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O OLHAR INOCENTE É CEGO 642.2.1. O jogo do real e do ilusório ou uma filosofia da falsa realidadeFigura 18. J-F. Niceron: anamorfose de uma cabeça, 1638.Retirado de BALTRUSAITIS, Jurgis. Anamorphoses ou magieartificielle des effets merveilleux. France: Olivier Perrin, 1969.p. 45.Os paradoxos da perspectiva tornam-se evidentes, com a utilização de seuspróprios preceitos, na anamorfose (do grego: ana, de novo e morphe, forma,transformação). Nova transformação? A mesma fórmula, a partir da qual aperspectiva se esforça por normatizar e racionalizar o visível, é utilizada pelaanamorfose para sistematizar sua distorção. Os mesmos pontos que garantem a“cópia perfeita”, a partir da consideração de semelhança, permitem a ilusão. Aanamorfose estabeleceu- se como uma curiosidade técnica, um jogo ótico, e fez-seinseparável de uma poética da abstração, constituindo-se em um mecanismoefetivo de produção de ilusões ópticas e uma filosofia da falsa realidade. 86 Noauge de sua popularidade, a “parte bela e secreta da perspectiva” 87 era,geralmente, empregada como forma de sugerir o valor simbólico a uma obra.86 BALTRUSAITIS, Jurgis. Anamorphoses ou magie artificielle des effets merveilleux. France: OlivierPerrin, 1969. p. 5.87 Citado por Daniel Barbaro, em sua Pratica della Perspettiva, 1559 apud BALTRUSAITIS, J.op. cit., p.34.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 65Figura 19 - Os Embaixadores (Hans Holbein - 1533)Figura 20 – detalheda caveiraA primeira utilização da anamorfose é atribuída a Leonardo da Vinci 88 noano de 1485, embora a palavra tenha aparecido apenas no século XVII. 89 A maiscomentada utilização desta técnica se encontra no quadro Os Embaixadores, deHans Holbein do ano 1533 (Figura 19). O quadro é repleto de símbolosrelacionados ao quadrivium das artes liberais (aritmética, geometria, astronomia emúsica). A justaposição dos vários objetos conotativos de relações entre ciência earte (dois globos, um astrolábio, tecidos com padrões geométricos, um alaúde elivros - possivelmente, dentre eles, algum tratado com o tema da perspectiva)compõe a cena. A própria forma de representação também é eloqüente, incluindoo mais surpreendente símbolo: o de uma imagem alongada e distorcida ao pé dosdois homens vestidos de forma suntuosa. Esta figura, quando observada sobdeterminado ângulo, apresenta um crânio (Figura 20). Existem várias hipótesessobre o emprego da anamorfose nesta obra. Acredita-se que seu uso procuraevidenciar a inconstância da vida e da realidade, e a certeza da morte. Esse tipo depintura alegórica recebia a denominação de memento mori ou vanitas, quando não88 No desenho de um olho, incluído no Codex Atlanticus. Ver JAY, M. op. cit., p.48 e BALTRUSAITIS, J.op. cit. p.3689 BALTRUSAITIS, J. op. cit., p.5.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 642.2.1. O jogo do real e do ilusório ou uma filosofia <strong>da</strong> falsa reali<strong>da</strong>deFigura 18. J-F. Niceron: anamorfose de uma cabeça, 1638.Retirado de BALTRUSAITIS, Jurgis. Anamorphoses ou magieartificielle des effets merveilleux. France: Olivier Perrin, 1969.p. 45.Os paradoxos <strong>da</strong> perspectiva tornam-se evidentes, com a utilização de seuspróprios preceitos, na anamorfose (do grego: ana, de novo e morphe, forma,transformação). Nova transformação? A mesma fórmula, a partir <strong>da</strong> qual aperspectiva se esforça por normatizar e racionalizar o visível, <strong>é</strong> utiliza<strong>da</strong> pelaanamorfose para sistematizar sua distorção. Os mesmos pontos que garantem a“cópia perfeita”, a partir <strong>da</strong> consideração de semelhança, permitem a ilusão. Aanamorfose estabeleceu- se como uma curiosi<strong>da</strong>de t<strong>é</strong>cnica, um jogo ótico, e fez-seinseparável de uma po<strong>é</strong>tica <strong>da</strong> abstração, constituindo-se em um mecanismoefetivo de produção de ilusões ópticas e uma filosofia <strong>da</strong> falsa reali<strong>da</strong>de. 86 Noauge de sua populari<strong>da</strong>de, a “parte bela e secreta <strong>da</strong> perspectiva” 87 era,geralmente, emprega<strong>da</strong> como forma de sugerir o valor simbólico a uma obra.86 BALTRUSAITIS, Jurgis. Anamorphoses ou magie artificielle des effets merveilleux. France: OlivierPerrin, 1969. p. 5.87 Citado por Daniel Barbaro, em sua Pratica della Perspettiva, 1559 apud BALTRUSAITIS, J.op. cit., p.34.

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