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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 70Os dois atributos essenciais do mundo, pensamento e extensão 100 , o queconhece e o que <strong>é</strong> conhecido, parecem aludir a uma relação entre o que observa eo que <strong>é</strong> observado. Massey reconhece como tentadora a criação de uma analogiaentre a perspectiva e o cartesianismo. 101 A noção de um sujeito que tudo vê e quetudo sabe, capaz de compreender racionalmente, e que se encontra situado nocentro <strong>da</strong> mat<strong>é</strong>ria quantifica<strong>da</strong>, sugere uma afini<strong>da</strong>de com a perspectiva,principalmente, se considerarmos os crit<strong>é</strong>rios visuais estabelecidos por Descartes,ou seja, a aceitação de id<strong>é</strong>ias que apareçam de forma clara e distinta. 102 Noentanto, a formulação de um “perspectivismo cartesiano” torna-se problemática namedi<strong>da</strong> em que Descartes rejeita a visão, assim como outras formas de apreensãodo mundo a partir dos sentidos. Para Descartes o sentido <strong>da</strong> visão não <strong>é</strong> capaz deassegurar a reali<strong>da</strong>de dos objetos, do mesmo modo que nem a imaginação nem ossentidos podem nos trazer nenhuma certeza sem a intervenção <strong>da</strong> razão. Por estesconceitos, paradoxalmente, a visão parece colocar-se não ao lado <strong>da</strong> clareza, masao lado <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>.O conceito de “perspectivismo cartesiano” <strong>é</strong> apresentado por Martin Jaycomo uma característica do regime escópico <strong>da</strong> era moderna. 103 Jay consideraDescartes como fun<strong>da</strong>dor do moderno paradigma <strong>visual</strong> e comenta seu tratado LaDioptrique. A invenção do telescópio atribuí<strong>da</strong> a Jacques M<strong>é</strong>tius - hoje sabemos,erroneamente – teria sido a pedra de toque <strong>da</strong> escritura de La Dioptrique, ondeDescartes procura demonstrar que a visão pode ser compreendi<strong>da</strong> a partir dom<strong>é</strong>todo dedutivo, baseado na existência de id<strong>é</strong>ias pr<strong>é</strong>-existentes na mente. Nestetexto, Descartes descreve com precisão a <strong>construção</strong> de aparatos ópticosdestinados à observação de objetos distantes. Se por um lado Descartes pareceapenas preocupar-se com o olho <strong>da</strong> mente, por outro ele se at<strong>é</strong>m ao estudo doórgão <strong>da</strong> visão a partir <strong>da</strong> dissecação de olhos de animais e do questionamento deseu funcionamento. Jay afirma que pode ser fácil <strong>olhar</strong> para trás e apontar100 Vale observar que, como caráter essencial dos corpos físicos, estes são dotados de três dimensões: altura,largura e profundi<strong>da</strong>de.101 MASSEY, Lyle. "Anamorphosis through Descartes or perspective gone awry.”Renaissance Quarterly 50.n4 (Winter 1997): 1148(42). InfoTrac OneFile. Thomson Gale. CAPES. 2 Aug.2006. .102 DESCARTES, R. op.cit. p.54.103 JAY, M. op. cit., p.69 et seq.

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