21.07.2015 Views

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 193percebi<strong>da</strong>s objetivamente no mundo físico: tamanho, forma, quanti<strong>da</strong>de emovimento. 386No pensamento pr<strong>é</strong>-industrial de John Ruskin, isto <strong>é</strong>, dentro de uma <strong>cultura</strong>pr<strong>é</strong>-moderna, encontramos o que Schivelbusch 387 considera próximo à umacorrelação matemática negativa entre o número de objetos percebidos emdeterminado período de tempo e a quali<strong>da</strong>de desta percepção. De certa formaseguindo o tema do <strong>olhar</strong> <strong>inocente</strong>, Ruskin escreve sobre a superiori<strong>da</strong>de do <strong>olhar</strong><strong>da</strong> criança diante do frescor <strong>da</strong>s coisas frente aos seus olhos rec<strong>é</strong>m abertos. 388Entre os conselhos práticos <strong>da</strong>dos por Ruskin encontra-se a sugestão de contentarsecom o menor número de novi<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> vez e preservar, tanto quantopossível, as fontes de novi<strong>da</strong>de. 389 Em relação ao “menor número possível denovi<strong>da</strong>des”, Ruskin observa que em um passeio no campo, atentar para umacabana que nunca tínhamos visto antes, seria o suficiente para recuperar o frescordo novo. Observar duas cabanas já seria excessivo. Em linguagem atual, dir-se-iatratar-se de “muita informação”. Ruskin conclui que uma caminha<strong>da</strong> tranqüila denão mais do que 10 ou 12 milhas 390 por dia seria o bastante para uma viagemrecreativa. “To<strong>da</strong> viagem torna-se enfadonha na exata proporção de suaveloci<strong>da</strong>de”. 391 Deste modo, para Ruskin os deslocamentos de trem não poderiamser chamados de viagens.As críticas de Ruskin pertencem a um momento de ambivalência, onde aspossibili<strong>da</strong>des de uma nova tecnologia mostram-se, ao mesmo tempo, aprecia<strong>da</strong>se temi<strong>da</strong>s. Deste modo, trata-se de um excesso de simplificação taxar as opiniõesde Ruskin como meramente conservadoras ou contrárias ao desenvolvimento. Emum contexto semelhante, Walter Benjamin observa que “o mesmo Arago, autor dofamoso parecer favorável à fotografia, tenha submetido – no mesmo ano (?), em1838 – um parecer desfavorável à <strong>construção</strong> <strong>da</strong>s ferrovias planeja<strong>da</strong>s pelogoverno”. 392 O parecer de Arago, ao qual somaram-se outras 160 vozes, contra 90favoráveis, argumentava, dentre outras coisas que a diferença de temperatura naentra<strong>da</strong> e na saí<strong>da</strong> dos túneis provocaria calores e friagens mortais.386 SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 55.387 Ibid., p. 57.388 RUSKIN, John. Modern Painters. Vol. 3. Of many things. A<strong>da</strong>manta Media Corp. 2000. p. 310.389 Ibid., p. 311.390 Entre 16 e 19 km.391 RUSKIN, J. Modern Painters… p. 311.392 BENJAMIN, Walter. A fotografia. Passagens... p. 715. [Y 1a,5].

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!