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O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

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O OLHAR INOCENTE É CEGO 187Apesar do trilho de madeira ser usado há s<strong>é</strong>culos em minas de carvão, foi atecnologia a vapor que possibilitou aos trens ultrapassarem a veloci<strong>da</strong>de doscavalos. Como afirmou Na<strong>da</strong>r, em transcrição de Walter Benjamin: “como sefosse de um mágico ou de um diretor de teatro, o primeiro apito <strong>da</strong> primeiralocomotiva deu o sinal de despertar, o sinal de decolagem para to<strong>da</strong>s as coisas”. 371As conseqüências imediatas <strong>da</strong> nova tecnologia foram rapi<strong>da</strong>mente observa<strong>da</strong>s nafacilitação do transporte de bens e pessoas. Se, de um lado, as ferroviasfavoreceram o surgimento de grandes indústrias e o aumento <strong>da</strong> produção demat<strong>é</strong>rias-primas e mercadorias acaba<strong>da</strong>s, de outro, tamb<strong>é</strong>m ampliou a circulaçãode pessoas e id<strong>é</strong>ias, participando <strong>da</strong> criação de um novo estilo de vi<strong>da</strong> baseado nacompressão tempo-espaço que alicerçou a moderni<strong>da</strong>de. Em 1780 uma diligênciagastava de quatro a cinco dias para cobrir a distância entre Londres e Manchesterenquanto, um s<strong>é</strong>culo depois, um trem cobria o mesmo trecho em quatro ou cincohoras 372 .Textos <strong>da</strong> primeira metade do s<strong>é</strong>culo XIX expressavam as alteraçõestemporais em termos de encolhimento do espaço 373 , relativizando os conceitos deci<strong>da</strong>de e país. Em 1850, Lardner escrevia que “as distâncias praticamentediminuem na exata proporção <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong>de de locomoção”. 374 Em um artigo noQuartely Review de 1839, um autor contemporâneo considera que as nações quepareciam situar-se aparta<strong>da</strong>s no espaço de maneira inalterável, iam aos poucossendo aproxima<strong>da</strong>s pela redução gradual do espaço e <strong>da</strong> distância que as haviaseparado. Na medi<strong>da</strong> em que as distâncias iam sendo aniquila<strong>da</strong>s, a superfície dopaís encolhia, tornando-se não maior do que uma imensa ci<strong>da</strong>de. 375 De fato, comoconsidera Wolfgang Schivelbusch, a sensação de diminuição <strong>da</strong>s distânciasproduzi<strong>da</strong> pelos meios de transporte parece ter criado uma nova geografia que,para al<strong>é</strong>m de uma simples contração do espaço, sugere um processo dual onde oespaço <strong>é</strong> ao mesmo tempo reduzido e expandido. Esta dial<strong>é</strong>tica <strong>é</strong> observa<strong>da</strong>, deum lado, pela relação entre a diminuição do espaço atrav<strong>é</strong>s do encolhimento dotempo de deslocamento e, de outro, pela expansão do espaço atrav<strong>é</strong>s <strong>da</strong>incorporação de novas áreas territoriais à rede de transportes. Deste modo, a nação371 Na<strong>da</strong>r, Quand J’<strong>é</strong>tais Photographe, Paris, p. 281, apud BENJAMIN, Walter. Passagens... p. 129. [C 3a,4].372 LOWE, Donald. History of bourgeois perception. Chicago: The University of Chicago Press, 1982. p. 38.373 SCHIVELBUSCH, Wolfgang. The Railway Journey: the Industrialization of Time and Space in theNineteenth Century. Berkeley: University of California Press, 1986. p. 34.374 LARDNER, D. Railway Economy. London, 1850 apud SCHIVELBUSCH, W. op. cit., p. 33.

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