tem as suas exigências: os seusamigos não tinham qualquer obrigação de se sentarem à sua mesa ou de oacompanhar nas suas viagens oficiais, e quando eles eram disso impedidos poroutros compromissos, isso não lhe fazia qualquer diferença. Todas as questõesque lhe eram submetidas em conselho eram examinadas meticulosa epacientemente; nunca ficava satisfeito em despachá-las apenas com umaprimeira impressão apressada. As suas amizades eram duradouras; não eramcaprichosas nem extravagantes. Estava sempre à altura das circunstâncias;alegre, mas com uma visão de alcance suficiente para mandar discretamentecumprir os seus planos até ao mais pequeno pormenor. Estava sempre atentoàs necessidades do império, conservando prudentemente os seus recursos esuportando as críticas daí resultantes. Não era supersticioso frente aos deuses;e frente aos seus concidadãos nunca se rebaixava para alcançar popularidadenem namorava as massas, mas prosseguia o seu caminho calma e firmemente,desprezando tudo o que lhe soasse a ostentação ou moda. Aceitava sem— 31 —
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