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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 49átomos, um complexo de c<strong>é</strong>lulas, um violonista, um amigo, um louco, e muitasoutras coisas mais” 40 . Se nenhum desses modos constitui o objeto, então o que oconstitui? E, ao contrário, se todos eles são modos de ser do objeto, então nenhumdeles será o modo de ser do objeto. Todos estes modos não podem ser copiados aomesmo tempo e, nesta tentativa, mais nos distanciamos de uma imagem realista. Acópia, então, <strong>é</strong> feita sobre um determinado aspecto, sobre um dos modos do objetoque nos parece mais significativo ou mais neutro. De certa forma, a compreensãodos aspectos significativos e seu contexto, pode nos levar a uma maiorcompreensão do modo como os homens de outras <strong>é</strong>pocas viam o seu mundo e estacompreensão talvez possa nos apontar a possibili<strong>da</strong>de de um <strong>olhar</strong> autônomo.Deste modo, podemos compreender como a busca de significação levava osegípcios a representarem os olhos de frente mesmo quando os personagens seencontravam de perfil. Mas, qual seria o modo de representação mais neutro à luzdo <strong>olhar</strong> contemporâneo? Por exemplo, como o objeto pode ser visto por um olhonormal, a partir de um ângulo favorável e com uma boa iluminação, sem ainterferência de afeições, animosi<strong>da</strong>des, interesses ou preconceitos, e despojadode interpretações? Goodman pergunta-se, apenas para apontar a impossibili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> resposta mais simples: o objeto deve ser copiado do modo como <strong>é</strong> visto emcondições ass<strong>é</strong>pticas por um olho livre e neutro. Mas, não existe um grau zero do<strong>olhar</strong>. A procura de uma optici<strong>da</strong>de primária <strong>é</strong> freqüentemente cita<strong>da</strong> na obra deJohn Ruskin como uma solução t<strong>é</strong>cnica para o problema <strong>da</strong> pintura no s<strong>é</strong>culo XIX– a transposição do mundo tridimensional para uma tela plana. Na obra TheElements of Drawing, Ruskin se propõe não apenas a ensinar a desenhar, mastamb<strong>é</strong>m a capaci<strong>da</strong>de de julgar trabalhos de outras pessoas. Em uma granderessalva, conti<strong>da</strong> em uma nota de ro<strong>da</strong>p<strong>é</strong> dirigi<strong>da</strong> para leitores mais “incr<strong>é</strong>dulos ecuriosos” 41 , o autor coloca que uma vez que a nossa percepção de formas <strong>é</strong>relaciona<strong>da</strong> à experiência, o poder <strong>da</strong> pintura depende <strong>da</strong> recuperação do “<strong>olhar</strong><strong>inocente</strong>” (innocence of the eye) 42 , que significa uma percepção infantil, semconsciência pr<strong>é</strong>via dos significados <strong>da</strong>s formas. Uma visão imaginável apenas emuma pessoa cega que repentinamente pudesse enxergar. Mas, como afirma40 GOODMAN, N. op. cit. p.6.41 RUSKIN, John. The elements of drawing. London: The Waverley Book Co., [1920?]. p. 4.42 Ibid. p. 4.

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