21.07.2015 Views

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 242Trinta e oito anos depois, uma outra <strong>construção</strong> em ferro pr<strong>é</strong>-fabricado,desta vez para a Exposição Universal de Paris em 1889, tamb<strong>é</strong>m atraiu a mesmaon<strong>da</strong> de críticas. Tratava-se do projeto <strong>da</strong> Torre Eiffel, um monumento -arquitetônica e simbolicamente voltado para a racionali<strong>da</strong>de e o progressocientífico. Em 14 de fevereiro de 1887, o periódico Le Temps trouxe uma cartaaberta assina<strong>da</strong> por diversos artistas como Charles Gounod, Victorien Sardou,Alexandre Dumas, François Copp<strong>é</strong>e , Leconte de Lisle, Guy de Maupassant, SullyPrudhomme, Eugène Guillaume, dentre outros. 522 Este texto expressava aindignação contra a Torre Eiffel que, segundo seus signatários, ignorava o gosto ea história franceses em nome de uma “inútil e monstruosa Torre Eiffel”, jábatiza<strong>da</strong> de “torre de Babel”. Os artistas procuravam alertar contra a <strong>construção</strong> deuma “gigantesca e negra chamin<strong>é</strong> de usina” que viria a esmagar, com seu volumebárbaro, a Notre-Dame, a Sainte-Chapelle, a Torre Saint-Jacques [...] “todos osnossos monumentos humilhados, to<strong>da</strong>s as nossas arquiteturas diminuí<strong>da</strong>s”. Namesma publicação, Gustave Eiffel apresentou sua defesa. Em primeiro lugar,formalizou sua crença na beleza e harmonia <strong>da</strong>s formas <strong>da</strong> sua <strong>construção</strong> paralevantar a questão de que, na medi<strong>da</strong> em que este era um projeto desenvolvido porengenheiros, acreditava-se que a beleza não seria uma preocupação. Eiffel rebatiaperguntando se “nas nossas construções, ao mesmo tempo em que fazemos osólido e o duradouro, tamb<strong>é</strong>m não nos esforçamos para fazê-las elegantes?”. 523Para Eiffel, o primeiro princípio est<strong>é</strong>tico <strong>da</strong> arquitetura trata <strong>da</strong> determinação desuas linhas essenciais a partir <strong>da</strong> adequação à sua destinação, no caso <strong>da</strong> Torre,sua resistência contra o vento. Eiffel prosseguia afirmando que uma vez pronta, aTorre viria a ser a mais alta estrutura construí<strong>da</strong> pelo homem e que, tamb<strong>é</strong>m porisso, seria motivo de admiração e nunca de vergonha como sugeriam os artistas.Para finalizar, Eiffel considera que era chega<strong>da</strong> a hora de mostrar que a Françanão era apenas o país do divertimento, mas tamb<strong>é</strong>m dos engenheiros econstrutores que edificavam os monumentos <strong>da</strong> indústria moderna. O periódicoquestiona quem tem razão: “artistas ou engenheiros”? Apesar de algunssignatários terem se rendido posteriormente aos encantos <strong>da</strong> Torre, ain<strong>da</strong> pairamalgumas questões sobre esta disputa. A primeira pergunta que fazemos <strong>é</strong> serealmente os artistas encontravam-se dissociados dos “avanços modernos”.522 Le Temps. Paris, 14 f<strong>é</strong>vrier 1887.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!