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O OLHAR INOCENTE É CEGO 282pertenciam ao mundo inteiro. 608 Em seu discurso, o Príncipe também exaltou adivisão do trabalho na produção, como um motor da civilização em expansão paraoutros ramos. 609 Ciência, indústria e arte seriam aliadas do homem - instrumentodivino - em sua conquista da natureza. A ciência descobre as leis que regem opoder, o movimento e a transformação; a indústria as aplica à matéria prima cruaque a terra cede em abundância, mas que se torna valiosa apenas com oconhecimento; a arte ensina-nos as leis imutáveis da beleza e da simetria, e comelas dá forma às produções do homem. 610 Neste contexto, estabelece-se, segundoWerner Plum, uma das funções cumpridas pelas feiras mundiais, ou seja, suacontribuição no sentido de intensificar a fé no aperfeiçoamento do homem e “nameta final de uma civilização mundial unitária”. 611Aparentemente a idéia de união entre os povos apenas mascarava umarivalidade crescente, principalmente entre França e Inglaterra. A primeira, emboranão alcançando o mesmo patamar de desenvolvimento industrial, afirmava-sepelos artigos de luxo: “as porcelanas de Sèvres e Limoges, os tapetes deAubusson, as sedas de Lião, os perfumes e os trabalhos de ourivesaria”. 612 AInglaterra, dizia-se, “prepara produtos para o consumo popular”. 613 Esta críticatalvez escondesse a morosidade da industrialização francesa que teriapermanecido mais relacionada à atividade manual.Utilizando a noção de campo, criada por Bourdieu 614 , é possível analisar asfeiras universais como campos onde culturas artísticas e cientificas das principaisnações e culturas competiam pela validação e legitimação do padrão simbólicodominante de progresso e modernidade. De fato, a unidade entre os povosmostrava-se menos evidente do que a ascensão de um capital globalizado. Plumobserva que Marx e Engels consideraram a exposição de 1851 uma “provacontundente do poder concentrado, com o qual a grande indústria moderna rompeas barreiras nacionais e confunde cada vez mais as peculiaridades locais da608 Le Livre des Expositions Universelles. 1851-1989. Paris, Ed. Des Arts Décoratifs/Herscher, 1983(Journal”Récits et Témoignages, 1851, p. 17. apud PESAVENTO, S. op. cit., p. 73.609 The Exhibition of 1851. The Speech of H.R.H. The Prince Albert, K.G., F.R.S., at The Lord Mayor'sBanquet, in the City of London, October 1849. The Illustrated London News, 11 October 1849. [1849-10-11]http://pages.zoom.co.uk/leveridge/albert.html acesso em 1 de fevereiro de 2008 às 21:19h.610 Id.611 PLUM, W. op. cit., p. 61.612 PESAVENTO, S. op. cit., p. 82.613 PESAVENTO, S. op. cit., p. 83.614 BOURDIEU, Pierre. Campo do Poder, Campo Intelectual e Habitus de Classe. A economia das trocassimbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva: 2004. p. 183-202.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 283produção, as condições sociais, o caráter de cada povo em particular”. 615 ParaHarvey, a organização de uma série de Exposições Mundiais celebrou o“globalismo” 616 , ao mesmo tempo em que fornecia um arcabouço no âmbito doqual se poderia entender aquilo que Benjamin denomina “a fantasmagoria” domundo das mercadorias e da competição entre nações-Estado e sistemasterritoriais de produção.Não há dúvida de que o maior objetivo da Exposição Mundial de Londresera industrial e comercial, mas ela não pode simplesmente ser compreendidacomo espaço para venda de produtos e intercâmbio de mercadorias. 617 Um olharque se distancie deste posicionamento é sugerido pela historiadora MadeleineReberioux, em seu estudo sobre as Exposições, ao propor que se coloquetemporariamente “entre parênteses, a dimensão explicitamente econômica dapesquisa” 618 como forma de não perder de vista a dimensão cultural do trabalho.Neste contexto, observamos, por exemplo, a atuação da publicidade gerada apartir do sucesso e dos prêmios obtidos. As premiações outorgadas por júrisinternacionais conceituados constituíam-se em um incentivo decisivo para aparticipação de empresários nas exposições. Além de aumentar o prestígio emseus países de origem, também influíam na expansão das vendas. Em algunscasos, a simples presença de produtos e máquinas nas feiras industriais eexposições universais era parâmetro do sucesso destes artefatos. Já em 1862,lemos no Traité theorique et pratique des moteurs à vapeurs que a importânciadas locomotivas a vapor pode ser julgada pelo número de peças encontradas nasexposições industriais e agrícolas. 619 Uma medalha conquistada em umaExposição Universal representava, ainda no século XX, um sinal dereconhecimento à qualidade do produto exibido 620 . Um conferencista naExposição parisiense de 1867 considerava que:“Os livros, brochuras que tratam da questão da economia social são tirados emmilhões de exemplares e são pouco lidos. As idéias que terão publicidade na615 MARX, Karl, ENGELS, Friedrich, Werke, vol. 7. Berlim, 1969. p. 431. apud. PLUM, W. op. cit., p. 21.616 HARVEY, D. op. cit., p. 240-241.617 PLUM, W. op. cit., p. 65.618 REBERIOUX, M. op. cit., p. 3.619 AINÉ, Armengaud. Traité theorique et pratique des moteurs a vapeurs. Paris: A. Morel et Ge. Libraires,1862. p. 111.620 PLUM, W. op. cit., p. 91.
