21.07.2015 Views

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 42constituição do <strong>olhar</strong> “clássico”, não nos ateremos predominantemente a autores eexemplos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte, campo que consideramos bastante explorado edistante <strong>da</strong> nossa proposta. Al<strong>é</strong>m do que, como afirma o historiador <strong>da</strong> arte MartinKemp, em relação à problemática utilização <strong>da</strong> pintura como prova de emprego <strong>da</strong>t<strong>é</strong>cnica: os meios são inferidos <strong>da</strong>s pinturas e depois são responsabilizados porseus efeitos, de forma potencialmente circular. 19 Deste modo, a utilização deexemplos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte apoiará a discussão sobre a <strong>visual</strong>i<strong>da</strong>de do período,sem constituírem o eixo <strong>da</strong> discussão.Em nossa opinião, os artefatos não são apenas reflexos de mu<strong>da</strong>nçasocorri<strong>da</strong>s em um determinado período e lugar, mas elementos ativos nastransformações sociais e agentes decisivos na <strong>construção</strong> do <strong>olhar</strong>, principalmentequando se trata de aparatos visuais. Este pensamento encontra suporte em HannaArendt, na sua compreensão <strong>da</strong> invenção do telescópio como fator fun<strong>da</strong>mental deconfiguração <strong>da</strong> Era Moderna. Para Arendt, “não são id<strong>é</strong>ias, mas eventos quemu<strong>da</strong>m o mundo: o sistema heliocêntrico, como id<strong>é</strong>ia, <strong>é</strong> tão velho quanto aespeculação pitagórica e tão persistente em nossa história quanto as tradiçõesneoplatôncias, e nem por isso jamais mudou o mundo ou a mente humana” 20 .Apesar <strong>da</strong> consideração <strong>da</strong> autora de que “em contraposição aos eventos, as id<strong>é</strong>iasnunca são in<strong>é</strong>ditas” 21 , acreditamos que tamb<strong>é</strong>m os eventos não surgem de repente.A história <strong>é</strong> repleta de exemplos de tecnologias que se encontravam pronta háanos, quando finalmente foram implementa<strong>da</strong>s. As tecnologias que mol<strong>da</strong>ram avisão moderna não constituem exceção. Apesar disso, não iremos traçar odesenvolvimento histórico, apontar origens e desdobramentos de ca<strong>da</strong> um destesartefatos, mas chamar a atenção para as conseqüências e influencias <strong>da</strong> utilizaçãodestas invenções e sua participação social sobre a <strong>construção</strong> do modo de <strong>olhar</strong>delineado a partir <strong>da</strong> renascença.A <strong>construção</strong> do <strong>olhar</strong> clássico será abor<strong>da</strong><strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> formulação <strong>da</strong>stecnologias visuais desenvolvi<strong>da</strong>s no período e converti<strong>da</strong>s em atoresfun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s na forma de organização e <strong>construção</strong> do<strong>olhar</strong> clássico. De um lado, analisamos o emprego <strong>da</strong> perspectiva e a utilização de19 KEMP, Martin em carta para o autor. HOCKNEY, David. O conhecimento secreto – redescobrindo ast<strong>é</strong>cnicas perdi<strong>da</strong>s dos grandes mestres. São Paulo: Cosac & Naify, 2001. p. 232.20 ARENDT, Hanna. A condição humana. Rio de Janeiro e São Paulo: Editora Forense Universitária, 2005. p.285.21 Ibid., p.271.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!