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O OLHAR INOCENTE É CEGO 226por exemplo, o guia oficial da Exposição de Londres afirmava que o objetivo dasexposições não era simplesmente atrair as massas, mas promover “a instrução dopúblico em arte, ciência e manufatura” através da exposição de objetosselecionados. 484 A preocupação com a educação, presente em todas as exposições,apontava em diversas direções. De um lado, o caráter didático-pedagógico deformar, instruir, levar ao novo, aproximar das descobertas técnicas e científicas eincutir ideais de cidadania, trabalho e modernidade. De outro lado, surgia tambéma preocupação com a habilidade técnica e o aprimoramento do profissional daindústria. Em paralelo a este último ponto, buscava-se também o direcionamentodo gosto do público no sentido de um “refinamento”, assim como também dosdesigners e dos demais envolvidos no processo industrial a partir da visualizaçãoem termos comparativos com o que era produzido em todo o planeta.O elemento educacional que apoiava a realização das Exposições favoreceua ocorrência de diversos congressos e conferências paralelas, algumas acadêmicase outras direcionadas para a elaboração de propostas e sugestões de caráterconvencional e regulador. Já nas primeiras Exposições surgiram proposiçõescomo o plano francês de um sistema geral de pesos e medidas, a discussão sobreuma moeda universal, as sugestões para um esquema internacional de cores e umanomenclatura científico-tecnológica universal. 485 Estas propostas evidenciamsinais de uma globalização crescente e, de fato, algumas delas surtiram efeito anosdepois como, por exemplo, a implantação de um sistema de medidas, adotado em1875 na Convenção Métrica Internacional.A partir da Exposição Universal de 1878, realizada em Paris, os congressosinternacionais especializados passaram a ser considerados parte integrante dasExposições. Em paralelo ao evento deste ano, realizaram-se 32 congressos quetratavam de assuntos tão diversos como demografia, arquitetura, higiene,homeopatia e propriedade industrial. 486 Alguns anos depois, na ExposiçãoUniversal de 1889 em Paris, os 69 congressos realizados reuniram 20.000pessoas. 487 Dentre estes, chama-nos a atenção a realização do CongressoInternacional de Fotografia. O relatório e as atas deste encontro evidenciam os484 London International Exhibition 1874. Official Guide (Illustrated). London, J. M. Johnsons and Sons,1874. apud GREENHALGH, P. op. cit., p. 19.485 PLUM, W. op. cit., p. 85.486 SCHROEDER-GUDEHUS, Brigitte et RASMUSSEN, Anne. Les fastes du progrès. Le guide desExpositions universelles 1851-1992. Paris: Flammarion, 1992. p. 100.
O OLHAR INOCENTE É CEGO 227esforços para aproximar a fotografia de bases cientificas a partir de discussõesrelacionadas aos efeitos da luz, às questões relativas à propriedade dos negativos edas reproduções e à uniformização da nomenclatura. 488 Decisões tomadas nesteencontro levaram à supressão de alguns termos como “gliptografia” e “fototipia” eà determinação do emprego do termo “foto”, por sua associação com a ação daluz, aliada à terminação “grafia”. Entre estas duas palavras, deveria ser incluído ovocábulo correspondente ao procedimento, o que resultava em nomes como“fotocromatografia”. 489 O esforço pela adoção de convenções em áreas de recentedesenvolvimento tecnológico, como é o caso da fotografia na Exposição de 1889,sugere, além da visão de um mundo que se pretende globalizado, a compreensãoda utilização de novas tecnologias como um elemento fundamental eindispensável na atualização do capital. Mas, acima de tudo, parece demonstrar anecessidade de convenções e acordos simbólicos para o sucesso de implantaçãodesta tecnologia.Apesar das Exposições realizadas a partir de 1851 apresentarem um viésinstrutivo, este não era pensado de forma dissociada do entretenimento: a propostaera “ensinar divertindo”. 490 Ou seja, o aprendizado deveria ser naturalizado ouestilizado de forma a ocultar as intenções instrutivas, que por sua vezencontravam-se diretamente relacionadas às novas formulações produtivas. Adualidade entre instrutivo e recreativo esteve em grande evidência na Exposiçãode 1889. De acordo com Barbuy, comentava-se que a exposição parisienseanterior, de 1878, havia sido excessivamente séria, de modo que, na de 1889, oobjetivo era “menos instruir os cientistas do que maravilhar os leigos”. 491 Oaspecto de entretenimento é evidenciado por Benjamin, para quem o objetivo dasexposições era o divertimento das classes trabalhadoras. 492Ao longo do tempo, o espírito enciclopédico foi cedendo espaço ao lúdico eao espetáculo nas Exposições Universais. Pesavento questiona se estasmodificações refletiam a influência do público sobre os organizadores ou se osempresários, homens de ciência e burocratas rendiam-se, “vencidos nos seuspropósitos pedagógicos e cientificistas, pela força irresistível da indústria do lazer,487 Ibid., p. 117.488 BARBUY, H. op. cit., p. 34.489 Id. Cf menção ao relatório do Congresso.490 Ibid., p. 54.491 L’Exposition de Paris, 1889, v. 3/4:98. apud BARBUY, H. op. cit., 54.
