21.07.2015 Views

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

O olhar inocente é cego. A construção da cultura visual ... - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O OLHAR INOCENTE É CEGO 176não precisa enrubescer diante de ningu<strong>é</strong>m”. 346 Como destaca Benjamin, por outrolado, a massa atua protegendo o anti-social contra seus perseguidores, escondendoquem deseja esconder-se. 347Para Ben Singer, apesar de ter-se passado um s<strong>é</strong>culo, a população ain<strong>da</strong> nãose encontrava plenamente a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> à moderni<strong>da</strong>de urbana e a metrópole “ain<strong>da</strong>era percebi<strong>da</strong> como opressiva, estranha e traumática”. 348 A assimilação docomportamento urbano não se realizou de forma natural e alguns gênerosliterários se propuseram a abrir este caminho. Em meados do s<strong>é</strong>culo XIX,surgiram as “fisiologias” que compunham um gênero literário específico, emformato de bolso, onde os tipos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> parisiense apareciam retratados. Estesfascículos descreviam de forma simplista “desde o vendedor ambulante dobulevar, at<strong>é</strong> o elegante no foyer <strong>da</strong> ópera” 349 , tipos urbanos que eram apresentadoscomo seres amistosos, cônscios do seu papel na socie<strong>da</strong>de. O texto sobre otrabalhador <strong>da</strong> indústria, por exemplo, imputa-lhe uma alegria ao trabalho,dificilmente observável, mas que – nas palavras de Benjamin – teria feito oempresário que lesse essa descrição ir descansar mais tranqüilo do quehabitualmente: “A fumaça <strong>da</strong>s altas chamin<strong>é</strong>s <strong>da</strong> fábrica, os golpes retumbantes <strong>da</strong>bigorna o fazem vibrar de alegria. Lembra os dias felizes de trabalho guiado pelogênio do inventor”. 350 As fisiologias asseguravam que “qualquer um, mesmoaquele não influenciado pelo conhecimento do assunto, seria capaz de adivinharprofissão, caráter, origem e modo de vi<strong>da</strong> dos transeuntes”. 351 O interesse porestas descrições encontrava lugar nas novas circunstâncias, características <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de moderna, repletas de situações ameaçadoras nunca antes experimenta<strong>da</strong>s, enas fantasias e desejos de seus habitantes por decifrá-las. As fisiologias estãodiretamente relaciona<strong>da</strong>s a um mundo de informações visuais não classifica<strong>da</strong>s e àpossibili<strong>da</strong>de de compreendê-las e organizá-las. As fisiologias tranqüilizadoraslogo entraram em decadência, mas o avanço científico que acompanhava oprocesso de modernização pôde acenar com algumas possibili<strong>da</strong>des de controlesobre os componentes <strong>da</strong> massa urbana.346 SCHMIDT, Adolphe. Tableaux de la r<strong>é</strong>volution française. Leipzing, 1870. p. 337. apud BENJAMIN,Walter. Obras escolhi<strong>da</strong>s III. Charle Baudelaire... p. 38.347 BENJAMIN, Walter. Obras escolhi<strong>da</strong>s III. Charle Baudelaire... p. 38.348 SINGER, B. op. cit., p 133.349 BENJAMIN, W. Sobre alguns temas em Baudelaire... p. 34.350 In: Fisiologia <strong>da</strong> Indústria Francesa, de Foucauld, apud BENJAMIN, Walter. Obras escolhi<strong>da</strong>s III.Charle Baudelaire: um lírico no auge do capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 2000. p. 37.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!