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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 221indústrias que vinham com eles, do turismo, <strong>da</strong> recreação, <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> e <strong>da</strong>exibição”. 465A questão do fun<strong>da</strong>mento social do espetáculo <strong>é</strong> rechaça<strong>da</strong> por MichelFoucault. O estudo <strong>da</strong>s mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de poder <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de moderna leva Foucaulta afirmar que “nossa socie<strong>da</strong>de não <strong>é</strong> de espetáculos, mas de vigilância”. 466 Comoobserva Tony Bennett, Foucault chega a esta conclusão ao analisar o momento emque a punição deixa de ser aplica<strong>da</strong> como um espetáculo de exibição de poder.Para Bennett, este enfoque limita uma visão mais ampla de uma retórica do poderque deveria tamb<strong>é</strong>m se apoiar no complexo exibicionário – um poder que semanifesta em sua habili<strong>da</strong>de de organizar e coordenar “uma ordem <strong>da</strong>s coisas” eum lugar para as pessoas em relação a esta ordem. 467 A combinação entrevigilância e espetáculo, leva Bennett a apresentar, não sem críticas, a sugestão deGraeme Davison de que, se o panóptico <strong>é</strong> a representação arquitetônica do poder,o Palácio de Cristal, palco <strong>da</strong> primeira Exposição Universal, reverte o princípio dopanóptico na medi<strong>da</strong> em que fixa os olhos <strong>da</strong> multidão sobre um fascinanteconjunto de mercadorias. “O Panóptico foi projetado de um modo que todospudessem ser vistos; o Palácio de Cristal foi desenhado de modo que todospossam ver”. 468 Para Bennett, a peculiari<strong>da</strong>de do complexo exibicionário não deveser procura<strong>da</strong> na reversão dos princípios do Panóptico, mas na incorporação decertos aspectos deste princípio (e tamb<strong>é</strong>m do panorama), na formação de umatecnologia <strong>da</strong> visão que sirva não para atomizar ou dispersar a multidão, mas pararegulá-la. Deste modo, a multidão torna-se visível para si própria, constituindoparte do próprio espetáculo. Neste contexto, o autor reproduz uma instrução dotexto “Short Sermon to Sightseers” <strong>da</strong> Exposição Pan-Americana de 1901: “Porfavor, ao passar por estes portões, lembre-se de que você <strong>é</strong> parte deste show”. 469 Ainterativi<strong>da</strong>de antecipa<strong>da</strong> sugere que não há espetáculo sem a mediação do465 Ibid. p. 43-44.466 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: Editora Vozes, 2006. p. 178.467 BENNETT, Tony. The Exhibitionary Complex. In: DIRKS, N. B., ELEY, G. e ORTNER, Sherry B. (ed.)Culture / Power / History. New Jersey: Princeton University Press, 1994. p. 130.468 DAVISON, Graeme. Exhibitions. Australian Cultural History (Canberrra: Australian Academy of theHumanities and the History of Ideas Unit, A. N. U.), no. 2 (1982/3) 7. apud BENNETT, T. op. cit., p. 128.469 Citado por HARRIS, Neil . Museums, merchandising and popular taste: The struggle for influence. InQUIMBY, I. M. G. (ed) Material Culture and the Study of American Life. New York: W. W. Norton, 1978. p.144. apud BENNETT, T. op. cit., p. 132.

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