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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 2804.5. Progresso, uma missão quase sagra<strong>da</strong>Apesar do termo “universal” não constar no nome <strong>da</strong> primeira grandeExposição, realiza<strong>da</strong> em Londres em 1851, este conceito já se encontravapresente. Distante <strong>da</strong> conotação geográfica, “que abarca to<strong>da</strong> a Terra” ou “queadvêm de todos”, a palavra “universal” deve ser compreendi<strong>da</strong> a partir dos valoresque congregam os países portadores e exportadores dos significados de progresso,certificando e consoli<strong>da</strong>ndo a superiori<strong>da</strong>de capitalista frente a outros povos enações. Deste modo, estabelece-se uma correspondência entre o conceito de“progresso” e o termo “universal”. No contexto de uma concepção dogmática,positivista e universalizante do mundo, a indústria e seus efeitos tornam-se chavepara o progresso e o desenvolvimento material. O termo progresso tomadoinicialmente a partir <strong>da</strong> definição de Baudelaire, “dominação progressiva <strong>da</strong>mat<strong>é</strong>ria” 599 , associa-o diretamente à ostentação material evidencia<strong>da</strong> nasExposições. Baudelaire, ao realizar a crítica de arte <strong>da</strong>s obras exibi<strong>da</strong>s naExposição Universal de 1855, considera grotesca a id<strong>é</strong>ia de um progressocrescente e teleológico, um “fanal obscuro”. 600Se uma nação concebe hoje a questão moral num sentido mais complexo do que oentendia no s<strong>é</strong>culo precedente, há progresso, isso <strong>é</strong> evidente. Se um artista produzneste ano uma obra que manifesta mais saber ou força imaginativa do quedemonstrou no ano passado, certamente ele progrediu. Se os víveres hoje são maisbaratos e de melhor quali<strong>da</strong>de do que os de ontem, isso <strong>é</strong> um progressoincontestável na ordem material. Mas, por favor, onde está a garantia de progressopara o futuro? 601No s<strong>é</strong>culo XIX, o progresso material evidencia a sugestão otimista de umfuturo melhor. Benjamin reproduz o pensamento de Wiertz publicado em 1870,“por ocasião de uma Exposição Universal: O que de imediato surpreende não <strong>é</strong> oque os homens fazem hoje, mas o que farão mais tarde”. 602 Embora, comoquestiona Baudelaire, não existam garantias quanto ao futuro, uma sucessão deavanços tecnológicos se mostrava como evidência – inclusive <strong>visual</strong> – dedesenvolvimentos progressivos e sucessivos. Neste contexto, firmou-se uma599 BAUDELAIRE, Charles. Salão de 1859. Poesia e prosa: volume único. Rio de Janeiro: Editora NovaAguilar, 1995. p. 801.600 BAUDELAIRE, Charles. Exposição Universal (1855). Belas-Artes. Poesia e prosa: volume único. Rio deJaneiro: Editora Nova Aguilar, 1995. p. 775.601 BAUDELAIRE, Charles. Exposição Universal (1855)... p. 775.602 BENJAMIN, W. Passagens... p. 212. [G 2a, 4].

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