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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 92A partir de uma visita a uma exposição de Ingres, em 1999 na NationalGallery de Londres, Hockney começou a questionar se Ingres teria “usado de vezem quando esse pequeno dispositivo óptico, então rec<strong>é</strong>m-inventado”. 157 Essepintor trabalhou nas primeiras d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong>s do s<strong>é</strong>culo XIX, realizando desenhos depequeno formato, mas misteriosamente “precisos”. Hockney começou arealização de experimentos práticos, a princípio com uma câmara lúci<strong>da</strong> e, depois,com uma câmara escura, ao mesmo tempo em que passou a “ver com outrosolhos” as obras de artistas do passado. Para ele “a óptica não faz marcas - elaproduz apenas uma imagem, uma aparência, um meio de medi<strong>da</strong>. O artista ain<strong>da</strong> <strong>é</strong>o responsável pela concepção, e <strong>é</strong> necessária grande habili<strong>da</strong>de para superar osproblemas t<strong>é</strong>cnicos e reproduzir a imagem em tinta. No entanto, tão logo sepercebe a influência profun<strong>da</strong> que a óptica exercia na pintura, e o modo como eraemprega<strong>da</strong> pelos artistas, começa-se a observar as pinturas de um novo modo”. 158Hockney, então, montou, em seu estúdio, um “Grande Mural” onde justapôsreproduções de quinhentos anos de trabalhos de diversos artistas, de forma ainvestigar a utilização dos aparatos ópticos. Durante a sua pesquisa, ele travoucontato com historiadores <strong>da</strong> arte e com um opticista, Charles Falco, que lheofereceu apoio t<strong>é</strong>cnico. O problema com a hipótese Hockney-Falco, como aquestão passou a ser conheci<strong>da</strong> na história <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong>s ciências, <strong>é</strong> que a utilizaçãodos instrumentos óticos se encontra sugeri<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> primeira metade do s<strong>é</strong>culoXV.Hockney aponta que entre o fim dos anos 1420 e o começo dos anos 1430.ocorreu uma súbita mu<strong>da</strong>nça nas pinturas, rumo a um maior naturalismo. Estatransformação, evidencia<strong>da</strong> nas obras de Robert Campin e Jan van Eyck, <strong>é</strong>atribuí<strong>da</strong> por Hockney ao auxílio óptico de lentes ou espelhos metálicos. 159Apesar dos tratados medievais sobre óptica demonstrarem o interesse dosestudiosos pela luz, visão, espelhos e reflexão, não existem evidências de que essapreocupação pudesse ir al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> geometria dos pontos ou <strong>da</strong> utilização de espelhoscilíndricos, cônicos, côncavos e convexos para reflexão, mas não para projeção. 160De fato, não existem provas documentais <strong>da</strong> utilização de espelhos para projeção157 HOCKNEY, D. op. cit., p.12.158 Ibid. p. 131.159 Ibid. p. 71-72.160 SCHECHNER, Sara J. Between knowing and doing: mirrors and their imperfections in the renaissance.Early Science and Medicine 10 (2). Leiden: Brill Academic Publishers, 2005.

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