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O OLHAR INOCENTE É CEGO 284exposição serão vistas por milhões de olhos, estudadas e comentadas por milhõesde inteligências”. 621De fato, mais do que espaço de exposição, as feiras eram santuários de cultoao progresso ou, ainda, como concluiu Benjamin “lugares de peregrinação aofetiche da mercadoria”. 622 Mais do que objetos, o que se expunha era a idéia deuma sociedade industrial, chave do progresso material que podia encaminhargrandes mudanças e o caminho da felicidade. É neste contexto que as Exposiçõescolocam o olhar com algo que pode ser aprendido. Elas atuaram diretamente na“naturalização” do olhar moderno, na construção da cultura visual moderna,contribuindo, ao mesmo tempo, para sua padronização e realimentação.As Exposições sucederam-se por diversos países, sempre em busca desuperar a precedente em novidades ou em tamanho. A freqüência das exposiçõeslevava os países participantes a construírem pavilhões sempre mais opulentos comum custo que poderia ser desastroso na ausência de um investimento paralelo empublicidade. Após a Primeira Guerra, que abalou a fé no progresso da humanidadee o próprio sentido das Exposições Universais, encontram-se evidências de abusospolíticos e comerciais e mesmo de boicotes deliberados a alguns eventos. Em1928, um encontro em Paris estabeleceu parâmetros disciplinares relacionados àforma e a freqüência das Exposições. Antes que se pudesse verificar ocumprimento do acordo, o início da Segunda Guerra rompeu definitivamente comas características das Exposições, substituídas por eventos menores, maisespecializados ou com menor projeção.621 LAVOLÉE, C. Les expositions de l’industrie et l’exposition universelle de 1867. Paris, Hachette, 1867(Conferences populaires faites à l’asile imperiale de Vincennes). p. 47. apud PESAVENTO, S. op. cit., p.125.622 BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. . In: Passagens... p. 43.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 2855.Considerações finaisNeste trabalho buscamos compreender as transformações da cultura visualcontemporânea a partir de um olhar em direção ao passado, um olhar inspirado noanjo da história de Walter Benjamin. 623 A visão do Angelus Novus nos conduziuindicando a direção como um radar, abrindo caminho na tempestade de novidadesoferecidas pelo progresso – as novas configurações materiais ou apenas as novasembalagens com as quais o mesmo é reciclado e oferecido como novo ao olhar.Ainda, de acordo com a visão que tem da história o anjo imaginado por Benjamin,nossa intenção não foi constituir uma cadeia de acontecimentos ou o traçado deuma continuidade sobre os modos de olhar do início da Idade Moderna até os diasatuais. O objetivo principal do nosso trabalho consistiu em “puxar um fio” dahistória para com ele constituir o eixo da presente discussão. Um fio que nospermitisse conduzir um olhar com os pés assentados sobre o presente, uma visãohistórica que nos fornecesse subsídios para avaliar a participação de modelos deolhar anteriores. Recolhemos os elementos da história e o trouxemos para opresente, como forma de reavivá-los, de fazê-los ocupar o espaço que lhes cabenas transformações do presente e de prepará-los para o diálogo com a culturavisual contemporânea.O momento atual traz em seu bojo uma enorme carga de excessostecnológicos e estímulos sensoriais em uma construção simbiônica, algumas vezespercebida como ápice do projeto moderno, outras, compreendida como uma etapaposterior a este empreendimento - o pós-moderno. A cultura visual moderna, deum modo ou de outro, ainda se faz presente, até mesmo, na medida em queprocura apagar os traços de tudo o que veio antes, inclusive as marcas de suaprópria constituição moderna. Suprimir rastros da cultura é também apagar ahistória e colocar-se frente a tudo que é novo. É neste contexto que, ao pensar o623 BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da História. In: Obras escolhidas. Magia e técnica, arte e política.São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 226.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 284exposição serão vistas por milhões de olhos, estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s e comenta<strong>da</strong>s por milhõesde inteligências”. 621De fato, mais do que espaço de exposição, as feiras eram santuários de cultoao progresso ou, ain<strong>da</strong>, como concluiu Benjamin “lugares de peregrinação aofetiche <strong>da</strong> mercadoria”. 622 Mais do que objetos, o que se expunha era a id<strong>é</strong>ia deuma socie<strong>da</strong>de industrial, chave do progresso material que podia encaminhargrandes mu<strong>da</strong>nças e o caminho <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de. É neste contexto que as Exposiçõescolocam o <strong>olhar</strong> com algo que pode ser aprendido. Elas atuaram diretamente na“naturalização” do <strong>olhar</strong> moderno, na <strong>construção</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong> moderna,contribuindo, ao mesmo tempo, para sua padronização e realimentação.As Exposições sucederam-se por diversos países, sempre em busca desuperar a precedente em novi<strong>da</strong>des ou em tamanho. A freqüência <strong>da</strong>s exposiçõeslevava os países participantes a construírem pavilhões sempre mais opulentos comum custo que poderia ser desastroso na ausência de um investimento paralelo empublici<strong>da</strong>de. Após a Primeira Guerra, que abalou a f<strong>é</strong> no progresso <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>dee o próprio sentido <strong>da</strong>s Exposições Universais, encontram-se evidências de abusospolíticos e comerciais e mesmo de boicotes deliberados a alguns eventos. Em1928, um encontro em Paris estabeleceu parâmetros disciplinares relacionados àforma e a freqüência <strong>da</strong>s Exposições. Antes que se pudesse verificar ocumprimento do acordo, o início <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra rompeu definitivamente comas características <strong>da</strong>s Exposições, substituí<strong>da</strong>s por eventos menores, maisespecializados ou com menor projeção.621 LAVOLÉE, C. Les expositions de l’industrie et l’exposition universelle de 1867. Paris, Hachette, 1867(Conferences populaires faites à l’asile imperiale de Vincennes). p. 47. apud PESAVENTO, S. op. cit., p.125.622 BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do s<strong>é</strong>culo XIX. . In: Passagens... p. 43.

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