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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 32resultavam em trechos de imagem sempre mais curtos. Estas observações nadinâmica <strong>da</strong>s imagens gráficas fizeram-me questionar at<strong>é</strong> que ponto astransformações tecnológicas exercem influência sobre o modo que as pessoasassistem a programação e <strong>visual</strong>izam as imagens. Em outras palavras, em quemedi<strong>da</strong> as tecnologias influenciam o sujeito contemporâneo na sua formação dehabitus 2 e conseqüente mu<strong>da</strong>nça no modo de <strong>olhar</strong>? Seria esta influência limita<strong>da</strong>às tecnologias imag<strong>é</strong>ticas?Esta tese investiga a id<strong>é</strong>ia de que algumas características relaciona<strong>da</strong>s aosmodos de <strong>olhar</strong> do sujeito contemporâneo, como a fragmentação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de e odescentramento do sujeito ou “reembaralhamento do eu” 3 , encontram suas origensno s<strong>é</strong>culo XIX, na experiência sucessiva de estímulos produzidos pelo ambientecrescentemente povoado por artefatos industriais. A nossa hipótese considera queo modo de <strong>olhar</strong> construído neste período continua exercendo influência sobre amaneira com a qual nos relacionamos com a <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> contemporânea. Estapesquisa tamb<strong>é</strong>m contempla as tecnologias que provocaram mu<strong>da</strong>nças nasdimensões de tempo e espaço, considera<strong>da</strong>s uma influência marcante nesteprocesso. Não se trata de abraçar um posicionamento determinista em relação àatuação <strong>da</strong>s tecnologias sobre as modificações na <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong>, mas considerá-lascomo elemento atuante em um contexto de diversos outros vetores.Na <strong>é</strong>poca atual, as novas tecnologias digitais e a ciber<strong>cultura</strong> têm sidoaponta<strong>da</strong>s como agentes decisivos de transformações do <strong>olhar</strong>. Em acordo com oimpulso <strong>da</strong>s mediações tecnológicas sobre as mu<strong>da</strong>nças perceptivas e sociais, estetrabalho busca localizar continui<strong>da</strong>des e contradições <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> do s<strong>é</strong>culoXIX.Estudos arqueológicos <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças perceptivas do observador tornaramsemais freqüentes a partir <strong>da</strong> d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong> de 1990, com a divulgação <strong>da</strong> pesquisa2 Para Bourdieu, habitus são estruturas mentais de percepção, atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>s quais os agentes apreendem einteriorizam o mundo social. As pessoas não vivem suas vi<strong>da</strong>s de acordo com toma<strong>da</strong>s de decisões livres, masao contrário, se encontram submeti<strong>da</strong>s às limitações do habitus e <strong>da</strong>s condições objetivas do campo social.Assim, o habitus tende a reproduzir o sistema de condições onde <strong>é</strong> produzido. Não se trata simplesmente <strong>da</strong>ação e produção de práticas, mas, tamb<strong>é</strong>m, de um sistema de percepções e apreciações - conscientes einconscientes - dessas práticas. Em outras palavras, as práticas convencionais são construí<strong>da</strong>s socialmente,mas elas não são coerções exteriores aos sujeitos. Ao contrário, elas são desenvolvi<strong>da</strong>s, ensina<strong>da</strong>s,aprendi<strong>da</strong>s, codifica<strong>da</strong>s e decodifica<strong>da</strong>s dentro de um determinado ambiente social. Seus co-autoresobedecem aos seus desígnios coletivamente ao mesmo tempo em que têm o poder de rejeitá-las outransformá-las. Ver BOURDIEU, Pierre. A economia <strong>da</strong>s trocas simbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva:2004 e O poder simbólico. São Paulo, Editora Bertrand Brasil: 2005.3 SCHORSKE, C. E. Viena fin-de-siècle. Política e <strong>cultura</strong>. São Paulo: Cia. <strong>da</strong>s Letras, 1998. p. 13.

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