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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 47s<strong>é</strong>culo XIX. Mas, em que medi<strong>da</strong> a imagem pode ser compreendi<strong>da</strong> como“representação”?Nosso ponto de parti<strong>da</strong> se encontra na compreensão <strong>da</strong> imagem como algoal<strong>é</strong>m <strong>da</strong> representação. A imagem pode não vir a ser uma representação, mas serásempre apresentação. Representações são artefatos e podem ser parcialmentedefinidos a partir do propósito de seus produtores, principalmente em relação aofuncionamento específico do artefato. A representação nos fala de uma identi<strong>da</strong>dee seus signos, mas a vinculação direta com o <strong>olhar</strong> de sua própria <strong>é</strong>poca deve sercui<strong>da</strong>dosa na medi<strong>da</strong> em que sua <strong>construção</strong> material e simbólica pode estar maisrelaciona<strong>da</strong> ao passado do que ao contemporâneo. Indique-se a propósito, aafirmação de Crary em relação à pintura modernista dos anos 1870 e 1880 servista, em seu trabalho, como sintoma tardio ou conseqüência de um processoiniciado por volta de 1820 31 . De outra maneira, a apresentação relaciona-se compresença e, portanto, com o self e o tempo presente. Neste sentido, a id<strong>é</strong>ia deimagem enquanto apresentação aproxima-se do <strong>olhar</strong> de um observadorcorporificado, sujeito e produtor de práticas e artefatos que o fazem ator. 32Outra abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> “representação” 33 pode ser encontra<strong>da</strong> naTeoria dos Símbolos de Nelson Goodman. Para este autor, uma imagemrepresenta alguma coisa na medi<strong>da</strong> em que descreve esta coisa, como umpredicado que lhe pode ser aplicado 34 . Segundo Goodman, a forma mais simplistade se compreender a representação <strong>é</strong> atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong> semelhança: algo como “Arepresenta B na medi<strong>da</strong> em que A <strong>é</strong> semelhante a B”. 35 Mas, essa abor<strong>da</strong>gemtraduz um equívoco que pode ser exposto a partir <strong>da</strong> simples premissa de que umobjeto <strong>é</strong> semelhante a si mesmo em grau máximo, mas raramente se representa.Deste modo, como observa Goodman, semelhança não <strong>é</strong> condição necessária nemsuficiente para a representação. A semelhança, ao contrário <strong>da</strong> representação, <strong>é</strong>31 CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.Massachusetts: The MIT Press, 1992.32 Veja a id<strong>é</strong>ia de “fabricação”, a partir do conceito de tática desenvolvido por de Certeau. CERTEAU,Michel de. A invenção do cotidiano. 1. Artes de fazer. Petrópolis: Editora Vozes, 2005.33 A língua portuguesa coloca uma grande dificul<strong>da</strong>de na substituição do termo representação. O idiomainglês conta com a palavra representing para simbolizar, descrever, e, claro, representar. O termo picturing secoloca para descrever, mas tamb<strong>é</strong>m para sentidos mais literais como pintar, desenhar e, possivelmente,<strong>visual</strong>izar. Não encontrei nenhuma equivalência no português. Acredito que o termo “desenhar” seja bastanterestritivo, não correspondendo ao “descrever” do picturing. Por este motivo, encontrei dificul<strong>da</strong>des em evitara utilização do termo “representar” em um modo que a Teoria de Goodman repele, ou seja, a partir <strong>da</strong>semelhança.34 GOODMAN, N. Languages of Art. Indianapolis: Hackett Publishing Co, 1976. p. 30.35 Ibid., p.3 et seq.

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