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O OLHAR INOCENTE É CEGO 238As fotografias de Delamotte ressaltam a natureza proto-moderna de um dosmais importantes prédios do século XIX (Figura 161), deixando evidente a suainfluência sobre as construções e eventos posteriores. Neste contexto, éimportante destacar que sua forma foi obtida a partir das necessidadesapresentadas e sem vínculos históricos com estilos anteriores. No entanto, nemtodos consideravam a construção uma maravilha do mundo moderno e o prédiofoi muito criticado em sua própria época. Profecias macabras espalhavamameaças: o vento poria o prédio abaixo, a vibração do movimento das pessoasdestruiria a construção e a expansão do ferro, com o calor do sol, aniquilaria oempreendimento. O arquiteto e teórico Augustus Welby Northmore Pugin chamouo Palácio de Cristal de “monstro de vidro”. Para Carlyle era uma “enorme bolhade sabão” e para Ruskin uma “estrutura de pepino” 515 ou ainda, apenas uma“estufa”. 516 A crítica maldosa de Ruskin carregava um elemento de verdade já queJoseph Paxton havia anteriormente construído imensas estufas para o Duque deDevonshire. Entre os arquitetos que escreviam no Journal of Design andManufactures sobre o Palácio de Cristal em 1851, alguns se mostravam chocadoscom o padrão de gosto demonstrado: “a ausência de qualquer princípio de designornamental é evidente” e “o gosto dos produtores não é educado”. 517Figura 161. O transepto central. Palácio de Cristal. Philip HenryDelamotte, impressão fotográfica, 1855. The British Library Board.Disponível em: (17/03/08)515 Apud PEVSNER, Nicolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo: Martins Fontes,2001. p. 13.516 http://spencer.lib.ku.edu/exhibits/greatexhibition/sydenham.htm. Acesso em 22/7/2002 às 9:45 h.517 Apud PEVSNER, N. Origens... p. 11.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 239O final do evento foi acompanhado por uma grande discussão em relação aoque deveria ser feito com a estrutura em ferro e vidro. Alguns exaltavam apermanência do prédio no local da Exposição. Autoridades americanas sugeriamseu translado para os Estados Unidos e um arquiteto apresentou um projeto dereaproveitamento do material em uma torre de mais de 300 metros, a serconstruída com o auxílio de elevadores a vapor. Em 1854, o Palácio de Cristal foireinaugurado em Sydenham como um espaço de eventos e concertos tendo sidodestruído por um incêndio em 1936. Ao tomar conhecimento do processo detransferência do prédio, John Ruskin escreveu um artigo onde criticou a apoteosedo ferro e do vidro e o excesso de devoção à mecânica da construção. Para esteautor, embora estas obras mereçam admiração, não se trata do mesmo tipo deadmiração devotada à poesia e à arte. 518As críticas não afastaram o público que comparecia em massa garantindo olucro do investimento. Em 1851, atraídas por passagens e acomodaçõesacessíveis, pessoas que nunca haviam antes viajado lotaram o Palácio de Cristal.Todo mundo corria para ver a primeira Exposição Universal (Figura 162). Alémdisso, como mencionamos anteriormente, algumas manufaturas estimulavam avisita de seus empregados com o intuito pedagógico de ampliação dosconhecimentos práticos relacionados aos processos e materiais industriais, mas,também de forma sub-reptícia de “convencimento das virtudes do capitalismo”. 519As visitas eram incentivadas para todas as camadas da população. Para isso, deum lado, se impuseram restrições – bebidas alcoólicas e animais eram proibidos –e dias de preços especiais (shilling days). Os cartunistas dos jornais da época sedeliciavam em exibir a admiração de pessoas mais simples e de áreas rurais com omundo novo que se abria à sua frente (Figura 163).518 RUSKIN, John. The opening of the Crystal Palace. In: SCHARF, Aaron et al. (ed.). Industrialisation andCulture. 1830-1914. London: The Open University Press, 1970. p. 298.519 PESAVENTO, S. op. cit., p. 120.
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O OLHAR INOCENTE É CEGO 239O final do evento foi acompanhado por uma grande discussão em relação aoque deveria ser feito com a estrutura em ferro e vidro. Alguns exaltavam apermanência do pr<strong>é</strong>dio no local <strong>da</strong> Exposição. Autori<strong>da</strong>des americanas sugeriamseu translado para os Estados Unidos e um arquiteto apresentou um projeto dereaproveitamento do material em uma torre de mais de 300 metros, a serconstruí<strong>da</strong> com o auxílio de elevadores a vapor. Em 1854, o Palácio de Cristal foireinaugurado em Sydenham como um espaço de eventos e concertos tendo sidodestruído por um incêndio em 1936. Ao tomar conhecimento do processo detransferência do pr<strong>é</strong>dio, John Ruskin escreveu um artigo onde criticou a apoteosedo ferro e do vidro e o excesso de devoção à mecânica <strong>da</strong> <strong>construção</strong>. Para esteautor, embora estas obras mereçam admiração, não se trata do mesmo tipo deadmiração devota<strong>da</strong> à poesia e à arte. 518As críticas não afastaram o público que comparecia em massa garantindo olucro do investimento. Em 1851, atraí<strong>da</strong>s por passagens e acomo<strong>da</strong>çõesacessíveis, pessoas que nunca haviam antes viajado lotaram o Palácio de Cristal.Todo mundo corria para ver a primeira Exposição Universal (Figura 162). Al<strong>é</strong>mdisso, como mencionamos anteriormente, algumas manufaturas estimulavam avisita de seus empregados com o intuito pe<strong>da</strong>gógico de ampliação dosconhecimentos práticos relacionados aos processos e materiais industriais, mas,tamb<strong>é</strong>m de forma sub-reptícia de “convencimento <strong>da</strong>s virtudes do capitalismo”. 519As visitas eram incentiva<strong>da</strong>s para to<strong>da</strong>s as cama<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população. Para isso, deum lado, se impuseram restrições – bebi<strong>da</strong>s alcoólicas e animais eram proibidos –e dias de preços especiais (shilling <strong>da</strong>ys). Os cartunistas dos jornais <strong>da</strong> <strong>é</strong>poca sedeliciavam em exibir a admiração de pessoas mais simples e de áreas rurais com omundo novo que se abria à sua frente (Figura 163).518 RUSKIN, John. The opening of the Crystal Palace. In: SCHARF, Aaron et al. (ed.). Industrialisation andCulture. 1830-1914. London: The Open University Press, 1970. p. 298.519 PESAVENTO, S. op. cit., p. 120.