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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 213XVII, foi apenas no s<strong>é</strong>culo XIX que eles passaram a ser produzidos em massa ecom peças intercambiáveis. 440 A utilização ca<strong>da</strong> vez mais utilitária do mecanismo,mais do que uma necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>é</strong>poca evidencia a crescente importância de umtempo objetivo e impessoal sobrepondo-se ao tempo pessoal e subjetivo doindivíduo. O historiador alemão Karl Lamprecht observou nas últimas d<strong>é</strong>ca<strong>da</strong>s dos<strong>é</strong>culo XIX um crescente aumento na produção e importação de relógios de bolso(ele estima 12 milhões de relógios importados para uma população alemã deaproxima<strong>da</strong>mente 52 milhões). Ao mesmo tempo, as pessoas passaram a prestarmaior atenção aos pequenos intervalos de tempo. 441 A crescente utilização derelógios <strong>é</strong> ao mesmo tempo causa e conseqüência do aumento do senso deurgência, de um maior desejo de veloci<strong>da</strong>de atrav<strong>é</strong>s de uma maior compreensão<strong>da</strong> pontuali<strong>da</strong>de. Já em 1900, Simmel afirmava que “pontuali<strong>da</strong>de,calculabili<strong>da</strong>de, exatidão são introduzi<strong>da</strong> à força na vi<strong>da</strong> pela complexi<strong>da</strong>de eextensão <strong>da</strong> existência metropolitana e não estão apenas muito intimamenteliga<strong>da</strong>s à sua economia do dinheiro e caráter intelectualístico”. 442A id<strong>é</strong>ia de um tempo heterogêneo pertence ao terreno <strong>da</strong>s subjetivi<strong>da</strong>des,aos novelistas, psicólogos e outros estudiosos interessados em examinar asdiferentes formas que os indivíduos se relacionam com o tempo. Em O retrato deDorian Gray, Oscar Wilde aponta para um tempo que passa, ou melhor, que nãopassa para o protagonista, enquanto o seu retrato, escondido no sótão, vairegistrando as mu<strong>da</strong>nças que deveriam estar no corpo e no rosto de Dorian. ParaProust foi um pequeno bolo “curto e rechonchudo", uma ma<strong>da</strong>leine, que o fezviajar no tempo em um processo que o autor passou a chamar de memóriainvoluntária, levando-o a concluir que o passado encontrar-se-ia “em um objetomaterial qualquer, fora do âmbito <strong>da</strong> inteligência e de seu campo de ação”. Emqual objeto, isso não se sabe, e <strong>é</strong> mesmo uma “questão de sorte se nos deparamoscom ele antes de morremos ou se jamais o encontramos”. 443Uma importante conseqüência direta <strong>da</strong> influência <strong>da</strong>s ferrovias foi ainstituição do World Stan<strong>da</strong>rd Time que representou a implantação de um tempohomogêneo, público e unificado. Em outras palavras, a transformação do tempo440 LOWE, D.,op. cit., p. 35.441 KERN, S. op. cit., p 110-111.442 SIMMEL, G. op. cit., p. 15.443 PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido. Vol. I: No caminho de Swann. Rio de Janeiro: Ediouro,1992. p. 55-56. A tradução reproduzi<strong>da</strong> aqui <strong>é</strong> a de BENJAMIN, ibid., p. 106.

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