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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 91pinturas de Lorrain. 155 No auge do seu uso, entre o final do s<strong>é</strong>culo XVIII e o iniciodo XIX, o espelho de Claude era encontrado em gabinetes de curiosi<strong>da</strong>de, lojas deóptica e círculos artísticos. Era utilizado porque produzia uma visão pitoresca ediferencia<strong>da</strong>. Ao contrário deste aparato, que se apoiava sobre espelhos, o vidro deClaude (Claude Lorraine Glass - Figura 41) era um conjunto de lâminas colori<strong>da</strong>stransparentes, utiliza<strong>da</strong>s para a observação de eclipses, nuvens e paisagens. Ovidro de Claude reforça o conceito de mono-visão surgido com a perspectiva. Emconjunto, com o espelho de Claude, parece sugerir a delimitação do campo devisão, a área que deve ser de fato observa<strong>da</strong>, como na proposta <strong>da</strong> janela deAlberti. Neste sentido, ambos são colaboradores <strong>da</strong> <strong>construção</strong> de um <strong>olhar</strong> emum movimento de enquadramento, metafórico e literal, onde o campo de visão doobservador <strong>é</strong> limitado a partir <strong>da</strong> intermediação entre o observador e o que <strong>é</strong>observado. Outros aparatos visuais ain<strong>da</strong> podem ser diretamente relacionados àreprodução de objetos e paisagens. Neste último grupo encontramos a câmeralúci<strong>da</strong> (Figura 38) e sua variante, o telescópio gráfico (Figura 37), patenteado em1811 por Cornelius Varley.Talvez não seja desnecessário lembrar que a câmera escura constituiu-se emuma ferramenta de trabalho e, analogamente ao que acontece hoje com acomputação gráfica, o seu uso, por si só, nunca pode ter sido garantia de quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> obra produzi<strong>da</strong>. Um desenhista medíocre não conseguiria extrair <strong>da</strong> câmeraescura, ou de nenhum outro aparato óptico, uma operação miraculosa. Mas, apesardisso, o seu emprego como auxiliar na produção de imagens ou pinturas não eraalgo de que o artista pudesse vangloriar-se. De maneira geral, os artistascostumam ser reticentes em relação aos seus m<strong>é</strong>todos, e não devem ter sido muitodiferentes no passado. Esse <strong>é</strong> um dos argumentos utilizados por David Hockneyna sua proposição de que os artistas “escondiam” o uso de auxílios óticos ou deseu domínio secreto, como sugere o título de seu livro: O conhecimento secreto 156 .Nesse livro, Hockney defende a tese de que a partir do s<strong>é</strong>culo XV, muitos artistasusaram a óptica, ou seja, espelhos e lentes ou uma combinação de ambos, paracriar projeções sobre as quais pudessem reproduzir imagens fi<strong>é</strong>is.155 DUPRÉ, Sven. The Claude Glass: Use and meaning of the black mirror in Western Art by Arnaud Maillet.Institute for Research in Classical Philosophy and Science. Resenha.156 HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo as t<strong>é</strong>cnicas perdi<strong>da</strong>s dos grandes mestres.São Paulo: Cosac & Naify, 2001.

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