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O OLHAR INOCENTE É CEGO 282pertenciam ao mundo inteiro. 608 Em seu discurso, o Príncipe tamb<strong>é</strong>m exaltou adivisão do trabalho na produção, como um motor <strong>da</strong> civilização em expansão paraoutros ramos. 609 Ciência, indústria e arte seriam alia<strong>da</strong>s do homem - instrumentodivino - em sua conquista <strong>da</strong> natureza. A ciência descobre as leis que regem opoder, o movimento e a transformação; a indústria as aplica à mat<strong>é</strong>ria prima cruaque a terra cede em abundância, mas que se torna valiosa apenas com oconhecimento; a arte ensina-nos as leis imutáveis <strong>da</strong> beleza e <strong>da</strong> simetria, e comelas dá forma às produções do homem. 610 Neste contexto, estabelece-se, segundoWerner Plum, uma <strong>da</strong>s funções cumpri<strong>da</strong>s pelas feiras mundiais, ou seja, suacontribuição no sentido de intensificar a f<strong>é</strong> no aperfeiçoamento do homem e “nameta final de uma civilização mundial unitária”. 611Aparentemente a id<strong>é</strong>ia de união entre os povos apenas mascarava umarivali<strong>da</strong>de crescente, principalmente entre França e Inglaterra. A primeira, emboranão alcançando o mesmo patamar de desenvolvimento industrial, afirmava-sepelos artigos de luxo: “as porcelanas de Sèvres e Limoges, os tapetes deAubusson, as se<strong>da</strong>s de Lião, os perfumes e os trabalhos de ourivesaria”. 612 AInglaterra, dizia-se, “prepara produtos para o consumo popular”. 613 Esta críticatalvez escondesse a morosi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> industrialização francesa que teriapermanecido mais relaciona<strong>da</strong> à ativi<strong>da</strong>de manual.Utilizando a noção de campo, cria<strong>da</strong> por Bourdieu 614 , <strong>é</strong> possível analisar asfeiras universais como campos onde <strong>cultura</strong>s artísticas e cientificas <strong>da</strong>s principaisnações e <strong>cultura</strong>s competiam pela vali<strong>da</strong>ção e legitimação do padrão simbólicodominante de progresso e moderni<strong>da</strong>de. De fato, a uni<strong>da</strong>de entre os povosmostrava-se menos evidente do que a ascensão de um capital globalizado. Plumobserva que Marx e Engels consideraram a exposição de 1851 uma “provacontundente do poder concentrado, com o qual a grande indústria moderna rompeas barreiras nacionais e confunde ca<strong>da</strong> vez mais as peculiari<strong>da</strong>des locais <strong>da</strong>608 Le Livre des Expositions Universelles. 1851-1989. Paris, Ed. Des Arts D<strong>é</strong>coratifs/Herscher, 1983(Journal”R<strong>é</strong>cits et T<strong>é</strong>moignages, 1851, p. 17. apud PESAVENTO, S. op. cit., p. 73.609 The Exhibition of 1851. The Speech of H.R.H. The Prince Albert, K.G., F.R.S., at The Lord Mayor'sBanquet, in the City of London, October 1849. The Illustrated London News, 11 October 1849. [1849-10-11]http://pages.zoom.co.uk/leveridge/albert.html acesso em 1 de fevereiro de 2008 às 21:19h.610 Id.611 PLUM, W. op. cit., p. 61.612 PESAVENTO, S. op. cit., p. 82.613 PESAVENTO, S. op. cit., p. 83.614 BOURDIEU, Pierre. Campo do Poder, Campo Intelectual e Habitus de Classe. A economia <strong>da</strong>s trocassimbólicas. São Paulo, Editora Perspectiva: 2004. p. 183-202.