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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 73embora convenção útil, cômo<strong>da</strong>, <strong>é</strong> que gostamos de pintar em superfíciesplanas” 114 e quenunca será demais insistir em que a arte <strong>da</strong> perspectiva visa a uma equação correta:pretende que a imagem pareça com o objeto e o objeto com a imagem. Tendoalcançado esse objetivo, ela faz a mesura de praxe e se retira. 115De forma menos objetiva, não abor<strong>da</strong>ndo diretamente a questão doconvencionalismo <strong>da</strong> perspectiva, Gombrich sugere que o artista não podetranscrever o que vê. “Pode apenas traduzi-lo para os termos do meio queutiliza”. 116 Mitchell considera que Gombrich está comprometido com a distinçãonatureza-convenção, mas aponta algumas insinuações de mu<strong>da</strong>nça de pensamentoa partir <strong>da</strong> influência de trabalhos de outros estudiosos 117 . Segundo Mitchelll, emtrabalhos posteriores à Arte e Ilusão, Gombrich afirmaria a concordância comalguns historiadores <strong>da</strong> arte com a id<strong>é</strong>ia de que, no passado, certos estilosimag<strong>é</strong>ticos eram freqüentemente construídos com a aju<strong>da</strong> de convenções quedeviam ser aprendi<strong>da</strong>s. Mitchell conclui que to<strong>da</strong>s as imagens se encontram nocampo <strong>da</strong> convenção, embora a finali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> convenção possa variar (“realismo”e inspiração religiosa, por exemplo). Natureza e convenção não seriam antit<strong>é</strong>ticas,mas “natureza” pode ser um <strong>da</strong>do em relação a um certo tipo de convenção. Oproblema, apontado por Mitchell, <strong>é</strong> que Gombrich considera a “naturali<strong>da</strong>de” <strong>da</strong>representação ilusionista, a partir <strong>da</strong> invenção <strong>da</strong> perspectiva, como uma ver<strong>da</strong>deliteral 118 .Um pouco antes de Gombrich, Erwin Panofsky procurava situar aperspectiva na formalização de um código de representação do espaço próprio deca<strong>da</strong> período histórico. Na sua compreensão, a perspectiva descrita por Albertiseria uma convenção, uma solução possível 119 . Em se tratando de convenção, aimagem em perspectiva, como qualquer outra, deve ser interpreta<strong>da</strong>; e ahabili<strong>da</strong>de para fazê-lo deve ser adquiri<strong>da</strong>. Afinal, não se pode ter a expectativa deque o <strong>olhar</strong> acostumado à pintura oriental possa entender imediatamente umapintura em perspectiva 120 . Em outras palavras, falamos de uma prática, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>114 Ibid. p. 268.115 Ibid. p. 272.116 Ibid. p. 39.117 MITCHELL, W. J. T. Iconology… p.80. et. seq.118 Ibid. p.83.119 PANOFSKY, E. op. cit. passim.120 GOODMAN, N. Languages… p. 14.

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