O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 40conceituado como espetáculo. A possibilidade de realizar esta análise sobre asExposições e não sobre tecnologias de comunicação e produção de imagens,busca captar o primeiro momento da experiência de uma nova cultura visual,recentemente desenvolvida. Também consideramos que, além disso, asExposições Universais têm o mérito de ressaltar a ascensão do campo do design,tanto a partir da exibição de produtos desenvolvidos pela indústria quanto pelasdiscussões que parecem mostrar-se, pela primeira vez, relevantes para esta área.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 412.O olhar ciclópico e a verdade da imagemEste capítulo trata da construção do olhar clássico ou renascente.Apontamos alguns fatores que corroboraram na emergência e predomínio dessemodelo, as conseqüências contemporâneas de sua ascensão e certos efeitosposteriores que evidenciam suas influências. A nossa intenção principal é expor,no olhar clássico, a formação do habitus da visualidade ocidental, fundamentadasobre a racionalização. Deste modo, levantamos algumas continuidades queserviram de alicerce para desenvolvimentos posteriores, predominantemente apartir da aceleração da produção de objetos manufaturados. Neste momento nãoserá demais repetir algumas ressalvas. Em primeiro lugar, há que se ter em mentea idéia de “um olhar do período”, ou seja, um olhar mais ou menos geral, sematribuições de gênero ou de idade, mas principalmente uma cultura visual imbuídapor características específicas de determinada época e local. Em segundo lugar, eaqui buscamos apoio em Jonathan Crary e sua descrença quanto à possibilidade deuma história do olhar 18 : não é nossa pretensão construir uma história davisualidade do olhar, mas integrar o olhar à história das forças e regras que atuamna construção dos campos onde a percepção visual acontece. Diga-se a propósitoque, uma história que pretenda incluir a visualidade deve ser em parte umanarrativa dos instrumentos visuais, suas construções, tecnologias e registros dasrepresentações e, de outra parte, suas configurações sociais e as - menos tangíveis- práticas cognitivas influentes na formulação das convenções e habitus.Deste modo, embora a constituição de uma nova forma de olhar sejageralmente associada às mudanças observadas nas práticas de representaçãoartísticas, não nos ateremos a esta metodologia, salvo por um ou outro exemploutilizado de forma quase metafórica. Em outras palavras, na abordagem da18 CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.Massachusetts: The MIT Press, 1992. p. 6.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 412.O <strong>olhar</strong> ciclópico e a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong> imagemEste capítulo trata <strong>da</strong> <strong>construção</strong> do <strong>olhar</strong> clássico ou renascente.Apontamos alguns fatores que corroboraram na emergência e predomínio dessemodelo, as conseqüências contemporâneas de sua ascensão e certos efeitosposteriores que evidenciam suas influências. A nossa intenção principal <strong>é</strong> expor,no <strong>olhar</strong> clássico, a formação do habitus <strong>da</strong> <strong>visual</strong>i<strong>da</strong>de ocidental, fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>sobre a racionalização. Deste modo, levantamos algumas continui<strong>da</strong>des queserviram de alicerce para desenvolvimentos posteriores, predominantemente apartir <strong>da</strong> aceleração <strong>da</strong> produção de objetos manufaturados. Neste momento nãoserá demais repetir algumas ressalvas. Em primeiro lugar, há que se ter em mentea id<strong>é</strong>ia de “um <strong>olhar</strong> do período”, ou seja, um <strong>olhar</strong> mais ou menos geral, sematribuições de gênero ou de i<strong>da</strong>de, mas principalmente uma <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> imbuí<strong>da</strong>por características específicas de determina<strong>da</strong> <strong>é</strong>poca e local. Em segundo lugar, eaqui buscamos apoio em Jonathan Crary e sua descrença quanto à possibili<strong>da</strong>de deuma história do <strong>olhar</strong> 18 : não <strong>é</strong> nossa pretensão construir uma história <strong>da</strong><strong>visual</strong>i<strong>da</strong>de do <strong>olhar</strong>, mas integrar o <strong>olhar</strong> à história <strong>da</strong>s forças e regras que atuamna <strong>construção</strong> dos campos onde a percepção <strong>visual</strong> acontece. Diga-se a propósitoque, uma história que preten<strong>da</strong> incluir a <strong>visual</strong>i<strong>da</strong>de deve ser em parte umanarrativa dos instrumentos visuais, suas construções, tecnologias e registros <strong>da</strong>srepresentações e, de outra parte, suas configurações sociais e as - menos tangíveis- práticas cognitivas influentes na formulação <strong>da</strong>s convenções e habitus.Deste modo, embora a constituição de uma nova forma de <strong>olhar</strong> sejageralmente associa<strong>da</strong> às mu<strong>da</strong>nças observa<strong>da</strong>s nas práticas de representaçãoartísticas, não nos ateremos a esta metodologia, salvo por um ou outro exemploutilizado de forma quase metafórica. Em outras palavras, na abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>18 CRARY, Jonathan. Techniques of the observer: on vision and modernity in the nineteenth century.Massachusetts: The MIT Press, 1992. p. 6.

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