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Meditações - PSB

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IntroduçãoAs Meditações de Marco Aurélio eram uma leitura muito na moda há duasgerações. Era o tempo em que o catálogo de qualquer bom editor incluía sempreuma elegante colecção de bolso dos clássicos; e, de entre estas, poucas haveriaem que não aparecessem as Meditações. A voga já passou, mas talvez expliquea razão por que o livro ainda é conhecido de nome por tanta gente, muitoembora o conhecimento do seu conteúdo seja mais raro do que foi outrora. Defacto, quando uma pessoa escolhe este livro, pode muito bem perguntar-se, «Deque é que tratará? Que assuntos irei encontrar lá dentro?» Devo, por isso, edesde já, prevenir o leitor de que não pode esperar encontrar nele qualquer temacontinuado ou conexo. Trata-se apenas do diário ou “livro de apontamentos”onde Marco Aurélio, de tempos a tempos, registava qualquer coisa que lheparecesse merecer a pena guardar. Ora regista um pensamento sugerido porqualquer acontecimento recente ou encontro pessoal; ora medita sobre osmistérios da vida e da morte do homem; ora recorda uma máxima prática para oauto-aperfeiçoamento, ora transcreve das suas leituras do dia um pensamentode que gostou particularmente. Todos estes assuntos, e uma grande variedadede outros, são registados à medida que ocorreram ao escritor. O leitor podeiniciar a leitura do livro ou interrompê-la em qualquer ponto à sua escolha, e lertantas ou tão poucas entradas quanto lhe apeteça. Em resumo, Marco deu-nosum excelente livro para ter na mesa de cabeceira.Os bibliotecários catalogam geralmente as Meditações, e sem dúvida bem, como“Filosofia”; mas isto pode induzir o leitor em erro, a menos que compreenda olugar que a filosofia ocupava na antiguidade. Daquilo que ele conhece dosescritos dos representantes do século vinte deste ramo do saber, é poucoprovável que conclua que o seu objectivo principal e final é a obtenção da virtudepessoal. Isso, imagina ele, é do foro da religião, não da filosofia. Mas naAntiguidade Clássica as coisas eram diferentes. A moralidade, a vida sã, asrelações do homem com os deuses — tudo isto era do foro do filósofo e não dodo sacerdote. A religião romana, no tempo do Império, não tinha nada a ver comos problemas morais. A sua função era simplesmente a da execução dos rituaisque assegurassem a protecção dos deuses por parte do Estado, ou evitassemos efeitos do seu descontentamento. Era um sistema formal de cerimóniaspúblicas realizadas por funcionários do Estado, e não dava resposta às dúvidase dificuldades da alma humana. Contudo, então, como agora, o homem sentiaseperplexo perante as grandes questões que são preocupação de todos nós.Qual é a composição deste universo que nos rodeia, e como é que eleapareceu? Teria sido fruto de um acaso cego, ou da sábia Providência? Se osdeuses existem, será que eles se interessam pelas coisas dos mortais? Qual é anatureza do homem, e qual o seu dever aqui, e o seu destino no além-túmulo?Não eram os sacerdotes, mas os filósofos, que se reclamavam da competênciapara dar resposta a estas questões. É verdade que as suas respostas não eramunânimes; havia sistemas filosóficos rivais, e cada um oferecia a sua própriasolução (como, aliás, as diferentes religiões do mundo ainda fazem); mas todosconcordavam que só à filosofia pertencia o direito exclusivo de se pronunciar— 11 —

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