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Meditações - PSB

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Quando o Estoicismo passou do Oriente para o Ocidente e foi introduzido nomundo romano, assumiu um aspecto diferente. Foram os elementos morais dosensinamentos de Zenão que aqui despertaram mais atenção, e o seu valorprático foi prontamente apreciado. Um código que era humano, racional emoderado, um código que insistia num procedimento justo e virtuoso, na autodisciplina,numa força moral inabalável e numa completa libertação dastempestades da paixão adequava-se admiravelmente ao carácter romano. Econsequentemente a reputação e influência do Estoicismo aumentouinvariavelmente ao longo dos séculos que assistiram ao declínio da república eao nascimento do principado; e por altura da ascensão de Marco Aurélio aotrono, tinha já atingido o ponto mais alto da sua supremacia. As suasconcepções e a sua terminologia eram agora familiares aos homens e mulheresinstruídos de todas as cidades importantes do ImpérioOs Estóicos definiam a filosofia como «luta pela sabedoria»; e “sabedoria“, porsua vez, era definida como «conhecimento das coisas divinas e humanas».Dividiam este conhecimento em três ramos: a Lógica, a Física e a Ética.* Umavez que o primeiro requisito para a procura da verdade é um pensamento claro erigoroso, que, por sua vez, depende de um uso preciso das palavras e umvocabulário de termos técnicos, o estudo inicial era a Lógica. Depois vinha ainvestigação dos fenómenos naturais e das leis da natureza. E esta estendia-seaté à interpretação metafísica do universo; pois, no esquema estóico, a Físicaincluía o estudo completo do Ser na sua tripla manifestação: o próprio homem, ouniverso criado à sua volta, e Deus. Por fim, colocado no lugar mais elevado eimportante do sistema, vinha a Ética. Pois a verdadeira função da filosofia, oponto para o qual convergiam todas as questões e ao qual estavamsubordinados todos os ramos do conhecimento, era a própria conduta dohomem, definida numa palavra, “virtude“. Como diz Diogenes Laertius, «elescomparam a filosofia a uma criatura vivente; os ossos e músculos correspondemà Lógica, a carne à Ética, e a alma à Física. Comparam-na também a um campoprodutivo, do qual a Lógica é a vedação circundante, a Ética, a colheita que elaencerra, e a Física, o solo».† Convém resumir brevemente os seusensinamentos sobre estes três pontos.(a) A Lógica. No sector da Lógica, tudo o que o leitor de Marco Aurélio precisade saber é a teoria do conhecimento dos Estóicos e os meios de atingir esseconhecimento. No seu sistema, o conhecimento começa com impressões, quesão produzidas pelo impacto das coisas ou qualidades sobre os sentidos. Depoisfica para o poder do espírito o julgamento daquilo que os sentidos reportam:aceitá-lo como representação verdadeira da realidade objectiva, ou rejeitá-locomo falso. (A importância decisiva desta fase é repetidamente realçada porMarco). Algumas impressões, como é evidente, desencadeiam uma aceitaçãoimediata e espontânea — como, por exemplo, a noção elementar de que o bemé benéfico e o mal prejudicial — mas noutros casos a aceitação só vem depoisde ponderada reflexão; e pode variar entre uma aprovação hesitante, tão fraca evacilante que apenas constitui uma mera “opinião”, e uma certeza categóricaque só é produzida por uma chamada “impressão arrebatadora”. É umaimpressão tão forte que, no dizer de um escritor, «como que agarra o sujeito— 13 —

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