O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes
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O OLHAR INOCENTE É CEGO 34olhar é submetida a inúmeras contradições além da alternância de modos de visãoem um mesmo individuo.A possibilidade de coexistência de diversos modos de olhar e suasuperposição na formulação de modos subseqüentes aparece justificada em umtrabalho posterior de Jonathan Crary. 7 O autor apresenta a gravura Southwark Fairde 1733 (Figura 1) para exemplificar a coexistência de formas pré-modernas emodernas em uma mesma cultura visual. A figura de Hogarth retrata uma feiracom ares de carnaval. Em uma agitada cena de rua vêem-se artistas, passantes,músicos, negociantes e até um funâmbulo. Para o autor a obra sugere uma grandemistura de modalidades sensíveis 8 , mas apresenta um diferencial. No cantoinferior direito desta representação, dois sujeitos parecem absorvidos, um de cadalado de uma caixa, onde observam um peep show (Figura 1). Para Crary estasfiguras sugerem o modelo dominante da cultura visual ocidental com evidência darelativa separação entre o observador e seu ambiente na observação de umaimagem. Deste modo, o sujeito ‘multifacetado’ das feiras “é transformado em umespectador individualizado e auto-regulado”. 9Figura 2. William Hogarth. SouthwarkFair, 1730. Gravura. DetalheFigura 1. William Hogarth. Southwark Fair, 1733.Gravura. Disponível em (22/07/07).Em busca de uma imagem que se aproximasse do tipo de olhar que nosinteressa neste estudo, chegamos à moça retratada por Manet em Le Chemin de ferde (Figura 3). A mulher seria a acompanhante da menina, a quem vemos decostas, segurando a barra de ferro, atraída pela nuvem de vapor e fumaça que,7 CRARY, Jonathan. Géricault, the Panorama, and Sites of Reality in the Early Nineteenth Century : GreyRoom (New York), v. 9, p. 5-25, Fall 2002.8 Ibid., p. 8.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 35provavelmente, indica o trem, ícone da velocidade e da modernização. No seucolo, vemos um cachorrinho que dorme e um livro aberto. A leitura parece se darentre avanços e recuos, já que o indicador da mão direita marca um outro ponto deleitura, mais à frente. A pintura retrata um momento efêmero, o segundo em quealgo ou alguém fez com que a leitura do livro fosse interrompida. Para Clark, emsua explicação criticada pelas feministas, o olhar da moça conduz ao “transeuntemasculino”. 10 Não nos importa quem ou o quê tenha motivado o olhar queprolonga o quadro para fora da tela. O que nos interessa é esse momento efêmeroem que a moça faz uma pequena pausa da sua leitura para observar algo que lhechama a atenção no ambiente urbano de grandes transformações. Uma pintura é,como observa Clark, um trabalho lento e feito sem pressa. 11 Esta aparentecontradição, a representação de um instantâneo do olhar produzida por umatécnica que demanda um processo lento, ressalta a intensidade efêmera da vidaurbana, sua fluidez e as acidentais troca de olhares. É um olhar entre o blasé e ocurioso, um modo de olhar característico da vida moderna, como o queabordaremos na nossa pesquisa.Figura 3. Edouard Manet, Le Chemin de fer, 1872. Disponível em: (22/07/07).9 Ibid., p. 11.10 CLARK, T. J. A pintura da vida moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo:Companhia das Letras, 2004. p. 22.11 Ibid., p. 19.
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O OLHAR INOCENTE É CEGO 35provavelmente, indica o trem, ícone <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> modernização. No seucolo, vemos um cachorrinho que dorme e um livro aberto. A leitura parece se <strong>da</strong>rentre avanços e recuos, já que o indicador <strong>da</strong> mão direita marca um outro ponto deleitura, mais à frente. A pintura retrata um momento efêmero, o segundo em quealgo ou algu<strong>é</strong>m fez com que a leitura do livro fosse interrompi<strong>da</strong>. Para Clark, emsua explicação critica<strong>da</strong> pelas feministas, o <strong>olhar</strong> <strong>da</strong> moça conduz ao “transeuntemasculino”. 10 Não nos importa quem ou o quê tenha motivado o <strong>olhar</strong> queprolonga o quadro para fora <strong>da</strong> tela. O que nos interessa <strong>é</strong> esse momento efêmeroem que a moça faz uma pequena pausa <strong>da</strong> sua leitura para observar algo que lhechama a atenção no ambiente urbano de grandes transformações. Uma pintura <strong>é</strong>,como observa Clark, um trabalho lento e feito sem pressa. 11 Esta aparentecontradição, a representação de um instantâneo do <strong>olhar</strong> produzi<strong>da</strong> por umat<strong>é</strong>cnica que deman<strong>da</strong> um processo lento, ressalta a intensi<strong>da</strong>de efêmera <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>urbana, sua fluidez e as acidentais troca de <strong>olhar</strong>es. É um <strong>olhar</strong> entre o blas<strong>é</strong> e ocurioso, um modo de <strong>olhar</strong> característico <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moderna, como o queabor<strong>da</strong>remos na nossa pesquisa.Figura 3. Edouard Manet, Le Chemin de fer, 1872. Disponível em: (22/07/07).9 Ibid., p. 11.10 CLARK, T. J. A pintura <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> moderna: Paris na arte de Manet e de seus seguidores. São Paulo:Companhia <strong>da</strong>s Letras, 2004. p. 22.11 Ibid., p. 19.