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O OLHAR INOCENTE É CEGO 218possibilidade de realizar esta análise sobre as Exposições e não sobre estastecnologias, busca captar o primeiro momento da experiência de uma nova culturavisual, recentemente desenvolvida.As Exposições Universais colocam-se como um elemento fundamental naestruturação de uma cultura moderna, apoiada sobre a modernização da segundametade do século XIX. Se por um lado surgem como conseqüência do mesmoconjunto de processos que gerou a nova percepção urbana, por outro, elas tambémse colocam como um fator atuante no desenvolvimento de uma pedagogia destacultura visual.Além disso, as Exposições Universais têm o mérito de ressaltar a ascensãodo campo do design, tanto a partir da exibição de produtos desenvolvidos pelaindústria quanto pelas discussões que parecem mostrar-se, pela primeira vez,relevantes para esta área. Sobre estas questões, Greenhalgh observa que o ano de1851, data da primeira Exposição Universal, é considerado ponto de partida para ahistória do design, quando, de fato, deveria ser o ponto de partida para umahistória crítica do design na medida em que o que era discutido era maisinteressante e novo do que o que era apresentado. 451 De qualquer forma, a ligaçãoentre as Exposições e o campo do design amplia a consideração de Bürdek de queestas mostras eram capazes de revelar o estágio de desenvolvimento do design àépoca. 452 Além da oportunidade dada às pessoas comuns de conhecer máquinasem funcionamento e produtos produzidos industrialmente, a primeira Exposiçãopermitiu que designers, artistas, críticos e industriais tivessem acesso ao estado daarte do que era produzido em diversos países. Se isto não era traduzido em muitasinovações formais, certamente ressalta discussões capazes de fundamentar umacrítica do ornamento e do design, o que aponta para mudanças na forma de olhar oque era produzido.4.1. Exposições e espetáculoAs Exposições, que se realizaram em diversos pontos do planeta, entremeados do século XIX e as primeiras décadas do XX, foram moldadas a partir dos451 GREENHALGH, Paul. Ephemeral Vistas: The Expositions Universelles, Great Exhibitions and World’sFairs, 1851-1939. Manchester: University Press, 1994. p. 143.452 BÜRDEK, Bernhard E. História, Teoria e Prática do Design de Produtos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher,2006. p. 21.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 219exemplos da Inglaterra, França e Estados Unidos, onde eram chamadas,respectivamente de Great Exhibitions, Expositions Universelles e World’s Fairs.No entanto, exibições artesanais e industriais de caráter nacional tinham sidofreqüentes na França e na Inglaterra a partir do século XVIII e, mesmo antes, naIdade Média, geralmente relacionadas a festividades religiosas. Com o passar dotempo, elas foram aumentando em importância e em itens exibidos. Uma destas serealizou em 1798, no Campo de Marte em Paris. Na Inglaterra, na década de1830, diversas exibições ligadas a institutos de tecnologia chegaram a atrairpúblicos de até trinta mil pessoas. 453 A primeira Exposição considerada de caráteruniversal foi realizada em Londres em 1851. Embora esta palavra não constassedo seu nome, The Great Exhibition of the Works of Industry of All Nations, apretensão encontrava-se profundamente arraigada. Para o historiador Asa Briggs,a Exposição de 1851 foi o ponto culminante de uma longa e entrelaçada história, enão um evento surpreendente. 454 De forma análoga, consideramos que a históriadas Exposições Universais encontra-se profundamente relacionada à construçãoda cultura visual moderna.As Exposições Universais atuaram como difusores de valores, mas em umposicionamento mais amplo do que é freqüentemente sugerido em estudosrecentes 455 , onde elas aparecem como veículos de propaganda de massa. Em nossoponto de vista, os valores modernos transmitidos nas Exposições e suaascendência sobre o sentido visual da sociedade burguesa do século XIX sãodemarcadores da construção de um habitus coletivo que definiu a visualidade noperíodo. As próprias exposições podem ser analisadas como representaçõesvisuais 456 , já que são compreendidas “como modelos de mundo materialmenteconstruídos e visualmente apreensíveis”. 