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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 96paradoxo a partir <strong>da</strong> inversão óptica. Em certo ponto, a inversão não produznenhuma diferença, na medi<strong>da</strong> em que a ilusão <strong>é</strong> perfeita. Mas, na ver<strong>da</strong>de, omundo aparece de cabeça para baixo, em caos, em contradições autodestrutivas.2.4. A herança ciclópicaNeste capítulo discutimos a constituição do <strong>olhar</strong> clássico, a partir <strong>da</strong>relação com os aparatos <strong>da</strong> visão criados sob a luz do Renascimento. A relaçãoentre o <strong>olhar</strong> e as diversas tecnologias de <strong>visual</strong>ização <strong>é</strong> inseparável de alguns dosmarcos principais <strong>da</strong> constituição deste período. De certa forma, o olho, a partir <strong>da</strong>era moderna, transforma-se – ele próprio – em instrumento. O olho – que emcombinação com as funções racionais <strong>da</strong> mente poderia garantir o “conhecimentover<strong>da</strong>deiro” – torna-se uma ferramenta em constante aperfeiçoamento atrav<strong>é</strong>s doemprego de aparatos tecnológicos que melhoram o seu desempenho, na ampliaçãode seu alcance ou na criação de novas possibili<strong>da</strong>des. Mas, as mesmas ferramentas– provedoras <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de – tamb<strong>é</strong>m podem oferecer ilusões. Neste jogo, o homemganha o domínio dos códigos: pela primeira vez na história <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de sensívelhá um conjunto de disposições sistemáticas que pode ser empregado parafavorecer a dominação de um dos sentidos. Deste modo, não parece haver dúvi<strong>da</strong>de que a perspectiva iniciou a racionalização do <strong>olhar</strong>. A compreensão destainfluência unicamente sobre o campo <strong>da</strong> arte <strong>é</strong> restritiva. Praticamente, todos oscampos do conhecimento foram influenciados por esta ferramenta e estaascendência de algum modo acabou refratando sobre o próprio campo <strong>da</strong> arte. 174A instrumentalização do <strong>olhar</strong> talvez aponte o primeiro sonho mecanicista.Não importa se, em um primeiro momento, esta mecanização foi de fatomaterializa<strong>da</strong> ou se restringiu apenas às imagens, como nas gravuras de Dürer.Estas são evidências suficientes <strong>da</strong> intenção de mecanização na produção deimagens. A partir dos aparatos tecnológicos do <strong>olhar</strong>, surgidos com oRenascimento, podemos apontar para o primeiro relacionamento homem-máquina- hoje tão evidente com a onipresença do computador. Mas, já em seusprimórdios, as máquinas do <strong>olhar</strong> buscavam superar o homem, iludindo-o com asua “naturali<strong>da</strong>de”.

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