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O OLHAR INOCENTE É CEGO 227esforços para aproximar a fotografia de bases cientificas a partir de discussõesrelaciona<strong>da</strong>s aos efeitos <strong>da</strong> luz, às questões relativas à proprie<strong>da</strong>de dos negativos e<strong>da</strong>s reproduções e à uniformização <strong>da</strong> nomenclatura. 488 Decisões toma<strong>da</strong>s nesteencontro levaram à supressão de alguns termos como “gliptografia” e “fototipia” eà determinação do emprego do termo “foto”, por sua associação com a ação <strong>da</strong>luz, alia<strong>da</strong> à terminação “grafia”. Entre estas duas palavras, deveria ser incluído ovocábulo correspondente ao procedimento, o que resultava em nomes como“fotocromatografia”. 489 O esforço pela adoção de convenções em áreas de recentedesenvolvimento tecnológico, como <strong>é</strong> o caso <strong>da</strong> fotografia na Exposição de 1889,sugere, al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> visão de um mundo que se pretende globalizado, a compreensão<strong>da</strong> utilização de novas tecnologias como um elemento fun<strong>da</strong>mental eindispensável na atualização do capital. Mas, acima de tudo, parece demonstrar anecessi<strong>da</strong>de de convenções e acordos simbólicos para o sucesso de implantaçãodesta tecnologia.Apesar <strong>da</strong>s Exposições realiza<strong>da</strong>s a partir de 1851 apresentarem um vi<strong>é</strong>sinstrutivo, este não era pensado de forma dissocia<strong>da</strong> do entretenimento: a propostaera “ensinar divertindo”. 490 Ou seja, o aprendizado deveria ser naturalizado ouestilizado de forma a ocultar as intenções instrutivas, que por sua vezencontravam-se diretamente relaciona<strong>da</strong>s às novas formulações produtivas. Aduali<strong>da</strong>de entre instrutivo e recreativo esteve em grande evidência na Exposiçãode 1889. De acordo com Barbuy, comentava-se que a exposição parisienseanterior, de 1878, havia sido excessivamente s<strong>é</strong>ria, de modo que, na de 1889, oobjetivo era “menos instruir os cientistas do que maravilhar os leigos”. 491 Oaspecto de entretenimento <strong>é</strong> evidenciado por Benjamin, para quem o objetivo <strong>da</strong>sexposições era o divertimento <strong>da</strong>s classes trabalhadoras. 492Ao longo do tempo, o espírito enciclop<strong>é</strong>dico foi cedendo espaço ao lúdico eao espetáculo nas Exposições Universais. Pesavento questiona se estasmodificações refletiam a influência do público sobre os organizadores ou se osempresários, homens de ciência e burocratas rendiam-se, “vencidos nos seuspropósitos pe<strong>da</strong>gógicos e cientificistas, pela força irresistível <strong>da</strong> indústria do lazer,487 Ibid., p. 117.488 BARBUY, H. op. cit., p. 34.489 Id. Cf menção ao relatório do Congresso.490 Ibid., p. 54.491 L’Exposition de Paris, 1889, v. 3/4:98. apud BARBUY, H. op. cit., 54.