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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 195estabili<strong>da</strong>de forneci<strong>da</strong> pelos trilhos. Por outro lado, a maior veloci<strong>da</strong>de permitia odesfrute de um grande número de paisagens, mesmo em uma viagem curta. Opróprio cansaço <strong>da</strong> alternância do movimento dos olhos entre os dois planos semostrou, com o tempo, algo que poderia ser aprendido e gerenciado. O fatoinequívoco <strong>é</strong> que uma nova percepção <strong>visual</strong> se formava. As viagens de trem têmalguma responsabili<strong>da</strong>de nesta mu<strong>da</strong>nça na medi<strong>da</strong> em que os “passos” deobservação anteriores não mais se prestavam à apreensão panorâmica do quepodia ser visto pela janela do trem.O espaço para passageiros nos trens baseou-se no modelo <strong>da</strong>s carruagens,com a diferença que, nestas últimas, os passageiros acomo<strong>da</strong>vam-se nos acentosdistribuídos em forma de “U”. Esta disposição facilitava o contato entre osviajantes, sem abrir mão <strong>da</strong> relação com o ambiente externo. Alguns romances dos<strong>é</strong>culo XVIII e do início do XIX retratam o companheirismo que surgia nestasviagens que se estendiam por muitos dias. Neste contexto, a expectativa <strong>da</strong> longaconvivência com outras pessoas, estimulava a criação de laços entre elas. Com otrem, esta relação foi completamente altera<strong>da</strong>. Em primeiro lugar o trem era maisdemocrático. Em lugar de um único compartimento, haviam diversos, al<strong>é</strong>m deuma grande área para a terceira classe. Os passageiros dos trens trocaram aconversa pelo embaraço. Al<strong>é</strong>m disso, as inúmeras para<strong>da</strong>s traziam uma sucessãode novas faces, o que tamb<strong>é</strong>m não estimulava contatos interpessoais. A conversa,praticamente, fluía apenas quando se encontravam conhecidos. A leitura nestesveículos parece ter surgido mais como uma forma de superar o desconforto <strong>da</strong>situação de estar frente a frente com desconhecidos do que uma forma de passar otempo. George Simmel, no começo do s<strong>é</strong>culo XX, considerou que asconseqüências <strong>da</strong> introdução de novas tecnologias de comunicação e transporteforam senti<strong>da</strong>s diretamente no surgimento de novas formas de relacionamento.Segundo Simmel, “as relações recíprocas dos seres humanos nas ci<strong>da</strong>des sedistinguem por uma notória preponderância <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de <strong>visual</strong> sobre a auditiva.Suas causas principais são os meios públicos de transporte. Antes dodesenvolvimento dos ônibus, dos trens, dos bondes do s<strong>é</strong>culo XIX, as pessoas não

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