Meditações - PSB

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21.07.2015 Views

41. «Quando eu estava doente», diz Epicuro, «nunca falava dos meuspadecimentos. Não discutia assuntos deste tipo com as minhas visitas. Falavados princípios da filosofia natural; e o ponto em que eu particularmente insistiaera em como o espírito, enquanto parte em todos estes abalos da carne, podeficar imune e continuar a buscar o seu bem certo». E acrescenta, «Nem davaaos médicos oportunidade de se gabarem dos seus triunfos; a minha vidacontinuava simplesmente o seu curso normal, tranquila e felizmente». Nadoença, portanto, ou em qualquer outro tipo de problema, faz como Epicuro.Nunca troques o domínio da filosofia por qualquer coisa que te possa acontecer,e nunca tomes parte nos disparates em que falam os ignorantes e os seminstrução (isto é uma máxima em que todas as escolas concordam). Concentratetotalmente na tarefa que tens diante de ti, e no instrumento que possuis para asua realização.42. Quando te sentires ultrajado pela insolência de alguém, pergunta-te logo,«Poderá o mundo existir sem os insolentes?» Não pode; portanto não peçasimpossíveis. Aquele homem é simplesmente um dos insolentes cuja existência énecessária ao mundo. Tem este pensamento bem presente sempre que deparescom velhacarias, duplicidades ou qualquer outra forma de dissimulação ou faltade probidade. Tens apenas que te lembrar de que este tipo é indispensável elogo te sentirás mais bondoso para com a pessoa. Também ajudará recordaresprontamente que qualidade especial a Natureza nos deu para opor a taisdefeitos em particular. Porque há antídotos com que ela nos dotou: a gentilezapara enfrentar a brutalidade, por exemplo, e outros correctivos para outrosmales. Geralmente também tens a oportunidade de mostrar ao culpado o seuerro — porque toda a gente que comete erros está a faltar ao cumprimento doseu próprio objectivo e é portanto um bronco. Além disso, que prejuízo sofrestetu? Nada do que estas vítimas da tua irritação fizeram pôde afectar de modonocivo o teu espírito; e só no espírito é que qualquer coisa má ou prejudicial parao eu pode ter existência real. O que é que há de errado ou de surpreendente,afinal, no comportamento grosseiro de uma pessoa grosseira? Pensa, portanto,se a culpa não será antes tua mesmo por não preveres que ele te ia ofenderdessa maneira. Tu, em virtude da tua razão, tinhas todos os meios paraconsiderar provável esse seu comportamento; esqueceste isso e agora a suaofensa apanha-te de surpresa. Quando ficares indignado com alguém pela suaperfídia ou ingratidão volta o teu pensamento primeiro e sobretudo para tipróprio. Porque o erro é claramente teu se puseres muita fé na boa fé de umhomem com essas características, ou, quando lhe tiveres feito bem, se não otiveres feito sem reservas e na crença de que essa acção seria, ela própria, arecompensa. Depois de prestado um serviço a um homem, que mais querias?Não te basta ter obedecido às leis da tua própria natureza sem esperar qualquerpaga? Isso é como os olhos pedirem uma recompensa por verem, ou os pés porcaminharem. É precisamente para esse fim que eles existem; e eles têm o quelhes é devido, ao fazerem aquilo para que foram criados. Da mesma maneira, ohomem nasce para actos de bondade; e quando ele faz uma acção boa, ou de— 104 —

qualquer maneira serviu o bem comum, fez aquilo para que foi criado e járecebeu a sua paga.— 105 —

41. «Quando eu estava doente», diz Epicuro, «nunca falava dos meuspadecimentos. Não discutia assuntos deste tipo com as minhas visitas. Falavados princípios da filosofia natural; e o ponto em que eu particularmente insistiaera em como o espírito, enquanto parte em todos estes abalos da carne, podeficar imune e continuar a buscar o seu bem certo». E acrescenta, «Nem davaaos médicos oportunidade de se gabarem dos seus triunfos; a minha vidacontinuava simplesmente o seu curso normal, tranquila e felizmente». Nadoença, portanto, ou em qualquer outro tipo de problema, faz como Epicuro.Nunca troques o domínio da filosofia por qualquer coisa que te possa acontecer,e nunca tomes parte nos disparates em que falam os ignorantes e os seminstrução (isto é uma máxima em que todas as escolas concordam). Concentratetotalmente na tarefa que tens diante de ti, e no instrumento que possuis para asua realização.42. Quando te sentires ultrajado pela insolência de alguém, pergunta-te logo,«Poderá o mundo existir sem os insolentes?» Não pode; portanto não peçasimpossíveis. Aquele homem é simplesmente um dos insolentes cuja existência énecessária ao mundo. Tem este pensamento bem presente sempre que deparescom velhacarias, duplicidades ou qualquer outra forma de dissimulação ou faltade probidade. Tens apenas que te lembrar de que este tipo é indispensável elogo te sentirás mais bondoso para com a pessoa. Também ajudará recordaresprontamente que qualidade especial a Natureza nos deu para opor a taisdefeitos em particular. Porque há antídotos com que ela nos dotou: a gentilezapara enfrentar a brutalidade, por exemplo, e outros correctivos para outrosmales. Geralmente também tens a oportunidade de mostrar ao culpado o seuerro — porque toda a gente que comete erros está a faltar ao cumprimento doseu próprio objectivo e é portanto um bronco. Além disso, que prejuízo sofrestetu? Nada do que estas vítimas da tua irritação fizeram pôde afectar de modonocivo o teu espírito; e só no espírito é que qualquer coisa má ou prejudicial parao eu pode ter existência real. O que é que há de errado ou de surpreendente,afinal, no comportamento grosseiro de uma pessoa grosseira? Pensa, portanto,se a culpa não será antes tua mesmo por não preveres que ele te ia ofenderdessa maneira. Tu, em virtude da tua razão, tinhas todos os meios paraconsiderar provável esse seu comportamento; esqueceste isso e agora a suaofensa apanha-te de surpresa. Quando ficares indignado com alguém pela suaperfídia ou ingratidão volta o teu pensamento primeiro e sobretudo para tipróprio. Porque o erro é claramente teu se puseres muita fé na boa fé de umhomem com essas características, ou, quando lhe tiveres feito bem, se não otiveres feito sem reservas e na crença de que essa acção seria, ela própria, arecompensa. Depois de prestado um serviço a um homem, que mais querias?Não te basta ter obedecido às leis da tua própria natureza sem esperar qualquerpaga? Isso é como os olhos pedirem uma recompensa por verem, ou os pés porcaminharem. É precisamente para esse fim que eles existem; e eles têm o quelhes é devido, ao fazerem aquilo para que foram criados. Da mesma maneira, ohomem nasce para actos de bondade; e quando ele faz uma acção boa, ou de— 104 —

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