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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 271produção, embora de outra forma, não mais produzindo o objeto do início ao fim.Neste contexto, as imperfeições do objeto produzido manualmente, de que falaVeblen, al<strong>é</strong>m de não prestar-se como garantia de um produto totalmente artesanal,parece mais corresponder aos desejos de uma <strong>cultura</strong> aristocrática que vinha sendoacua<strong>da</strong> pela ascensão de uma nova <strong>cultura</strong>, a <strong>cultura</strong> moderna. Enten<strong>da</strong>-se aquique as aspirações aristocráticas não se referem exatamente aos desejos de galgaruma determina<strong>da</strong> classe social, mas a uma condição simbólica que relacionagostos, anseios e padrões a um ideal almejado.É no contexto deste jogo simbólico que se colocam questões relaciona<strong>da</strong>s aoemprego de materiais que, apesar de não serem exatamente novos, utilizavam umamecânica de produção capaz de alcançar resultados muito diferenciados. Dentreos materiais identificados nos objetos <strong>da</strong> Exposição de 1851 encontram-se a gutapercha,o papier-mâch<strong>é</strong> e o próprio ferro.A guta-percha <strong>é</strong> uma esp<strong>é</strong>cie de látex assemelhado à borracha, mas sem asua elastici<strong>da</strong>de, obti<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> seiva <strong>da</strong> Isonandra Gutta, árvore nativa doarquip<strong>é</strong>lago malaio. Extremamente versátil, seu emprego se estendeu <strong>da</strong>manufatura de recipientes e barcos a puxadores de porta, encadernação de livros eelementos decorativos. Extremamente moldável com o calor, transforma-se emum objeto rígido com o resfriamento, quando então pode receber diversos tipos deacabamento. Deste modo, <strong>é</strong> capaz de reproduzir peças, simulando diferentesmateriais como madeira entalha<strong>da</strong>, ferro fundido e metal, a partir de moldesobtidos por eletrotipia. Um objeto em guta-percha que simulasse a madeiraentalha<strong>da</strong>, usualmente, era muito mais barato do que a mesma peça em madeira.Na Figura 204 vemos a gravura de um móvel exposto em 1851, um consolecomposto por mesa e espelho. A figura nos permite observar os detalhesornamentais criados com a guta-percha: na moldura uma composição de frutas,flores e folhas, enquanto os pain<strong>é</strong>is <strong>da</strong> mesa apresentam escudos antigos. Noentanto, a gravura não <strong>é</strong> capaz de demonstrar as características do materialutilizado como as fotografias de objetos produzidos no s<strong>é</strong>culo XIX tamb<strong>é</strong>m emguta-percha (Figura 205; Figura 206). Estas peças demonstram a plastici<strong>da</strong>de domaterial, o detalhamento dos elementos decorativos em relevo e sua capaci<strong>da</strong>dede simular outros materiais, como tamb<strong>é</strong>m sua possibili<strong>da</strong>de reprodutiva: a partirde um objeto original, podiam se produzir inúmeras outras cópias. Deste modo, à<strong>é</strong>poca <strong>da</strong> Exposição de 1851, praticamente todos os ramos <strong>da</strong> indústria inglesa

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