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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 263natureza e às restrições ao ornamento, exemplifica<strong>da</strong>s pelos pequenos detalhesobservados na vi<strong>da</strong> natural, como por exemplo, nos pontos salientes que criamcontraste com as folhagens.Deste modo, para Redgrave, o propósito de ca<strong>da</strong> objeto ou edifício deveriaser sempre a primeira coisa a ser considera<strong>da</strong>: “a utili<strong>da</strong>de sempre precedendo oornamento”. 566 Al<strong>é</strong>m disso, considera Redgrave, a sua <strong>é</strong>poca era a dos novosmateriais e processos para os quais tornava-se necessário um novo design – maisconsistente e apropriado para ca<strong>da</strong> material. 567 O crítico inglês procura deixarclaro que design e ornamento são coisas distintas. “Design” inclui <strong>construção</strong> eornamento, sendo que este último deve ser alcançado naturalmente a partir doemprego apropriado de materiais e <strong>da</strong> decoração. “Design” relaciona-se com a<strong>construção</strong> de um objeto para uso ou apreciação est<strong>é</strong>tica, compreendendo, destemodo, tamb<strong>é</strong>m a ornamentação. “Ornamento” implica apenas na decoração de umobjeto construído anteriormente. Assim, o ornamento será sempre secundário. Docontrário, o objeto não seria um trabalho ornamentado, mas um meroornamento. 568 Na compreensão desta diferenciação se encontraria o caminho parao bom gosto. 569A discussão sobre o ornamento na indústria não se restringiu apenas aoperíodo <strong>da</strong> Exposição de 1851, mas estendeu-se at<strong>é</strong> o final do s<strong>é</strong>culo,fun<strong>da</strong>mentando o movimento Arts and Crafts no final do s<strong>é</strong>culo XIX e, depois, jáno início do s<strong>é</strong>culo XX, com o grito de guerra, “ornamento e crime”. 570 Mas, háum importante precedente anterior, geralmente relegado pelos estudos históricos:o esetilo Biedermeier.O Biedermeier floresceu nos países de língua alemã a partir de 1815, ano doCongresso de Viena que pôs fim às guerras napoleônicas at<strong>é</strong> 1848 e o início <strong>da</strong>srevoluções europ<strong>é</strong>ias. Sua est<strong>é</strong>tica, que pode ser observa<strong>da</strong> em móveis construídosa partir 1818 571 , apresenta um ideal de beleza que valoriza a simplici<strong>da</strong>de e aquali<strong>da</strong>de do material utilizado, realçado pela ausência de ornamentos. O566 Ibid., p. 36.567 Ibid., p. 34.568 Ibid., p. 56.569 REDGRAVE, Gilbert R. Manual of design. Compiled from the writings and addresses of RichardRedgrave, R. A. London: Chapman and Hall, 1890. p. 38.570 “Ornamento e crime” <strong>é</strong> um texto de 1908 escrito por Adolf Loos que considera o ornamento incompatívelcom a evolução <strong>cultura</strong>l. LOOS, Adolf. Ornamento e Crime. Lisboa: Edições Cotovia, 2004. pp. 223-234.571 OTTOMEYER, H. ; ALBRECHT, K. A.; WINTERS, Laurie. Biedermeyer. The invention of simplicity.Milwaukee, Vienna, Berlin: Hatje Cantz Publishers, 2006. p. 52

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