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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 279especifici<strong>da</strong>des t<strong>é</strong>cnicas. Benjamin, às v<strong>é</strong>speras <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra, considerava amassa como a matriz <strong>da</strong> qual emana “to<strong>da</strong> uma atitude nova com relação à obra dearte. A quanti<strong>da</strong>de converteu-se em quali<strong>da</strong>de. O número substancialmente maiorde participantes produziu um novo modo de participação”. 597Outro lado <strong>da</strong> questão <strong>da</strong> reprodutibili<strong>da</strong>de que era coloca<strong>da</strong> e igualmente,ain<strong>da</strong> hoje se coloca, <strong>é</strong> o tema <strong>da</strong> divisão do trabalho. Os periódicos ilustrados,como o Illustrated London News, eram ver<strong>da</strong>deiras fábricas de imagens. Issotamb<strong>é</strong>m não era exatamente novo, na medi<strong>da</strong> em que Michelangelo na pintura <strong>da</strong>Capela Sistina contou com o trabalho de diversos aju<strong>da</strong>ntes. Mas, no caso <strong>da</strong>sgravuras produzi<strong>da</strong>s no s<strong>é</strong>culo XIX a divisão de trabalho levantava dúvi<strong>da</strong>s emrelação à uniformi<strong>da</strong>de de estilo do gravado. Na Inglaterra, a maioria dosgravadores não assinava o seu trabalho, ao contrário do que acontecia na França, ecomo uma única ilustração era dividi<strong>da</strong> em diversos blocos de madeira, nem todostinham a noção do todo. No entanto, o fato de trabalharem juntos e de formaacelera<strong>da</strong>, compartilhando o mesmo ambiente <strong>cultura</strong>l fazia com que um estilosemelhante fosse mantido.1835-1845: “Não podemos esquecer... que a produção em grande escala, queocorreu naquela <strong>é</strong>poca no setor <strong>da</strong>s gravuras em madeira, conduziu-a muitorapi<strong>da</strong>mente a uma forma de produção industrial. Um dos gravadores de umafábrica se encarregava só <strong>da</strong>s cabeças ou dos corpos; outro, dos menos habilidosos,ou um dos aprendizes, fazia os acessórios, os cenários de fundo etc. Com taldivisão de trabalho, não era possível alcançar uma uniformi<strong>da</strong>de”. Eduard Fuchs,Honor<strong>é</strong> Daumier: Holzschnitte1833-1870, Munique, 1918, p. 16. 598Nesta parte do capítulo em que analisamos como o modo de <strong>olhar</strong> modernoserviu-se de uma pe<strong>da</strong>gogia de divulgação, observamos duas importantes questõesparalelas que influenciaram diretamente a <strong>construção</strong> deste <strong>olhar</strong>: a produção emmassa e o trabalho <strong>visual</strong> de caráter coletivo. A divisão do trabalho, no caso <strong>da</strong>produção de gravuras para a imprensa diária, indica uma forma sinedótica decompreensão <strong>da</strong> execução <strong>da</strong> obra, na medi<strong>da</strong> em que, ao trabalhar sobredetermina<strong>da</strong> parte, não se pode perder a “<strong>visual</strong>ização” do todo. Estendendo esteraciocínio, podemos pensar que a compreensão na participação de um projetomais amplo, mostrava-se condição essencial para que a expressão <strong>visual</strong>individual mantivesse coerência com o estilo particular <strong>da</strong> obra.597 Ibid., p. 192.598 BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 824. [i 1,8].

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