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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 257por último, es<strong>cultura</strong>s, modelos artísticos, mosaicos, esmaltes, etc. Os produtosindustriais eram exibidos tendo em vista a possibili<strong>da</strong>de de virem a influenciar ogosto do público. 553 Mas, de acordo com a opinião contemporânea de RichardRedgrave, membro <strong>da</strong> Academia Real e, posteriormente, diretor do museu deSouth Kensington 554 , os mais de 100.000 itens em exposição nem semprerefletiam exatamente o que era produzido à <strong>é</strong>poca, na medi<strong>da</strong> em que o objetivodos fabricantes era atrair atenção e prêmios. 555 Por este motivo, muitos objetoseram protótipos de demonstração e não se mostravam comercialmente viáveis,enquanto muitos outros se propunham modelos de uma s<strong>é</strong>rie que nem semprechegava a existir. Apesar disso, o conjunto destas peças participa <strong>da</strong> <strong>construção</strong> deuma nova <strong>cultura</strong> <strong>visual</strong>, a partir <strong>da</strong> efervescência produtiva, em meados do s<strong>é</strong>culoXIX, <strong>da</strong>s novas possibili<strong>da</strong>des dos materiais utilizados e <strong>da</strong>s funções utilitárias,est<strong>é</strong>ticas e simbólicas ansia<strong>da</strong>s para estes objetos.Neste contexto efervescente, os visitantes <strong>da</strong> Exposição eram apresentados aitens tão variados 556 quanto um mobiliário de navios (cujas partes, em caso denaufrágio, se converteriam automaticamente em um salva-vi<strong>da</strong>s flutuante),excêntricos como o “manequim expansível” (indicado para alfaiates e constituídopor 7000 peças interliga<strong>da</strong>s que manipula<strong>da</strong>s reproduziriam as medi<strong>da</strong>s exatas docliente ausente) e assustadores (ou vergonhosos) como a enorme seleção degrilhões, algemas e correntes para pernas, geralmente exporta<strong>da</strong> para países <strong>da</strong>Am<strong>é</strong>rica do Sul. 557 Havia tamb<strong>é</strong>m material impresso em grande quanti<strong>da</strong>de, amaior parte composta por livros ligados à religião e à espirituali<strong>da</strong>de, com cópiasem mais de cem idiomas. Acima de tudo, os visitantes eram confrontados comartefatos adornados em ferro, relógios ornamentais, peças de lareira, objetos dedecoração, serviços de chá e de jantar, uma grande varie<strong>da</strong>de de tecidos, peças emcouro e em vidro, móveis, cerâmicas, trenós, carruagens, instrumentos musicais,552 Id.553 REDGRAVE, Gilbert R. Manual of design. Compiled from the writings and addresses of RichardRedgrave, R. A. London: Chapman and Hall, 1890. p. 6.554 O Museu Victoria e Albert (VAM) foi fun<strong>da</strong>do como Museu de South Kensington em 1852, abrigandomuitos dos objetos expostos na Exposição de 1851. É hoje considerado o maior museu de arte decorativa edesign do mundo.555 REDGRAVE, G. op. cit., p. 7.556 The Crystal Palace and the Great Exhibition, in Art and Industry, Open University A100 course materialby Aaron Scharf. Great Britain: Open University Press, 1971. p. 59-60.557 É interessante observar um aparente contraste entre a indústria e “missão civilizadora” inglesa no seuposicionamento na luta contra a escravatura e pela abolição do com<strong>é</strong>rcio de escravos, demonstrado naExposição com a exibição de es<strong>cultura</strong>s de escravos algemados. Cf. PLUM, W. op. cit., p. 135.

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