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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 94Renascença. Arendt o listou entre os três eventos fun<strong>da</strong>mentais que determinaramo caráter <strong>da</strong> era moderna, ao lado <strong>da</strong> descoberta <strong>da</strong> Am<strong>é</strong>rica, e subseqüenteexploração de to<strong>da</strong> a Terra, e <strong>da</strong> Reforma. 167 Para a teórica alemã, a invenção dotelescópio ensejou o desenvolvimento de uma nova ciência que considerava anatureza <strong>da</strong> Terra do ponto de vista do universo. Observou, ain<strong>da</strong>, que os nomesligados a estes eventos, incluindo o de Galileu, pertenciam a um mundo pr<strong>é</strong>moderno,na medi<strong>da</strong> em que não se encontrava entre eles aestranha sensação de novi<strong>da</strong>de, a veemência com que quase todos os grandesautores, cientistas e filósofos, desde o s<strong>é</strong>culo XVII, declaravam ver coisas quenenhum homem jamais vira antes e ter pensamentos que jamais haviam ocorrido aningu<strong>é</strong>m. 168Neste sentido, Galileu não pode ser considerado um revolucionário. Mas, foiapenas com a “visão” <strong>da</strong> imensidão do espaço que teve início uma nova ciência.Assim, se a invenção do telescópio <strong>é</strong> fun<strong>da</strong>dora <strong>da</strong> ciência moderna e at<strong>é</strong>cnica <strong>da</strong> perspectiva pode ser considera<strong>da</strong> como um elemento fun<strong>da</strong>mental naconstituição do <strong>olhar</strong> moderno, a câmera escura poderia ser considera<strong>da</strong> como umaparato multifuncional, ligado à concepção que temos hoje de entretenimento. Separa Jonathan Crary, a câmera escura deve ser analisa<strong>da</strong> de forma distancia<strong>da</strong> <strong>da</strong>lógica evolucionária do determinismo tecnológico que a posiciona comopercussora de uma genealogia que leva ao nascimento <strong>da</strong> fotografia, por outrolado, este aparato <strong>é</strong> um amálgama social “onde sua existência como figura textuale discursiva <strong>é</strong> inseparável do seu uso t<strong>é</strong>cnico”. 169 Citando Gilles Deleuze“máquinas são sociais antes de serem t<strong>é</strong>cnicas”, Crary afirma que a câmera escurae a câmera fotográfica são objetos sociais que pertencem a duas organizações, derepresentação e de relação entre o observador e o visível, fun<strong>da</strong>mentalmentediferentes. Apesar de considerar a semelhança entre os princípios estruturais deambas, Crary observa que no inicio do XIX, a câmera escura já não era sinônimode produção de ver<strong>da</strong>de. No entanto, em sua opinião, as distinções podem serobserva<strong>da</strong>s a partir de uma diferente rede de enunciados e práticas. Sem quererestabelecer uma visão teleológica do desenvolvimento dos aparatos <strong>da</strong> visão, nos166 D. J. Warner, “What Is a Scientific Instrument, When Did it Become One, and Why?” British Journal forthe History of Science, 23 (1990), 83-93. Apud MALET, Antoni. Early conceptualizations of the telescope asan optical instrument. Early Science and Medicine 10 (2). Leiden: Brill Academic Publishers, 2005. p. 244.167 ARENDT, H. op. cit., p.260.168 Ibid. p. 261.169 CRARY, J. op. cit., p. 30 et seq.

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