457 Para Barbuy, trata-se de um “veículopara instruir (ou industriar) as massas sobre os novos padrões da sociedadeindustrial (um dever-ser de ordem social)”. 458 De forma semelhante, Reberieux453 KUSAMITSU, Toshio. Great Exhibitions before 1851. History Workshop. n. 9. (Spring 1980): 70-89.apud The Books of the fairs. p. 5. http://microformguides.gale.com/Data/Introductions/10020FM.htm.Acesso em 25 de fevereiro de 2007 às 12:57h.454 BRIGGS, Asa. Exhibiting the Nation. History Today, January 2000. p. 18455 Cf. PLUM, Werner. Exposições mundiais no século XIX: espetáculos da transformação sócio-cultural.Bonn : Friedrich-Ebert-Stiftung, 1979. e REBERIOUX, Madeleine. Approches de l’histoire de expositionsuniverselles à Paris du Second Empire a 1900. Bulletin du Centre d’histoire économique et sociale de larégion lyonnaise, n. 1, pp. 1-17, 1979.456 BARBUY, Heloisa. A exposição universal de 1889 em Paris. São Paulo: Edições Loyola, 1999. p. 24.457 Ibid., p. 17.458 Id.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 218possibili<strong>da</strong>de de realizar esta análise sobre as Exposições e não sobre estastecnologias, busca captar o primeiro momento <strong>da</strong> experiência de uma nova <strong>cultura</strong><strong>visual</strong>, recentemente desenvolvi<strong>da</strong>.As Exposições Universais colocam-se como um elemento fun<strong>da</strong>mental naestruturação de uma <strong>cultura</strong> moderna, apoia<strong>da</strong> sobre a modernização <strong>da</strong> segun<strong>da</strong>metade do s<strong>é</strong>culo XIX. Se por um lado surgem como conseqüência do mesmoconjunto de processos que gerou a nova percepção urbana, por outro, elas tamb<strong>é</strong>mse colocam como um fator atuante no desenvolvimento de uma pe<strong>da</strong>gogia desta<strong>cultura</strong> <strong>visual</strong>.Al<strong>é</strong>m disso, as Exposições Universais têm o m<strong>é</strong>rito de ressaltar a ascensãodo campo do design, tanto a partir <strong>da</strong> exibição de produtos desenvolvidos pelaindústria quanto pelas discussões que parecem mostrar-se, pela primeira vez,relevantes para esta área. Sobre estas questões, Greenhalgh observa que o ano de1851, <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> primeira Exposição Universal, <strong>é</strong> considerado ponto de parti<strong>da</strong> para ahistória do design, quando, de fato, deveria ser o ponto de parti<strong>da</strong> para umahistória crítica do design na medi<strong>da</strong> em que o que era discutido era maisinteressante e novo do que o que era apresentado. 451 De qualquer forma, a ligaçãoentre as Exposições e o campo do design amplia a consideração de Bürdek de queestas mostras eram capazes de revelar o estágio de desenvolvimento do design à<strong>é</strong>poca. 452 Al<strong>é</strong>m <strong>da</strong> oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong><strong>da</strong> às pessoas comuns de conhecer máquinasem funcionamento e produtos produzidos industrialmente, a primeira Exposiçãopermitiu que designers, artistas, críticos e industriais tivessem acesso ao estado <strong>da</strong>arte do que era produzido em diversos países. Se isto não era traduzido em muitasinovações formais, certamente ressalta discussões capazes de fun<strong>da</strong>mentar umacrítica do ornamento e do design, o que aponta para mu<strong>da</strong>nças na forma de <strong>olhar</strong> oque era produzido.4.1. Exposições e espetáculoAs Exposições, que se realizaram em diversos pontos do planeta, entremeados do s<strong>é</strong>culo XIX e as primeiras d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong>s do XX, foram mol<strong>da</strong><strong>da</strong>s a partir dos451 GREENHALGH, Paul. Ephemeral Vistas: The Expositions Universelles, Great Exhibitions and World’sFairs, 1851-1939. Manchester: University Press, 1994. p. 143.452 BÜRDEK, Bernhard E. História, Teoria e Prática do Design de Produtos. São Paulo: Ed. Edgard Blücher,2006. p. 21.

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