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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 200flâneur e de sua observação anônima. No entanto, diversos autores consideram asemelhança entre o flâneur e o turista. Para Hall, o turista seria a contraparti<strong>da</strong> doflâneur na moderni<strong>da</strong>de tardia 404 . Segundo Urry, o flâneur foi um precursor doturista do s<strong>é</strong>culo XX e, particularmente, de sua ativi<strong>da</strong>de emblemática: a toma<strong>da</strong>de fotografias 405 . Antes dele, Susan Sontag, reconhecia a fotografia como “umaextensão do olho do flâneur de classe m<strong>é</strong>dia”. 406 O fotógrafo seria uma versãoarma<strong>da</strong> do caminhante solitário que faz o reconhecimento do inferno urbano,observando o mundo “pitoresco”. Apesar destas aproximações, a autora finalizacom uma frase que acaba por apartar definitivamente o flâneur do turista demassa:O flâneur não se sente atraído pelas reali<strong>da</strong>des oficiais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, mas por suasesquinas escuras e remen<strong>da</strong><strong>da</strong>s, por seus habitantes esquecidos – pela reali<strong>da</strong>denão-oficial que está por detrás <strong>da</strong> facha<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> burguesa e que o fotógrafo“apreende”, tal como o detetive captura o criminoso. 407Neste contexto, a aproximação entre o modo de <strong>olhar</strong> do flâneur e o doturista só parece fazer sentido quando deixamos de considerar o turismo de massae suas limitações de tempo em visitas pr<strong>é</strong>-estabeleci<strong>da</strong>s pelos agentes de viagem.Por outro lado, o olho aberto ao “pitoresco” segue sendo um resquício <strong>da</strong>experiência do flâneur na prática de qualquer turista, mesmo dos que respeitam oroteiro do “que deve ser observado”.Alguns posicionamentos ambivalentes aparecem em relação aos primeirostempos do transporte ferroviário. De um lado, admirava-se a facili<strong>da</strong>de, suavi<strong>da</strong>dee segurança de um meio que sugeria a sensação de “estar voando”. Ao mesmotempo, a ferrovia carregava o medo <strong>da</strong> violência e <strong>da</strong> destruição potencial. Apossibili<strong>da</strong>de de acidentes e a impossibili<strong>da</strong>de de interferência no controle doveículo colaboravam com esta ansie<strong>da</strong>de. Segundo Schivelbusch, <strong>é</strong> possívelestabelecer uma relação entre o grau de eficiência e desenvolvimento de umatecnologia e sua capaci<strong>da</strong>de de catástrofe e destruição em caso de colapso.Haveria uma relação direta entre a capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> tecnologia controlar a natureza ea gravi<strong>da</strong>de dos acidentes. 408 O autor justifica esta observação apontando para ofato de que na Enciclop<strong>é</strong>dia de Diderot, a palavra “acidente” encontrava-se404 HALL, Stuart. A identi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l na pós-moderni<strong>da</strong>de. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 1992. p. 33.405 URRY, John. The tourist gaze. London: Sage Publications, 2002. p. 127.406 SONTAG, Susan. Ensaios sobre a fotografia. Rio de Janeiro, Ed. Arbor, 1981. p. 55.407 Ibid. p. 56.408 SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 131.

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