21.07.2015 Views

Meditações - PSB

Meditações - PSB

Meditações - PSB

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

tipo, estão fora do nosso controle; portanto, não podem ser nem ajudas nemobstáculos à Vida Natural. São “coisas neutras”. Mas a nossa própria vontade,os nossos juízos, o nosso poder de aceitar o que é moralmente correcto ourejeitar o contrário - tudo isto está no nosso próprio poder. Daí que nada exteriora nós nos pode, por si só, afectar; só quando interiormente o aceitamos ourecusamos é que ele nos pode beneficiar ou prejudicar. O prazer, em si próprio,não é um bem, nem a dor, por si só, um mal; tornam-se uma ou outra coisaquando nós assim as julgamos. É este o significado da insistência de Marco emque «a opinião é tudo». E também explica a presteza do sábio, que tantas vezesencontramos realçada nas suas páginas, em «aceitar sem ressentimento tudoque lhe possa acontecer»; um preceito que é claramente um dos esteios da suavida pessoal. É este o princípio que está por detrás da famosa “apatia”, ou“impassividade”, do sábio estóico ideal. Este, como ensinavam os filósofos,experimentará todas as sensações e emoções que são comuns ao homem, mas,porque se recusa a vê-las como males, não será afectado por elas.Considerando-as como coisas exteriores e portanto neutras, ele fica seguro eincólume. Consequentemente, como os Estóicos afirmavam (para grandedivertimento do poeta Epicurista Horácio), só o sábio é verdadeiro rei, rico,apesar da sua pobreza, feliz, apesar do seu sofrimento físico, livre, mesmo seescravo, sereno e auto-suficiente em todas as vicissitudes. Se as circunstânciasalguma vez se mostrarem excessivas para este desprendimento, ele nãohesitará em deixar voluntariamente a vida; porque a vida, simplesmente, estátambém entre as coisas que são neutras. Tanto Zenão como Cleanthesmorreram pelas próprias mãos, e nós vamos encontrar o próprio Marco mais doque uma vez entregue ao pensamento de que, em certas condições, fica melhorao filósofo deixar a vida do que permanecer nela.Tão inequívoco como o dever do homem para consigo próprio, é o seu deverpara com os outros. Uma vez que todos os homens são manifestações doEspírito-Fogo uno e criador, a doutrina da fraternidade universal tinha um papelprimordial no sistema estóico. O instinto racional e social é uma coisa inerente àconstituição do homem. A bondade para com o seu semelhante é pois suaobrigação de todos os tempos; tem de aprender a ser tolerante para com assuas faltas, descontar a sua ignorância, perdoar os seus erros e ajudá-lo nassuas necessidades. Para Marco, esta nem sempre era das tarefas mais fáceis; aprópria frequência com que ele recorda a si próprio que a boa vizinhança é umaparte importante da Vida Natural sugere que, na prática, ela, por vezes,constituía uma pressão sobre a sua capacidade de benevolência. Contudo,reconhece inteiramente que o homem é um ser social, feito para agirsocialmente. Aceita o axioma estóico de que todo o universo é uma sociedadeorganizada; uma comunidade cívica na qual o divino e o humano residem juntosnuma cidadania comum. (Anteriormente, os Cínicos tinham-na descrito como acosmo-polis: a cidade que acompanha todo o cosmos em extensão.) Nas suaspróprias palavras, «o mundo é como se fosse uma só cidade»; e assim como,para os atenienses, Atenas era a “querida cidade de Cecrops”, para o filósofo, ouniverso é “a querida cidade de Deus”».— 17 —

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!