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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 278Muitas coisas de má quali<strong>da</strong>de seriam tanto pior. Neste sentido, Ruskindiscor<strong>da</strong>va de que uma arte barata deveria ser posta ao alcance de todos 591embora, paradoxalmente, considerava que a arte não deveria ser mais umaprerrogativa dos privilegiados. 592 Para ele a arte não poderá ser excessivamentebarata, na medi<strong>da</strong> em que “a quanti<strong>da</strong>de de prazer que se pode receber de umcerto trabalho, depende <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong>de de energia mental que se pode depositarsobre ele”. 593 Com isso ele queria dizer que a nossa capaci<strong>da</strong>de de apreciar umaobra de arte diminuía na medi<strong>da</strong> em que este prazer tivesse que ser compartilhadopor muitas obras, “fragmentos partidos de admirações”. 594 Deste modo, at<strong>é</strong>mesmo uma boa obra de arte deixa de ser boa se ela tiver que ser usufruí<strong>da</strong> sempausa, em excesso.O posicionamento de Ruskin assume ares prof<strong>é</strong>ticos do debate sobre aIndústria Cultural desenvolvido quase um s<strong>é</strong>culo depois, quando Adorno eHorkheimer propõem-se a expor a mitificação <strong>da</strong>s massas afirmando que sob opoder do monopólio econômico, to<strong>da</strong> <strong>cultura</strong> de massa <strong>é</strong> idêntica na medi<strong>da</strong> emque se constitui fun<strong>da</strong>mentalmente em um negócio. 595 Deste modo, todo produto<strong>cultura</strong>l seria criado segundo um modo onde as cifras se sobrepõem ao social. A<strong>cultura</strong>, transforma<strong>da</strong> em objeto a ser consumido, acabaria por transformar oconsumidor em objeto – infantilizado, passivo e acrítico - caracterizando umaforma autoritária e vertical de expansão <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>.Tamb<strong>é</strong>m Walter Benjamin abordou esta questão por outro vi<strong>é</strong>s em seuconhecido texto A obra de arte na <strong>é</strong>poca sua reprodutibili<strong>da</strong>de t<strong>é</strong>cnica. Benjaminconsiderava que a reprodução t<strong>é</strong>cnica levantava a possibili<strong>da</strong>de de democratizaçãona medi<strong>da</strong> em que modificava a relação <strong>da</strong> massa com a arte. Discutindo arecepção <strong>da</strong> pintura e do cinema, Benjamin considerava que o senso crítico erafavorecido pela “ligação direta e interna entre o prazer de ver e sentir, por umlado, e a atitude do especialista, por outro”, 596 desde que respeita<strong>da</strong>s as590 RUSKIN, John. Lecture in Manchester, 1857. Apud The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Artand Industry, Open University A100 course material by Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press,1971. p. 93.591 The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry…p. 93.592 Ibid., p. 106.593 Ibid., p. 93.594 Ibid., p. 93.595 ADORNO, T. e HORKHEIMER, M. Dial<strong>é</strong>tica do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Ed., 1985. p. 114.596 BENJAMIN, Walter. A obra de arte na <strong>é</strong>poca de sua reprodutibili<strong>da</strong>de t<strong>é</strong>cnica. In: Obras escolhi<strong>da</strong>s.Magia e t<strong>é</strong>cnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 187-188.

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