21.07.2015 Views

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 48reflexiva e sim<strong>é</strong>trica. B <strong>é</strong> como A, na medi<strong>da</strong> em que A <strong>é</strong> como B, mas umapintura pode representar o Duque de Wellington, enquanto o Duque nãorepresenta a pintura. Um par de sapatos apresenta semelhanças, mas um doselementos do par não representa o outro. Embora a noção de representaçãofigurativa tenha sido pensa<strong>da</strong> a partir do conceito de semelhança desde Platão,Goodman considera que uma imagem representa um objeto na medi<strong>da</strong> em quefunciona como um símbolo para este objeto, está para (stand for), se refere a ele. 36A semelhança <strong>é</strong> descarta<strong>da</strong> como noção de referência na medi<strong>da</strong> em que quasetudo pode se assemelhar a tudo. Um quadro de um castelo será sempre maisparecido com outro quadro do que com o castelo, apesar de representar o castelo enão o outro quadro 37 . De que modo, então, a noção de semelhança pode seraplica<strong>da</strong> a uma imagem que representa algo, sendo semelhante a este algo sobrecertos aspectos? Neste caso, o problema apenas se desloca para a determinação dequais proprie<strong>da</strong>des pictóricas podem ser utiliza<strong>da</strong>s para a comparação atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>semelhança. Diversas características pictóricas podem ser emprega<strong>da</strong>s para estefim como, por exemplo, a forma, o tamanho, a cor, as texturas etc. 38 Goodmanconsidera que não existe uma fórmula que possa ser aplica<strong>da</strong> de modo universal eque ca<strong>da</strong> situação deve ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong> individualmente de acordo com os contextosespecíficos de criação <strong>da</strong> obra e de interpretação. Por outro lado, a questão <strong>da</strong>semelhança <strong>é</strong>, de fato, inseparável, <strong>da</strong> id<strong>é</strong>ia de um ponto de vista em determinadotempo e espaço. A percepção de uma semelhança <strong>visual</strong> entre dois objetos serásempre relativa a um ponto de vista: “este objeto, visto deste ponto de vista,parece-se com aquele objeto, visto <strong>da</strong>quele ponto de vista”. 39Como devemos compreender o conceito de que uma imagem se propõe aatender a expectativa de reprodução <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de? A partir <strong>da</strong> formulaçãodesconcertante de que para se obter uma imagem fiel deve-se copiar o objeto “talqual ele <strong>é</strong>”, Nelson Goodman in<strong>da</strong>ga-se sobre o que constitui um objeto tal qualele <strong>é</strong>, “porque o objeto que está diante de mim <strong>é</strong> um homem, um enxame de36 Goodman utiliza o termo “objeto” de forma indiferente para qualquer coisa que a imagem possarepresentar, “seja uma maçã ou uma batalha”. Do mesmo modo, o termo “símbolo” <strong>é</strong> usado em um sentidogeral, incorporando letras, palavras, textos, imagens, diagramas, mapas, modelos etc., sem carregarimplicações de sentidos oblíquos ou ocultos.37 Ibid., p. 5.38 RAMME, Noeli. Arte e <strong>construção</strong> de mundos. Rio de Janeiro, 2004. Tese (Doutorado em Filosofia) -PUC-Rio. p. 32.39 SEARLE, Joh R. Las Meninas and the paradoxes of pictorial representation. In: MITCHELL, W. J.Thomas (ed.). The Language of images. Chicago: The University of Chicago Press, c1980. p. 251.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!