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Meditações - PSB

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nova fé tinha de levantar uma multiplicidade de questões nos campos dacosmogonia, da metafísica, da psicologia e da ética; e para todas elas a Igrejatinha de descobrir um qualquer sistema coerente de respostas. Felizmente,muita da matéria necessária para a tarefa estava ali à mão. O solo já tinha sidoexplorado pelas escolas da filosofia pagã, e as suas descobertas constituíram ocorpo de conhecimento científico contemporâneo aceite. Muitos dos homens queintegraram a comunidade cristã durante o segundo século tinham sido educadosnestas doutrinas desde a juventude; a sua maioria, nos princípios do Estoicismo,uma vez que este sistema, mais do que qualquer outro, atraía o tipo de espíritonaturalmente religioso. Para eles se viraram, pois, os homens da igreja naprocura de ajuda para a construção da estrutura da sua teologia. Isto não implicauma apropriação acrítica e por atacado das ideias pagãs. Muito pelo contrário,quando uma teoria filosófica parecia sugerir as linhas ao longo das quais opensamento cristão podia procurar a sua própria solução de um problema, eraadoptada como hipótese de trabalho e testada nas suas possibilidades; após oque, numa forma adequadamente modificada, podia encontrar o seu lugar nanova religião. Nas palavras do Dr. Prestige, «era a ideia que era afeiçoada paraservir à fé cristã, e não a fé que era afeiçoada para nela poder caber aconcepção importada».*Por exemplo, o autor do quarto evangelho declara que Cristo é a Logos. Estaexpressão (que significa “razão” ou “palavra”) fora já durante muito tempo umdos principais termos do Estoicismo, escolhido originalmente com o objectivo deexplicar como a divindade entrou em relação com o universo. De acordo com osfilósofos, a Razão divina dera existência ao mundo por meio de inúmeraspartículas de si própria que habitaram e deram forma a toda a criação. Estaversão da origem do universo, já profundamente arreigada na geração suacontemporânea, foi aceite, em princípio, pelo evangelista. Ele afirma, contudo,que o meio pelo qual Deus se manifestou na criação e manutenção do mundonão é uma Logos múltipla, mas sim una e pessoal, gerada de si próprio. «Noprincípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Todasas coisas foram criadas por ele, e sem ele não existia nada do que foi feito».†Assim recebe a metafísica estóica o baptismo cristão.Outro conceito estóico que inspirou a Igreja foi o do “Espírito divino”. Ao quererdar um significado mais explícito ao “fogo criador” de Zenão, Cleanthes fora oprimeiro a descobrir o termo pneuma, ou “espírito” para o descrever. Como ofogo, este “espírito” inteligente foi imaginado como uma ténue substânciasemelhante à corrente de ar ou sopro, mas possuindo essencialmente aqualidade do calor; era imanente no universo, como Deus, e no homem, comoalma e princípio criador de vida. É evidente que isto não está muito longe do“Espírito Santo” da teologia cristã, o “Senhor e Criador da vida”, manifestadovisivelmente como línguas de fogo no Pentecostes e desde então sempreassociado — no espírito cristão bem como no estóico — às ideias de fogo vital ecalor benéfico.Também na doutrina da Trindade, a concepção eclesiástica do Pai, Verbo eEspírito encontra o seu gérmen nos diferentes nomes Estóicos para a DivinaUnidade. Assim, Séneca, ao escrever sobre o supremo Poder que molda o— 21 —

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