O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 254“Descobre-se com espanto nessas aquarelas como se estava empenhado em decoraresse colossal espaço interior à maneira dos contos de fadas orientais, e como, aolado dos depósitos de mercadorias sob as arcadas, os gigantescos pavilhões erampreenchidos por grupos monumentais de bronze, estátuas de mármore echafarizes”. 550As aquarelas que integram a publicação de 1854 sobre a Exposição de 1851em Londres ratificam a grandeza e a suntuosidade do evento, mas também o seuexcesso de ornamento. Tomemos como exemplo, os drapeados que adornam oconjunto da cama na seção austríaca (Figura 177) ou que criam um ambiente paraa exposição das estátuas (Figura 178). Em ambos os casos aparentam mesmosaídos de contos de fadas. As dobras do tecido parecem servir para ocultar a friezada construção em ferro, criando um ambiente mais aconchegante. Na verdade, osem número de objetos seriam mais do que suficiente para constituir um ambienteque se destacasse da geometria do ferro, como vemos em outra figura do mesmoálbum que ilustra a principal avenida da Exposição. Neste exemplo há umasugestão de contraste entre a regularidade dos elementos construtivos do prédio(e sua perspectiva) com um grande número de objetos, incluindo uma fonte e umrefletor mecânico (Figura 179). A detalhada gravura em metal (Figura 181)reproduz os mesmos artefatos a partir de um outro ângulo e de um ponto de vistamais alto. É muito provável que esta figura tenha sido produzida tomando porbase uma imagem de natureza fotográfica como a destinada à visualização atravésdo estereoscópio (Figura 180).Figura 177. Pavilhão austríaco. Ilustração dosegundo volume de Dickinson'scomprehensive pictures of the GreatExhibition of 1851, com trablhados de Nash,Haghe e Roberts RA, 1854. In collection of:Science Museum Library. Disponível em: (2/09/07).Figura 178. Pavilhão austríaco. Ilustração dosegundo volume de Dickinson's comprehensivepictures of the Great Exhibition of 1851, comtrablhados de Nash, Haghe e Roberts RA, 1854.In collection of: Science Museum LibraryDisponível em: (2/09/07).549 BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 219. [G 6; G 6a, 1].550 BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 212-213. [G 2a,7].

O OLHAR INOCENTE É CEGO 255Figura 179. Ilustração do Dickinson'scomprehensive pictures of the Great Exhibitionof 1851, com trablhados de Nash, Haghe eRoberts RA, 1854. Science Museum LibraryDisponível em: (2/09/07).Figura 180. Interior do Palácio de Cristal.Fotografia de um par de estereoscópio. ScienceMuseum/Science & Society Picture Library.Disponível em: (2/09/07).Figura 181. The Great Exhibition, Main Avenue. In: History and descriptionof the Crystal Palace, and the Exhibition of the World's Industry in 1851.Gravura em metal a partir de desenhos originais e daguerreótipos. London eNew York, John Tallis and Co., 1852. Disponível em: (3/06/07).A questão da dessemelhança visual, formal e de estilo entre o Palácio deCristal e os objetos exibidos não é algo que possa ser explicado de formaconclusiva principalmente porque, em nosso ponto de vista, uma cultura visualnão estabelece uma equivalência temporal absoluta. Em se tratando de um períodomarcado por grandes mudanças técnicas capazes de produzir variações denatureza visual, o descompasso coloca-se como uma possibilidade concreta. Nestecontexto, Greenhalgh observa que as mudanças produzidas pelo processo de

O OLHAR INOCENTE É CEGO 254“Descobre-se com espanto nessas aquarelas como se estava empenhado em decoraresse colossal espaço interior à maneira dos contos de fa<strong>da</strong>s orientais, e como, aolado dos depósitos de mercadorias sob as arca<strong>da</strong>s, os gigantescos pavilhões erampreenchidos por grupos monumentais de bronze, estátuas de mármore echafarizes”. 550As aquarelas que integram a publicação de 1854 sobre a Exposição de 1851em Londres ratificam a grandeza e a suntuosi<strong>da</strong>de do evento, mas tamb<strong>é</strong>m o seuexcesso de ornamento. Tomemos como exemplo, os drapeados que adornam oconjunto <strong>da</strong> cama na seção austríaca (Figura 177) ou que criam um ambiente paraa exposição <strong>da</strong>s estátuas (Figura 178). Em ambos os casos aparentam mesmosaídos de contos de fa<strong>da</strong>s. As dobras do tecido parecem servir para ocultar a frieza<strong>da</strong> <strong>construção</strong> em ferro, criando um ambiente mais aconchegante. Na ver<strong>da</strong>de, osem número de objetos seriam mais do que suficiente para constituir um ambienteque se destacasse <strong>da</strong> geometria do ferro, como vemos em outra figura do mesmoálbum que ilustra a principal aveni<strong>da</strong> <strong>da</strong> Exposição. Neste exemplo há umasugestão de contraste entre a regulari<strong>da</strong>de dos elementos construtivos do pr<strong>é</strong>dio(e sua perspectiva) com um grande número de objetos, incluindo uma fonte e umrefletor mecânico (Figura 179). A detalha<strong>da</strong> gravura em metal (Figura 181)reproduz os mesmos artefatos a partir de um outro ângulo e de um ponto de vistamais alto. É muito provável que esta figura tenha sido produzi<strong>da</strong> tomando porbase uma imagem de natureza fotográfica como a destina<strong>da</strong> à <strong>visual</strong>ização atrav<strong>é</strong>sdo estereoscópio (Figura 180).Figura 177. Pavilhão austríaco. Ilustração dosegundo volume de Dickinson'scomprehensive pictures of the GreatExhibition of 1851, com trablhados de Nash,Haghe e Roberts RA, 1854. In collection of:Science Museum Library. Disponível em: (2/09/07).Figura 178. Pavilhão austríaco. Ilustração dosegundo volume de Dickinson's comprehensivepictures of the Great Exhibition of 1851, comtrablhados de Nash, Haghe e Roberts RA, 1854.In collection of: Science Museum LibraryDisponível em: (2/09/07).549 BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 219. [G 6; G 6a, 1].550 BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 212-213. [G 2a,7].

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